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Jurema Barreto de Souza

 

revistacigarra@gmail.com

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


 

 

Crítica, ensaio e comentário:

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Fortuna:


 

Uma notícia da poeta: 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Culpa

 

 

 

 

 

 

 

 

The Gates of Dawn, Herbert Draper, UK, 1863-1920

Jurema Barreto de Souza


 

Trajetória de uma metamorfose

 

As escadarias da FAFIL (Faculdade de Filosofia Ciências e Letras) da Fundação Santo André foram palco de conversas, troca de confidências e muita música de violão nos intervalos das aulas, descobertas impregnadas de poesia, levadas para fora das classes. Esse movimento espontâneo nos animou, a mim e a Terezinha Sávio, a criar, em maio de 1982, o “Jornal Literário A Cigarra”.

Inspirado nos alternativos chamados “marginais” que burlavam a censura em folhas mimeografadas, verdadeiras “viagens” de inquietações circulando de mão-em-mão, A Cigarra nasceu, assim, fruto da necessidade de fazer circular poesia, estabelecer convivência de interesses e afinidades entre nós, estudantes daquela Instituição de Ensino.

Datilografado e mimeografado, reunindo poemas dos alunos de vários anos e de vários cursos, o número 1, foi acolhido com entusiasmo por alunos e professores. Sairia ainda naquele ano o número 2, divulgando a imprensa alternativa que circulava pelo correio. A Cigarra rompeu os limites da faculdade e da cidade. Assim, por muitos anos, o jornal A Cigarra foi publicado de forma artesanal, traduzindo-se numa atividade lúdica de partilha poética. A partir do número 3, passou a ser impresso em xerox.

O que era para ser um projeto temporário tornou-se um projeto de vida, sempre incentivado a continuar por um grande número de correspondentes. Em 1994, nas efervescentes tardes de sábado na Livraria Alpharrabio, onde se reuniam, assiduamente, grupos das mais diversas áreas culturais, transformando o ambiente em uma verdadeira “usina de criação”, senti a necessidade de renovação, o que foi possível graças ao convívio com o poeta e artista gráfico Zhô Bertholini e o artista plástico João Antonio Sampaio, que vieram alimentar novas idéias. Inicia-se, assim, uma nova fase do jornal, utilizando novas mídias digitais e impresso em off-set.

A partir do número 21, maio de 1995, A Cigarra transforma-se em Revista Literária, contando com duas co-editorias gráficas (Zhô e João), utilizando-se de trabalhos de artistas plásticos em suas capas. No número 30, maio de 1997, inicia-se o processo de impressão a cores, em muito valorizando a concepção original dos trabalhos num formato mantido até hoje e que acreditamos ser ideal. A tiragem também foi significativamente aumentada, diante do interesse dos novos leitores.

Ao longo destes 25 anos A Cigarra teve uma constante participação em eventos sobre produção e divulgação poética, ampliando a circulação de informações literárias e mantendo intercâmbio com diversas outras publicações do gênero.

Reconhecendo e valorizando nossa trajetória editorial, a Fundação Santo André (que completa 45 anos de atividades este ano) participa desta celebração, compartilhando desta publicação.

Quanto a nós, continuamos acreditando ser a poesia matéria prima essencial ao ser humano.

Jurema Barreto de Souza

 

 

Jurema Barreto de Souza, poeta, contista e professora de Educação Infantil e Fundamental, formada em Letras, Pedagogia, é paulista, de Santo André.

Editou, com o Grupo Livrespaço, a "Revista Livrespaço" (1992-1994), ganhadora do prêmio APCA 1993.

Edita, desde 1982, o periódico literário "A Cigarra".
Atuou junto como Grupo Livrespaço, editando livros, participando de intensa atividade cultural, de 1983 a 1994, inclusive coordenando oficinas de criação.

Livros editados: "Papoulas e Amnésias" , "Dalilas Siamesas", “ Poética da Ternura”.

Participou de inúmeras coletâneas, entre outras, as do Grupo Livrespaço de 1983 a 1990. 

The Gates of Dawn, Herbert Draper, UK, 1863-1920

 

 

 

 

     
   

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

Jurema Barreto de Souza

 


 

Bela Adormecida está morta

 

Entram pelas janelas
heras e espinhos agudos.
Na penumbra apenas miragem
do que foi sonho.
Bela Adormecida está morta
sem carruagem de abóbora
quebrado o sapato de cristal
o castelo encantado
dissolve-se no silêncio
O príncipe apaixonou-se pela bruxa
quando a viu na capa da Playboy
Depois arrancou o coração dele
e o deu de comer ao dragão
que tornou-se pedra
e está no jardim central
da cidade do faz-de-conta.
E foi-se a coragem de lutar
a lembrança do beijo e do amor.
Bela a Adormecida está morta
sem fadinhas salvadoras
sem final feliz.
Só a roca do tempo gira
fiando um sono eterno.

 
 

 

De repente amar

De repente amar
é mais que um copo
de cicuta na mesa de cabeceira
é mais que uma corda
no pescoço pendurada
é mais que a gilete
no pulso comovido
com o sangue do ontem
é mais que saltar
de um prédio de doze andares
ou atirar-se aos famintos
trilhos dos trens.
De repente, a maior prova de amor
é não sofrer.

 

 

 

As ruas correm

As ruas correm
largas e frescas
dentro de mim.
Rompe-se a crisálida
do dia.
O céu cresce em meu peito
gigantesca borboleta
pelo amor desenhada.
A vida torna-se bonita
como uma mulher
que se descobre no espelho.

 

 

Guerrilheira

Orgulho-me de ter anistiada a carne
pela assinatura dos beijos
proclamada assim a independência
do nosso país distante.
Rasgado o peito na boca vermelha
no  fincado feito bandeira .
Adormeces no meu peito
entranhada alga da praia.
Queimas e depois consolas
empunhando a arma do teu carinho
e sem feridas vejo meu corpo.
A alma presa entre teus dedos
permanece escondida do desamor.
Ah! Guerrilheira Liberdade
o sol ressurge e eu canto
para te acordar fêmea e forte,
dentro das trincheiras azuis
dos horizontes de todos os homens..

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

14;11;2008