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e
equipe
Escreva-nos
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Adriana
Bernardi |
Que
lindo é "Adolescíamos",
não? Que coisa... Outra vez a música de fundo o
acompanha... como nos outros versos seus... mais suave
talvez... mais lúdica... que bonito, meu amigo... que
bonito!
Singelo...
de um frescor lindo... quase reconheço a Mirtes
perambulando, graciosa que só, nas ruas durante o
dia... tantas Mirtes existem por aí, não??? Mas...
ahhh... que lindo!!! Me trouxe de volta o cheiro da
adolescência... os sonhos dali, já agora outros... os
sons... o mundo ainda encoberto e por isso mesmo tão mágico...
facinho, facinho de ser conquistado, né??? - risos - Êhhhh,
Feitosa... mais uma emoção que lhe devo.
Feitosa...
(ó eu cheia das intimidades...)
E
num é que teu mail chegou enquanto 'tava lá no jornal,
procurando o tal artigo (que não encontrei!) do Beneticto
Ferri? Desisti e fui seguir o roteiro que vc indicou...
Descobri a origem do jornal... tudo bem... muio lindo...
entrei na página 6 (página??)... e fui... fui... li
FEMINA... me tocou fundo, uma coisa triste, quase uma
inveja dela mode ser tão amada por alguém... "Convite
a flor" me deixou meio
boquiaberta... tudo bem... fui indo, fui indo... de
quem seria o próximo clic? Dou de cara com o "No
céu tem prozac"... muito tempo
tomando o comprimidinho prá num vê mais o céu cinza, né...
fui lá ver o que era. E tou, com o coração na mão...
os olhos cheinhos d'água... uma coisa doída... rapaz!!!
Sei o que falar não!!! Num sei o que falá não!!!
Obrigada, tá???
Adriana
|
Maria da Graça Almeida |
Dia frio,
do chocolate,
o vazio,
da adolescência,
também.
Saudade,
calor que arde
dentro de uma xícara
do laticínio
tardio.
Lindo!
Chego a perceber
os passos moribundos
da velha máquina
e, do outro lado,
bem cerzido,
o retrato da menina,
abotoado.
maria da graça almeida
|
Henrique
Northfleet |
Penúltimo
canto, a dúvida
Mestre
Feitosa, és também (como todos) homem impotente frente a verdade,
esta resposta que, por certo, foi ouvida e esquecida. Teu poema,
descobre o penúltimo selo, que jamais será entendido, apesar de
nos ter sido revelado: como a palavra, que escrita,
deixa-esvair-a-verdade. A verdade que, saida da boca, se forma do
nada do ar (o roubar a idéia do ar!) e se perde mesmo na tua pena
(ou no tão moderno teclado do computador) que garatuja o acontecido
- com tua terra, com teu povo.
Penúltimo
Canto, a dúvida?
Acredito
que descreves, sim, a certeza, de que o „Novo Mundo“ perdeu sua
cultura-mais-do-que-sua-inocência ao ter sido "descoberto".
Muito
menos do que um canto apocalíptico, o teu poema nos revela a razão
pela qual fomos expulsos do paraiso!
Mestre
Feitosa, apenas numa coisa estás equivocado-por-modéstia: nem
todos os outros poemas foram reduzidos a simples literatura posto
que neste teu Penúltimo Canto o contradizes!
Um
abraço
Henrique
Northfleet
16.09.2000
|
Marina Almeida Chaves |
O Menino Francisco
José
Para compreender
realmente a história que agora relato, é necessário
que se conheça algo daquela criança, - dos nossos
vizinhos, (o menino da contra-capa deste livro), lado esquerdo
de nossa casa, em Monsenhor Tabosa, CE. - que conheci, quando
ainda eu era bem jovem.
Fisicamente, não era um menino
a ser classificado entre os mais belos. Mas a inteligência,
a sagacidade na rápida compreensão das coisas,
colocavam-no entre as mais atraentes. Jovens, adultos, todos
dirigiam-se a ele com pilhérias, brincadeiras, só para ver
suas reações e ouvir seus “repentes”.
Papai, já na terceira idade,
homem solitário desde a morte de minha mãe, via
em Francisco José, o nosso Soares Feitosa, agora poeta
(certamente, sempre o foi, sem saber) a alegria de suas longas
tardes, sentado na calçada, a cadeira encostada em diagonal na
parede, ruminando o seu mundo de recordações...
