Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

Márcio Catunda

 

DEMÔNIO ILUMINADO:

(Pensamento e vida de José Alcides Pinto)

 

 

Dos doidos poetas amigos meus, o mais genial é José Alcides Pinto.

Em verdade, não são doidos sem razão, mas na excentricidade, na coragem e ate na inocência com que vivem num mundo de rapina e raposa. Numa sociedade em que a mesquinhez sobrepuja as boas intenções, os poetas são como as crianças que no Evangelho o Mestre recomenda imitar para merecer o reino do céu. Em face da hostilidade da civilização contemporânea, louvar os visionários da poesia, os eleitos da inspiração e uma forma de reconhecer que o mérito daqueles que nos ofertam os prêmios da arte e as benesses do encantamento.

Haverá quem duvide de que o mundo precisará sempre dos artistas?

Que o ideal do belo e o diálogo com a essência serão sempre imprescindíveis ao espírito? No estágio atual de evolução da humanidade, como em todos os tempos, há sempre carência da íntima viagem do sonho e da estesia. Em meio a tantos desmandos, a voz dos poetas há que se manter audível, no cumprimento da missão de resgatar valores humanistas e realçar o valor de quem se alimenta de ideais e princípios eternos. Nesse ponto, parodio Vinícius de Morais: os muito pragmáticos que vão pro inferno, mas o lirismo é fundamental. José Alcides Pinto é um poeta cuja dedicação e serviços prestados a causa da poesia merecem destaque. Com uma obra que abrange todos os gêneros literários e que soma mais de uma centena de livros, em que se realçam a criatividade, o estilo inconfundível, a marca pessoal de uma visão própria da realidade humana, José Alcides Pinto se tornou uma personalidade admirada e cultuada, não apenas pela intelectualidade cearense e brasileira de sua geração, mas sobretudo pelos jovens escritores, sempre sequiosos de novas idéias e de autores cujo processo de criação literária apresente o maior suporte possível de experiências inovadoras.

Este livro foi planejado na viagem que fiz com José Alcides Pinto à sua fazenda, “Terras do Dragão”, durante dois dias que passei no sertão ouvindo e anotando as idéias que aqui publico. Na ocasião, conversamos sobre sua maneira de entender o mundo e o espírito, e recordamos momentos de nosso convívio diário na década de 80, quando dialogávamos diariamente e mantivemos proveitoso intercâmbio de idéias. Os dados biográficos de José Alcides Pinto, aqui divulgados, me foram transmitidos diretamente por ele. Contudo, a interpretação dos seus pontos de vista e dos textos citados reflete minha absoluta visão pessoal. Preservarei ao longo do livro a abreviatura do nome do poeta, utilizando às vezes as iniciais para nominá-lo nos capítulos que se seguem.

 

O encontro com Jap e outras peripécias.

Fui apresentado a Jap por meu pai, em 1978, na fazenda do poeta, que se chamava “Equinócio”, no município de Acaraú, onde José Alcides decidira residir com o objetivo de se concentrar para escrever alguns livros.

Como explicarei na seqüência deste livro, Jap havia abandonado a cadeira de professor universitário para dedicar-se exclusivamente à literatura e havia decidido abdicar da vida urbana para melhor se concentrar em seu trabalho literário. Lembro-me da figura magra, do perfil aquilino, do bigode exótico e dos gestos sempre agitados, falando com tal velocidade que não se consegue entender bem tudo o quanto diz, e simpatizei de pronto com aquele tipo que me pareceu original, bem humorado e alvoroçado. Jap ofereceu uma dose de cachaça a meu pai, e a garrafa foi trazida por uma jovem camponesa, que o poeta nos apresentou como sua nova musa.

Segundo nos confidenciou, estava submetendo a musa a um estágio para testar os seus talentos de propiciadora de inspiração e de cozinheira. E arrematou o assunto dizendo, “pois é, poeta é assim, não pode ficar sem a companhia de suas musas”.

No dia em que o conheci Jap estava vestido de branco, pois, conforme explicarei adiante, já havia pago a promessa de vestir por um ano o hábito franciscano. Apresentou-me meu pai nos seguintes termos: “o meu filho também é poeta”. Alcides olhou-nos e disse, com a agilidade mental que o caracteriza: “é poeta? Então é um homem iluminado!” Senti-me desde aquele tempo, atraído pela força carismática de Jap, sua obsessão literária, sua personalidade insólita, capaz de exaltar-se e de denegrir sua auto-imagem em poucos segundos, seu humor pornográfico, suas peripécias e aventuras, sempre fascinantes e dignas de admiração, podendo provocar pasmo ou repugnância por parte do aprendiz que dele se aproxime. O fato é que Jap não pode ser considerado um cidadão comum.

