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Donizete Galvão

Borda da Mata, SP, 24/08/1955 - São Paulo, SP, 30/01/2014

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia :


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica:


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sophie Anderson, Portrait Of Young Girl

 

Allan Banks, USA, Hanna

 

 

 

 

 

Titian, Venus with Organist and Cupid

Donizete Galvão


 

Perfil biográfico

 

Donizete Galvão nasceu em Borda da Mata, pequena cidade do Sul de Minas, em 24 de agosto de 1955. Filho de Sílvio Abel de Souza e Maria Aparecida de de Souza. Os pais eram modestos sitiantes e a família não tinha qualquer envolvimento com atividades artísticas ou literárias. Nem mesmo uma Biblioteca Pública havia naquela época na cidade. A avó, Ana Marques Moreira (Anita), fluminense vinda da cidade de Conservatória, foi a figura mais marcante de sua infância. Aos 18 anos, perde o pai que morre aos 49 anos. Esta ausência marca definitivamente sua vida e sua poética.

Seu primeiro contato com a poesia foi a leitura do poema Infância de Carlos Drummond de Andrade no segundo ano primário. Mais tarde descobriu a poesia de Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto. Admira desde então a poesia de Dante Milano e do poeta mineiro Emílio Moura.

Fez o curso primário, ginasial e de segundo grau no Colégio Nossa Sra. do Carmo dirigido por irmãs dominicanas. Estudou administração de empresas em Santa Rita do Sapucaí, também no Sul de Minas. Enquanto estudava, exercia a atividade de professor. Em 11009, muda-se para São Paulo e cursa a Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero. Começa a trabalhar como redator de publicidade na Editora Abril.

Nessa época, participa da antologia Veia Poética, editada por Wladir Nader, com os poetas que estavam começando nos anos 80. Publica também em antologias do Grupo Poeco da Universidade Mackenzie e no Suplemento Literário do Minas Gerais. Traduzidos por Paulo Octaviano Terra poemas seus saem também no Mariel, em Miami, um tablóide editado por escritores cubanos como Reynaldo Arenas e Juan Abreu.

Em 1988, publica Azul navalha ( T.A. Queiroz, Editor). Graças ao empenho de críticos como Leo Gilson Ribeiro e Nelly Novais Coelho é premiado pela APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte - com revelação de autor. O mesmo livro é também indicado para o Prêmio Jabuti em 89.

Em 1991, publica As faces do rio ( Água Viva edições) que tem prefácio do poeta, crítico e tradutor Paulo Octaviano Terra e apresentação do crítico e professor Carlos Felipe Moisés. O livro foi comentado na época pelos críticos Fábio Lucas e Fernando Py.

Do silêncio da pedra (Arte Pau-Brasil), terceiro livro de poesia, é editado em 1996. Foi resenhado por Augusto Massi, na Folha de S. Paulo, Floriano Martins na revista Poesia Sempre, por Miguel Sanches Neto na Gazeta do Povo e por José Paulo Paes, em O Estado de S. Paulo. A resenha de José Paulo Paes foi incluída no livro Os perigos da poesia (Topbooks) editado em 100. O professor e tradutor Paulo Vizioli fez a apresentação e a artista Renina Katz cede uma de suas litografias para ser usada no livro.

Em 100, lança A carne e o tempo (Nankin Editorial) com apresentação do jornalista Humberto Werneck. Três dos poemas desse livro foram publicados pelo jornalista Elio Gaspari em sua coluna na Folha de S. Paulo, O Globo e outros importantes jornais do país. Este livro está entre os indicados para o Prêmio Jabuti 98 da Câmara Brasileira do Livro.

Em 96 e 100, Donizete Galvão participa do Ciclo Poesia iniciativa da Secretaria Municipal da Cultura, coordenada por Claudio Willer e Eunice Arruda, fazendo leituras no Centro Cultural de São Paulo e na Casa de Cultura do Butantã. Lê também seus poemas na Livraria Duas Cidades, tradicional reduto de escritores em São Paulo.

