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e equipe
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Micheliny Verunschk
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Aos longes do meu sertão, Moxotó,
chegou o “Réquiem em Sol da Tarde”, essa ave. Susto,
você me advertiu. Alegria, replico. Uma alegria
imensa por saber que alguém nos longes dos quase cinqüenta
foi pego pela Poesia. Alegria por ver como trata bem as palavras
(um gentleman). Alegria por ser a tua uma poesia uma poesia
também para o tato, a visão, o olfato: uma poesia
corpo e alma ! Isso há de deixar feliz todo aquele que
poetiza. Eu estou.
Esse livro, essa ave, que pelo nome
se supõe tranqüilo, na
verdade é um traquinas que se diverte em transformar-se
magicamente em várias outras coisas. E é pássaro,
brinquedo, menino, cavalo disparado, árvore em dia de
chuva, sertão... (como é sertão, teu livro,
Soares !) Eu, matuta e meio avessa a esse admirável mundo
novo que é a informática, me rendi encantada ao
modo como você o transtornou de lirismo. Bonito demais,
poeta!
Fiz grande amigos entre teus poemas:
Balançando Devagarinho, Poltrona F-6, o Trem e o Cordeiro,
Perdidos e Achados... sempre que possível, proseamos.
O Carlos Drumond, falando sobre o ofício, disse;
mais ou menos:
“Lutar com palavras
é a luta mais vã,
no entanto, lutamos,
mal rompe a manhã.
São muitas. Eu pouco.”
Você não parece lutar com
elas, o que para mim é um espanto. Elas fluem,
se aninham. Quisera eu essa tranqüilidade.
Ah! ia esquecendo: teu livro tem os
sons das abelhas, do chocalho da vaca Rainha e da água
acordando na cacimba clara. Escutei.
Sent: Tuesday, May 07, 2002 7:49 PM
Subject: A Menina Afegã
Onde você aprendeu
a escrever assim?
Beijos
Um terceiro escrito, aliás,
este quado:
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Carlos Nóbrega
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A propósito de Antífona, de soares Feitosa
A Fórceps
O que
cantar
de tão
magra musa
de tão
pó a flora
e lira
tão penosa ?
Entre
mágoa e míngua
a imaginação
estia
a se
repetir no se-repetir
do lacrau
caatinga
e das
mãos ao alto
dos
mandacarus.
Oh que
torrão enxuto
oh mulher
inúmida
oh ser
tão enxuto
com
seu cabelo seco
sua
roupa enxuta
seu
lábio ressecado
como
se estivesse
sob
um toldo azul:
essa
terra mora
embaixo
de um telhado
(mesmo
que janeiro
feche
o guarda chuva,
traga
um copo d’água).
Já
que o tempo é feito
de um
sol de incêndio
é
visível o vento
esse
gato súbito.
E a
visagem à frente
dá-se
em catarata
como
se fervesse
o que
de fato ferve.
Pois
o que
cantar
de avara
lira
de musa
tão magra
de tão
pó as rosas ?
Perguntem
ao Feitosa
que
retira lírios
dos
olhos das cobras.
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Natalício Barroso
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Subitamente, como uma onda maior do
que eu,
fui envolvido dentro,
um turbilhão dentro de minha própria casa.
Essa onda, por incrível que pareça,
veio num envelope
lacrado e endereçado
a mim!
O remetente, o poeta do Ceará
radicado na Bahia,
Soares, Soares Feitosa http/poesia.html
Abri o envelope cuidadosamente, como
tudo mundo
faz e tirei
os poemetos de SF de dentro.
Foi a minha perdição!
Cada página virada era uma onda
de mar
que soava ao longe,
cada poema
lido era uma jangada de ouro
que se afastava e cada verso
engolido
literalmente engolido por causa da emoção
engolido!
Eram as gotas desse mar salgado em que
me afogava.
