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José Nascimento Félix

jonasfel@netcabo.pt

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), Girl, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, David, detalhe

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

 

 

 

 

 

José Nascimento Félix



Bio-Bibliografia


José Nascimento Félix, natural de Angola, nascido em 1946, em Luanda. Licenciado em História pela F.C.S.H. da Universidade Nova de Lisboa. Esteve na apresentação de várias obras editadas pela Escola do Espectador, promovendo a leitura de livros de poetas que se encontram na Rede e publicam antologias em papel, como o www.3poetasemleiria.pt de Constantino Alves, José Gil e Don Lackeood, prefaciado pelo próprio, Laços & Lazos, um livro de poemas bilingue de José Gil e Sônia Regina Campos. Em Lisboa, nas livrarias Apolo 70, Almedina, Clepsidra, Ler devagar e noutros espaços como a Casa do Artista, em Lisboa, tem promovido a leitura, dando conhecimento ao auditório de autores novos de várias latitudes. Promove a frequência de listas de discussão poética na Rede, tendo criado a lista Escritas suportada pela página literária pessoal Encontro de Escritas, em www.escritas.paginas.sapo.pt, com entrevistas, divulgação de poemas e novos poetas de língua portuguesa. Análise, crítica literária, ensaio, trabalhos feitos por alguns associados para um grupo de cerca de 200 autores e/leitores de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

Obra literária:

  • Geografia da Árvore (a reinvenção da memória), Col. Poéticas de Lav(r)a, Múchia Publicações, Lda., Funchal, Outubro de 2003

Antologias:

  • Antologia Horizontes do PD-Literatura, Brasil, 1999
    Poiesis II, Poiesis III da Editorial Minerva (MNA), Portugal, 1999, 2000

  • Antologia "Incomensurável" - Poesia a treze, Editorial Minerva, Portugal, 2000

  • "Inspiração Erótica" - Antologia da Associação Cultural de Jundiaí, Brasil, 2000

  • ”Espelhos da Língua” da Sociedade de Escritores de Blumenau, Brasil, 2001

  • “Quatro Poetas da Net”, Edições Sete Sílabas, Setembro, Lisboa, 2002

  • ”Prosa & Verso”, Projecto Palavra Azuis, Vol.2, da Sociedade de Escritores de Blumenau.

  • ”Encontro de Escritas” – Antologia nº1, Lisboa, 2004

Prefaciou os livros:

  • “www.3poetasemleiria.pt”, de José Gil, Don Lackewood e Constantino Alves.

  • “Laços & Lazos”, um livro bilingue, de José Gil e Sónia Regina

  • “De cada poro um poema” de Antoniel Campos

  • “Catavento” de Everardo Torrez Getz, autor mexicano.

  • ”Esfinge Lunar” de Goulart Gomes, poeta da Bahia, Brasil
     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

José Nascimento Félix



Os homens são seres de vida breve
in Odisséia de Homero
 


1.
na morte
presente e iluminada
atravessando o corpo, beijando a noite, fugindo
se sente a aurora no crepúsculo
da flor.


2.
tenho o vestígio da morte no corpo
a doença marítima de um búzio
que perde o grito silencioso quase
a sonolência longa de um sono breve

nos caminhos da areia rarefeita.
o vento de água cura a ferida aberta
e na contemplação das plantas vivas
mais viva é a morte passageira.

um gesto branco nos lábios de inocência.

3.
na areia da praia encontramos tudo
um brinquedo esquecido
pegadas de gaivotas
um adeus desenhado no coração

um bom-dia imprevisto quando estamos sós
e as espinhas dos peixes limpas pela água

o eco da voz vai com as ondas
que limpam já os passos inseguros
doutro caminho iluminado e breve
frágil no pó dos ossos incendiados

todo o fogo se consome a si próprio.

4.
num simples verso vai, na morte, a vida.

