Antero Barbosa |
From:
<barbant@iol.pt>
To: "Soares Feitosa" <soaresfeitosa@uol.com.br>
Sent:
Thursday, June 16, 2005 5:12 PM
Subject:
Re: Relato de uma peregrinação adúltera
Vem de longes tempos a atracção pela peregrinação, viagem custeada em homenagem ao santo, de que a mais famosa talvez termina em Compostela, na Galiza. Mas o peregrinar invadiu as areias da literatura. Camões se achou sob los rios de Babilónia, Dante incinerou a descida ao Purgatório, Carlos de Oliveira colocou-nos nos enxofres subterrâneos “debaixo do vulcão”, Verne levou-nos até ao centro da Terra e Sena propiciou a visita (peregrinatio) ad loca infecta. Mas o maior romeiro de todos, em pátria portuguesa, vem de Alcácer-Quibir e chama-se “ninguém”, e a maior peregrinação de todas cabe a Fernão Mendes Pinto. Peregrinações domésticas, de interior, alpinismos, há vários e para todos os desgostos. Agora pude sentir esta, a todos os títulos indevidamente nomeada “peregrinação adolescente”. Porque essa peregrinação já vestiu várias peles, sendo hoje absolutamente adulta. Como tudo o que vivemos, ou do que vivemos o que mais apelamos, vai amadurando junto conosco. Envelhecendo, quase. Sobrando algumas réstias de amor e muitas de humor. Gostei de fazer essa viagem. Costurada das muitas menores que fiz. Retirei (retiramos) muito tempo de idade a nossas vidas. E muitos quilos. Fingindo de adolescentes. E, mão na mão, recuei ao tempo do sertão, monte em minha linguagem portuguesa. E assim pude suportar o peso do sol, vestir a roupa da solidão, esbarrar no escuro das noites, permitir as carícias e os safanões do vento e apertar o medo na concha da mão. E agarrar o pau que amedrontava os cães guardadores de casas, e pedir água para beber café, e esmagar cansaços em águas de ribeiros. E no livor da manhã poder visionar de cima o campanário de Nova Russas. Como um bálsamo no físico e na alma. Novas Russas!, nome estrangeiro, que me faz lembrar a Rússia e com ela nada tem a ver decerto. Mas no mais tudo provoca osmose em função de uma língua comum. Matos não será composto dos arbustos daqui, eu depreendo tojo, urgueira, giesta, mas o que importa é o que o léxico nos transporta em idênticos terrenos mentais. E isso nos permitiu, a nós dois, obter vivências e hoje reminiscências, que erguem de sempre um resplendor só imaginável por quem um dia não foi urbano.
E que nos proporcionou as circunstâncias
únicas de poder defrontar o animal que habita dentro de nós, poder
acariciá-lo, bebê-lo, o domar porque nasceu selvagem, usar porque é
nosso aliado. Meu caro Soares Feitosa: permita-me o egoísmo de acreditar que escreveu este texto de propósito para mim. E acredite que nenhumas distâncias impedem duas pessoas de por vezes esbarrarem de forma irreversível. Grande abraço, Antero Barbosa |
Regine Limaverde |
From:
Regine
To:
Soares Feitosa
Sent: Thursday, June 16, 2005 11:00 AM
Subject: Regine, é o Soares Feitosa
Como sempre, me encanto com seu texto. E estou aqui abestada, pensando em Monsenhor Tabosa e no cavalo que você levou para escola. E nos atoleiros e no cachorro latindo no pátio e no riachote, um filete magro. E nessa tal alma-de-gato! Que coisa! Sabe companheiro?! Você é o Guimarães Rosa do Ceará. Mas não fique muito empombado não, viu?! Regine Limaverde |
Alfredo Fressia |
From: "Alfredo Fressia" <alfress@uol.com.br>
To: "Soares Feitosa" <soaresfeitosa@uol.com.br>
Sent: Sunday, June 12, 2005 10:18 PM