Aquele menino, de coisa de uns quatro
ou cinco anos, enchia de alegria as tardes de meu pai, e era
como se ambos fossem dois velhos companheiros.
Dona Anísia, nossa vizinha, a
mãe, dedicada, depositava naquele tesouro menino todas
as esperanças de filho único; cabresto curto, temendo
pela astúcia, trazia-o dentro de casa, portas fechadas, vestido
num camisolão, sob a vigilância de uma pretinha
- a madrinha Ana - que criara desde pequena.
E havia jeito? Francisco José
era esperto demais para viver preso. E vez por outra, burlava
a vigilância e fugia cauteloso, nas pontas dos pés,
em direção ao seu reino, à calçada lá
de casa. Era lá que ele tinha sua platéia, era
lá que ele recitava suas trovas, pronunciadas com toda
a clareza, com síncopes de letras e muita graça:
“Eu me chamo Quelemente,
nesta cadeira você se assente,
que eu lhe capo de repente...”
Do lado esquerdo de nossa casa, morava
o menino Francisco José; do lado direito, a família
Nunes, tendo a frente uma senhora, já idosa, dona Joaninha,
que, por encargos do destino, recebera três inocentes crianças,
suas netas, frágeis, mirradinhas, que choravam à
noite com saudade da mãe, falecida de repente na cidade do Ipu.
Minúsculas as meninas, papai,
carinhosamente as apelidara de as “Golinhas”, pássaros
pequenos e bons de canto, menores que os canários.
As três gurias juntavam-se às
outras da mesma quadra, toda tarde, na calçada e eram
o prato predileto do Francisco José a quem todas temiam.
Esclareço: ele não era um menino perverso; era brincalhão,
presepeiro, o que é bem diferente... e divertido.
Pelo lado paterno, Francisco José
possuía um tio-segundo, senhor Dionísio, um típico
coronel do nosso interior, homem rico e poderoso, residente na
fazenda Maravilhas, sertões de Tamboril. Era um homem
temido, tido havido como o garanhão do trecho, importunando as
mulheres que espalhavam sua fama de “perigoso” - um autêntico
mito até hoje - e era chamado “véi Dioniz, Jumentão
da Maravilha”.
Mães despeitadas ante a fortaleza
e as astúcias do garoto, sentindo-se diminuídas
pela timidez de suas crianças, chamavam-no, debochadamente
de “Véi Dioniz”. O
garoto ouvia tudo e, ele mesmo, sem que a mãe o soubesse, passou
a cognominar-se, orgulhoso, de “Véi Dioniz”.
E numa tarde - lá se vão
quarenta e tantos anos - lembro-me como se fosse hoje, lá
se estava meu pai, com sua cadeira encostada em diagonal na parede,
junto à janela, os pés apoiados nas traves da parte
de baixo da cadeira, aquela mesma paisagem do pé de benjamim,
absorto em seus pensamentos... As crianças tagarelavam tranqüilas,
bem próximas... quando...
De repente, não mais que de repente,
o rugido à porta, lado esquerdo, da casa vizinha, e surge,
ligeiro e sorridente o prodígio-menino. De longe, já
se ouvia o “currulepo” de suas alpercatas de couro macio, o camisão
comprido ao vento... pára, chega-se à frente do
seu grande “companheiro”, meu pai. O velho sorri, rejuvenescido.
— ôba, seu Pixico !
- olá, Francisco J
Vosé, você já viu
as “Golinhas”. Elas estão bem ali, junto daquelas outras
meninas.
O menino ouve atentamente, arregala
os olhos, abaixa-se, arrastando o camisolão, num gesto
felino de quem queria meter medo, engrossa a voz, e dispara em
direção ao grupo:
— “Eu sou o véi Dioniz ! Eu sou
o véi Dioniz !
Na calçada não ficou uma
só para contar a história, correram todas apavoradas,
trancaram-se dentro de casa, enquanto o velho ria às bandeiras.
O menino volta vitorioso, porém esse prazer dura pouco.
A pretinha guardiã, ao sentir a ausência do seu pupilo,
apressou-se em procurá-lo no seu reino e lá o encontrou,
escondido, atrás da cadeira do meu pai, naquela hora também
cúmplice do mesmo folguedo. Levou-o sub-judice, ao corretivo
da mãe, misto de carinhosa e de severa, severa em que
procurava substituir o pai que Francisco José não
conhecera.