Sua simplicidade singular, suas atitudes controvertidas, o costume de mudar de casa praticamente cada dois anos, os casamentos e os filhos que tem com diversas mulheres, enfim toda essa itinerância, essa inquietude que o faz fecundo na obra como na prole, e que o anima a escrever ininterruptamente, num intenso e constante processo de produção literária, tudo isto prova que a monotonia nunca foi uma característica na vida de José Alcides Pinto.

Recordo que o poeta Rogaciano Leite Filho, querido amigo precocemente ceifado da vida, costumava contar, com muita graça, o seu primeiro encontro com Alcides, rindo muito porque visitou o poeta cerca da hora do almoço, e ao tentar se despedir, disse que em casa o estavam esperando para almoçar. Então, Jap lhe disse: agora não, e colocou um cacho de bananas sobre a mesa e falou aos brados, como se desse uma ordem, “comei, poeta, saciai a vossa fome!” Depois encheu-lhe os bolsos de bananas, para a perplexidade do visitante.

Alcides diz que sua singularidade é devida ao sangue nômade de cigano, dos seus ancestrais. Lembro-me agora de dois episódios engraçados acerca da personalidade excêntrica de José Alcides Pinto. O primeiro, contado por Francisco Carvalho, o qual, quando foi à casa de Alcides notou, entre outras coisas esdrúxulas, que a porta estava escorada com o Aurélio, faltando várias páginas. O segundo me foi recordado por Natalício Barroso, que conta que Alcides, como prova de amizade, oferecia sempre sua casa aos amigos, para o caso de necessitarem de levar alguma companhia feminina para passar a noite. Tinha um quarto reservado nos fundos da mansão da rua Rodrigues Junior, para tais emergências. E lembrava ainda que haveria café da manhã pronto, no dia seguinte, como num verdadeiro hotel. Alcides sempre fez questão de demonstrar sua aversão a tudo quanto é convencional. Por isso costuma dizer: quem quiser gostar de mim, goste como eu sou, quem não gostar, vá pra baixa da égua.

Depois do primeiro encontro na fazenda Equinócio, tornamo-nos amigos e quando Jap voltou a residir em Fortaleza, costumávamos ir à praia cotidianamente para conversar sobre literatura. A companhia do Alcides sempre me divertiu e instruiu. Exceto quando estava em crise existencial por causa de alguma mulher ou por motivo de saúde. De resto, o poeta conservou sempre o senso de humor irreverente, capaz de fazer-se auto-elogios ou comentários depreciadores a si mesmo, capaz de conversar com toda mulher que via na praia, revelando-se um incansável e renitente paquerador. Distribuía cartões com o seu endereço, pedindo-lhes para visitá-lo, pois assim ganhariam um livro, tomariam um café, assistiriam televisão, etc. É que morava só, numa casa imensa na Aldeota, onde, se quisessem, as musas poderiam também ficar para dormir... Eu via na insensatez do amigo uma graça especial. Como ele dizia, persuasivamente: “sou escritor e vivo só, venha conhecer minha obra ...” Com isto foi visitado por muitas mulheres de todas as idades e construiu para si a boa fama de Casanova, que logo se espalhou pela cidade. Acompanhava-nos as vezes o professor Jarbas Júnior, que durante certo período andava fazendo exercícios espirituais, submetendo-se a rígidas disciplinas e austeridades, fruto de suas pesquisas no campo do esoterismo e do hinduísmo. À maneira dos gurus da Índia, cuja biografia havia lido, decidira não mais comer carne, nem ingerir bebida alcoólica e fizera voto temporário de castidade, com o intuito de purificar-se das vibrações mundanas, método que, para Alcides, não fazia o menor sentido. Essa nova conduta do Jarbas era motivo de zombaria por parte do Jap. Era divertido observar que,  enquanto eu e o Jarbas olhávamos a paisagem do litoral, as nuvens, a linha do horizonte, Jap chamava sempre nossa atenção para o corpo das mulheres deitadas na areia, e com seus comentários galhofeiros, dizia “que bunda cor de canela!”. Citava um poema do seu Relicário Pornô: “da prima vagabunda louvo a bunda”. Em seguida, recordava Camões: “Bramindo o negro mar de longe ouvia/ como se desse em vão n'algum rochedo”. E declamava depois uns versos de Gonçalves Dias: “Oceano terrível mar imenso!/ de vagas procelosas que se enrolam,/ floridas, rebentando em branca espuma de um pólo a outro pólo”. Depois, erguendo os olhos, dizia: “só o mar apagará a tua insensatez”. Súbito retornava à dimensão terrena e contemplava as mulheres de bruços sobre a areia -- “contemplai ó poetas, a bunda dessas ninfas!”, exclamava heroicamente. Da inspiração colhida nos passeios pela costa cearense escreveu o poema “Sensualismo”, que começa com o seguintes versos: “vou comer a bunda dela/ que bunda cor de canela!” Passando rapidamente do terreno do erotismo para o campo do lirismo, recitava Castro Alves: “Cansado inda do dilúvio,/ qual Tristão descomunal,/ o continente desperta/ num concerto universal”. Recitava caminhando pela praia e enaltecendo a genialidade do poeta condoreiro: “Quem sempre vence é o porvir”. Via nos versos do grande bardo baiano um hino triunfal em louvor da cultura e da civilização: “O livro, esse audaz guerreiro/ que conquista o mundo inteiro/ sem nunca ter Waterloo”/.

