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Mariza Penchel d'Aparecida

Poussin, The Empire of Flora

Ensaio, crítica, resenha & comentário: 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Mariza Penchel d'Aparecida


Dos sapos e dos livros, de Soares Feitosa

 

 

Soares, o que você escreve é maravilhoso e sutil! Caminhando, faz-nos também caminhar pela vida. A sua, autor, que nos transmite tanta beleza e pureza. Também a nossa. Das palhas, extrai-se a simplicidade, onde está guardado o segredo e a preciosidade da vida. E isto não se rouba. Aprende-se. Por isto, talvez, não se importou, você, Soares Feitosa, com o milho em outra panela. No frigir dos ovos, ou da canjicada, ou dos coelhos, ou dos livros, da aurora ao crepúsculo, a beleza da vida é divina, tão bem retratada pela obra de William Bouguereau, apesar da redoma, dos véus e dos panos que encobrem ou desnudam nossos personagens, assumidos no decorrer de nossas vidas, tão inerentes à vida na liberdade do arbítrio, mas de cuja essência divina não nos afastamos: o da criação. A feira geral, que descreveu com tanta realidade, transportou-me à feira de São Cristóvão no Rio de Janeiro, efervescente, onde, quando vou, compro queijo coalho. Feira geral, que vira o dia, vira a noite e amanhece. Encontro de nordestinos. Só termina dia seguinte, dia já alto, mesmo assim, só se não mais tiver fôlego, ou melhor pé, pro arrasta forró. Contagia. Como contagia o que você escreve, e que me inspirou a escrever:

Feira da vida

O ferver efervescente,
Mercado de opções
Mercados gerais que não param,
Sempre girando, girando,
Fervendo de coisa e gente.
Circunstâncias do oportuno,
Conveniência, mutável,
Experiência e essência,
Retrato do negativo
Que retrata o positivo,
Dualidade do ser,
Do provável improvável,
Congruência, incongruência
Que tangencia o ser.
Feira, arena,
Bem ou mal,
Consciência inconsciente
Perfeita imperfeição,
Fragilidade, vigor,
Medo, coragem, incerteza,
Conhecido, desconhecido
Colorido, incolor,
Hidrogênio, oxigênio
Da água que arde o fogo,
Antídoto e do veneno,
Aurora, pudor, pureza.
Beleza da criação,
Crepúsculo que a desnuda,
No arbítrio aprisiona
Personagens de nós mesmos,
Ora sapo, ora cobra,
Antítese da criação.
Que mancha o véu da beleza
Substrato abstrato
Que toureia e devaneia,
Que meio às palhas encontra
O precioso de ser.

 

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Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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13.10.2023