Constança Lucas
Natal
Quando era menina bem pequenina, uns 5 anos,
lembro-me de andar a apanhar musgo com o meu
irmão Diogo, tínhamos de o pegar com cuidado
para não partirmos as placas que iríamos
usar para fazermos um presépio em casa.
Tínhamos várias figuras de cerâmica muito
bonitas, uma árvore cheia de bolas coloridas
lembro-me muito de umas azuis, bonecos de neve,
estrelas..., e no jardim os pinheiros também
recebiam enfeites. A casa cheirava a filhoses
e rabanadas, biscoitos e geléia de marmelo.
Rituais que se cumpriam para dar continuidade
aos fazeres coletivos mais genuínos, acreditava-se
que era um tempo de maior alegria e que a humanidade
viveria em Paz para sempre.
A nossa casa irradiava luz, cheia de varandas
e janelas, sempre a cheirar bem. As prendas eram
importantes e assim eu fiz cordões de crochê
para todos, tinha acabado de aprender a fazer
crochê e partilhava esse conhecimento com todos
os que me rodeavam, mesmo o nosso cão recebeu
nova coleira de crochê, todos ficaram com a
minha renda e eu feliz.
Era inverno e as roupas quentes, sempre havia
novas roupas nessa época, blusas de lã colorida,
meias quentinhas, ficou-me na memória uma saia
cor de laranja com um peitilho cheio de atilhos
complicados de arranjar mas era linda jorrava
sol por todos os poros. O meu gorro amarelo
com cachecol atrelado foi companheiro
de muitas aventuras.
Acompanhar a azafama dos preparativos era muito
mais divertido, quebrar nozes e amêndoas no
quintal, com os meus irmãos, comia parte delas e
quando os adultos me perguntavam quem tinha comido
eu respondia que tinha sido o homem invisível.
Gostaria que todas as crianças tivessem a infância
que eu tive, protegida e com alegrias.
Hoje o Natal poderia ser um momento de confraternização,
pela paz no mundo, um momento de reflexão
e de esperança.
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