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Luís Antonio Cajazeira Ramos

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

Poemas avulsos:


Poemas do livro Fiat breu:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Luís Antônio Cajazeira Ramos



Biografia

Luís Antonio Cajazeira Ramos nasceu em Salvador, Bahia, Brasil, em 12 de agosto de 1956, filho do comerciante Pedro Ferreira Ramos Filho e da professora primária e gestora escolar Mary Dias Cajazeira Ramos. Foi alfabetizado na extinta Banca Olavo Bilac, da professora Dona Inha (1962). Fez o curso primário na extinta Escola Estadual Antônio Muniz (1963-1967), o ginasial no Colégio Militar de Salvador (1968-1971) e o colegial na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas, São Paulo, em regime de internato (1972-1974). De volta a Salvador, cursou engenharia elétrica (1975-1978) e agronomia (1981-1983) na Universidade Federal da Bahia (UFBA), abandonando ambos os cursos no penúltimo semestre curricular de cada um deles. Formou-se em educação física (1986-1988) e direito (1991-1995) pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL). Transitou também pelos cursos de matemática (primeiro semestre de 1979) e de medicina (os dois semestres de 1989), ambos na UFBA. Foi professor de matemática no Curso Águia, preparatório para o antigo exame vestibular (1975-1976). Foi professor da graduação na Faculdade de Educação Física da UCSAL (1989-1993). Foi técnico da Secretaria da Receita Federal (1990-1992). É analista do Banco Central do Brasil (a partir de 1992). Foi diretor nacional do sindicato dos funcionários do Banco Central (1999 a 2004). Está inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil desde 1996, mas exerce a advocacia apenas esporadicamente. É sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (a partir de 1998). É sócio fundador da Associação Amigos do Teatro Castro Alves, criada em 2012. É membro titular da Academia de Letras da Bahia desde 2012.

Não fez poesia na infância e na adolescência. Seu primeiro poema data de dezembro de 1979, aos 23 anos. Nos três anos seguintes, escreveu poesia e prosa poética, culminando com a publicação artesanal de seu primeiro livro, Tudo muito pouco, em 1983. Com material para mais dois ou três livros, queimou tudo em meados de 1984 (inclusive os exemplares que ainda possuía do livro publicado) e abandonou a poesia. Após mais de uma década em que não fez sequer uma dúzia de poemas, voltou a escrever em junho de 1995, aos 38 anos, passando também a frequentar o meio literário soteropolitano. Em 1996, registrou o selo Edições Papel em Branco e lançou o livro Fiat breu, cuja repercussão ampliou suas relações para fora da Bahia. Em 1998, com os originais do livro Como se, recebeu a menção honrosa do Prêmio Cruz e Sousa, da Fundação Catarinense de Cultura. O livro foi aprovado para edição pelo conselho editorial da Fundação Cultural do Estado da Bahia, sendo publicado em 1999 pelo selo editorial estatal Letras da Bahia. No ano 2000, com os originais do livro Temporal temporal, ganhou o Prêmio Gregório de Matos, da Academia de Letras da Bahia, sendo o livro publicado em 2002 pela editora Relume Dumará, do Rio de Janeiro. Em 2007, publicou a antologia Mais que sempre pela editora 7Letras, do Rio de Janeiro, com poemas inéditos e uma seleta dos livros anteriores. Em 2016, publicou o livro Poesia reunida com seu próprio selo, Edições Papel em Branco. O livro reúne não somente sua obra poética, como também a fortuna crítica (prefácios dos livros, resenhas e outros textos sobre sua obra, publicados em livros, revistas e jornais. Sua poesia também pode ser encontrada em diversas antologias publicadas no Brasil, em Portugal e na França, bem como em revistas literárias e sítios eletrônicos.

(Texto redigido em 28.12.1022)

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

Luís Antonio Cajazeira Ramos


 

Quo Vadis?


Amigos não resolvem minha solidão.
Amores não penetram em meu coração.
Assuntos não ocupam minha vastidão.
Nada na vida dá vazão a minha vida.

O leite derramado talha em desperdício.
O bicho aprisionado míngua em sacrifico
O passo compassado marcha ao precipício.
Tudo na vida é só senão a minha vida.

Enquanto abato o tronco e moldo a cruz dos ombros,
o mato toma conta do jardim dos sonhos.
Tanto na vida dá razão a minha morte! ...

Por quanto tempo um grito ecoa pelo vácuo?
Pra que defuntos faz sentido o fogo-fátuo?
Quanto na morte vale o vão de minha sorte? ...

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), Girl, detail

 

 

 

 

 

Luís Antonio Cajazeira Ramos


 

Pantomima


Os melhores cordeiros da fazenda
seguirão para o abate na cidade.
Os carneiros mais fracos do rebanho
serão sumariamente degolados.
O bode velho vai pro sacrifício,
por mais que seu olhar peça clemência.
Nem mesmo as cabritinhas inocentes
terão misericórdia ou esperança.
As carnes assarão ao sol: fogueira.
As peles secarão ao sol: curtume.
As vísceras suarão ao sol: carniça.
Os ossos sumirão ao sol: poeira.
Somente a ovelha negra fica impune
... enquanto o bom pastor toca sua flauta.
 


