Thaty Marcondes
Perdidas
Palavras
Ao léu minhas frases feitas pedindo perdão, explicando
insatisfatoriamente meus erros, meus desvarios de ciúmes, meus
porres homéricos tentando, inutilmente, esquecer nossa tara, nossa
cama, nossos corpos em brasa queimando o quarto, incendiando o
colchão.
Ao léu meu palavreado sutil tentando impressionar teu intelecto
hipnotizado por meus textos pré-fabricados, pré-moldados,
pré-formatados em brigas outras, réstias de crises antigas.
Ao léu essa minha fase esquisita, equivocada, surrealista tela
repleta de imagens fantasmagóricas, inexplicáveis traços perdidos em
tons múltiplos de saudade e dor.
Ao léu essa avalanche de desculpa esfarrapada, de farpa ensimesmada,
de amor atômico explodindo em ódio: as veias saltadas, a respiração
ofegante, as mãos trêmulas, o corpo em súplica.
Ao léu esse céu sem cor, esse solo sem terra, sem água, esse ar sem
vento, sem calor. Chega dessa maresia, dessa hipocrisia, dessa
mansidão.
Quero explodir teus átomos, confundir minhas moléculas, fundir
nossas massas, morrer na avalanche do teu gozo, no eco do teu grito
em meus ouvidos, no desabamento das paredes do quarto, no tombo da
cama ao chão, me afogar nas tuas águas, te sufocar sugando todo o ar
da casa.
Quero ação, emoção... Não mais perdidas palavras.
*Foto: Thousand Images
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