Depois, tudo silenciou e voltou ao normal.
Papai, ao seu silêncio... eu desisti de ficar à
janela e entrei, como as “Golinhas” também tinham entrado
de casa a dentro, carregando comigo algumas considerações
- se dona Anísia ao menos sonhasse com o apelido que tinham
posto no seu filho...
Mas, assim como meu pai, o que eu desejei
naquele instante, era que aquele garoto rompesse outra vez a
vigilância e retornasse, como se fosse mesmo aquele garanhão
mitológico àquele espaço tão seu,
alegrando as tardes frias e monótonas da nossa vila, com seu
sorriso eufórico, aquele mesmo vigor extraordinário
que ressurge pleno em sua obra poética da maturidade.
Hoje, passados esses anos todos, consigo
visualizar perfeitamente aquele sorriso aberto, aqueles dentinhos
miúdos, correndo de camisolão, desassombrado, pelas
calçadas...
Ele e meu pai! Ambos. Dois meninos.
E em meus olhos já tristes, uma
lágrima furtiva, do âmago de meu coração...
daqueles tempos que os revejo inteiros na poética que
acabo de ler.
Fortaleza, CE., hoje 02.07.94
|
Joaquim
Alves |
Penúltimo
canto, a dúvida
Pronto, cá
estou de volta para comentar este MAGNÍFICO
poema-manifesto.
Pergunta-antes-de-resposta:
porquê "penúltimo"????? Esqueça
a minha pergunta, porque aí vai comentário!!!!! Viu?
O
seu poema, uma vez mais, tem este ritmo frenético dos 18
anos!
Sim,
dos 18 anos.
Também
pode ser
dos 20, para quem tenha nascido em anos 50 ou antes.
Continuo
a ter esses anos - 18-20 - e é isso que sinto nos seus
poematos.
Desculpe,
nos seus superpoemas.
Onde
é que a sua memória mora?
Sempre
coisas boas.
joaquim
alves, português da beira baixa
(interior
de portugal-pequeno, mas muito belo!)
|
Beatriz
Fernandes |
Adolescíamos
Algumas
coisas mudam: A névoa do chocolate quente agora é a fumaça do
cigarro ou o ar poluído das cidades....
As
mães trocam-se em pessoas barulhentas, maridos ciumentos, simples
testemunhas inconscientes, Singer, a velha máquina - agora um
piano, uma mesa um apoio qualquer.
Outras
coisas permanecem: olhar os cabelos, olhar os olhos, os gestos
disfarces....
Caro
Feitosa, adolescemos sempre. Mas só você consegue nos mostrar.
Lindíssimo.
Bia
|
Ruth
de Paula |
Adolescíamos
Te
descobri por 'adolescíamos'! Até bem poucas horas não havia
lido nada seu ou sobre você, nada; juro! Comecei a ler o jornal
por sugestão de um poeta amigo meu, e de vez em quando via
Pessoa, Adélia, Cecília, Ana Cristina César e Augusto dos
Anjos.
Poxa,
domingo, numa daquelas horas mornas foi quando li pela primeira
vez um poema teu, Adolescíamos e aí... A forma como o poeta fala
sobre o encantamento pela Mirtes e a intensidade do encontro é tão
forte, cortante como a tesoura que serviu de adereço. Digo adereço,
pois deixou a cena mais cortante, a paixão mais sangrenta, própria
da adolescência.O verso que toca na relação olho/cabelo,
cabelo/olho traduz o jeito especial de falar do corpo.
Percebo
também com alegria que você trata o feminino com o
maiorconhecimento de causa, interessante isso! Não é muito fácil
compreender o universo feminino; temos movimentos sinuosos,
caminhos tortuosos, rimos da dor, choramos de prazer...
|
Helena
Armond |
Adolescíamos
belo esse estar em duplo descobrir-se e não
mais fechar se o tempo grava memória doce chocolate...cale-se jamais
diria mesmo porque=
--------------------------
lúcida
sem ilusão
ergo
a taça de vinho
comemoro
a vindima e a graça
que
é a fermentação
desse
estado a descobrir-se
----------
helena armond
|
Pedro
Nunes Filho
|
O Cosmo,
o Homem e Deus
Feitosa é seu nome
de guerra. A primeira vez que o vi, achei-o um sujeito
diferente. Fugia do padrão. Destoava. Era, sem
nenhuma dúvida, uma pessoa incomum.
