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Soares Feitosa

Fortuna crítica

Neste bloco:

Adriana Lustosa

Carlos Nóbrega

Cid Seixas

Ernâni Getirana

 

 

 

Jarbas Júnior

Micheliny Verunschk

Natalício Barroso

Regina Souza Vieira

 

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Micheliny Verunschk

 

Um primeiro escrito

 

 

Aos longes do meu sertão, Moxotó, chegou o “Réquiem em Sol da Tarde”, essa ave. Susto, você me advertiu.  Alegria, replico.  Uma alegria imensa por saber que alguém nos longes dos quase cinqüenta foi pego pela Poesia. Alegria por ver como trata bem as palavras (um gentleman).  Alegria por ser a tua uma poesia uma poesia também para o tato, a visão, o olfato: uma poesia corpo e alma !  Isso há de deixar feliz todo aquele que poetiza. Eu estou. 

Esse livro, essa ave, que pelo nome se supõe tranqüilo, na verdade é um traquinas que se diverte em transformar-se magicamente em várias outras coisas. E é pássaro, brinquedo, menino, cavalo disparado, árvore em dia de chuva, sertão... (como é sertão, teu livro, Soares !)  Eu, matuta e meio avessa a esse admirável mundo novo que é a informática, me rendi encantada ao modo como você o transtornou de lirismo.  Bonito demais, poeta! 

Fiz grande amigos entre teus poemas: Balançando Devagarinho, Poltrona F-6, o Trem e o Cordeiro, Perdidos e Achados... sempre que possível, proseamos. O Carlos Drumond, falando sobre o ofício, disse;  mais ou menos: 

 

 “Lutar com palavras 
  é a luta mais vã, 
  no entanto, lutamos, 
  mal rompe a manhã. 
  São muitas.  Eu pouco.” 

Você não parece lutar com elas, o que para mim é um espanto.  Elas fluem, se aninham. Quisera eu essa tranqüilidade. 

Ah! ia esquecendo: teu livro tem os sons das abelhas, do chocalho da vaca Rainha e da água acordando na cacimba clara. Escutei.

 

Um segundo escrito

 

 

Sent: Tuesday, May 07, 2002 7:49 PM
Subject: A Menina Afegã

Onde você aprendeu a escrever assim?
Beijos

 

 

 

 

Um terceiro escrito, aliás, este quado:

 

 

 

 

 

 

Carlos Nóbrega

A propósito de Antífona, de soares Feitosa

A Fórceps

 

O que cantar

de tão magra musa

de tão pó a flora

e lira tão penosa ?

 

Entre mágoa e míngua

a imaginação estia

a se repetir no se-repetir

do lacrau caatinga

e das mãos ao alto

dos mandacarus.

 

Oh que torrão enxuto

oh mulher inúmida

oh ser tão enxuto

com seu cabelo seco

sua roupa enxuta

seu lábio ressecado

como se estivesse

sob um toldo azul:

 

essa terra mora

embaixo de um telhado

(mesmo que janeiro

feche o guarda chuva,

traga um copo d’água).

 

Já que o tempo é feito

de um sol de incêndio

é visível o vento

esse gato súbito.

 

E a visagem à frente

dá-se em catarata     

como se fervesse

o que de fato ferve. 

 

Pois

o que cantar

de avara lira

de musa tão magra

de tão pó as rosas ?    

 

Perguntem ao Feitosa

que retira lírios

dos olhos das cobras.

 

Natalício Barroso

Subitamente, como uma onda maior do que eu,
fui envolvido dentro,
um turbilhão dentro de minha própria casa.

Essa onda, por incrível que pareça,
veio num envelope
lacrado e endereçado
a mim!

O remetente, o poeta do Ceará radicado na Bahia,
Soares, Soares Feitosa http/poesia.html

Abri o envelope cuidadosamente, como tudo mundo
faz e tirei
os poemetos de SF de dentro.

Foi a minha perdição!

