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Ronaldo Machado

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Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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William Bouguereau (French, 1825-1905), Admiration Maternelle

 

Da Vinci, Cabeça de mulher, estudo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ronaldo Machado


 

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Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Ronaldo Machado


 

Bloco de poesias


I

Via pássaros
e imaginava seus ninhos.

Os seguia até arear a vista.

Pela velocidade das asas
calculava e anotava a distância
como aprendera na enciclopédia do avô.

Feito homem se estendeu no vazio:

descobriu que angústia e paixão
chocam em ninhos de águia.

II

Empalho pássaros azuis
sob as acácias da cidade.

São pássaros antigos que
me chegaram num fim de tarde,
com trinados de ferreiro.

Estranhos pássaros estes.
Não se espantam, não se vão.

Suas penas são de puro azul
como o céu andaluz;
têm nas suas asas rastos de distâncias
e em seus olhos restos de frio.

Descubro suas entranhas
- ninhos de rosas,
grãos de bronze.

Estranhos pássaros estes.
Não se vão.
Me espantam.

III

Era maio
e o cheiro dos maricás
preenchia a respiração,
amaciando os tecidos.

Em branco,
o domingo se espichava.

Depois, a chaminé manchou
as roupas no varal,
encardindo as mangas do dia.

IV

Na pedra,
palpita a pele abstrata da palavra:
corpo estendido no vazio.

Dela brota a tristeza, o riso, o sonho,
e o amor que agita os peixes nos abismos.

Na pedra,
a palavra mede
essa altura do vazio,
contando os grãos do silêncio.

De escrever na pedra,
saio do poema com as mãos puídas
de silêncio e vôos de pássaros.


 

 

 

 


 

16/08/2006