Luiz Paulo Santana
Sobre Dedicatória de Soares Feitosa
Você devia estar inundado de poesia, ne ssa “tarde em sol”, transbordando a emoção que
daria para lavrar um poema-livro! Mas bastaram dois versos, únicos, para derramar todo o
aluvião lírico, acumulado nessa longa hibernação. Seja quem for a musa, ela sabe que é para
sempre.
Sobre Architectura de Soares Feitosa
Francisco rejubilo-me por você, com tão belas e profundas manifestações. Superam a poesia que
é a sua fagulha, o ritual do desprendimento, o rito que embala o voo. Helder Ventura é perfeito
ao metaforizar Architectura: um poema cuja “moradias”, uma doce e bem aventurada paz de espírito. E, com justiça,
Elídia se derrama em poesia. Insuportável. Porque não é para suportar. É para se deixar levar na torrente.
Como esquecer? Jamais.
Estudos & Catálogos - Mãos de Soares Feitosa
“Ao dono, indelegável, personalíssimo, o direito de ferrar”. Sim. E você o faz com a marca inconfundível
de seu estilo e de seu talento. Catalogando catálogos que catalisam o processo alquímico da leitura, catapultando o
leitor para dentro do livro que, pela pequena amostra, que pena, dá a pista de outra talentosa ferrada. A estrofe citada,
do poema “As Horas do Dia”, deixou-me em grande expectativa: pareceu-me uma abertura, delicada
e premonitória preparação para a grande aventura poética que se seguirá. “Recordel”.
Você certamente nos dirá onde e como conseguir o livro.
Sobre Ma fi Allah! de Soares Feitosa
Poeta, sobre a lição de centauromaquia mandei-lhe um comentário que você já incluiu. Esqueci-me de
comentar os quadros: o de Blake, como sempre impressionante, vitorioso, utópico, e o de Victor M. Vasnesov, este último
evocando, a mim me parece, o “Ser ou não ser...”, de Shakespeare, ou, o homem diante de sua morte. E se Hamlet encarna
o poder e a dúvida diante do nada, numa perspectiva de fuga, o cavaleiro armado e seu belo cavalo de batalha decaem impotentes
diante das caveiras e lápides, numa perspectiva de fim. Foi um prazer ler Ma fi Allah!: o velho tio do poeta Tufic, afinal
de contas, com um simples “Ma”, transgrediu o óbvio, ele que tanto pensava (lembrando Lya Luft) sob o seu secreto e particular
modo de revolver dúvidas, ou dúvida, mais especificamente, pois acabou por lançá-la tanto nas hostes familiares como entre
os convivas da famosa biblioteca, Tufic sobrinho incluso. De propósito? Ou não deu tempo? Lembra Saramago em seu “História
do Cerco de Lisboa”, quando o revisor acrescenta um “não” a uma única frase e muda toda a história. Ficção ou história?
História ou ficção? Que diria de Jorge Tufic? Primeiro, uma figura muito simpática, algo ancestral – babilônio
e sutil, conforme o soneto? Segundo, basta-me citar fragmentos do parágrafo final da carta
que lhe enviou o poeta, agradedcendo o recebimento de “Réquiem em Sol da Tarde”, sobre versos de “Femina” (“Não lavei as
mãos/pois tinham os sons/do teu corpo”): ... simples relâmpago de azulados e carnais reflexos, nos confins desta tarde e
deste sol que nos banha, redime e fortifica. Aqui ambos têm meus olhos, meus ouvidos e minha alma.
Forte abraço,
LPSantana. BH/MG
Da caixa postal aos corrós de açude de Soares Feitosa
Mas
quem é que não engasga, Soares, quem é que não engasga? O que você escreveu, do jeito
que escreveu, e escreveu tão bem com o modo com que escolheu as palavras, e escolheu tão
bem as palavras para dizer o que disse, que eu, repleto, contente com esse espetáculo de composição,
onde os diversos planos se interpenetram sem os marcadores de tempo, e outras magistrais
construções reveladoras (“O proprietário franziu-se ao tempo e...”), do escritor maduro
e algo roseano – eu comentei e Ascendido também falou – que a homenagem fez brilhar o homenageado
e assim, eu quero ler, eu vou ler Ascendido Leite.