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Cid Seixas
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Soares Feitosa, um mecenas pós-moderno
- O cidadão comum, que vive estes tempos de depois das
conquistas modernas, não sabe ao certo que nome dar ao
seu momento. Leu ou ouviu dizer que, desde os fins do século
passado, alguns sujeitos mais apressados inauguraram a modernidade.
Assiste a uma vertiginosa desconstrução de práticas
e valores, sucessivamente substituídas por outras, que
já nascem prestes a desaparecer.
Por outro lado, quase atordoado, descobre
que uns poucos homens que acharam o mapa da mina vivem o conforto
e as conquistas sonhadas para o futuro, enquanto a maioria tem
um nível de vida muito parecido com o dos camponeses
ou dos vilões (aqueles que viviam nas vilas) da Idade
Média. A formação e as informações do
grande contingente de assalariados do fim do milênio também
estão mais próximas do homem do século
XV do que dos bem informados protagonistas da aldeia global.
Nos castelos do neo-liberalismo, vivem
os senhores do tempo. Nas glebas da velocidade, os vilões
da História. Veja-se que vilão, aqui, ganhou o
sentido de anti-mocinho dos filmes de Hollywood.
De um lado, a grande massa continua
fermentando os condimentos conservados desde os tempos medievais;
do outro, a pós-modernidade bate à porta dos escolhidos
e diz coisas que pouca gente consegue entender. É neste
quadro que surgem as conquistas da cibernética, as maravilhas
da eletrônica, as navegações virtuais por ondas de
energia.
Falando no cão, ele aparece.
Um nordestino do Ceará, de Pernambuco, da Bahia, um cidadão
da aldeia global residente nos endereços da Internet,
um tal compadre Chico Feitosa, anda fazendo feitos e façanhas
que Deus duvidava. Primeiro, viveu sua vidinha, até os 50
anos, cuidando de negócios de gado e gente, tocaiando
os caloteiros de impostos com sua caneta de fiscal de rendas.
Canetava daqui, canetava dali, até que descobriu que da
sua pena não saíam apenas números, cifras,
processos do leão. Surpreso, já homem feito, passado
dos 50, viu a poesia espiando por entre as dobras de uma folha.
Uma poesia estranha, esquisita, cheia de exaltações,
novidades, falas verbosas que nem sertanejo animado em festa de velório.
Assim nasceram os primeiros poemas de
Soares Feitosa, um poeta já feito - do seu jeito -, desconcertante
e astucioso, cheio de armadilhas, presepadas, saberes antigos
e novos. Com jeitão de nordestino, cabeça chata,
cearense dos bons, surpreende o leitor com viagens eruditas
pelos domínios dos gregos, latinos e ladinos.
Enquanto o feiticeiro preparava o caldo
no seu imenso caldeirão, fazia bruxarias modernas nas
telas de um computador. Este mesmo Soares Feitosa é o
criador do Jornal de Poesia, um sítio onde o leitor encontra
as obras completas de vários poetas essenciais de língua
portuguesa, além de poemas de gente pouco conhecida. De
início, qualquer um pode ler o que quiser sem pagar uma
pataca. Copiar milhares de versos de Castro Alves, Pessoa, Camões,
Drummond. Mas, depois, ele cobra em moeda alta: amizade, estima,
dois dedos de prosa, seja lá o que for. Dinheiro não
entra.
Mas quem paga tudo isso? A Universidade,
a Fundação Cultural do estado? O governo federal?
Xô, Satanás! Feitosa faz seu feito sozinho. Ou
melhor, com a colaboração do leitor-navegador que, ao
aportar nas páginas do Jornal de Poesia, aproveita e manda
versos da sua predileção que lá não
foram encontrados. Aquele poema de Joaquim Cardozo ou aquela
ode picante de um incerto Bocage.
No mais, é o poeta de feitos
e feitiços que se encarrega do resto. Que paga alguém
para scannear textos, compra computadores, programas, periféricos.
