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Eduardo Sterzi
Outro cacto
Abstrai, se alcanças, o cacto de Bandeira,
imponente em sua queda de colosso.
Abstrai toda paisagem
e, sobretudo,
toda contaminação
humana.
Pondera o cacto
pequeno,
sem flor mas também sem deserto:
cacto de vaso,
de apartamento:
cacto sem metáfora.
Em sua matriz esquálida,
mas por isso ideal,
molda, a partir de agora,
teu viver -
Tu, forma vaga,
pretensão
de aspereza.
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Manuel Bandeira
Aquele
cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco
nordeste, carnaubais, caatingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.
Um dia
um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bonde, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro
horas [privou
a cidade de iluminação e energia:
- Era
belo, áspero, intratável.
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