Diná Gasparini
Salvador, 00:45 de 11 de dezembro
de 1993
Caro Feitosa,
Apesar da insistência, não
vou lhe telefonar.
Certas coisas não
se dizem: se escrevem. Você bem sabe. Teve que escrever! Estou
tomada pela emoção ao ler os seus poemas. Não
me surpreendem a facilidade da comunicação e o
brilho da inteligência, pois essas características
sempre estiveram com você. Mas eram insuspeitos a
cultura e o humanismo, esses você escondeu bem (de você
mesmo também?).
O Ceará fez o canal e Fortaleza teve água!
Você mesmo diz: se desmanchar
se faz de novo. Mais coragem, mais garra, mais fé.
Sua alma extravasou e o fez poeta. Se
a água secar, há que buscá-la de novo,
custe o que custar!
Não só de água
física vive o homem: nem aquele que escreve, nem aquele
que lê.
Eu não teria coragem de citar
Exupéry se você mesmo não o tivesse feito
(fica parecendo que a mulher só lê o Pequeno Príncipe
- vide toda miss em concurso de beleza!). Mas, aquela
frase... “Tu te tornas eternamente responsável por
aquele que cativas” dita até pela
Comadre, sinto
ter que dizê-la a você.
Não lhe será mais permitido
ser o velho Feitosa.
Todos os “cativos” lhe cobrarão. Inclusive
eu.
Aquele abraço!
Diná
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