“Gosto de andar acompanhado por uma coorte de malditos iluminados, uma casta legião de poetas”, reiterava o bardo. E exclamava, afirmando sobre si mesmo: “ô macho culto, esse José Alcides Pinto é um gênio, esse puto!”.

Lembro-me de que, na volta da praia, com o calor abafado que ficava no carro, o poeta jamais sentava de imediato no banco quente. Esperava sempre alguns minutos com o automóvel de portas escancaradas até o ar entrar e refrescar os assentos. Apesar da vida sexualmente dissoluta, o poeta não negligencia os cuidados com a saúde. Para cuidar dos males da coluna ia nadar na piscina olímpica do Náutico Atlético Cearense. Obtinha, com o Avelino Dutra, um dos diretores do clube, dois permanentes que nos davam direito a freqüentar a piscina, sem a obrigação de nos associarmos.

Essa regalia era paga com livros autografados, que oferecia aos diretores do clube. Nossos amigos comuns têm muitas histórias engraçadas sobre o Alcides. Uma delas me foi contada pela amiga Maria Auxiliadora, mais conhecida pela alcunha de Dorinha. No dia em que o viu pela primeira vez, nas imediações da Praça do Ferreira, no centro de Fortaleza, Dorinha o conhecia apenas de nome e de fotos no jornal. Pois quando passava pelos redutos de paquera do Alcides, foi notada pelo fauno-poeta, que ao vê-la se desdobrou em galanteios, como costuma fazer a todas as mulheres bonitas que passam. Falou o seguinte: “que coxinhas bonitinhas, grossas!” Ela olhou para trás e o reconheceu. E disse: “Ah é o José Alcides, só podia ser o poeta pornô, que tem fama de sem-vergonha, mas não pensei que ficasse elogiando todas as mulheres em plena rua!” Alcides gostou de sua franqueza e logo se tornaram amigos.

 

Irreverência e ceticismo

A irreverência de José Alcides Pinto se verifica na vida como na

literatura. São famosas as polêmicas que manteve com alguns escritores, cuja atitude desleal numa crítica ou comentário pejorativo feriram sua sensibilidade e despertaram suscetibilidade. Sempre respondeu às criticas ferinas com palavras duplamente mais pesadas e mais sarcásticas que as dos ofensores. Jamais hesitou em dizer o que pensa de quem quer que seja, ainda que se trate de uma autoridade política ou policial. Declara, por exemplo, que a maioria dos secretários de cultura que o Ceará teve foi gente incapaz de exercer a função. Com exceção de uns poucos como o Joaryvar Macedo e o Eduardo Campos, “a maioria realmente ficou pendurada nos cabides oficiais e não quer nada com literatura e nem qualquer tipo de arte. São apenas maus políticos”. A verdade é dura, mas irrenunciável. “Toda vida consciente é uma revolta”, cita Albert Camus.

Como polemista impiedoso demonstrou que muitas criticas que recebeu foram feitas apenas por inveja e decidiu respondê-las à altura. Alguns dos mais renomados autores da província e de outros estados engrossam as fileiras dos que passaram pelo crivo rigoroso da represália do Alcides. Bem feito, quem os mandou se meterem a bestas. Pra que foram pisar na asa do anjo maldito? O castigo não tardou. “Não trago desaforos para casa, já que não os levo para a rua”.

Exemplificam a virulência da verve alcidiana os poemas que retratam o tema da injustiça social. A indignação diante da miséria humana e da hipocrisia com que a burguesia tenta justificá-la suscita a sua mais veemente invectiva. No “Poema da Moral Exigida”, do livro Poeta Fui, Ora Direis, escrito sob o signo da irreverência e da ironia, o poeta apresenta um plano iconoclasta e revolucionário para subverter a falsa ordem. Propõe um anarquismo delirante como protesto pela condição absurda da sociedade. E com a voz do inconformismo, comanda o enforcamento das autoridades e até de alguns dias da semana... Confessa e reconhece o ceticismo de sua ideologia: “de nada adiantaria/ surgiriam novos tiranos/ novos parlamentares corruptos/ com cara de veteranos”.

