Habitação
Nem saberia dizer onde moro exatamente.
Doutras vezes, a penugem dos canários,
E se um pássaro súbito:
Para os meus olhos,
Um dia morei sobre o peito de minhas mães,
Pousa, amor,
Terminei de sair dos meus dentes, dos meus olhos,
habito agora apenas esta minha mão;
nenhuma diferença entre todas as coisas,
E se dormires que é só tua —
pausadamente, pousa
dorme, amor,
da
que da aurora,
Fortaleza, noite alta, 8.2.1999
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Este, o 9º capítulo de Poética, um livro vivo, aberto, gratuito,
participado e participativo, cheio de comentários que, a rigor — esta,
a proposta —, os comentários, mais importantes que o texto comentado:
abrir o debate, uma multivisão.
— Livro vivo, como assim? — Porque em permanente movimento, espaço aberto a quem chegar, tão amplo como o espaço àqueles que aqui estão desde os séculos, todos em absoluta ordem alfabética. Seja bem-vindo! POÉTICA: Capa, prefácio e índice poemas e poetas comentaristas
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Comentários: ADRIANA PATRICIA DE SOUZA: Mestre Feitosa, poema imenso de lindo. Ainda não consegui parar de ler. Passei toda a noite assim com os beiços tremendo e o coração palpitando. Antônio .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
ANTÔNIO MASSA:
Mestre Feitosa, poema imenso de lindo. Ainda não consegui parar de ler. Passei toda a noite assim com os beiços tremendo e o coração palpitando. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
BÁRBARA JÔ:
Estava passando pelo JP e fui ler “Habitação”. Pensei já tê-lo lido, mas não sei
porque me pareceu tão novo... Tão profundo como os mares nunca dantes (com o perdão
do lugar comum – confuso?). Bem, fui lendo-lendo e de ir-indo tanto fui gostando. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. CARMEN BELTRÃO: SF, desconfio que sabes bem onde moras, dentro de teus dentes, nos canários, regaço-mãe, cavilha funda, ou mãos profundas que averiguam a noite que deita sobre o teu amor inerme (nem tanto porque vigias o portal de seus sonhos). Bem, como eu ia dizendo, desconfio que sabes que habitas em todo e nenhum lugar, a não ser nesse cometa-pensamento que te rasga o céu flamejante da poesia.... Que, curioso, vem através de tuas mãos, aconchego carinhoso que transborda o teu amor, trazida no dorso dos teus pássaros-viagens, forjada no teu peito infante e homem sob o adubo generoso do regaço materno que um dia incorporaste. É, meu amigo, desconfio que desconfias que de par com a poesia, voa, irremediável, tua alma... Melhor para todos nós, que, de lambuja, sorvemos o encanto que te liberta. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. CESAR VALE: Poeta: minha pequenez dentro desta habitação me faz ainda mais pequeno do quanto menor eu já sou. Quisera penetrar nos segredos da poesia, espantosa e enigmática como esta "Habitação". De que forma eu comentaria? Nem ouso! Nem arrisco! Quem aponta a melhor entre uma centena de apreciações? O poeta ou o crítico literário? .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. DANIELA MAIUMI USHIZIMA: Feitosa, muito melodiosa, cheia de ternura e calmaria. Como se contasse a história de um mundo onde tudo se transforma, sem contemplação da perda, mas o deslumbre da eterna mutação, algo tão inerente ao nosso universo... Embora não olhemos sempre por esse prisma. Daniela .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. ELOÍ ELISABET BOCHECO: “Habitação”, de Soares Feitosa. Esse poema é puro espanto. O que verte de água desse seu texto! Quem vem beber, volta; ou de saudade da água fresquinha, ou de ânsia de decifração. Eloí .