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Victor Oliveira Mateus

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Victor Oliveira Mateus


 

Querer-te é sentar-me na praça, logo de manhã,

só para te ver passar

Querer-te é os teus olhos, o teu sorriso cúmplice,

as tuas palavras

Querer-te é também não me veres, se por acaso

alguém está perto

Querer-te é haver sol e vento e estrelas.

É o verde das acácias e das palmeiras e as rosas de Jericó

alinhadas até à ponta das dunas

Querer-te é o castanho doce dos figos sobre a mesa,

as tâmaras, a voz da grande Kolthoum vinda de uma

janela num cântico apaixonado ao Nilo

Querer-te é haver noite - ah, sobretudo a noite!

E é o teu corpo nu, exausto, branco como um templo,

porque todos os corpos são um templo no solo

consagrado que há

Querer-te é o sorriso no rosto das crianças, o grácil

e dançante caminhar das mulheres, a fonte, as águas

Querer-te é tudo, até o meu desejo de te não querer

 

 

[Victor Oliveira Mateus

in Os Dias do Amor – um poema para cada dia do ano

Ministério dos Livros Editores]

 

 

 
   

Victor Oliveira Mateus


 

 

Nunca soube lançar o pião
como os rapazes no terreiro,
entre os contentores: aprendizes
de ladrões, de proxenetas,

arrumadores. Nunca soube
lançar o pião. Nem puxar-lhe
o cordel entre os dedos
ou içá-lo, rodopiante, ma palma

a mão, acima do solo
conspurcado e mudo. Lancei
a minha vida, os meus
anseios. E foi tudo.

[A Irresestível Voz de Ionatos, Editora Labirinto, 2009, Lisboa]

 

   
   

Victor Oliveira Mateus


 

Quantas vezes me deixei ficar,
como hoje, de caneta em riste,
sentado a esta mesma mesa
esperando que tu ou o texto viessem...

Quantas vezes, em vão, lançava
o olhar sobre o porto, tentando
adivinhar-te no bojo
de um qualquer barco que divisava

ao longe, como quem investiga
de falhas a mais nítida presença.
E quantas, no meio do tilintar
das chávenas e do bulício do balcão,

as tuas palavras acabavam sempre
por me aquietar. No entanto, sei-me
de sina igual a hoje: o constante medo
de que um dia possas não vir

e que o futuro mais não seja
do que a inquirição dos dias,
onde os versos se firmam
como escolhos à deriva
em simples guardanapos de papel.

[In A Dispersa Palavra]

 

 

   
     
Elizabeth Marinheiro

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Edna Menezes