Cada página virada era uma onda de mar
que soava ao longe,
cada poema
lido era uma jangada de ouro
que se afastava e cada verso
engolido
literalmente engolido por causa da emoção
engolido!

Eram as gotas desse mar salgado em que me afogava.

 
 
 

Cid Seixas

Soares Feitosa, um mecenas pós-moderno - O cidadão comum, que vive estes tempos de depois das conquistas modernas, não sabe ao certo que nome dar ao seu momento. Leu ou ouviu dizer que, desde os fins do século passado, alguns sujeitos mais apressados inauguraram a modernidade. Assiste a uma vertiginosa desconstrução de práticas e valores, sucessivamente substituídas por outras, que já nascem prestes a desaparecer.

Por outro lado, quase atordoado, descobre que uns poucos homens que acharam o mapa da mina vivem o conforto e as conquistas sonhadas para o futuro, enquanto a maioria tem um nível de vida muito parecido com o dos camponeses ou dos vilões (aqueles que viviam nas vilas) da Idade Média. A formação e as informações do grande contingente de assalariados do fim do milênio também estão mais próximas do homem do século XV do que dos bem informados protagonistas da aldeia global.

Nos castelos do neo-liberalismo, vivem os senhores do tempo. Nas glebas da velocidade, os vilões da História. Veja-se que vilão, aqui, ganhou o sentido de anti-mocinho dos filmes de Hollywood.

De um lado, a grande massa continua fermentando os condimentos conservados desde os tempos medievais; do outro, a pós-modernidade bate à porta dos escolhidos e diz coisas que pouca gente consegue entender. É neste quadro que surgem as conquistas da cibernética, as maravilhas da eletrônica, as navegações virtuais por ondas de energia. 

Falando no cão, ele aparece. Um nordestino do Ceará, de Pernambuco, da Bahia, um cidadão da aldeia global residente nos endereços da Internet, um tal compadre Chico Feitosa, anda fazendo feitos e façanhas que Deus duvidava. Primeiro, viveu sua vidinha, até os 50 anos, cuidando de negócios de gado e gente, tocaiando os caloteiros de impostos com sua caneta de fiscal de rendas. Canetava daqui, canetava dali, até que descobriu que da sua pena não saíam apenas números, cifras, processos do leão. Surpreso, já homem feito, passado dos 50, viu a poesia espiando por entre as dobras de uma folha. Uma poesia estranha, esquisita, cheia de exaltações, novidades, falas verbosas que nem sertanejo animado em festa de velório.

Assim nasceram os primeiros poemas de Soares Feitosa, um poeta já feito - do seu jeito -, desconcertante e astucioso, cheio de armadilhas, presepadas, saberes antigos e novos. Com jeitão de nordestino, cabeça chata, cearense dos bons, surpreende o leitor com viagens eruditas pelos domínios dos gregos, latinos e ladinos.

Enquanto o feiticeiro preparava o caldo no seu imenso caldeirão, fazia bruxarias modernas nas telas de um computador. Este mesmo Soares Feitosa é o criador do Jornal de Poesia, um sítio onde o leitor encontra as obras completas de vários poetas essenciais de língua portuguesa, além de poemas de gente pouco conhecida. De início, qualquer um pode ler o que quiser sem pagar uma pataca. Copiar milhares de versos de Castro Alves, Pessoa, Camões, Drummond. Mas, depois, ele cobra em moeda alta: amizade, estima, dois dedos de prosa, seja lá o que for. Dinheiro não entra.

Mas quem paga tudo isso? A Universidade, a Fundação Cultural do estado? O governo federal? Xô, Satanás! Feitosa faz seu feito sozinho. Ou melhor, com a colaboração do leitor-navegador que, ao aportar nas páginas do Jornal de Poesia, aproveita e manda versos da sua predileção que lá não foram encontrados. Aquele poema de Joaquim Cardozo ou aquela ode picante de um incerto Bocage.  