Subject: Poeta Feitosa
Poeta, o sertão está na gente. Nas cidades também, o mesmo susto, a mesma perplexidade. Eu escrevo minhas Urbes de Papel, você, amigo, o sertão (de papel, de sonhos, de desamparo, de lembrança, de tempo Retrouvé). E continuamos na luta -há quanto tempo já? Mais um abraço do seu amigo Alfredo Fressia
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Ozório Couto |
From:
couto
To:
Soares Feitosa
Sent: Monday, June 13, 2005 10:46 AM
Subject: Peregrinações à meia-noite
Soares Feitosa, bom dia! É ótimo ler alguma coisa de sua autoria. E o texto é excelente. Não li todo, confesso. Mas, o que li, é de bom tamanho. Inclusive, quando cheguei na metade, intercalei até o final. Texto bom. Muito bom! Interessante, por assim dizer, com adjetivo. Substância na imaginação. Lembrei de minha infância aqui no interior de Minas, na minha terra querida, Luz, no Centro-oeste. Alguns relatos do "sr. Francisco",tão parecidos com os nossos. Ah! não tenho o hábito de consultar cartomantes. A única vez em que fui em uma, foi em 1994, se não me engano. E foi até legal, também engraçadíssimo. Vou fazer uma viagem longa, sim. Aliás, em agosto vou a Brasília, lançar meu livro "Do pico do Amor pelo Cauê". A viagem longa vai ser no exterior, por três meses, logo após o lançamento na Novacap. Grande abraço, Ozório Couto |
Antônio Carlos Secchin |
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Fátima Leal |
From: <mfleal@petrobras.com.br>
To: "Soares Feitosa" <soaresfeitosa@uol.com.br>
Sent: Monday, June 13, 2005 1:18 PM
Subject: Re: Recebimento
Meu caro poeta, Até bem pouco tempo eu imaginava que só 'euzinha' tinha vindo 'lá do sertão'. Porque em cidade (mais ou menos) grande, são poucos os que têm coragem de revelar suas origens. Ou porque sentem vergonha ou porque têm medo da descriminação, das chacotas, dos apelidos, etc.
Eu já enfrentei todo tipo de
brincadeiras, maledicentes ou não, mas nunca reneguei o meu rincão onde
passei minha infância e que hoje eu sei, foi o tempo mais feliz da minha
vida. Lá o matuto é livre para ser autêntico. Não se preocupa ou
melhor, nem sabe o que é, o tal do traquejo social. Lá todo mundo fala o
que pensa sem mais aquela e sem nenhum receio de ser considerado
grosso, pouco sociável, ou coisa do gênero. Muito pelo contrário, lá
nos matos o que mais se ignora é a desonestidade e a hipocrisia. Não há
nada que o sertanejo deteste mais do que hipocrisia, falácia e
salamaleques. Por essas e outras é que eu lhe agradeço muito pela
matéria que enviou. Parece que voltei no tempo enquanto lia. Um retrato
fiel da minha infância/pré-adolescência quando eu também fiz muitas abraços, Fátima |
Raquel Naveira |
From: "Raquel Naveira" <raquelnaveira@ucdb.br>
To: "Soares Feitosa" <soaresfeitosa@uol.com.br>
Sent: Monday, June 13, 2005 12:01 PM
Subject: Re : De navegação e poema
Caro amigo Soares Feitosa, Uma delícia navegar sem bússola por esse diálogo poético entre os Franciscos impregnados de memória e noites estreladas. Envio-lhe hoje um poema, "As Parcas". Espero que goste. Abraço fraterno, Raquel Naveira
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Paulo Gondim |
From:
Paulo Gondim
To:
Soares Feitosa
Sent: Monday, June 13, 2005 7:18 PM
Subject: REALATO DA PERIGRINAÇÃO DE UM ADOLESCENTE