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. ERNANI GETIRANA: E depois dizem que as palavras são para ser... ditas. Pode ser. Mas, certamente, para ser ditas do modo que a vida é feita e parida. EMPATIA PURA. É o que esse poema provoca na gente. A capacidade que SF tem de burilar as palavras sem arranhar-lhes as entranhas, mas, ao contrário, preservando a docilidade de cada uma delas, com seu travo próprio, sua maciez específica, sua casa-ideia metafórica, isso é o que é. Elas, as palavras, essas bichinhas arrebanhadas por SF, nesse jeito todo seu de nordestinizá-las, alinhavando-as com benzeduras, coisas do agrado do polígono (secamente e ainda belo) lugar-alfabético onde o poema de SF ganha voo usando as correntes ascendentes da sensibilidade. HABITAÇÃO: Homem-tatu, caracol, metalinguagem esgueirando-se por entre as frestas da poesia, ela também, casa dos deuses e, na verdade, casa de qualquer homem que ousa debruçar-se sobre si mesmo nessa casa-planeta que habitamos todos nós, filhos da palavra, habitação da esperança. Ernâni .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. GILDEMAR PONTES: Poeta, li nesse poema uma escavação a picareta de uma caixa preta nos confins do cérebro. Os destroços foram recolhidos e montados carinhosamente com a inocência da palavra poética. Estou em dúvida se pego a picareta ou me torne um juntador de destroços para desmontar ou montar esse mundo desconecido da poesia. Há-braços! .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. GLAUCIA LEMOS: Habitação tem, no seu delicado lirismo, um sabor doirado de uma coisa que há muito tempo não me tenho concedido colher da vida. Ou não tenho sabido colhê-lo, se o encontro. O gosto de quem conheceu as muitas moradas dos sentidos ao longo das pequenas/grandes alegrias prazerosas; do suave ao tato, do enternecedor à audição, do deslumbrante à visão, até o achado definitivo daquele pouso-alumbramento-por-inteiro, aquele único que só quando se merece a graça de alcançá-lo, se reconhece. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
IOSITO AGUIAR:
Aquele que esperamos – ou que nos espera – sem que mera premonição nos adiante
onde , em que morada, em que sítio, em que local, em que olhar, em que corpo,
em que alma, o encontraremos. Repousa na cavilha do meu peito. Na doação desse
peito, na entrega desse eu-tua, define-se a habitação que em oferecer repouso
está a recebê-lo e em se fazer doação, aprofunda sua âncora. Ouço sempre uma
canção da MPB, não sei o autor, na qual, sem rodeios, com a simplicidade sábia
dos simples, se repete o que todos sentem, mas poucos disso se apercebem: não
se pode ser feliz se não for por poeta gerou. E daí? O cumpade Roseno tem razão
quando diz ter sido muito bom, o poeta ter-se voltado para os versos depois dos
50. O intelectualismo – esse estrupício do “Scholar” – felizmente não teve tempo,
nem chance de contaminar a cacimba de 5ª dimensão onde bebe o poeta. Assim,
no caldeirão daquela cacimba, vemo-lo misturar elementos variadíssimos,
que resultam numa poesia desconcertante para a pessoa comum. Como definir aquela
poesia? Antônio Massa tocou o cerne da coisa quando falou de Salomão. É isso.
O infinito não existe na nossa realidade porque ao homem (comum) não foi
concedido tempo suficiente para contar a eternidade. Mas, aos poetas, aos
iluminados e aos JIVAS (homem perfeito após a evolução pelas sete rondas de vida),
com acesso à 5ª dimensão foram permitidos compreensão e domínio do infinito.
Então, se se é poeta não é preciso ficar em silêncio ante o calidoscópio de
emoções que o poema HABITAÇÃO desperta. Ocorre-me revelar um tete-a-tete que
tive com as musas Erato (da poesia lírica) e Calíope (da poesia heroóica).