O ceticismo que o impulsiona à irreverência e a ironia provém de sua compreensão de que a humanidade evoluiu no sentido do mal. Sua forma de interpretar o comportamento humano através da história constitui uma chave para a interpretação de sua obra literária. Durante a viagem que fizemos a fazenda Terras do Dragão, onde o poeta se refugia para meditar e escrever, Alcides falou-me de suas idéias sobre diversos aspectos da realidade humana. Segundo seu entendimento, o que vemos diariamente, em todas as classes, em todo o mundo, mostra que o homem não esta caminhando no sentido do bem. Observamos em toda parte o sofrimento causado pela ganância e pelo ódio, onde deveria prevalecer o bem, que é um patrimônio público subtraído da maioria pela minoria que detém o poder econômico. A natureza é boa, mas os homens não a imitam. Nisso consiste a beleza e a tragédia do mundo, pois se a humanidade fosse toda conduzida para o bem, tudo se transformaria num paraíso, sem que o homem tivesse méritos para tanto. Há necessidade de que o mundo seja composto do bem e do mal. Essa disparidade sempre existiu desde os tempos mais antigos, desde o tempo da escrita ideográfica e mesmo antes dela, mas segundo entende Alcides, naquelas épocas os homens eram mais felizes, porque não havia outras opções ou ambições. O homem vai-se transformando com a evolução, mas não difere do animal em termos de defender-se e procriar. E revela uma maldade natural mais aguda que a dos animais inferiores, pois impõe sua força, como um ditador, contra os menos favorecidos. O homem se tornou escravo da própria ciência, por exemplo, no emprego da força atômica. Egoísta e perverso, sua idéia de dominação do outro parece que não vem do homem primitivo, pois este direcionava sua força física e mental para dominar as feras e sabia harmonizar-se com a natureza. O homem contemporâneo, como não tem mais feras para dominar, volta-se contra o semelhante e o agride gratuitamente. Além disso não tem o sentido da eternidade, a não ser o do poder e do dinheiro; o do egoísmo e do sexo. Já no tempo do Império Romano, os reis, os grandes ditadores, criaram muitas instituições perversas. Durante os pagodes de Roma, por exemplo, que são uma das fontes do catolicismo, os cristãos eram atirados à cova dos leões, enquanto a platéia bebia vinho e dava  gargalhadas. E eles sabiam que era um cristão, que tinha uma alma e um corpo igual ao deles. Por isso Jap acha que o mundo evoluiu e involuiu paralelamente, sendo que a involução foi maior que a evolução. Acredita que as duas bombas atômicas que os americanos jogaram sobre Hiroxima e Nagazaki, matando milhões de crianças, velhos, mulheres num minuto, criou um estigma no mundo que ninguém pode apagar jamais. As bombas não se justificam como fator de interrupção da guerra como querem explicar os americanos. Uma matança, um extermínio de tal enormidade é diferente de uma matança gradual durante uma guerra convencional. É possível que a guerra terminasse aos poucos sem a necessidade de apelar-se para a bomba atômica. Hitler não podia ser eterno. Era um homem, não era o anticristo. A existência do anticristo é uma figura de retórica. Ele era um perverso, com um exército altamente bem equipado, com uma disciplina extraordinária. Mas o mundo apavorado com o nazismo só encontrou essa saída, que no entanto não foi correta.

A humanidade precisa se conscientizar de que existe um Espírito Superior regendo o universo. Os homens deviam imitar o exemplo das abelhas e dos pássaros, que trabalham de forma harmoniosa. Deveria haver entre os homens o verdadeiro espírito de humanidade e de desprendimento. Só assim poderemos ver nos astros e nos animais o espírito divino. Enquanto não houver essa consciência, essa fraternidade que deve ser universal, não haverá paz no mundo. Se é possível a  guerra, porque não é possível a paz? Os homens precisam se humanizar, seguir as escrituras. Se se adotasse a quarta parte da sabedoria que o Cristo deixou no mundo não se desprezaria o espírito. Seriamos mais solidários, mais dignos, mais tementes a Deus, pelo exemplo que o Cristo deixou na Terra e pelo próprio exemplo do universo. O universo é um todo orgânico onde reina a paz. Nele não há guerras, só harmonia. Diz Teilhard de Chardin que Deus é uma espiritualidade cósmica em expansão. O Deus que se encontra em expansão somos nós mesmos, os seres humanos. Mas o problema é que nem sempre evoluímos, pensa Alcides. E, segundo acredita, o sexo não é a causa dessa involução. O sexo é integração do espírito. Ele só se torna um instrumento de regressão quando o homem o vulgariza, vulgarizando-se a si mesmo.

 

O Ceará, a natureza e o mundo.

Quanto à influência da cultura regional em sua literatura, Alcides declara que a fidelidade às raízes e à paisagem cearense é a referência pela qual exprime a universalidade em sua obra. A fauna, a flora e a paisagem cearense estão presentes de forma marcante em sua poesia e em sua ficção.

