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Antero Coelho Neto


 

A Fantasia da Natureza


Natureza alegre
do despertar repetido
que se eterniza plena
no horizonte colorido.

Ora a chuva cai
molhando terra e corpos.

Ora o pássaro azul
voa em canto e vai
dizendo que existe Deus.

Ora o céu é seco
e os animais sedentos
vagam loucos pelos campos
rachados, ardentes e mortos
parecendo não existir Deus.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

 

 

 

 

 

Antero Coelho Neto


 

Agora Tenho que Partir


Agora tenho de partir
para longe e sempre
sem nunca mais voltar.

Eu devo novamente fugir
como tantas vezes durante a vida
indo embora sem chorar
depois de outra luta perdida.

Parto mas hoje eu sei
que jamais voltarei
aqui ou a qualquer lugar.

 

 

 

Mary Wollstonecraft, by John Opie, 1797

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Sergio Godoy

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Venus with Organist and Cupid

 

 

 

 

 

Antero Coelho Neto


 

Estou Velho


Eu procuro as palavras certas
dos meus versos e elas faltam...
Não consigo juntá-las
na idéia clara do que pretendo...
A fantasia é solta
e não consigo revê-la...
Ela vai e não volta mais
enquanto o tempo rápido passa...
E fico eternamente velho
trocando palavras e sonhos
que não tem mais qualquer sentido
que não tem mais nenhum valor...

 

 

 

Hélio Rola

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Paulo de Toledo

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Three Ages

 

 

 

 

 

Antero Coelho Neto


 

Eu Aprendi a Dizer Sim


Eu aprendi a dizer sim quando via natureza
molhada na manhã alegre do primeiro dia novo.

Eu aprendi a dizer não quando reconheci a fome
no homem indefeso e não achei nenhuma razão.

Eu aprendi a dizer sim quando o dia amanheceu
e fiquei deslumbrado com a esperança renovada.

Eu aprendi a dizer não quando quiseram que traísse
os princípios fundamentais da humanidade em luta.

Eu aprendi a dizer sim quando fui à escola
de minha infância e corri, gritei e... aprendi.

E então o sim e o não passaram a ser inexoráveis
durante todo o resto da vida, depois que aprendi.

 

 

 

Herbert Draper (British, 1864-1920), A water baby

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Maria Consuelo Cunha Campos

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

Antero Coelho Neto


 

Solidão, Meu Vício


Solidão, querida amiga!
Te amo e te desejo,
assim no teu silêncio
e na tua tranqüilidade.

Minha querida Solidão
tu me consolas tanto
e me convidas sempre
para ficar sozinho
nesta gostosa tristeza.

Momento sem dor,
sem dano ou agressão.

Momento do só eu
e de meus pensamentos.

Momento meu só
e de ninguém mais.

Momento que me seduz
e que me encanta.
Onde eu encontro
as palavras do poema,
em que canto à vida
e choro o mundo.

Onde eu grito
as coisas que quero,
da minha maneira,
sem qualquer explicação.

Silêncio do nada dizer,
já que não quero responder
o que ninguém me pergunta.

Sozinho na solidão eu fico
sonhando acordado,
vivendo os meus sonhos
que eu quero viver.

E na solidão e no silêncio,
tenho o meu orgasmo
íntimo e particular
do meu espírito em vôo.

Solidão, meu vício.
Solidão minha vida.
eu te amo e te quero
sempre ao meu lado.

 

 

 

Um esboço de Da Vinci

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Márcio Catunda

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Antero Coelho Neto


 

Palavras a um Amigo Triste


Meu querido amigo triste,
eu nunca encontrei as palavras.
Digo, as palavras certas e verdadeiras,
porque as outras são ditas fáceis
e logo, sempre esquecidas.
Eu falo daquelas palavras amigas,
justamente significativas para o pranto
da dor maior quando sofrida.
Essas eu acho que não existem,
pois jamais puderam dizer-me.

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova. 1864.

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Efer Cilas dos Santos Jr