Elas me contaram que da união entre Urano e Gaia nasceram os titãs e as titanides,
seres divinos e portadores de forças elementais. E que de todos os titãs, o
mais importante para o desenvolvimento do mundo foi Cronos, o mais jovem de
todos, o senhor do tempo e que engendrou os Olimpianos que, como você deve
saber, são os deuses, os poetas e os Jivas. Por desentendimentos que só a
divindade explica, Cronos matou seu pai, Urano, encarcerou os irmãos todos
nas trevas infernais mas deu prosseguimento às obras paternas. Gaia se indispôs
com ele e predisse sua morte por um de seus filhos. O maluco, então, passou a
comer a própria prole. Réa, sua mulher, e que estava de novo grávida, procurou
a sogra e pediu proteção para salvar o filho que estava por nascer. Gaia
escondeu-a na ilha de Creta onde teve Zeus, que cresceu sob a proteção da
mãe e da avó. Zeus destronou Cronos, obrigando-o a devolver todos os seus
irmãos que ele havia devorado. Como todo deus, Zeus cometeu atos imprudentes
e impulsivos. Era um insaciável. Casou-se muitas vezes, inclusive com sua irmã
Demeter, que lhe deu uma filha de nome Perséfone e que possui a lenda mais bela
e comovente de todo o panteão helênico. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
IURI DANTAS:
Meu caro SF: Antes de deitar a mão com os comentários a respeito de “Habitação”,
pergunto-lhe algo que aflige a toda minha geração de recém-formados e ainda
estudantes em Comunicação: Será mesmo o diploma uma tortura necessária? Você
que sentiu toda a comunicação brotar do cotidiano ao invés dos livros de Umberto
Eco deve ter a resposta. Aguardo por aqui. Quanto à poesia, bem, todo poeta
precisa de um conflito. O de querer se encontrar, tanto no macro deste universo
que habitamos, quanto no micro de toda a carne que envolve este espírito inquieto,
me parece ser a batalha travada em “Habitação”. Decerto que o verso precisa
cantar por si só. E consigo ver isso. Cada frase desperta de nossa inconsciência.
Cada palavra é recortada de um corolário de dúvidas que “habita” o
questionamento que lhe é intrínseco. Interrompo a rotina de meu dia para apreciar
esta joia. Muito há o que se discutir e tentar descobrir nas entrelinhas de
que se utiliza. O questionamento de saber até que ponto uma palavra é ou não
metafórica me persegue durante toda a leitura do poema. A cada verso o debate
entre a lógica e a poesia em essência permanece e se aprofunda à medida que o
tempo corre e os olhos param em algum vocábulo específico. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. JOCA DA COSTA: A “Habitação”, de Soares Feitosa. “Palavra é coisa ou pensamento? E a coisa existe quando não está nominada, configurada nos limites da palavra que lhe enuncia a existência? “O poema ‘Habitação’, do poeta Soares Feitosa, propõe um antagonismo como solução a este antigo dilema filosófico da identidade entre Ideéia e Empiria. Ao afirmar que o Eu habita a própria mão e em seguida convidar à habitação da emoção posta na ‘cavilha do peito’ de um Outro, Soares Feitosa situa a tensão entre o Eu que se configura nos atos humanos e o Outro que se configura nos afetos, na alteridade, nas emoções. Tensão que funciona como fio de prata estendido entre o sensível e o desejado, a coisa e a vontade, o mundo e a sua representação. Como a aurora a que o final do poema remete, posta na vigilância do sono de um Outro, razão e emoção como compromisso ôntico entre o ser e o existir. “Mas Soares Feitosa ainda afirma outras habitações de si mesmo. Inicia o poema desconfiando que mora entre os seus dentes e desfia em seguida outras habitações possíveis ao fazer poético, lírica que abraça a onírica. Entre os dentes está a língua, esta pátria da existência que se constitui na tensão entre o Eu da empiria e os ‘Eus’ da cultura. “Pois que, como se fora deus, poeta cria mundos a partir da matéria sensível da palavra. “No poema ‘Habitação’, do Soares Feitosa, a palavra é coisas e a ideia é mundos. Assim mesmo, no plural. Afinal, e por vias tortas, ‘na casa do meu pai há muitas moradas’.” .