A infância é o fator preponderante na formação de todo indivíduo. Em qualquer país, época ou regime social, a infância é a matéria-prima de qualquer escritor. Ela acompanha toda a trajetória do homem. A realidade social e geográfica do Nordeste brasileiro são elementos que ressaltam em sua obra. O Nordeste, região de contrastes, carregada de mitos, de símbolos e do sobrenatural, produziu grandes poetas, como Padre Antônio Tomás, José Albano, Manuel Bandeira, Ascenso Ferreira, e grandes líderes espirituais como Frei Damião, Padre Cícero e Antônio Conselheiro, entre outras figuras que transpiram religiosidade e que estão presentes na arte alcidiana. “Esta paisagem sou eu, é a minha vida, são meus olhos, meus sentimentos, minhas recordações, que se transformam na minha criatividade literária, na poesia e na ficção que escrevo. Se eu não  tivesse nascido em São Francisco do Estreito, no Ceará, jamais teria escrito O Dragão, João Pinto de Maria, Biografia de um Louco e Os Verdes Abutres da Colina”. A geografia do Estado está retratada em Acaraú, Biografia de um Rio.

Jap carrega dentro de si imagens do ambiente místico e mítico de sua infância, a paisagem do rio Acaraú, os trabalhadores das vazantes, das plantações. Sua experiência fundamental está no âmbito sertanejo. Seu veio telúrico adquire proporções mágicas em “Acaraú, Biografia do Rio”, onde, segundo o crítico José Lemos Monteiro, Jap pretende antropomorfizar o rio a partir do próprio título. Segundo o autor de Universo Mí(s)tico de José Alcides Pinto, um dos fatores principais da tendência ao fantástico e ao sobrenatural na escritura de Jap provém das experiências vividas em sua infância, no ambiente de penúria e catástrofe, em que o sertanejo é vítima de secas e enchentes arrasadoras, tragédias que tornam o sertão uma região mística, palco do fanatismo, da desolação e da insegurança que fundamentam o pensar de Jap. Tão absurdas e terríveis imagens, gravadas em seu subconsciente, o convenceram da impenetrabilidade do mistério e da vulnerabilidade do ser humano. E diante de sua insegurança e fragilidade, resta ao ser mortal o mergulho no absurdo, no irreal. Em conseqüência disso, nos romances que escreveu, a paisagem se transfigura através da satanização do ambiente: a serra do Mucuripe é caracterizada como um antro de abutres demoníacos que sobrevoam o povoado à procura da carniça dos mortos, vítimas da fome ou das enchentes. Assim, os pecados, as debilidades e os flagelos humanos são retratados em seus romances através da caracterização dos personagens. O vício sórdido da avareza é focalizado na figura de João Pinto de Maria, que após uma vida aviltante e mesquinha, enlouquece de vez e beatifica-se subitamente. Trata-se de um caso de fanatização absoluta, sem meio-termo, de fanatismo extremo, um fenômeno absurdo, inexplicável. O transe, a ascese mística de João Pinto de Maria é típico da concepção existencial de Jap, ou seja, a de que nada faz sentido e que tudo é possível num universo ilógico. Também é próprio da personalidade do autor o oscilar entre a devassidão e a razão, entre a blasfêmia e a devoção, como demonstram fatos de sua vida. Sua tendência ao hábito franciscano nos momentos de fervor religioso e a negação dos postulados da fé nos instantes de irreverência. Sua propensão ao anarquismo e sua sede de justiça. Outros paradoxos veremos no decorrer do livro. Acontece que o poeta acredita que o homem pode-se redimir de uma vez por todas e purificar-se num simples ato de contrição, num átimo em que a consciência se ilumina pelo reconhecimento de seu pecado, numa conversão absolutamente redentora. Portanto, não se deve ter pressa em purificar-se. Pode-se aproveitar o tempo para fazer algumas sandices enquanto não chega o momento terrível, ou quem sabe, o momento luminoso da redenção.

A respeito da Trilogia da Maldição, o escritor e psiquiatra Carlos Lopes escreveu sobre os personagens da ficção de Jap, em sua tese intitulada A Voz Interior em José Alcides Pinto, que se trata de homens vitimados pelas intempéries e pelas estruturas econômicas oligárquicas cujo destino e a destruição, como o caso de João Pinto de Maria que finda os seus dias na mais completa loucura e do Padre Tibúrcio, que também imerge numa espécie de alienação. Contudo estes dois importantes personagens da tragédia clássica criada por Alcides são dotados de certa lucidez se comparados aos demais habitantes do Alto dos Angicos, totalmente imersos na inconsciência e na depravação. E verdadeiramente cinematográfica a maneira como Alcides os qualifica, em O Dragão. “Vidas apagadas, inúteis, sem sentido. Criaturas idiotas que de manhã abrem as portas, se espreguiçam, dão dois passos dormentes até a beira da calçada, mijam e ficam olhando o tempo. As mulheres levantavam-se de lundum. A cara enferrujada. Catando pulgas nos cós da saia. Coçando a bunda e as virilhas. Mijavam de pé como as vacas, no quintal ou no terreiro. Enxugavam-se com o sungão e faziam o café. Às vezes iam até a bodega e ingeriam um dobrão de cachaça. Cuspiam ao pé do balcão. Calçavam o queixo com a masca de fumo e repetiam o trago”. Enquanto comíamos rapadura e cuscuz nas Terras do Dragão, explicou-me que o personagem central de “O Dragão” foi inspirado no sacerdote da paróquia de São Francisco do Estreito, Padre Araken da Frota.