No mais, é o poeta de feitos e feitiços que se encarrega do resto. Que paga alguém para scannear textos, compra computadores, programas, periféricos. O problema é que os mecenas do mundo já morreram todos. Por descuido de alguém, esqueceram de mandar avisar o compadre Chico Feitosa, lá nas terras do Ceará. Ele então assentou praça na Bahia e fundou seu Jornal de Poesia, pagando tudo do bolso, ou do banco onde guarda seus trocados e inteiros.  

Surge assim um mecenas da pós-modernidade, navegando pelos mares da Internet, aportando em cidades distantes e levando a poesia de língua portuguesa à China, ao Japão, Europa, França, Bahia.  

Enquanto divulga a poesia dos seus próximos e distantes, dos antepassados, Soares Feitosa constrói a própria obra. O Livro Psi, A Penúltima, lançado este ano pelas Edições Papel em Branco, é uma seleção do muito que ele vem produzindo. Sua escrita jorra lavas ameaçadoras de um vulcão que, depois de 50 anos, abre a boca cheia de chamas como um dragão de palavras.  

As lavas, rochas e pedras de fogo que Soares Feitosa joga na poesia brasileira são de fato ameaçadoras. Elas mudam os caminhos, atravancam uns e pavimentam outros. Enfim, a lira esquisita deste poeta põe em suspenso os nossos conceitos de poesia. Será mesmo poesia? Ou será prosa? Este discurso verboso, suculento, é cheio de pedras preciosas, espinhos, mandacarus e atoleiros. É uma serra cabeluda, pelada, onde há muito o que garimpar. O leitor precisa ter peito de garimpeiro para descer seus precipícios, explorar suas tocas, grutas, ribeiras.

Não é uma poesia pronta, acabada. É uma escrita buliçosa. Um texto em processo. Leio seu livro como se estivesse em meio a um canteiro de obras, ou a um grande arranha-céu em construção, onde um balde de brita, uma viga, uma tábua podem, a qualquer hora, acertar minha cabeça, me deixar zonzo. Daí a dificuldade de uma abordagem crítica deste liqüidificador de linguagem que mistura o lírico, o épico e o dramático. Que tem cheiro de terra, raízes e matos do sertão nordestino. A surpresa maior é que de um galho de umbuzeiro, na poesia de Feitosa, não surgem apenas sombra e umbus; surgem frutos vindos da velha Grécia, cascas, caroços e polpas de erudição. Tem de tudo, basta ter tempo e vagar para colher.

 

Adriana Lustosa

         

        Um primeiro escrito

         

         

        Como te dizer?! 
        Rio-me se passas... 

        Tomo-te  
        com os olhos (d’água)  
        e viras fonte. 

        Tomo-te 
        com os braços 
        e viras lago. 

        Tomo-te  
        a te soltar por dentro  
        e fico inerte.

 

Um segundo escrito

 

 

À primeira vez que li Soares Feitosa [Thiago], senti vontade de morrer, queria uma chance de nascer de novo: a poesia me comoveu no mais profundo das águas e me fez poeira de tudo o que eu sabia.  

Preciso de Thiago e das fontes de Thiago; preciso da poesia como da vida que me vive. Onde encontrar? No Siarah? No "Almazona"? Na solidão das águas ou no umbigo da terra?

‘Stamos em pleno mar, foi bom avisar: é possível navegar. 

Adriana Lustosa 

 

Jarbas Júnior

 

Li somente uma amostra pequena 
Da sua poesia imensa, telúrica, 
Intuitiva, em espiral de nebulosa. 
Oriunda de  Garcia Lorca , plena 
De sol andaluz, bela e rústica 
Vibração de viola e de flauta, avessa 
E harpa também, arrebata, seduz 
Pela originalidade despojada 
De qualquer retórica consagrada 

Depois da chuva, quanto orvalho reluz! 
Vem depois da lágrima, suor! 
O sol volta a Ter luz somente. 
Brota a semente... 
O Ceará renasce, de repente! 
Lázaro que canta em cada pássaro! 
Vida no oásis novamente! 