Em 99, publica Ruminações pela Nankin Editorial que teve resenhas na Folha de S. Paulo (Regis Bonvicino), Gazeta do Povo (Miguel Sanches Neto) e revista Cult (Ivan Marques), entre outros.

Durante os últimos 10 anos publicou em jornais e suplementos literários como Nicolau, O Galo, Poiésis, Livro Aberto, Babel (revista de poesia editada na Venezuela), Blanco Móvil (México), Suplemento Literário do Minas Gerais, A Tarde (Salvador), tsé-tsé (Argentina), no caderno Mais (Folha de S. Paulo) e na coluna de Elio Gaspari publicada nos mais importantes jornais do país.

Está presente na Nova Antologia da Poesia Brasileira, organizada por Olga Savary. Em 98, são publicados poemas de sua autoria em uma antologia da poesia brasileira traduzida por Isabel Meyrelles para o francês, Anthologie de la Poésie Bresilliene, Editions Chandeigne. Também está incluído na Antologia da Poesia Mineira do Século XX, organizada por Assis Brasil. No mesmo ano, colabora com as revistas Cult, Medusa, Orion e Anto (editada em Portugal).

Tem inéditos dois livros de poemas infantis: Olha para esse azul e A menina dos olhos e os olhos da menina. Em 2001 estão para ser publicados trabalhos seus nas revistas Babel, Santos, Sebastiana, São Paulo e um ensaio sobe sua obra assinado pela professora Ivone Daré Rabello na revista Rodapé.

Avesso a participação em grupos, tem procurado uma trajetória independente. Trabalha com publicitário na Editora Abril. É casado com Ana Tereza Marques e tem dois filhos Bruno (nascido em 84) e Anna Lívia (nascida em 92).

Entre suas preferências, além da presença magna de Carlos Drummond de Andrade, estão os poetas Kafávis, W.B. Yeats, Octavio Paz , Jorge Luis Borges e Elizabeth Bishop. Na poesia brasileira contemporânea tem admiração pelo trabalho dos poetas Ivan Junqueira, Armando Freitas Filho, Hilda Hilst, Sebastião Uchoa Leite entre outros. Aponta também como exemplo da vitalidade da poesia brasileira as obras de Ruy Proença, Fábio Weintraub, Heitor Ferraz, Ronald Polito, Sérgio Alcides e Iacyr Anderson Freitas.

(Faleceu em 30.1.2014).




 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba,

Donizete Galvão




Sim, One


O que sinto, a língua não fala.
Há uma dor que não tem nome.
Musgo de abismo que o sopro
da voz alcança e macera.
Don't let me be misunderstood.
I don't want to be alone.



 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

Donizete Galvão


 

Deus do Deserto


um deus de pedra
             de cerne
inoxidável
         um deus de ferro
pontiagudo
um deus que brota da fronte
             de puro cristal
deus de concreto
             asséptico
deus que não pune
deus que não salva


 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Plaza de toros

Donizete Galvão



Diante de Uma Fotografia

Para Celso Alves Cruz



O Tietê não é o Neva.
E nada no Curtume
lembra a sua Peter.
Galpões de fábricas
estendem-se sem rigor,
sem história ou forma.
Sucessão de chaminés,
caos de telhas de zinco.

Este é o lugar da cadela esquálida,
dos trens que gemem no subúrbio,
dos peões vestidos de azul e graxa,
dormindo ao meio-dia na calçada.
Na fila do almoço, o rebanho todo
estende suas bandejas de plástico.
Há fuligem nas janelas, nos olhos,
na sola dos sapatos. Nos cérebros.

Anna, as sereias do Báltico
não cantam aqui suas cantigas.
No mar das impossibilidades,
deixaram-me uma fotografia.
Vejo você - estrangeiríssima.
A curta franja dos cabelos.
O nariz forte. O desenho da boca.
A mão pousada no pescoço
que Modigliani um dia desenhou.
E no olhar felino, cinza-claro,
pressinto paixão e dor contida.

Anna Ahkmátova.
poeta de nome inventado,
lança sobre mim o claro raio
dos teus olhos líquidos,
para que minha alma não vire pedra.
Não quero morrer de sede,
sem ouvir a voz da língua.


 

 

 

 

 

 

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