Grande, grande Abraço.
LPSantana
Sobre Da caixa postal aos corrós de açude de Soares Feitosa
Mas
quem é que não engasga, Soares, quem é que não engasga? O que você escreveu, do jeito
que escreveu, e escreveu tão bem com o modo com que escolheu as palavras, e escolheu tão
bem as palavras para dizer o que disse, que eu, repleto, contente com esse espetáculo de composição,
onde os diversos planos se interpenetram sem os marcadores de tempo, e outras magistrais
construções reveladoras (“O proprietário franziu-se ao tempo e...”), do escritor maduro
e algo roseano – eu comentei e Ascendido também falou – que a homenagem fez brilhar o homenageado
e assim, eu quero ler, eu vou ler Ascendido Leite.
Grande, grande Abraço.
LPSantana
Sobre Dos sapos e dos livros de Soares Feitosa
Querido Vate:
Adentrei o labirinto com entusiasmo. Tanto, que fui parar às folhas outras, perdido. E ainda
não saí. Taí o resultado:
Lector in fabula (Eco)
É uma vez um homem que, diante dos livros nas estantes, horroriza-se em puxar um deles,
e quando o faz, nega-se a abri-lo.
É uma vez outro homem que, muito os abria e, se por mais não
for, passa a furtá-los.
É uma vez um homem que colecionava bichos sob redomas, num velho ônibus tornado em
museu. Debaixo de uma redoma, juntos, a cobra e o sapo. O sapo, quem “sape”, quieto; a cobra
em estardalhaço.
É uma vez outro homem que tinha olhos de lince. A tudo olhava por dentro, por fora dava outras
cores. Arrematou milho verde na feira por onde olhava. Viu por debaixo da palha. Aos bichos
sob as redomas foi perscrutarlhes a alma. Contentou-lhes sapo e cobra, antítese contraditória.
Juntos, sob a redoma.
É uma vez um homem quem vagasse por ali, procurasse ao pé do então, os esquecidos atilhos.
Olhos de lince não viram. Achados num outro chão.
E agora, como se explica?
(“......resposta de fogo, se é que existe como ousá-la....?”) (Soares)
Toureando-se a pergunta, que a resposta, outro touro em sucessão?
Predileção pessoal ou conspiração de forças? (Adail)
“Que é a verdade?” (Pilatos)
“Há respostas que talvez jamais nos sejam dadas. E isso, para nossa proteção.” (J. Romero Antonialli,
2ºcomentário sobre o poema “Penúltimo Canto, variação nº. 1, a dúvida”)
Enigmas.
LPSantana
Uma pequena lição de cavalaria, de Soares Feitosa
SF,
foi uma bela, mítica, histórica cavalgada. Inflamou os campos,
moveu os ares em grandes ventanias, despertou poetas, fez suspirar o leviatã – que não se
atreve porque o caos é aparente – na hora mesma em que pelevermelha
e cavalo frementes, hifenizados no “montado-e-vigilante” chispam, causando tremores
no olho de quem olha e sem piscar lê até o fim.
E tem cavalo e homem antes da “transfusão”: o cavalo no cabresto
em círculo, o cavalo na baia confiado, o cavalo e suas orelhas
sinais e códigos. E tem cavalo solto, selvagem: “...a cabeça se
alterna à esquerda e à direita, por baixo das pernas e por cima
do lombo, a olhar de lado e para trás”.
E tem o segredo das palavras que se joga adiante, de modo que
o cavalo, digo, o leitor, digo ainda, o centauro em que nos
transformamos as recolha à galopada.
É cavalgada de palavras que passam ligeiras no espaço de todos
os tempos, modos e conjugações. Acabo de ler, acabo de ver e é
assim. Ainda há poeira no ar.
Abração, LPSantana
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