A História se repete
Há três possibilidades: Nietzsche
estar certo, e a história ser um círculo; Santo Agostinho estar
certo, e a história ser uma linha reta; e todos nós, que sabemos o
que é saudade, estarmos certos, já que a saudade pressupõe uma
história que se desenvolve em uma espiral ascendente, voltando
sempre ao mesmo ponto, mas um nível acima.
É quando a história (a nossa história
- afinal, o que é a História, senão uma infinita combinação das
histórias de cada um?) sobrepõe dois momentos iguais, mas separados
pelo tempo, que sentimos saudade. Isso ocorre a todo instante -
ainda mais quando a nossa história já desenrolou espirais o
suficiente da nossa vida. Mas porque não sentimos saudade sempre?
A saudade está dentro de nós, mas
precisa de um estímulo para se manifestar - uma cor, um lugar... uma
música. Às vezes, a saudade se manifesta em forma de uma outra
pessoa ou de um outro momento no tempo. E, às vezes, a saudade se
manifesta em si mesma.
Quando isso ocorre, somos tomados por
uma melancolia que nos deixa em paz. É um sentir saudade por algo
que não lembramos, mas sentimos; algo que poderia ter sido, não no
sentido de uma possibilidade não realizada, e sim em um gosto de
alguma coisa que foi marcante, mas que agora reluz apenas em si
mesma. Algo que não está na memória, mas na alma - longe, portanto,
de qualquer alcance.
São nestes momentos, em que a saudade
se manifesta por si mesma, que tudo parece fazer sentido. Porém, a
saudade só pode aparecer como ela é quando se está consigo mesmo.
Quando se está despojado, livre dos excessos; quando há silêncio,
dentro e fora de nós. Quando estamos sozinhos, podemos apreender
como a história sobrepõe os momentos iguais; e o tempo se nos mostra
como realmente é - um prazer.
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