Regina Gouveia
Exploração
Qual exploradora, parti um dia.
Embrenhei-me na selva da vida
onde sabia andar escondida
a poesia
Encontrei-a
na luz ténue do sol ao fim do dia,
na molécula, no átomo, no quantum de energia,
nas leis de Newton, no conceito de entropia.
Encontrei-a
na reflexão da luz, na impulsão no ar,
no cheiro a maresia e nas algas do mar,
no orvalho, na geada, na chuva, no luar.
Encontrei-a
no ínfimo e no imenso que a vista não alcança,
nas rugas dum idoso, no rir de uma criança,
numa tela, num concerto, numa dança.
Encontrei-a
no voo da gaivota, na pétala da flor,
na chama que tremula e se multiplica em cor
e que irradia energia na forma de calor
Encontrei-a
Nas estrelas, nas galáxias mais distantes,
no olhar apaixonado daqueles dois amantes,
nos extintos dinossauros de dimensões gigantes.
Encontrei-a
Em medusas, corais, nos fundos oceanos,
no vento a agitar nas árvores os ramos,
em pinturas rupestres com vários milhares de anos
Encontrei-a
Na violeta escondida no canto do jardim
e no frasco que continha essência de jasmim.
Tentei então guardá-la só para mim.
Foi assim que ela se evolou
e de novo eu aqui estou
a procurá-la.
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