Carmen Belmont
Architectura, de Soares Feitosa
Ar, o ar presente em seu poema a paisagem que não é
pequena não é fundo, não é tema apenas desenha em cores mansas o silencioso
encontro
Chi, chiove talvez, ou faça sol
não importa, haverá arrebol e abóbada estrelada no ninho da palavra anunciada
Tec, tecnicamente perfeito em simplicidade e música em forma e jeito em
sintetismo cortante porque nos encara e nos faz derramar rios represados de
sentimentos e emoções (des)concertantes
Tu, docemente invades nossos âmagos protegidos e nos roubas a pintura do
amor primevo idealizado no olvido de nossas vidas secretas de poetas
Ra, raiz de nossa terra eis-te faraó-deus que te projetas imortal nas
palavras, embora, tal qual cada um de nós o mais ínfimo dos homens besta e
anjo a povoar nossos sonhos e (ainda bem) as nossas realidades.
Ave!
Habitação, de Soares Feitosa
SF, desconfio que sabes bem onde moras, dentro de teus dentes, nos
canários, regaço-mãe, cavilha funda, ou mãos profundas que averiguam
a noite que deita sobre o teu amor inerme (nem tanto porque vigias o
portal de seus sonhos). Bem, como eu ia dizendo, desconfio que sabes
que habitas em todo e nenhum lugar, a não ser nesse cometa-pensamento
que te rasga o céu flamejante da poesia.... Que, curioso, vem através
de tuas mãos, aconchego carinhoso que transborda o teu amor, trazida
no dorso dos teus pássaros-viagens, forjada no teu peito infante e
homem sob o adubo generoso do regaço materno que um dia incorporaste.
É, meu amigo, desconfio que desconfias que de par com a poesia, voa,
irremediável, tua alma... Melhor para todos nós, que, de lambuja,
sorvemos o encanto que te liberta.
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