Meu caro poeta Soares: Rapaz, muito bom esse RELATO. Quem não conhece o SERTÃO há de fazer um curso sobre o Sertão, não tenha dúvida.Agora, essa da ALMA-DE-GATO é demais. Fazia muito tempo que não ouvia essa expressão. É Sertão puro! Parabéns. O poeta escreve muito bem. Abraços. Paulo Gondim São Paulo. |
Raymundo Silveira |
From:
Raymundo Silveira
Sent: Sunday, June 12, 2005 10:42 PM
Subject: Peregrinação
Caro Feitosa Estou perplexo. Cada vez mais me surpreendes. Conheço-te como um dos grandes poetas da língua portuguesa. Agora me vens com onze páginas de Memórias (que poderiam muito bem ser transformadas num belo conto), em forma de literatura de alto nível. Não preciso te dizer nada que não sinta. Nunca disse a “seu” ninguém. Sabes disso. Se ainda não publicaste, transforma isto num CONTO. Será uma obra prima que perdurará tanto quanto “A Cartomante”, “Fita Verde no Cabelo”, “O Homem que Sabia Javanês”, “Baleia”, “Famigerado”. Se preferires deixar como está, tudo bem. Não ficará nada a dever a trechos do “Baú de Ossos”, “Balão Cativo” ou “Beira-Mar”. Do Mestre NAVA. Isso é ouro puro. Ouro de lei. Parabéns, meu amigo! Muito obrigado por me proporcionar tanto sertão (o teu é igual ao meu) em forma de Arte, nesta tarde de domingo. Um abraço Ray Silveira |
Alckmar Luiz dos Santos |
From:
alckmar@cce.ufsc.br
Sent: 14/06/2005 12:23
Subject: Peregrinação
Soares, Que beleza, sô! Leio e releio, prazeroso das imagens e das palavras! Sem meias-palavras, gostei, imenso! Em anexo, vai livro que pode sair no segundo semestre, em papel mesmo. Abraço grande, alckmar
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Paulo de Toledo |
From:
Paulo de Toledo
To:
Soares Feitosa
Sent: Tuesday, June 14, 2005 7:56 PM
Subject: caminhando e cantando
Olá, meu camarada, como tá? Infelizmente, estou mais pra Mário do q pra Oswald. Sou caseiro. Por enquanto, por pelo menos. Mas tento "viajar", a despeito das pedras pesadas, tb chamadas de realidade, amarradas aos pés. Bonita essa tua peregrinação sígnica! O sol realmente está na nossa frente, mesmo qdo atrás. Afinal, a luz, a velocidade dela, é ele na sua mais perfeita tradução. Enfim, obrigado por me levar junto na tua caminhada. Abrações! Do companheiro de viagens, Paulo |
Francisco Cordeiro |
Mestre Chico Pouca gente hoje em dia sabe o que é isso, fazer uma peregrinação a pé. Peregrinação de pagar promessa, ou mesmo de tanger o tempo do nosso dia-a-dia, prumode se aprumar no futuro. Andar de chouto, fazendo a vez de tropeiro, acompanhando a tropa carregada dos apetrechos de sobrevivência: farinha, rapadura, feijão de corda, feijão de moita, carne de jabá, café da Serra Grande e tantas outras coisas que falta desta convivência em leva ao esquecimento. Lá pelos meus 13 anos, algumas vezes ia passar as férias com o meu tio Cãindo Torres. Em junho de 1958 (Seca do Cinqüenta e Oito), ele estava construindo o Açude Aroeiras, devia ficar a umas 4 léguas de Novas Russas e tinha umas cinqüentas pessoas diretamente trabalhando com ele, fora outras turmas independentes que estavam agregados na construção do açude. Estava quase faltando comida. Chegou a noticia de que um trem carregado de comida estava chegando em Ipueiras. Dai meu tio preparou uma tropa para ir comprar mantimentos em Ipueiras, num total de 30 animais. Por sorte ele permitiu minha ida também, principalmente porque eu sabia ler estava fazendo o 3º ginasial - depois fiquei sabendo disso - A ordem era ir a pé tangendo os animais pra eles não cansarem. E lá pelas 3 horas da manhã, eu, meu