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Luiz Paulo Santana 

Titian, Three Ages


Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Conto:


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

Luiz Paulo Santana


 

Notícia do poeta:


 

Nascido a 03/08/48, na cidade Matozinhos, MG, casado com dona Valdete, três filhos, (filho, filha, filho), primário no saudoso Grupo Escolar Padre Correia de Almeida - Caxambu/MG — ainda no tempo da escola pública gratuita e de qualidade — leitura, muita leitura — e o resto em Belo Horizonte. Economista pela UFMG, Fiscal de Tributos Estaduais hoje aposentado, voluntário estreante num projeto de "Leitura, Pensamento e Escrita" para crianças de 8 a 16 anos, prosador/versejador sem compromisso e modesto aprendiz de Poesia. Publicou prosa e poesia na revista Videtur - Letras - 2, de responsabilidade de Escola de Escritores/Univ. Cat. de Múrcia/EDF-FEUSP/GFM-Univ. do Porto/UVST/Mandruvá. Ah! E leitor assíduo do Jornal de Poesia e do Poeta-editor.

[Noticia de ago/2003]

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Luiz Paulo Santana


 

O segredo de ser


No fundo do quintal
há uma lata
lata velha
velha lata
guardou tinta
guardou óleo
guardou graxa
guardou o vazio das latas
lata velha enferrujada
que ainda guarda
o segredo de ser lata.

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Exposition of Moses

 

 

 

 

 

Luiz Paulo Santana


 

A exumação dos corpos


A exumação dos corpos
mortos-vivos:
(talvez seja exato dizer
mortos e vivos)
os mortos são vivos conosco
embora despidos
de si mesmos.


Os mortos são muitos e de todo o tipo:
a lata de ervilha (“petit-pois”, peti-puá)
na qual, menino, plantei uma folhagem,
ambos mortos-vivos em mim,
o menino, a lata
e a folhagem.


Os gatos. Quantos gatos
viveram e morreram e estão
mortos-vivos em mim.


A mãe-d’água que capturei
na latinha vermelha
de massa de tomate
com água e lama.
Há nessa imagem uma estranha vida.
Morta e viva.


O meu avô,
para sempre velho,
com o seu chapéu,
a barba rala e branca
e o sorriso,
morto-vivo em mim.


Quando se exumam corpos
é que se percebe: as coisas
também têm vida, como nós.
Ou somos todos coisas.


Em que um homem velho
é diferente de uma lata velha?
Não lhes falte o respeito.


Porque o que nos falta cultivar é isto:
respeito por todas as coisas.


Um velho obus: por que assim nos inventamos?


Voltando à exumação:
minha arapuca e seus pássaros voláteis.
O pássaro morto-vivo não é um desenho.
A mancha de seu corpo agita em fuga,
para sempre, dentro da arapuca.

 

Poussin, The Exposition of Moses

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

Luiz Paulo Santana


 

Declaração


Este coqueiro é meu
como é meu o sabugo de minha unha
como é meu o meu intestino
como é meu o meu coração.


Minha árvore genealógica
tem raízes mortas
a sugar
a seiva do chão.


Meu coração tripartite
folhas e tronco e raízes
é, antes, meu coração
coração-mundo, coração-cosmos,
coração-tudo, unicoração.

 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

Luiz Paulo Santana


 

Sobre Dedicatória de Soares Feitosa

 

Você devia estar inundado de poesia, ne ssa “tarde em sol”, transbordando a emoção que daria para lavrar um poema-livro! Mas bastaram dois versos, únicos, para derramar todo o aluvião lírico, acumulado nessa longa hibernação. Seja quem for a musa, ela sabe que é para sempre.

 


 

Sobre Architectura de Soares Feitosa

 

Francisco rejubilo-me por você, com tão belas e profundas manifestações. Superam a poesia que é a sua fagulha, o ritual do desprendimento, o rito que embala o voo. Helder Ventura é perfeito ao metaforizar Architectura: um poema cuja “moradias”, uma doce e bem aventurada paz de espírito. E, com justiça, Elídia se derrama em poesia. Insuportável. Porque não é para suportar. É para se deixar levar na torrente. Como esquecer? Jamais.

 


 

Estudos & Catálogos - Mãos de Soares Feitosa

 

“Ao dono, indelegável, personalíssimo, o direito de ferrar”. Sim. E você o faz com a marca inconfundível de seu estilo e de seu talento. Catalogando catálogos que catalisam o processo alquímico da leitura, catapultando o leitor para dentro do livro que, pela pequena amostra, que pena, dá a pista de outra talentosa ferrada. A estrofe citada, do poema “As Horas do Dia”, deixou-me em grande expectativa: pareceu-me uma abertura, delicada e premonitória preparação para a grande aventura poética que se seguirá. “Recordel”. Você certamente nos dirá onde e como conseguir o livro.