* Leia Os Poemas da Besta, de Soares Feitosa

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), Girl, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

 

 

 

 

 

Luís Antonio Cajazeira Ramos


 

Londres


O vampiro chorou de fome e sede
de amor, sozinho em toda a madrugada.
Quando o sol levitou na manhã rasa,
como um fardo o vampiro deu-se à tumba.

Todo dia é-lhe igual: a sangue frio,
cai-lhe a circulação d'estro sinistro.
Mas a noite vampira é qual floresta
em carne viva! e... logo após, deserto.

Do canino ancestral, restou-lhe um uivo
— não por rasgar à lua a artéria seda,
mas a hiena a cavar na noite negra
o vazio que se o esconde nos espelhos.

O vampiro não teme o fim dos tempos:
o veio eterno que o alimenta é o medo.


 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

Luís Antonio Cajazeira Ramos


 

Ai, Cais!

Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
Fernando Pessoa, in Ode Marítima


... o tempo (...) essa angústia máxima...
Soares Feitosa, d'Os Poemas da Besta, in Psi, a Penúltima.



Cais, saudade em pedra.


Zarpam lábios na memória.


Tempo: angústia máxima.



* Para Soares Feitosa, zarpando do Salvador ao Siarah, de volta-volta...

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Memories, detail

 

 

 

 

 

Luís Antonio Cajazeira Ramos


 

Na Véspera

... rasga-me o peito a chama murmurada.
Soares Feitosa


Os dragões da verdade e da mentira
(não de uma ou de outra: de ambas), diante o dia
do juízo final, em louca lira,
viram, na luz do fundo da bacia

da dor, em pedra e goma, em sombra e lume,
despido de semblante, indubitável,
vindo do mais recôndito improvável,
um corpo envolto em cúmulo: o ciúme.

Eram dragões de vasta peripécia:
de infeliz, um queimava a Capadócia;
de tristeza, um lavava o chão da Grécia.

No mar febril de lama transbordada,
sob os barris de júbilo da Escócia,
rasga-me o peito a chama murmurada.
 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Memories, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

 

 

 

 

 

Luís Antonio Cajazeira Ramos


 

Véspera do dia dos mortos


Eu não amei meu pai como devia.
Houve o dia de amá-lo e não o amei.
Ele morreu, e não nasci ainda.
Amanhã levantei sem seu amor.

Nenhum conselho amigo soa seu.
Uma vida padrasta me acompanha.
Meu caminho não quis olhar pra trás.
Tão longe de meu pai me abandonei.

Nem meu, nem de ninguém, nunca fui seu.
Não me quis dar a quem eu estranhava.
Só teu colo, mamãe, era aconchego.

Do pai, resta-me um calo de silêncios.
Ai, arranco do peito o corpo estranho.
Coração, cava o chão, busca meu pai.

 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

 

 

Luís Antonio Cajazeira Ramos


 

Musa


Nenhum perfume disse que chegaste.
Não houve sobressaltos, nem sinais.
Chegaste, assim como quem chega, e parte
de tudo parte, para nunca mais

achar o rumo, longe do que fui.
Resta de mim somente algo de novo,
muito antigo e completo, feito fogo
ou verdade, tão novo como luz,

cidade, paz, necessidade, pão,
algo tão novo como tudo em vão.
E segue meu delírio a te seguir.

Nenhum perfume disse que partiste.
"E não partiste", meu delírio insiste.
Talvez perdido em ti dê trégua a mim.

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

Luís Antonio Cajazeira Ramos


 

Esconde-esconde



Sob a sombra dos pais e das casas,
descobriam, com pernas trementes,
como as curvas do corpo eram quentes
e a inocência da vida era ousada.

Bolinavam seus próprios brinquedos,
mutuamente esfregavam seus dons,
todos juntos no jogo, ou só dois:
mais desejo, mais perto, mais beijos.

O segredo dos cúmplices nus
desafiava padrões e tabus
de seus pais, que esqueceram de tudo:

já não sabem brincar de casinha;
não notaram na vida a poesia
e pecaram por serem adultos.





O soneto “Esconde-esconde” faz parte do livro Temporal temporal, do poeta baiano Luís Antonio Cajazeira Ramos, que vai se apresentar no Projeto Poesia na Boca da Noite – ao lado da poeta carioca Rita Moutinho – no dia 1º de agosto (terça-feira), às 20 horas, no restaurante Grande Sertão, em Salvador.

Luís Antonio Cajazeira Ramos publicou os livros Fiat Breu (1996), Como se (1999) e Temporal temporal (2002) – vencedor do Prêmio Gregório de Mattos 2000 da Academia de Letras da Bahia.


 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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(12.06.2023)