Os demais personagens também foram inspirados na vida e nos costumes do povo da aldeia de São Francisco do Estreito, terra de nascimento de Jap. É através da caracterização do comportamento da geração ribeirinha que ele compreende o pensamento universal do homem e transpõe a sua concepção para o que escreve. Por isso se refugia na fazenda. Ali encontra o cenário e a matéria prima de sua arte: o silêncio e a paz de espírito que não existem na cidade, o céu pleno de estrelas e a quietude do sertão que jamais o entediam. Declara que só se entedia se não tiver uma companhia, pois para um artista a falta de diálogo pode tornar a vida insuportável. “Não posso ainda conversar com os astros”. E não há quem consiga bastar-se a si mesmo de forma absoluta, conversar com os astros, com os anjos, nem que sejam anjos hipotéticos.

Na fazenda Terras do Dragão guarda alguns objetos de estimação. Além do manto franciscano e de alguns livros seus e de amigos, tem a foto de João Firmo Cajazeira, um caboclo do Estreito, homem pobre e honesto, que era considerado um santo. Ele predisse a hora que ia morrer, mandou comprar a própria mortalha e disse que quando o padre chegasse já ele teria morrido. E tudo isso aconteceu. Era uma alma virtuosíssima. Por isso o poeta colocou na parede de sua casa a foto do “santo”. Trata-se de um dos personagens do livro “Os Verdes Abutres da Colina”. Era chamado de “João Grelô” porque tinha um olho torto. Os meninos gritavam, vem cá João Grelô e atiravam-lhe pedras. Ele não reagia e continuava caminhando, com a cabeça sangrando. Não dizia nada. Seu melhor amigo, que se chamava Messias Lourenço, outra pessoa singular, que também é personagem do mesmo romance, costumava brincar com João Firmo. Dizia que seu amigo olhava sempre para cima, para os astros, enquanto ele só via o que estava em baixo. Um dia Messias perguntou a João Firmo: quantos cestos dá o serrote do morro? Deixa eu pensar, Messias. Se for um cesto do tamanho do serrote só dá um. Nesse livro tem tudo isso. Messias, tu tá me vendo? pergunta João Firmo. Tô não, tu só olha pra cima, pros astros, e eu só olho pra baixo. Sem jamais ter lido livros, João Firmo sabia decifrar cartas enigmáticas. Sabia histórias de muitos reis. Contava a vida de Cleopatra, Herodes, Nero e outros, como se tivesse lido enciclopédias. Um dia decifrou até hieroglifos e caracteres ideogramáticos que lhe mostraram num almanaque. Era um fenômeno, um homem puro. Alcides se considera privilegiado por ter tido a chance de conhecê-lo. Todos os dias se levantava às 3 horas da madrugada e ia a pé do Alto dos Angicos até Santana do Acaraú, vários quilômetros de distância. Voltava às 7 da manha e continuava a trabalhar o dia todo no Alto dos Angicos. Quando previu a própria morte, deu o dinheiro para o caixão e mandou fazer a cova.

Chamaram o Padre Araken, que veio a cavalo e confirmou-se o que havia previsto. O padre não chegou a tempo de lhe dar a extrema-unção. Outro personagem seu é o padre Araken. Alcides recorda um episódio em que o pai de uma moça veio queixar-se ao padre que um caboclo havia comido a sua filha. O pai da donzela levou o cabra, que era nativo da Serra do Mucuripe, à presença do vigário, para que ele punisse aquele crime. E Araken disse: Você tem que casar com a filha desse cidadão aqui. E ele, eu me caso, seu padre, mas eu tô desempregado. E o sacerdote retorquiu: vou lhe dar uma enxada de 3 libras e meia e uma foice pra você trabalhar. Vocês, da Serra do Mucuripe, são uns chupadores de caju! O meio ácido pede uma fruta acida onde dissolver seus sais... Referia-se à mulher como fruta ácida...

Na fazenda mantém sempre cabeças de alho espalhadas pela casa para afastar os demônios que farejam-lhe os passos. Não há nada de exótico, nada fora do comum para José Alcides Pinto. Um poeta íntimo  das forças ocultas do universo, um homem que detesta a falsidade e rejeita homenagens. Jamais aceitará ingressar na Academia Cearense de Letras.

