Linaldo Guedes
Ciclo
não é só querer você por todos os janeiros
cultivando mitos
folha
a
folha
em seu pomar de atritos
não é só buscar fevereiro
definindo ritmos
passo a passo
na alegoria: triste arlequim
não, não é só procurar águas em março
submergindo
mares e rios
na felicidade de um naufrá(cio)
muito menos abrir portas
destravar cadeados
chave a chave
no quarto mês de nossa prisão
sei que é um pouco mais
um pouco maio
um pouco mouros perdidos na primavera
sei que quero junho
quero junto
quero jung
nada de freud
a explicar minha devoção junina
(silêncio em julho)
melhor sorrir a ausência de sorrisos
melhor contar um segredo a juliana
não estou bem certo é se rejeitaria a sina de imperador
:agosto
ao gosto agostinista
rituais nada agnósticos
- agnus dei
dai-me um cântico para não rezar
sei que sinto o bafo de vulcões
em setembro
a sete léguas de distância
do meu próprio império
como se fora sete pastores em busca de sete línguas e duas irmãs
outro mês se inicia, sim
já já anuncio outubro
outrora buscava ruínas
hoje cavo minas
para suar poemas que não vão lhe conquistar
novenas de meus encantos
novembro e seus prantos
novelos que se enroscam
metonímias da minha linguagem:
não quero só a parte que me cabe no seu todo
(dezembro é o ano inteiro
onde cabe todos os janeiros de mim em mim).
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