Conheci-o num seminário
de tributaristas. De repente, levantou-se desinibido,
foi para a frente da platéia, e deu seu recado
de cearense que estava chegando no pedaço, sua
opinião técnica de tributarista seguro e estudioso.
Repito: achei estranho aquele
sujeito baixinho, quase gordo, cabeça-chata,
linguagem original e sotaque de matuto que não se
contaminara com os modismos vazios da cidade grande. Com
toda franqueza, na hora em que apareceu, tive uma surpresa
ante a interferência ousada daquele personagem
incomum. Franzi a testa, olhei desconfiado, mas logo
comecei a gostar do sujeito.
Seu linguajar de matuto bateu
certinho com algo que havia dentro de mim. Eram raízes
comuns, trajetórias semelhantes de menino pobre
que foge para a cidade grande, sem nunca esquecer a
cultura e a alma de seu povo, sem se desligar - e sem
se envergonhar - de sua origem sertaneja. Aí
soma uma cultura à outra e torna-se mais rico
por causa da transitividade que tem em universos diferentes.
É isso que Soares Feitosa é: o resultado
da super- posição de duas culturas: a
cultura simples do interior e a cultura erudita das
bibliotecas!
Dos sertões de Monsenhor
Tabosa, Nova-Russas e Santa Quitéria, ele trouxe
a cadência e toda a musicalidade que tornam seus
poemas gostosíssimos de ler. De lá, trouxe também
o vocabulário e, mais que tudo isso, trouxe um
linguajar próprio das plagas sertanejas, daquele
mundão sem fim, que somados à erudição
resultaram numa plasticidade lingüística
original e de rara beleza.
O que mais admiro nos poemas
de Soares Feitosa é a capacidade de harmonizar
o regional com o universal. Ele viaja, sem dificuldades,
por universos bem diferentes. Quem faz uma análise
superficial de seus poemas corre o risco de pensar
que nada bate com nada. Ledo engano. Os gênios
têm a capacidade de sair de um mundo e, de repente,
entrar noutros completamente diferentes, buscando e
mostrando um nexo, resgatando o que há em comum entre os
lugares, as pessoas e os fatos, o que normalmente fica
escondido aos olhos das pessoas comuns.
Percebo que os poemas de Soares
Feitosa têm a mesma estatura. Todos nasceram
grandes. Não há uma evolução entre o
primeiro que escreveu (SIARAH) e o último que me trouxe
quentinho (FORMAT CÊ DOIS PONTOS). Também
não se repetem. Tudo é novo.
Pode até um dia se
tornar repetitivo. Acredito que não. Poeta que
não tem fôlego cansa logo, não vai muito distante.
Soares Feitosa foi longe. É criativo, fecundo,
seus poemas brotam com naturalidade e neles há
profundidade e síntese nas idéias, um
permanente confronto de culturas, valores e crenças.
Embora saiba que omnis comparatio
claudicat, posso dizer que Soares Feitosa, conversando,
lembra Zé da Luz. Escrevendo é um erudito.
Apesar de partícipe da cultura do silêncio
a que Paulo Freire se refere, consegue fazer um elo de
ligação com a cultura dos homens letrados da cidade
grande.
Mostra, sem intenção
e sem pedantismo, que não há uma distância
abissal entre as duas culturas, entre os dois mundos. O
mundo dos que obtiveram o grau acadêmico e o mundo
dos que aprenderam lições de sabedoria
em sintonia com a alma do povo.
Lendo seus poemas, fica claro
que tudo tem uma relação íntima,
que há um ponto comum no Universo, porque a Realidade é
uma só e o contato com ela é a Verdade.
Em outras palavras, Soares Feitosa me fez entender
que a Realidade não tem princípio nem
fim. É isso mesmo, a Realidade é uma
só; são diversas, porém, as formas como ela se
manifesta no Universo.
Em FORMAT CÊ DOIS
PONTOS, utilizando uma terminologia cibernética,
o poeta percorre o KOSMOS, o ANQRWPOS
e acaba chegando ao QEOS
Universal. Enfim, os seus poemas mostram que o todo está
em tudo e tudo está no todo!
O poeta, quando criança,
aprendeu muito bem as lições de sabedoria
do Padre-Mestre. Imagino que o Padre-Mestre era um
homem que ensinava os meninos, não com palavras, mas
com atitudes. Ensinava que a espiritualidade não é
uma aquisição, mas uma evolução
e que é próprio da divindade querer humanizar-se,
para que o homem possa divinizar-se.