O problema é que os mecenas do mundo já morreram
todos. Por descuido de alguém, esqueceram de mandar avisar
o compadre Chico Feitosa, lá nas terras do Ceará. Ele
então assentou praça na Bahia e fundou seu Jornal
de Poesia, pagando tudo do bolso, ou do banco onde guarda seus
trocados e inteiros.
Surge assim um mecenas da pós-modernidade,
navegando pelos mares da Internet, aportando em cidades distantes
e levando a poesia de língua portuguesa à China,
ao Japão, Europa, França, Bahia.
Enquanto divulga a poesia dos seus próximos
e distantes, dos antepassados, Soares Feitosa constrói
a própria obra. O Livro Psi, A Penúltima, lançado
este ano pelas Edições Papel em Branco, é uma seleção
do muito que ele vem produzindo. Sua escrita jorra lavas ameaçadoras
de um vulcão que, depois de 50 anos, abre a boca cheia
de chamas como um dragão de palavras.
As lavas, rochas e pedras de fogo que
Soares Feitosa joga na poesia brasileira são de fato
ameaçadoras. Elas mudam os caminhos, atravancam uns e
pavimentam outros. Enfim, a lira esquisita deste poeta põe
em suspenso os nossos conceitos de poesia. Será mesmo
poesia? Ou será prosa? Este discurso verboso, suculento, é
cheio de pedras preciosas, espinhos, mandacarus e atoleiros.
É uma serra cabeluda, pelada, onde há muito o que
garimpar. O leitor precisa ter peito de garimpeiro para descer
seus precipícios, explorar suas tocas, grutas, ribeiras.
Não é uma poesia pronta,
acabada. É uma escrita buliçosa. Um texto em processo.
Leio seu livro como se estivesse em meio a um canteiro de obras,
ou a um grande arranha-céu em construção, onde um balde
de brita, uma viga, uma tábua podem, a qualquer hora,
acertar minha cabeça, me deixar zonzo. Daí a dificuldade
de uma abordagem crítica deste liqüidificador de
linguagem que mistura o lírico, o épico e o dramático.
Que tem cheiro de terra, raízes e matos do sertão
nordestino. A surpresa maior é que de um galho de umbuzeiro, na
poesia de Feitosa, não surgem apenas sombra e umbus; surgem
frutos vindos da velha Grécia, cascas, caroços
e polpas de erudição. Tem de tudo, basta ter tempo
e vagar para colher.
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Adriana Lustosa
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Como te dizer?!
Rio-me se passas...
Tomo-te
com os olhos (d’água)
e viras fonte.
Tomo-te
com os braços
e viras lago.
Tomo-te
a te soltar por dentro
e fico inerte.
À primeira vez
que li Soares Feitosa [Thiago], senti vontade de morrer,
queria uma chance de nascer de novo: a poesia me comoveu no mais profundo
das águas e me fez poeira de tudo o que eu sabia.
Preciso de Thiago e
das fontes de Thiago; preciso da poesia como
da vida que me vive. Onde encontrar? No Siarah? No "Almazona"? Na
solidão das águas ou no umbigo da terra?
‘Stamos em pleno mar,
foi bom avisar: é possível navegar.
Adriana Lustosa
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Jarbas Júnior
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Li somente uma amostra
pequena
Da sua poesia imensa, telúrica,
Intuitiva, em espiral de nebulosa.
Oriunda de Garcia Lorca , plena
De sol andaluz, bela e rústica
Vibração de viola e de flauta, avessa
E harpa também, arrebata, seduz
Pela originalidade despojada
De qualquer retórica consagrada
Depois da chuva, quanto
orvalho reluz!
Vem depois da lágrima, suor!
O sol volta a Ter luz somente.
Brota a semente...
O Ceará renasce, de repente!
Lázaro que canta em cada pássaro!
Vida no oásis novamente!
"Vês"? É "tua"
poesia, inspira.
Já ia entoando minha tosca lira.
