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Rita Brennand


 

CriaçãO


Estava tão conivente com o cubo
que me encubei numa tarde molhada.
Encubada, teria mais tempo pra mim.
Já não cabia a idéia solta, descentrada.
Previ a cabeça enquadrada.
Liguei com o olhar os pontos dos cantos
com linhas retas raciocinadas.
teci por horas a fio.
E vi-me de cubos ao cubo cercada.
Até que, em negro ponto, senti-me.
Sou energia contida, concentrada.


Estou à espera do big-bang.

 

 

Rita Brennand, O olhar do Criador

Rita Brennand, O olhar do Criador

 

 

 

Bronzino, Vênus e Cupido

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Ricardo Alfaya

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

Rita Brennand


 

Desfilam formigaS


Desapareço de mim nesse som descompassado,
persigo o canto do passarinho escondido
na vibração das cordas;
nos descaminhos desse sopro aflito,
procurando a harmonia que se desfaz
no rápido encontro das asas.
Desapareço de mim no cristal
de uma gota d'água...


Desfilam formigas...


Me encontro no olho de um girassol.
Sol amarelo, pintando cajus.
Me procuro nas sombras e nelas
desapareço de mim!


Desfilam formigas...


Viver sem mim é um mistério gozoso,
desaparecer de mim é ser o olho da Águia,
a calmaria da planície,
a onda branqueando o rochedo.
É ser minha criança folheando,
ventaneando por aí afora...


Desfilam formigas...


E então...
 

 

 

Rita Brennand, Um olhar Mutante

Rita Brennand, Um olhar Mutante

 

 

 

Albert-Joseph Pénot (French, 1870-?), Nude with red flowers in hair

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José Alcides Pinto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Antonia Zarate, detalhe

Rita Brennand


 

Encontro de peleS


Essas muitas das de mim estremeceram,
quando levantei um pouco da pele adormecida.
De onde vieram tão suadas,
coladas em um só abraço?
Era um jogo de peles peguentas, úmidas...
Colam-se descolam-se grudam- se.
E, de repente, EU, pura pele, corpo pele,
pele memória,
pele paisagens,
pele arrepios,
pele amada,
pele mutante,
pele, poros abertos, bocas e olhos,
pele prazeres,
choro de peles suores.
Rasgo-me em peles, em tantas, ultrapasso a pele.
Toco com delicadeza a alma da pele, apenas toco.
O toque tem o poder de desenhar universos.
Descubro então poderes de estornar a pele,
descubro poderes de deletar memórias,
descubro poderes de criar carapaças,
descubro o poder de redesenhar mistérios,
descubro o poder de ser casca de ovo.
 

 

 

Rita Brennand, Decifra-me

Rita Brennand, Decifra-me

 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Christ in the Sepulchre, Guarded by Angels

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Mário Pontes