Meu caro poeta, até bem pouco tempo eu imaginava que só “euzinha” tinha vindo
“lá do sertão”. Porque em cidade (mais ou menos) grande, são poucos os que têm
coragem de revelar suas origens. Ou porque sentem vergonha ou porque têm medo da
descriminação, das chacotas, dos apelidos etc. Eu já enfrentei todo tipo de
brincadeiras, maledicentes ou não, mas nunca reneguei o meu rincão onde passei
minha infância e que hoje eu sei, foi o tempo mais feliz da minha vida. Lá o
matuto é livre para ser autêntico. Não se preocupa ou melhor, nem sabe o que
é, o tal do traquejo social. Lá todo mundo fala o que pensa sem mais aquela
e sem nenhum receio de ser considerado grosso, pouco sociável, ou coisa do
gênero. Muito pelo contrário, lá nos matos o que mais se ignora é a
desonestidade e a hipocrisia. Não há nada que o sertanejo deteste mais
do que hipocrisia, falácia e salamaleques. Por essas e outras é que eu
lhe agradeço muito pela matéria que enviou. Parece que voltei no tempo
enquanto lia. Um retrato fiel da minha infância/pré-adolescência quando
eu também fiz muitas “peregrinações” em busca da tão sonhada educação.
Claro que não andava sozinha à noite, mas caminhei extensas léguas também.
Talvez essas caminhadas forçadas de outrora sejam as responsáveis pelo meu
vigor e disposição de hoje. Abraços, Fátima