Cada amigo seu que entra para aquela agremiação torna-se um pouco menos amigo, pois acha o academicismo uma banalidade e um embuste.

Em São Francisco do Estreito quiseram render-lhe homenagem colocando o seu nome numa praça. Ele não aceitou. Não faz questão disso, acha bobagem, frescura. “Lanço minha maldição sobre todo aquele que prestar tributo à minha memória”, escreveu em Relicário Pornô. O importante é o seu apego à região onde nasceu e onde passou a infância. Esse zelo pela gleba de seus ancestrais, aquele rincão árido e quente onde viu a luz do sol pela primeira vez e que o inspirou tanta literatura. Pensa em vender a fazenda, mas só para algum amigo que possa conservá-la. Já me ofereceu a fazenda Terras do Dragão para que a comprasse, mas eu lhe disse que não tinha condições no momento. Alcides recorda que em sua infância São Francisco do Estreito se chamava Alto dos Angicos e era um matagal cheio de raposas berrando, redemoinhos carregando tudo. O rio Acaraú derrubando barrancos, carregando cercas, inundando plantações, destruindo os casebres da gente pobre ... Esse ambiente selvagem está configurado nos seus romances, especialmente em "O Dragão" e na "Trilogia da Maldição".

A configuração do universal através do regional aparece em sua obra nas imagens da realidade nordestina, presentes no discurso de sua ficção como em sua poesia. Nos versos: “Assim vou cantando o verde/ ruminando essa metáfora/ como a cabra sua semente”, do poema “Verde que te quero azul”, nota-se a metáfora recolhida do universo camponês, que mostra a sua sensibilidade profundamente marcada pelo ambiente do sertão. A consciência do homem rural prevalece, em grandes momentos de sua estética, sobre a realidade da vida urbana. As imagens telúricas do universo regional se encontram intensamente em sua poesia: “Escrevo teu nome/ no esterco do gado,/ no mijo das cabritinhas”. (Teu nome). Os elementos de natureza, que produzem para a humanidade as condições vitais: o vento, os astros, a flora e a fauna que habitam a terra, são referências determinantes na sua criação. O fenômeno natural é o amálgama, o elemento original que o poeta transfigura em sua alquimia verbal. Em Acaraú, Biografia do Rio, a paisagem terrena é transmutada no mito: o relevo de Jericoacoara, de morros vermelhos, lembra o coração de Netuno. A figura do Frade de Pedra, que se avista na serra de Itapajé, domina o panorama, sugerindo a presença de um monge que se eleva acima do chão. Os soterramentos da velha igreja de Almofala pelas dunas trazidas por “ventos malditos”,também suscitam a lembrança do sobrenatural: “como se os demônios fizessem ali morada”.

Enquanto viajávamos para as Terras do Dragão, sua fazenda, o poeta disse: “Estamos caminhando para o mito, quando escrevemos um poema, também fazemos parte de um mito. Toda palavra tem sua mitologia, está carregada de sortilégio, magia, mistério, símbolo. O poeta é um mito e só através da poesia compreende sua situação no mundo. A natureza é pródiga, ampla, não tem limites. O homem é que é limitado. Mesmo os autores de grandes invenções como Thomas Edison e Santos Dumont dependem da natureza. Mas ela não subjuga o homem, dá-lhe tudo e não depende dele para nada. Quando é a estação de chover, a chuva acontece.

Na época de dar frutos, sazona e produz a colheita, a flor abre os pistilos e se oferece às brisas no momento certo. As aves e os beija-flores a fecundam como a mulher. No verão há o caju, rico em ferro e a cajá, em vitaminas. No inverno temos outros frutos e cereais, como o feijão e o milho, ricos em amido. É a natureza que mudou, entrou em outra fase, obedecendo os seus próprios desígnios. Ela é sábia e nela o homem deve inspirar-se. Mas não se encontram no homem as características dos astros, do mar, do vento. O homem se torna importante na medida em que reconhece esta verdade e dela dá testemunho, transmitindo a beleza da natureza através da expressão artística”.