 


 

Sobre Ma fi Allah! de Soares Feitosa

 

Poeta, sobre a lição de centauromaquia mandei-lhe um comentário que você já incluiu. Esqueci-me de comentar os quadros: o de Blake, como sempre impressionante, vitorioso, utópico, e o de Victor M. Vasnesov, este último evocando, a mim me parece, o “Ser ou não ser...”, de Shakespeare, ou, o homem diante de sua morte. E se Hamlet encarna o poder e a dúvida diante do nada, numa perspectiva de fuga, o cavaleiro armado e seu belo cavalo de batalha decaem impotentes diante das caveiras e lápides, numa perspectiva de fim. Foi um prazer ler Ma fi Allah!: o velho tio do poeta Tufic, afinal de contas, com um simples “Ma”, transgrediu o óbvio, ele que tanto pensava (lembrando Lya Luft) sob o seu secreto e particular modo de revolver dúvidas, ou dúvida, mais especificamente, pois acabou por lançá-la tanto nas hostes familiares como entre os convivas da famosa biblioteca, Tufic sobrinho incluso. De propósito? Ou não deu tempo? Lembra Saramago em seu “História do Cerco de Lisboa”, quando o revisor acrescenta um “não” a uma única frase e muda toda a história. Ficção ou história? História ou ficção? Que diria de Jorge Tufic? Primeiro, uma figura muito simpática, algo ancestral – babilônio e sutil, conforme o soneto? Segundo, basta-me citar fragmentos do parágrafo final da carta que lhe enviou o poeta, agradedcendo o recebimento de “Réquiem em Sol da Tarde”, sobre versos de “Femina” (“Não lavei as mãos/pois tinham os sons/do teu corpo”): ... simples relâmpago de azulados e carnais reflexos, nos confins desta tarde e deste sol que nos banha, redime e fortifica. Aqui ambos têm meus olhos, meus ouvidos e minha alma.
Forte abraço,

LPSantana. BH/MG

 


 

Da caixa postal aos corrós de açude de Soares Feitosa

 

Mas quem é que não engasga, Soares, quem é que não engasga? O que você escreveu, do jeito que escreveu, e escreveu tão bem com o modo com que escolheu as palavras, e escolheu tão bem as palavras para dizer o que disse, que eu, repleto, contente com esse espetáculo de composição, onde os diversos planos se interpenetram sem os marcadores de tempo, e outras magistrais construções reveladoras (“O proprietário franziu-se ao tempo e...”), do escritor maduro e algo roseano – eu comentei e Ascendido também falou – que a homenagem fez brilhar o homenageado e assim, eu quero ler, eu vou ler Ascendido Leite.
Grande, grande Abraço.

LPSantana

 


 

Sobre Da caixa postal aos corrós de açude de Soares Feitosa

 

Mas quem é que não engasga, Soares, quem é que não engasga? O que você escreveu, do jeito que escreveu, e escreveu tão bem com o modo com que escolheu as palavras, e escolheu tão bem as palavras para dizer o que disse, que eu, repleto, contente com esse espetáculo de composição, onde os diversos planos se interpenetram sem os marcadores de tempo, e outras magistrais construções reveladoras (“O proprietário franziu-se ao tempo e...”), do escritor maduro e algo roseano – eu comentei e Ascendido também falou – que a homenagem fez brilhar o homenageado e assim, eu quero ler, eu vou ler Ascendido Leite.
Grande, grande Abraço.

LPSantana

 


 

Sobre Dos sapos e dos livros de Soares Feitosa

 

Querido Vate:
Adentrei o labirinto com entusiasmo. Tanto, que fui parar às folhas outras, perdido. E ainda não saí. Taí o resultado:

Lector in fabula (Eco)

É uma vez um homem que, diante dos livros nas estantes, horroriza-se em puxar um deles, e quando o faz, nega-se a abri-lo.

É uma vez outro homem que, muito os abria e, se por mais não for, passa a furtá-los.

É uma vez um homem que colecionava bichos sob redomas, num velho ônibus tornado em museu. Debaixo de uma redoma, juntos, a cobra e o sapo. O sapo, quem “sape”, quieto; a cobra em estardalhaço.

É uma vez outro homem que tinha olhos de lince. A tudo olhava por dentro, por fora dava outras cores. Arrematou milho verde na feira por onde olhava. Viu por debaixo da palha. Aos bichos sob as redomas foi perscrutarlhes a alma. Contentou-lhes sapo e cobra, antítese contraditória. Juntos, sob a redoma.

É uma vez um homem quem vagasse por ali, procurasse ao pé do então, os esquecidos atilhos. Olhos de lince não viram. Achados num outro chão.

E agora, como se explica?

(“......resposta de fogo, se é que existe como ousá-la....?”) (Soares)

Toureando-se a pergunta, que a resposta, outro touro em sucessão?

Predileção pessoal ou conspiração de forças? (Adail)

“Que é a verdade?” (Pilatos)

“Há respostas que talvez jamais nos sejam dadas. E isso, para nossa proteção.” (J. Romero Antonialli, 2ºcomentário sobre o poema “Penúltimo Canto, variação nº. 1, a dúvida”)

Enigmas.

LPSantana

 


 

Uma pequena lição de cavalaria, de Soares Feitosa

 

SF,

foi uma bela, mítica, histórica cavalgada. Inflamou os campos, moveu os ares em grandes ventanias, despertou poetas, fez suspirar o leviatã – que não se atreve porque o caos é aparente – na hora mesma em que pelevermelha e cavalo frementes, hifenizados no “montado-e-vigilante” chispam, causando tremores no olho de quem olha e sem piscar lê até o fim.

E tem cavalo e homem antes da “transfusão”: o cavalo no cabresto em círculo, o cavalo na baia confiado, o cavalo e suas orelhas sinais e códigos. E tem cavalo solto, selvagem: “...a cabeça se alterna à esquerda e à direita, por baixo das pernas e por cima do lombo, a olhar de lado e para trás”.

E tem o segredo das palavras que se joga adiante, de modo que o cavalo, digo, o leitor, digo ainda, o centauro em que nos transformamos as recolha à galopada.

É cavalgada de palavras que passam ligeiras no espaço de todos os tempos, modos e conjugações. Acabo de ler, acabo de ver e é assim. Ainda há poeira no ar.

Abração, LPSantana
 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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(05.05.2023)