Gilberto Alves Junior
Estudos & catálogos — mãos de Soares Feitosa
Poeta Soares: Permita-me fazer uma leitura menos teórica do “papé”. Além disso, vale
dizer que é a leitura de alguém que não tem saudade de todas as coisas que você narrou,
mas, talvez, vontade de conhecê-las algum dia. Alguém da cidade, muito da cidade. Até
demais. As mãos, a forma rústica e ao mesmo tempo doce como elas são desenhadas nas suas
linhas, e nas entrelinhas, fica na mente. O couro do boi, meu avô tinha um como tapete
na sala, eu me lembro bem disso. E é o único contato que eu já tive com couro de boi.
Mas o universo do qual você fala é, para mim, outro mundo, o que torna a obra muito mais
interessante. Vai sendo uma descoberta atrás da outra. O único contato com queijo que eu
já tive: vê-lo no supermercado, embalado. Com o leite, em caixinhas longa vida.
A impressão que dá é que a gente esquece que o leite vem da vaca, que alguém cuida
da vaca, que a vaca come pasto e tudo isso no campo. A impressão que dá é que as
caixas de leite dão em árvores, e são colhidas e levadas para o supermercado. As
duas histórias seriam iguais para mim; eu nunca vi uma vaca dando leite, tanto
quanto nunca vi uma árvore de leite longa vida. Assim, esse universo novo e
diferente vai sendo aberto, jogado na minha cara, de uma forma que causa muita
estranheza. E beleza! Eu li seu “papé” no trepidar do ônibus, na avenida Marginal
do sujo Tietê, não numa rede às margens de algum rio que corra devagar e limpo.
Assim, minha leitura é bem diferente da de alguém que passou pelas experiências
que você conta. E se quer saber: achei tudo muito lindo. Gilberto Jr [da cidade]
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