primo Simão Torres, Chico Sobral e o baiano Gó de Xote saímos tocando a tropa, o caminho estava simplesmente lindo com o clarão da lua, deixando tudo muito iluminado, nem rodagem era. Era um caminho mesmo. Existia quase nenhum caminhão ou qualquer outro tipo de jipe ou coisa semelhante rodando por aquelas paragens. Pois bem, chegando em Ipueiras às 7 da manhã, o trem já tinha arribado pra Nova Russas e a carga que abasteceu o mercado de Ipueiras já tinha sido toda comprada pela gente de lá. Na mesma pisada que chegamos em Ipueiras, nos despachamos no giro de Nova Russas, a pé tangendo os animais no chouto, ainda alcançamos o trem em Novas Russas fazendo o descarrego da preciosa carga. Conseguimos comprar tudo que se precisava do fumo de rolo baiano a carne de jabá, farinha, arroz, rapadura, feijão tudo enfim. Carregada a tropa, já era umas 3 horas da tarde quando saímos de Nova Russas para o Açude Aroeiras. Até hoje não me esqueço de quando chegamos a beira de um rio lá pelas 5 horas da tarde, em suas margens frondosas e centenárias oiticicas, somente areia seca com aquele forte cheiro de água de cacimba - tinha duas providenciais cacimbas e um cocho enorme feito de mulungu, onde os animais mataram a sede e nós também. se bem que aqui e acolá a gente matava a sede com um caneco d'água em uma ou outra casa perdida naquele meio de mundo. O sol ainda estava se pondo com aqueles raios encarnados bem escuros quando a gente estava chegando de volta no terreiro da casa grande. Saindo do Açude Aroeiras para Ipueiras e depois Nova Russas, este percurso faz um triangulo, onde caminhamos a pé constantemente em chouto uns 90 km, ou 15 léguas. Foi a maior viagem da minha vida até hoje, entre Ipueiras e Nova Russas descobri que ainda faltavam 42 anos para chegar ao ano 2000 e comecei a divagar expandindo as ondas do tempo... como estarei neste ano??? O que estarei fazendo e onde??... Inté mais vê. Chico Parnaibano (Do Ipu provisoriamente no Recife, Praia de Boa Viagem) |
Sérgio de Castro Pinto |
To: "Soares Feitosa" <soaresfeitosa@uol.com.br>
Sent: Thursday, June 16, 2005
10:20 PM
Subject: Re: página
Poeta Soares Feitosa: que bom ter sido ciceroneado por você nessa viagem epifânica, cheia de descobertas! E que bom ainda compartilhar com quem sabe que "a poesia é a infância amadurecida"! Sei que você começou a escrever já cinqüentão. Mas tinha que ser assim para quem, durante todo esse tempo, foi sazonando os sentimentos e as palavras para servi-los ao leitor que os percorre com a alma em riste e o coração aos pulos por suas descobertas. Muito obrigado, mais uma vez, por ter me feito companheiro do seu itinerário lírico. Abraço amigo do Sérgio de Castro Pinto
Em tempo: gostaria de obter o seu endereço
para enviar o meu mais recente livro, Zôo imaginário, que saiu
pela Escrituras. |
Efer Cilas Santos Júnior |
From: "Efer Cilas Santos Junior" <efer_junior@hotmail.com>
To: <soaresfeitosa@uol.com.br>
Sent: Thursday, June 16, 2005 9:07
PM
Subject: Re: Poemas e Contos
Tive muita satisfação e alegria em ler esta Peregrinação; é uma escrita invejável e uma viagem de crescimento moral, físico e intelectual; está bem próximo de Wilhelm Meister.
Percebe-se como literatura é uma
linguagem universal. A mesma frase de Kant que consolava Beethoven em
sua aflição, guiava o jovem sertanejo... Mais uma vez nos brinda com um
texto de grande valor e beleza. Forte abraço Efer |