Padre Luís Ximenes

Padre Luís Ximenes

Meu ídolo


De tanto ouvir teu clamoroso apito,
de tanto conviver pela estação,
fiquei teu fã e te tornaste um mito,
um ídolo de minha devoção.

De ti, meu velho trem, mesmo proscrito,
eu guardo tão feliz recordação,
que até parece praga do Maldito
te recordar em toda ocasião.

Correndo sobre os trilhos da lembrança,
ainda te vejo como outrora eu via,
o mesmo trem que eu vi quando criança.

Só que o olhar mudou. A vista cansa.
Ontem eu te via à luz de uma esperança,
Hoje eu te vejo à luz da nostalgia.


 

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Padre Luís Ximenes

Se eu fosse um trem


Se eu fosse um trem, garanto que eu seria
um trem daqueles velhos trens de outrora!
A uma estação eu nunca chegaria
senão depois de ter passado a hora.

O melhor da estação está na espera
do trem que vai passar e que atrasou.
Se eu fosse mesmo um trem (ah, quem me dera!)
eu seria esse trem que não passou...

Eu seria esse trem retardatário,
cheio de lassidão, trem proletário,
que o povo espera sempre na estação,

numa esperança sempre renovada
de que esse trem lhe traga na chegada
um pouco de alegria ou de ilusão.


 

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Padre Luís Ximenes

Súplica


Saudoso trem, atrase um pouco, deixe
para passar depois que eu for embora!
Mas, se passar, suplico, não se queixe
naquele apito triste de quem chora!

Por sobre o coração carrego um feixe
de mil lembranças e, passando, agora,
você desperta todas elas, mexe
num bando de ilusões que tive outrora.

Atrase um pouco, venha só depois,
para evitar o encontro de nós dois
nesta saudosa tarde em agonia...

Pois se o vejo passar, parece assim
que em lavas um vulcão rebenta em mim,
- todo um Vesúvio de melancolia!


 

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