Vou atrás do seu livro , quero lê-la
Mais, tem brilho de estrela
Ilumina e faz companhia.
Meu diretor, professor
Thomas Oliveira César,
Foi generoso e solidário, ofereceu-me
a ler
Parte do sortilégio lírico que
o Fax contém:
Roma, poema instigante, veemente imprecação
Moral, diferente , no engenho e arte, tem
Paixão e energia!
Fiquei na alegria de descobrir
um grande poeta!
Modernista, no verso livre fácil e harmonioso
Cearense da mias fina flor do lácio!...
De admirável musa, bela e simples, por
ser completa!
Obrigado!
Vate inspirado...
|
Ernâni Getirana
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NORDESTES
E aqui mais um poema nessa linguagem-raiz,
que quanto mais dita mais... necessária. As várias
nuances e indicações bíblicas nos remetem à
uma releitura num nível semântico e histórico
onde os persomagens-povo desfilam reclamando por justiça. É
a famosa introspecção de "Eu" poético num
eu impessoal mas, ao mesmo tempo, restabelecido, esse eu impessoal,
numa postura de alter-ego do poeta. Falando assim parece complicado
mas basta dizer que é como se os personagens tomassem
"de pena" ( caneta ) do poeta e dissessem suas verdades e o poeta
gritasse: "mas era isso que eu queria dizer, meus irmãos
de saga", Sagarana? " serTÃO assim, como essa fome enjaulada que
habita em mim?" Digo em um de meus poemas. SF escreve como se
fôra um menino astuto que acabasse de criar um brinquedo
e ficasse ali do lado da criatura a pensar, fui eu? Todo bom
artista tem essa mesma sensação após "parir"
sua obra." Parla", meu caríssimo poeta!
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Regina Souza Vieira
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NORDESTES
Há o que duvidar
em termos regionalistas, reflexo de apego à terra natal,
ao rincão brasileiro? Seria talvez exagerado considerar
o poema como épico, no entanto, os elementos cristãos e
as intromissões da fala aí estão para
lembrar as grandes epopéias. Os versos que aludem
a Francisco Severino, lembram, embora não intertextualizem
o velho Drummond: “E agora José? “
Dizer mais desta poesia,
tão rica em desdobramentos, imagens e inserções
vivas de lembranças passadas? Não, melhor é
calar-me e “de mim, para mim, comigo” perguntar:
— E, agora, Soares Feitosa,
o que mais nos virá desta sensibilidade arguta
e suscetível de percepções?
Não
é aqui não
Um
eu lírico voltado para o que está distante, para o que
existiu quando “houvera/ um tempo”, quando houvera
um entardecer , quando houvera “o olhar /ali, /até.”, um
lampejo de luz testemunha daquele momento que, de fato,
acontecera. Um momento talvez único, concreto,
“Verdadeiro(s) : o tempo-espera, o tempo-só” pois “O
resto, tudo volúpia!”
Ah,
quantas alusões e intromissões no imaginário, na
sensibilidade que vão transpondo em versos uma ânsia que
ultrapassa o trajeto normal dos acontecimentos: “aonde vais
nessa fúria?”
Só
o poeta Soares Feitosa, tão impetuoso quanto o seu eu lírico
talvez responda a esta pergunta que só acrescenta ao
questionamento uma dose a mais de mistério. Mistério
que o eu lírico enfatiza como sendo
particularmente seu: “- Fui eu!’
Delicio-me com a
leveza do AS
CARNAUBEIRAS DE CATUANA. Nas entrelinhas da elegia a
Octavio Paz a força vital do poeta, a terra, o embrião da
memória que não se extingue.
O
poema seguinte, NÃO É AQUI NÃO traz-me à lembrança o
canto americano universal de Whitman, a linguagem como substância
de oração. Belo poema, belos poemas. Poeta de mão cheia.
Parabéns, Ceará. Parabéns Brasil.
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Continua
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