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. JOÃO DE DEUS SOUTO FILHO: O Habitar desta poesia, que é carne, que é sangue pulsante, ocupa todos os pontos cardeais, ultrapassa terceiras intenções, avança e se nutre das vísceras do poeta, que bota para fora a heureca de todos nós, viajantes, que teimamos em ir e vir por entre sonhos e parlendas. O Habitar desta poesia não pede licença, invade alma e mostra a cara do poeta, as linhas da sua mão que nele se transmutam, e volta a ele, e volta à mão, que se faz mãe sem medo, que afaga o seu rebento no seio materno, que canta o seu rebento como canário. O Habitar desta poesia é a mulher que se apresenta em cada um de nós, que nos habita, seja como a mãe de outras eras, seja como a virgem que se banha nas nossas lagoas (quantas lagoas temos em nós ?). O Habitar desta poesia merece a reverência do poeta. Um grande abraço. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. JOAQUIM ALVES: Soares Feitosa, Poeta, Habitação: Simplesmente fabuloso. No sentido de nos deixar extasiados, com olhos nos tijolos, na areia, na pedra. A primeira vez que o li, fiquei mudo. E, não sei porque, deu-me uma grande vontade de escrever. POEMAS, claro! Joaquim Alves, Lisboa. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. LAU SIQUEIRA: SF, O GUARDADOR DAS AURORAS. Lanço meu olhar canibal sobre sua “Habitação”, caro amigo, querendo suprir as ausências nutricionais da minha alma com versos hermanos de Femina e Salomão. Versos que habitam o espetáculo portentoso de medir cada palmo, palmilhar cada metro... rosnar e surpreender os próprios sentidos. Lembro Rilke, Pessoa... não, não! Lembro as Odisseias, as Ilíadas – novamente, como em Salomão. Qual nada... sinto-me mergulhar no desconhecido. Diante da vigilância da aurora, sinto-me ainda prosseguir em silêncio após o último verso. “Habitação” – esse poema dito entre os dentes começa e termina na expressão mais profunda do seu tear poético que, guardado por 50 anos, teve tempo suficiente de burilar-se para conduzir a obra e o artista da palavra que você é, no rumo do eterno. Isso é um segredo que só a poesia revela quando encontrada nas suas cavernas, em escaramuças intelectuais e sensitivas das mais distantes. E você encontrou-a, caro poeta! Desvendou mais uma vez o segredo, revelando a poesia em versos pincelados com avidez de pássaro e com a plasticidade de todos os descansos da retina. Cumprir sua “morada” é partilhar com as caravanas de anjos e duendes perfilados num horizonte que nos revela todos os orientes e ocidentes. Mas, ao mesmo tempo, se faz universal demais para ser medido, tocado, urdido... a beleza desse seu novo filho comove por sucção, ao que parece. Sou imediatamente absorvido. Feliz pelo gozo estético. E diante da beleza, meu caro Chico, apenas respiro fundo. Recebo (faço questão) todos os seus átomos e todas as alegorias que me permitem sonhar e cavalgar nessa égua chamada distância para torná-la, a cada instante o meu próprio habitat. Grande abraço do seu amigo Lau Siqueira .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
LÍGIA NEVES:
Soares, incrível! .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. LUIZ NOGUEIRA BARROS: Nunca ouvi dizer que poeta morasse em lugar nenhum, que são todos uns loucos-andarilhos. Conheci um, Christiano Fernandes, que improvisava a tenda numa sombra. E agora esse outro louco, o Soares Feitosa, vem com essa história de habitar. E depois com essa outra história de respeitar, e cobrir a nudez da amada, e tomar conta da vigilante aurora. Por amor inventam tudo. Até descobrem um lado feminino, contanto que agradem à amada. Uns ladinos conquistadores, esses poetas. Com plumas e curvas criam abismos, ninhos, para o amor. E agora esse outro poeta louco que tanto amo, o Soares Feitosa, resolvendo aninhar-se como se não fosse o maior dos andarilhos e amantes que conheço, e bom cabrito do Siarah. Luiz Nogueira .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
MARIA ALICE VILA FABIÃO:
Navegam os meus olhos – a reboque o coração, que sempre teima em deixar-se
arrastar nestas viagens – através do desconhecido, do que se oculta para
além dos dentes. A ferocidade!!! Como ir mais além na leitura, perante a
ameaça de sermos destroçados no simples acesso ao mais recôndito da habitação
do Ser? Venho de ausências – onde, em vão, busco a ausência definitiva.