Há pessoas que vivem
exclusivamente nas periferias, ignorando o centro;
há outras que, fechadas no centro, abandonam
periferias. Imagino que o Padre-Mestre conseguia viver na
periferia e no centro, ao mesmo tempo.
Em Compadre-Primo e outras
combinações da rara beleza, revela a
singeleza da estesia lógica, bem comum no linguajar
interiorano.
Soares Feitosa fica me devendo
uma coisa: um livro em prosa, não para pessoas
eruditas, mas para gente simples ler. Um livro de memórias
falando do menino que desertou para a cidade grande,
deixando um mundo de sonhos e de ilusões para
trás.
Um mundo de gente simples,
com a alma plasmada na grandeza do sofrimento e do
silêncio. Aí ele poderia falar novamente
nos arreios de prata, no cavalinho Bacalhau, nos jumentos
Moleque e Meia-Noite, nos gatos Mimoso, Zepelim e Banduco,
na gata Xanduca, nos cachorros Rompe-Ferro e Foguete, na
cachorra Biquara; no gibão de capoeiro... nos
vaqueiros que povoaram sua infância, mostrando
bravura na pega dos novilhos ariscos das caatingas,
das queimadas e das bocas-de-serras dos seus sertões.
Queria que Soares Feitosa falasse no cheiro da terra
molhada, nas manhãs de inverno, na babugem que
nasce com as primeiras chuvas do final das longas estiagens. Enfim,
em tudo aquilo que os meninos pobres do interior abandonam
para mudar seus destinos nas cidades grandes.
|
Eloí
Elisabet Bocheco |
PSI, a Penúltima, li de corpo inteiro, dobrando-me
à força dessa peça genial que entra pelas células e
chacoalha, açoita e tortura por ser tão maior que o meu
olhar. É de uma beleza que dói, rasga por dentro. Format
é riquíssimo, louco, abusado, ousado e estranho. Me
assusta pra dizer a verdade. Me dá pânico pela grandeza
que capto nesse seu texto. Você é um gênio. Nada há
que se compare ao que você escreve. Você mudou a
Literatura Brasileira e eu só posso é "cair de
joelhos" ante a sua genialidade. Se você encontrar
alguém que babe mais do que eu por sua poesia, por favor,
não volte.
|
Manoel
Ambrósio de Queiroz Neto |
Soares
Feitosa: ÆRE PERENNIUS
Um
cometa das madrugadas puxado por um arcanjo desenha no céu sobre o mar
um rastro de Poesia!
E
sobre nós, chuva de luz, revela-se o invisível.
Estrela
nova convoca: tudo, todos!
Veemência
proclama o Hoje, docemente evoca as calendas da Infância...
Fragmentos
da vida, tênues fragmentos: cria, recria, vida, vida nova, expande o
Mundo e expande para
além fronteiras: Kosmos!
De
repente, impulso: Fire, Fire; intuitivamente: Fiat, Fiat, Fiat! e flui e
jorra e arrebata!
Ora
cicia em brisa por entre a mata densa, ora, tempestade: verga, quebra,
arremete ao frêmito e embriaga! Logo depois, qual chama, crepita e
reduz a Pó:
“...................................et
in pulverem reverteris”
Resurrexit
contínuo, proclamas da vida: movimento, força, luz, cor, música!
Onde
ninguém jamais viu nada, ele vê tudo!
Explosão,
poema épico, odisséia:
Siarah! Arrojo & glória!
Avenida
dos pereiros, juremas pretas, unhas-de-gato, cardeiros, marmeleiros, feérica
de pirilampos passeio de raposas fogosas (folguedos de quando chove)
transfiguração beatífica no Pico do Caga-Fogo: Psi, a Penúltima!
Megatons!
Megatons! Trilhões, grilhões de megatons, nos dígitos, digitais:
Format, Cê Dois Pontos!
Lello
Universal: Bissetriz que nunca dividiu o seu mundo! “Ut omnes unum
sint”: Padre-Mestre!
Bólido
de aço, touro bravio, Miura contra todos os muros, Tourada de sangue no
domingo de maio, Cock-pit de dor, dor, dolor, doloris, a pátria de
joelhos, Senna final: “Ayrton”
Xará
Francisco, o Brennand, o Domador do barro, das tintas e da emoção: o
poeta viu o quadro: E se fez Sinfonia!