Os livros Os Cantos Tristes da Morte e Fúria retomam a temática da indignação face à injustiça social reinante no Nordeste brasileiro. Neles, o repúdio à fome e à penúria impostas ao nordestino se faz denúncia e protesto. Tamanha indignação nem a hipérbole pode descrever: “A fome, como um incêndio sem ruído,/ mastiga a luz, rói os crustáceos do céu,/ e come o próprio corpo aos pedaços/. Assim o homem do Nordeste se come por inteiro/ - cão agarrado ao seu único osso. “No clima psicológico de ambos os livros há uma atmosfera macabra, em que corvos sobrevoam sobre homens descarnados, esqueletos e ratos. Os demônios suscitam ira e blasfêmia. E o drama se torna mais angustiante, pois mesmo os poetas parecem insensíveis à miséria de seu povo. Só os poetas, que ainda constituem uma reserva moral, um baluarte de luta ante tal condição degradante, só eles ainda se condoem da penúria de seus semelhantes. Mas apenas os mais autênticos se sensibilizam com os problemas sociais de sua terra. “Onde estão os poetas deste país?” pergunta ele no poema. E responde, com ironia, que andarão empoados e melancólicos, como arlequins de ventres intumescidos e nádegas gordurosas. E assim narra, com estonteante força expressiva, o drama da miséria nordestina e a indignação do homem explorado e esbulhado pela inexcrupulosidade dos patrões calhordas. Num libelo de angústia e revolta, constata, estapafúrdio, a pândega de violência desencadeada pelo crime da desonestidade: “Para onde se destina essa leva de almas extintas e condenadas?/ Mais temíveis que hienas, mais ferozes que lobos selvagens/. O que tocam, destroem; no que cospem, incendeia/”. Abomina tal iniquidade que provoca a rebelião de um povo faminto, de uma raça sedenta de justiça. E ao denunciar a calamidade da urbe descreve o combate das almas sufocadas contra as tropas opressoras -- uma luta cruel e injusta de facas e cacetes contra metralhadoras e fuzis. A poesia de Jap se nutre do limiar do desespero, alumbra-se no teatro do pesadelo. Por fim a revolta explode em gritos de ódio. Ante tamanha injustiça, a revolta parece ser a única solução: “A cidade é dos revoltosos/. Justiça se faz com as mãos. As ruas estão cheias de soldados armados de metralhadoras e fuzis/. Mas os retirantes não cedem: a faca na cintura, o cacete no punho levantado”.

Em “Fúria” também protesta contra a deterioração das condições de vida do povo cearense, especialmente os camponeses. O título do livro, “Fúria”, reflete o clima de violência de seus poemas. E o seu desabafo envereda na linha do pornográfico. Só a linguagem chula pode descrever os aspectos sórdidos da realidade social no Terceiro Mundo. O ambiente em que aparecem essas abjetas imagens é o da lama e do lixo, onde rosas e espermatozóides se misturam em meio às explosões e ao terror da guerra.

Quem pode ficar indiferente a esta derrota e esta vergonha, cujos responsáveis diretos são os tiranos, os príncipes maquiavélicos? Súbito assoma o discurso político. Vocifera contra os déspotas e os magnatas.

“América, quantos ditadores mais terias, não fosse a consciência proletária dos que por ti se sacrificaram, sem escapar das bocas suturadas um só grito?” Tal é a situação de pânico e de calamidade no deserto selvagem da sociedade capitalista: “uns pedem amor, outros pão”. Insólita visão de um mundo de canalhas, desonrados, prostitutas grã-finas e pederastas. E diante desse quadro escatológico e apocalíptico, confessa: “Nasci do abominável das coisas abomináveis”. Seu pessimismo se reflete ao longo da obra, numa fulguração de angústia. “Tudo caminha para a poeira: a fome, a fé, o êxtase. Tudo sem razão”. Mas um sopro de esperança ainda se pressente.“O vento da náusea açoita os homens, mas a fé não morre, a fé -- dimensão mais forte do mundo”. É a esperança de que o império das raposas termine.

Mas o lodo que invade a alma, o terror e o pânico da morte e toda sorte de sordidez o poeta recolhe para enfeitar os cenários do livro: piolhos, mênstruo, blenorragia, fezes, urina, esperma e outras relíquias. Por fim, em tom profético, vaticina o castigo dos ignominiosos. Sua voz adquire dimensão bíblica, apocalíptica. Prediz a ruína dos tiranos que perecerão, escravos da própria maldade, vítimas dos calabouços que construíram: “Manicômios, cárceres, leprosários, albergues, abri vossas portas/ a esses corruptos assassinos./ O império das Raposas Velhas está terminado”.

Vislumbra então perspectivas de esperança em meio ao trágico influxo de peçonha das víboras e da ferocidade dos chacais. Nova aurora ressumbra no horizonte humano. É a poesia que rebrota em eterno devir, no retorno dos ciclos e das eras, permanente no coração da humanidade. Da luta titânica Ormuz vencerá o satânico Arimã e o poeta erguerá jubilosamente o facho da vitória, qual Zoroastro, com a sagrada flama nas planícies da Pérsia: “Por trás do leste surge um novo sol dourando o dia”/ ofuscando, com sua luz, os olhos venenosos dos chacais./ Eles serão enforcados nos próprios coletes/ como as víboras engasgadas com os monstros que geraram.”/ Um escritor não pode cruzar os braços diante da injustiça. A condição humana é a medida de sua dignidade.

 

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