Por que não entrar, ultrapassar, então, autocida, essa barreira de agressividade
defensiva? .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
MARIA AZENHA:
Meu Querido Poeta! .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
MARIA DA CONCEIÇÃO CARNEIRO OLIVEIRA:
Ave! Soares! Que maravilha de ritmos que imprimiste neste percurso que meus
olhos não cansam de viajar. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. MARIA MAIA: Poesia do despedaçamento, feita sob a herança de Dioniso – o deus duplamente nascido – e da dualidade fundamental que tal deus promove: sátiro e bacante, masculino e feminino, beleza e fealdade, crueldade e leveza, regaço e perdição. Esta é uma tragédia dos tempos pré-pós-modernos. O ato amoroso é a habitação do humano. É dali que ele parte, sobrevive e se oferece em sacrifício para apaziguar os deuses, numa época em que milhares de humanos matam um deus a cada dia. O corpo despedaçado pelos dentes das bacantes em mãos, dorso, cabelo, peito, pulso e alma procura se restaurar no amor. “Sempre o mesmo acerca do mesmo”, advertia o grande Eudoro de Sousa, quando se tratava da tragédia. Gestada em tempos imemoriais para purificar o homem da hamartia (pecado original forjado no deicídio original – morte da divindade representada pela subida do homem do estado de natureza para o estado de cultura). E SF canta com sua pena-dentada a tragédia desta busca do desejo que não objeta em nenhum lugar. Que passeia pelos fragmentos do corpo da palavra com horror e amor. Que despreza a distinção masculino x feminino – porque sabe que no ato amoroso esta dualidade se desfaz. Os olhos se detêm na complementaridade deste horizonte que encandeia. “Pelo ouvido porém” se apresenta o canto e SF se faz sereia. O homem ainda tem pelo menos a possibilidade de se deixar atravessar pelo canto da sereia. Canto que o desvia da ferocidade do narcisismo e o conduz para o mar do amor. Mar onde o eu, este tirano, “como corpo morto, cai”. Mar onde o eu se desfaz no outro, reinaugurando eternamente a vida. Mar que se confunde com o sertão, onde habitam as deusas mães, generosas nutrizes, que, vigilantes, sempre tomam conta da aurora da criação.Maria .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
MIGUEL SANCHES NETO:
Prezado Soares Feitosa. Belo poema. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. MIRNA GLEICH: SF, teu poema tem um movimento que mescla o suave com o sensual, num verdadeiro bailado de energia e doçura. Além do mais: que gostoso esse sentir maior! E poder/saber expressá-lo com tal serena melodia. Habitará no esconderijo de meus guardados especiais. Mirna Gleich .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
PEDRO NUNES FILHO:
Que é isso, poeta?! .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
RUTH DE PAULA:
Vejo que o poeta se coloca no poema por inteiro (ou é o poema que se coloca por
inteiro no poeta?). Todos os seus sentidos estão juntinhos ali, embora ele os
coloque esquartejados; nem sei se “esquartejados” caberia para decifrar a
profunda organização dos seus sentidos naquele momento. De fato, um momento
de calmaria, tipo depois que os lobos têm a garantia da presa e ficam com ela
entre os dentes sem se preocupar com as surpresas do tempo. Esses momentos nos
dão um misto de fragilidade e força. No primeiro, nossos corpos são um não sei
o quê que pode ter só olhos ou só bocas, ou até mesmo morar entre os próprios