Vara
de Domador é arco de violino (ou de cello) também batuta de Maestro!
Onde
os músicos?
Os
ventos, as árvores, os pássaros, as formiguinhas, as joaninhas, os
caracóis e os silêncios! O Domador é maestro, apurem-se os
ouvidos aos sons da mata densa!
O
cão não morde: leve sacudidela.
Vamos,
meu Maestro, afinaram-se os instrumentos.
Erga
a batuta:
—
TAN - TAN - TAN - TANNNN!
É
Ele, via Beethoven!
A
Quinta, d‘Ele!!!
|
Iosito Aguiar |
AS
CARNAUBEIRAS DE CATUANA / EL AUSENTE
Tresmudando,
queria dizer que tem coisas de que só um cearense é
capaz. Pra viver naquela sequidão amando aquela terra
acima de todas as outras, só mesmo sendo cearense ou árabe.
Nunca poderia imaginar que o poeta cearense, meu querido
capitão do mato, Soares Feitosa, tivesse o despautério
de colocar-se, literalmente: por cima e por baixo, do
grande mexicano Octávio Paz!
Que
todo cearense é meio doido, tô cansado de saber. Não só
Soares Feitosa se colocou num poema “repleto de enigmas
e tentativas de decifração”, no dizer de minha conterrânea
e, provavelmente, parente, Regina Sousa Vieira, que
pertence à ilustre casa dos Sousas, descendentes diretos
do Barão Henrique Antunes de Sousa Neves – que na Bahia
era dono das águas – e dos Vieiras (donos das terras)
aos quais pertenço que, além de heróis de
Alcacer-Quibir, à pedidos de D.João VI, introduziram o
cultivo da cana-de-açúcar na Bahia, adoçando assim o
Brasil.
Continuando
a falar do capitão Soares Feitosa, no seu Jornal de
Poesia, o homem nos apresenta uma ANTÍFONA
tonitroante, esbanjando uma absurda riqueza de recursos.
Com toda a nonchalance de que só um cearense da molesta
é capaz, o capitão apossa-se da Midraxe
– ciência dos escribas árabes – que é um modo de
contar, escrever ou declamar, acrescentando aos fatos a
experiência pessoal e, como se isso não fosse o bastante
até porque é um leitor contumaz das escrituras sagradas,
nosso estimado capitão usa e abusa do Halacá
e do Hagadá, recursos privativos de santos
e sábios rabinos para explicar, comentar, enfeitar e
ampliar os efeitos de seus versos, ao lado dos versos do
venerável Octávio Paz.
|
Aricy Curvelo |
AS
CARNAUBEIRAS DE CATUANA / EL AUSENTE
Feitosa,
Quem
falou em ausente? Entre o antes do início e o depois do fim do
poema de Octavio Paz acontece o poema de Soares Feitosa.
Um
artefato de simultaneidades entre a voz íntima que procura se
concatenar, tateando nos versos de Paz, e a paisagem noturna
que deslisa fora, ao longo do carro. Na dia/noite do falecimento do
grande poeta mexicano se inscrevem os vigorosos versos do brasileiro
"aos padecentes do silêncio" ("quem falou por
eles?"), "num horizonte em disparada" na Rodovia
Catuana à noite, na "noite erma", após a morte e o
mais que brotam dos versos do mexicano, a quem parecera que: "...Dios
que al silencio del hombre que pregunta contestas con un silencio más
grande, / Dios hueco, Dios de nada, mi Dios..." afinal também
"Dios de resurrección", embora "Dios vacio, Dios
sordo, Dios mio", "forma terrible de la nada"
Nos
cortes simultâneos do pensamento e da paisagem veloz, a copa belíssima
da carnaubeira se ergue como um ostensório em prata e brilho. O
ostensório, metáfora que evoca o sangue de Christo, por meio do
qual todos os crentes aguardam renascer, lembra que não há a
morte. Don Octavio responde: Presente!
|
Jomard
Muniz |
Mapa
da navegação em Soares Feitosa
Navegar é co-possível
Cópulas de recriação
Entre vertentes e mares
quem o segura?
Soares, errante
navegante
A quem prestam contas os galos?
Numa manhã de abril
Cópulas de circunavegação
Auroras: nudez dos
teus olhos
Navegar é sempre possível
Cúmplices da poeticidade
Numa noite de março
Abismos. Abismos!
|
Continua
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