5.
restam o caos e o sonho
e na cegueira da luz
uma fonte incendiada
grava o último reflexo
da infância de um sorriso.

6.
nos ossos da manhã
há vestígios da carne madrugada
no quarto de hotel de 3ª classe.

o cheiro forte do gin tónico
conta os dias como um relógio velho
do qual sabemos a tonalidade

no compasso das horas.
é nos lençóis de esperma ressequido
que a vida fácil torce o coração
na clepsidra diária do pó

que dificulta na passagem clara e estreita
uma corrente de luz fina
que segura no grito temperado
uma voz frágil que surge do medo.

7.
há princípios de ausência
no teu rosto
e dos ossos só resta a quietude
da espera convertida

na vertigem dos dias.
desenha-se
a última alegria límpida e lúcida
no vôo de uma pomba.

é pacífica a morte
quando te beija o corpo quente e dado
aos fantasmas do sonho.

quanto mais sobe a vida na montanha
mais escarpas e sulcos de gangrena
se vão formando em direcção ao pó.

8.
nesta raiz apodrecida e frágil
há ecos há vozes no encantamento
dos pássaros feridos pelo tempo

uma lua adormecida engravida
a luz que pasma detrás do casario

há árvores que resplandecem
quando a morte lhes gangrena o tronco.

9.
nasce morta a manhã
nos escombros das casas e das árvores.
o último sorriso jovem escurece
a rua metralhada por deus.

as pombas rodeiam os ossos da cidade
enquanto os corvos comem restos
de humanidade.

10.
dobra o pecíolo na ventania
e a folha
na nervura do tempo cai no fio de água
deixando esporos na margem da sede
na penumbra.
 

 

 

 

Rubens_Peter_Paul_Head_and_right_hand_of_a_woman

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Rosa Alice Branco

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

José Nascimento Félix



numerus lexicon


0 - Zero


tenho a idade da semente
a claridade do espelho

e na face de tudo que é nada
grávido, o tempo
liberta a multiplicação das flores

a metade do infinito
perseguindo os meus passos

no mais redondo silêncio e harmonia.

1 - Um

fálico. único.
a lança na travessa da semente
um abraço no espelho
no esconderijo do escudo.

guerreiro impune
o começo do nada o princípio da fala
a verticalidade solitária

uma papoila rubra na seara.

2 - Dois

uma duplicidade desenhada
na altivez natural
carrega para sempre
o outro lado do espelho

o reflexo é a diferença da face

o duplo do decúbito ventral

3 - Três

a trindade religiosa
incompleta
o recinto do infinito

púberes e o ventre
quase na explosão da flores.

4 - Quatro

círculo imperfeito
na beleza da quadratura

o centro agarra-se ao lápis

e um sorriso se desfaz
na queda da linha

segura, ainda, o papagaio de papel
uma sereia azul com asas
na imaginação do vento.

5 - Cinco

a concha do teu corpo
cativa o pólen das anteras

e na orquídea do tempo

nasce um sorriso de erva-doce
na abertura da ânfora

a mão de flor recolhe a água
liberta da sede.

6 - Seis

furtiva a sílaba entre a dor palpita

breve e grávida
a fala do princípio aguarda o sol
na semente da aurora.

7 - Sete

na cadeira da cabala
fizeste tremer o faraó

e na fonte dos sete sábios
platão bebeu a sede dos deuses

perto do infinito
alongas a distância vezes sete
fechada em lábios de silêncio.

8 - Oito

uma semente grávida
na divisão do núcleo
principia no espelho do que é nada.

a verticalidade do infinito
na linha imaginária
do fim da vida
no princípio da morte.

9 - Nove

a radícula rasga a terra
suporta na semente o infinito
a árvore gentílica

o prenúncio de todos os caminhos

simples flor frágil
lábil pedúnculo

na brisa vai o pólen e o aroma.


 

 

 

 

Allan Banks, USA, Hanna

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Marina Leitão

 

 

02/05/2006