dentes! .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. RUY VASCONCELOS: SF, o dístico inicial de seu poema “habitação” (“nem sei dizer onde moro exatamente/ desconfio que habito dentro de meus dentes”) foi uma das imagens mais bem apanhadas que li nos últimos tempos. Uma beleza. Também pela sonoridade (como todos esses “ds” e “ts” aliterando-se). Agora, a concepção que rege todo o poema – o corpo como casa ou templo – é bem interessante. E pela esteriotipia que põem em cheque já a partir desse soberbo dístico. E quem somos nós para acharmos os limites precisos entre o que somos e o que deixamos de ser? Falo em limites precisos, mesmo. Fronteiras bem demarcadas. E desconfio que às vezes moramos fora de nossos dentes. Em comunhão com lua ou mulher. Afinal, o corpo é mais que uma mala, um jarro. ou algo que a gente pode rebocar daqui pra ali. Ou mesmo despachar na alfândega dos sonhos. Tão-só “morada do espírito”. Sorte de repositório, cisterna. Mas, claro, é nele onde inaugura o bom senso, a pureza dalma. E possui o olho, esse milagre. Essa janela mais porta (“o sol entra pela porta/ e o luar pela janela”), como diz certo refrãozinho de nossa terra – talvez trazido de trás-os-montes. parabéns pelo poema. Ruy .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
SOUZA SANTOS:
Caro Feitosa, porque era carnaval, e já estava cheio de V. Rao e das teorias
evolutivas do jurisdice, abri o bichinho pra arejar um pouco o espaço pensante,
“pimplou” e vi que tinha uma mensagem, fui lá, era vc me dizendo ser agora
proprietário, latifundiário, locador e dono do BNH. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. STELA FONSECA: Feitosa, poeta amigo, meu amor (permita-me a ênfase). Depois de PSI a Penúltima que me deixou mais de uma semana em estado de êxtase, nadando, vivendo e gestando entre as palavras e o cheiro da imburana, eu não poderia supor que outro poema seu, ou de qualquer outro poeta, tocasse tão profundamente minha alma. Enganei-me, Você não é apenas poeta, é um mago, um iluminado, um enviado do reino das palavras do qual pouquíssimos descendem. Um reino tão especial e inacessível que nem os iluminados que o representam, sabem que ele existe. Penso que, por segundos, as palavras-luz do reino habitam o iluminado e se fazem em algo que transcende o poema. Fiquei cerca de duas horas ( e continuo) sorvendo cada palavra (rica em significados... que dom você tem amigo!) da sua HABITAÇÃO, cada som, cada mistério, cada símbolo, cada sensação. Deixei-me envolver pelo invisível e transcendente porque, meu poeta, a análise da sua Habitação como obra poética, a mais bela que já li, cabe a outros iluminados. A mim basta deixar-me encantar, deixar-me tomar inteira pela força, grandiosidade e beleza desse indizível encontro entre o Amor e o Amor, parido pelo homem que guarda auroras. Stela .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. VANDA DONADIO: SF, impossível não habitar teu peito firmamento; um grande abraço estelar… Vanda Donádio .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. VITO CESAR FONTANA: Soares, se bem nem conheço o todo de tudo que você escreveu, caro amigo, já esta tua HABITAÇÃO me bastaria para que eu soubesse quem tu és. Estou cheio de segundas pessoas para dizer direito aquilo que sei sobre o que nem sei, mas sinto. O poema-víscera habita mundi. Meandros de nós todos, apocalipse do uno, gênesis do si mesmo, reverbero de espelhos espalhados no tosco dos olhares, minimalização maximizada do encontro da palavra e da imagem num quadro de Dalí. Penso que ler esse poema não o é. É um poema de se ver, palpável, sentido no colo e acalentado... é um poema-ser, com suas caras, lágrimas, bocas, intestinos, rebinbocando na parafuseta do juízo mais do que perfeito. E tu sofres, poeta, na feitura, no arremate, no afino, no jorro... Um poema desses não foi pensado, foi expulso, vomitado de orgasmo pleno, daqueles que doem nos ovos. Vito .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. |