"Vês"? É "tua" poesia, inspira. 
Já ia entoando minha  tosca lira. 
Vou atrás do seu livro , quero lê-la 
Mais, tem brilho de estrela 
 Ilumina e faz companhia. 

Meu diretor, professor Thomas Oliveira César, 
Foi generoso e solidário, ofereceu-me a ler 
Parte do sortilégio lírico que o Fax contém: 
Roma, poema instigante,  veemente imprecação 
Moral, diferente , no engenho e arte, tem 
Paixão e energia! 

Fiquei na alegria de descobrir um grande poeta! 
Modernista, no verso livre fácil e harmonioso 
Cearense da mias fina flor do lácio!... 
De admirável musa, bela e simples, por ser completa! 

Obrigado! 
Vate inspirado...

 

Ernâni Getirana

 

NORDESTES

 

E aqui mais um poema  nessa linguagem-raiz, que quanto mais dita mais... necessária. As várias nuances e indicações bíblicas nos remetem à uma releitura num nível semântico e histórico onde os persomagens-povo desfilam reclamando por justiça. É a famosa introspecção de "Eu" poético num eu impessoal mas, ao mesmo tempo, restabelecido, esse eu impessoal, numa postura de alter-ego do poeta. Falando assim parece complicado mas basta dizer que é como se os personagens tomassem "de pena" ( caneta ) do poeta e dissessem suas verdades e o poeta gritasse: "mas era isso que eu queria dizer, meus irmãos de saga", Sagarana? " serTÃO assim, como essa fome enjaulada que habita em mim?" Digo em um de meus poemas. SF escreve como se fôra um menino astuto que acabasse de criar um brinquedo e ficasse ali do lado da criatura a pensar, fui eu? Todo bom artista tem essa mesma sensação após "parir" sua obra." Parla", meu caríssimo poeta!

 

Regina Souza Vieira

 

Um primeiro escrito

 

 

 

NORDESTES

 

Há o que duvidar em termos regionalistas, reflexo deRegina Souza Veira apego à terra natal, ao rincão brasileiro?  Seria talvez exagerado considerar o poema como épico, no entanto, os elementos cristãos e as intromissões da fala  aí estão para lembrar as grandes epopéias. Os versos  que aludem a Francisco Severino, lembram, embora não intertextualizem o velho Drummond:  “E agora José? “

Dizer mais desta poesia, tão rica em desdobramentos, imagens e inserções vivas de lembranças passadas?  Não, melhor é calar-me e “de mim, para mim, comigo” perguntar: 

— E, agora, Soares Feitosa, o que mais  nos virá desta sensibilidade arguta e suscetível  de percepções?

 

 

Um segundo escrito

 

Não é aqui não

Um eu lírico voltado para o que está distante, para o que existiu  quando “houvera/ um tempo”, quando houvera um entardecer , quando houvera “o olhar /ali, /até.”, um lampejo de luz testemunha daquele momento que, de fato, acontecera.  Um momento talvez único, concreto, “Verdadeiro(s) : o tempo-espera, o tempo-só” pois “O resto, tudo volúpia!”

Ah, quantas alusões e intromissões no imaginário, na sensibilidade que vão transpondo em versos uma ânsia que ultrapassa o trajeto normal dos acontecimentos: “aonde vais nessa fúria?”

Só o poeta Soares Feitosa, tão impetuoso quanto o seu eu lírico talvez responda a esta pergunta que só acrescenta ao questionamento  uma dose a mais de mistério.  Mistério que o eu lírico  enfatiza como sendo  particularmente seu: “- Fui eu!’

Delicio-me com a leveza do AS CARNAUBEIRAS DE CATUANA. Nas entrelinhas da elegia a Octavio Paz a força vital do poeta, a terra, o embrião da memória que não se extingue.

O poema seguinte, NÃO É AQUI NÃO traz-me à lembrança o canto americano universal de Whitman, a linguagem como substância de oração. Belo poema, belos poemas. Poeta de mão cheia. Parabéns, Ceará. Parabéns Brasil.

 

 

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