|
Sílvio
Roberto Santos
Contingência
Chegas, e estás vestida de alegria
para uma festa em que serei silêncio...
Tua proximidade aquece e vence o
tempo nu, nesta noite tão vazia...
E chegas para não ficar — sabemos.
Assim a vida molda os desencontros
e vamos nos perdendo nos encontros
onde é urgente o que jamais vivemos...
Partes, e minha dor mais escurece
estas horas imóveis... Tua ausência
um pouco de perfume mais acresce...
Espera-te, feliz, alguém à frente...
E porque poderias sem urgência
Ficar, partindo ficas permanente...
|
|
Vértice
Há flores triangulares
que não vivem de sugar o sol.
Brotam cotidianas em qualquer quintal.
Seu néctar, sal que cheira à vida.
De cor vária são tais flores.
Dissimuladas,
conduzem o segredo existencial.
Diminutas, ofuscam.
Percebidas, atormentam.
Inexistentes, devoram.
Dessas flores o perfume tem diversas faces
em pétala única.
No decorrer das noites, escorrem doces
num movimento definitivo,
e, furtivas, ouvem o crepitar humano.
Em manhãs assépticas, surgem renovadas
nos galhos plásticos do varal,
e quase são pássaros.
|
|
|
|
|
|
|