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Dossiê Wilson Martins
30.01.2010
Luiz Zanin Oricchio - O
Estadao de S.Paulo,
01.02.2010
O crítico literário
Wilson Martins morreu
anteontem à noite, em
Curitiba, aos 88 anos.
Ele faleceu após passar
por uma cirurgia para
retirada da bexiga, no
Hospital Nossa Senhora
das Graças, na capital
paranaense, cidade onde
Martins era radicado
havia muitos anos,
apesar de nascido em São
Paulo, em 1921.
O corpo do escritor
será cremado hoje, em
cerimônia reservada à
família, no Crematório
Vaticano, na capital
paranaense. Wilson
Martins trabalhou em
vários periódicos
brasileiros, assinando
seu rodapé de crítica
literária no Estado,
onde teve seu primeiro
emprego. Também escreveu
no Jornal do Brasil, O
Globo e Correio do Povo,
entre outros.
Autor de diversas
obras, destacou-se pela
fundamental História da
Inteligência Brasileira,
com diversos volumes.
Igualmente fundamental é
a Crítica Literária no
Brasil, história da
atividade crítica no
País. Com suas obras,
Martins ganhou alguns
dos principais prêmios
literários nacionais,
como o Jabuti e o Prêmio
Machado de Assis.
Martins foi também
professor de Literatura
Francesa na Universidade
Federal do Paraná e
lecionou por 26 anos em
Nova York. No entanto,
apesar da sólida
carreira acadêmica, era
na crítica literária
jornalística que se
sentia mais em casa.
Era um crítico de
"linha de frente", que
analisa obras no calor
da hora, assim que os
livros saem do prelo, ao
contrário de colegas
acadêmicos, que esperam
décadas antes de se
pronunciar.
Foi no âmbito
jornalístico que se
tornou conhecido e
amealhou respeito geral
- mesmo daqueles que
desaprovavam suas
opiniões.
Martins nunca deixou
de escrever o que
pensava, como quando
desaprovou o romance O
Fotógrafo, de Cristóvão
Tezza, que admirava, mas
dizia conter palavrões
em excesso.
Quando completou 80
anos, a editora Top
Books lançou um volume
em sua homenagem,
significativamente
intitulado Mestre da
Crítica. Nele, escrevem
colegas ilustres como
Affonso Romano de
Sant"Anna, Moacyr
Scliar, Edson Nery da
Fonseca, Antonio Candido
e outros, tendo por tema
a carreira do crítico
Wilson Martins ou
assuntos literários em
geral.
Mas o melhor dos
ensaios do livro é
assinado pelo próprio
homenageado. Com o
título de O Crítico por
Ele Mesmo, Martins faz
um resumo de sua vida
profissional. O texto
serve como testamento de
uma carreira e também
pode funcionar como
inspiração a quem
pretenda segui-la,
apesar dos percalços
atuais do jornalismo
cultural.
Martins se dizia
educado pelo "sistema
antigo, de rigor,
disciplina e obediência,
sem excessos de
complacência". Sua base
cultural foi formada em
especial pelo
autodidatismo. Lia sem
parar, desde criança, e,
mais tarde, escrever
sobre aquilo que lia lhe
pareceu tão natural como
beber um copo d"água.
Seu primeiro emprego
como crítico foi no
Estado, em substituição
ao então mitológico
Sergio Milliet.
Desde o início,
Martins não negligenciou
o fato de que para
apreciar uma obra era
preciso compará-la. E o
cânone literário, hoje
descartado como
politicamente incorreto,
seria a melhor tábua de
comparação disponível.
Mesmo porque ele não foi
formado de maneira
arbitrária, mas por um
consenso que vem de um
longo assentimento.
Shakespeare, Proust,
Machado de Assis não
ocupam o lugar que
ocupam por acaso.
O alvo dessas
críticas de Martins era
o multiculturalismo e o
relativismo, que coloca
toda e qualquer obra em
pé de igualdade. Isso
seria nivelar a cultura
por baixo, segundo
entendia. Portanto, é a
qualidade da obra que
deveria nortear a
crítica, mesmo que seja
tão difícil distinguir,
no novo, o que é bom do
que não é.
Tentá-lo, e chegar o
mais próximo possível da
"verdade", é a tarefa do
crítico, como ele a
concebia. E apontar o
que é bom em sua época,
o maior desafio daquele
que escreve sobre obras
alheias. O crítico faz
suas apostas. A
posteridade julga as
obras, e o próprio
crítico. Nesse ponto,
Martins valorizava seu
ofício de crítico "de
fronteira",
distinguindo-se
claramente dos colegas
de universidade.
Sempre provocativo,
Martins se dizia "o
último crítico literário
em atividade". Talvez
tenha sido mesmo.
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1.2.2010
Corpo do escritor Wilson Martins é cremado em
Curitiba
O corpo do escritor e crítico literário
Wilson Martins foi cremado na tarde desta segunda-feira (1º) em
Curitiba, Paraná. Ele morreu sábado (30), aos 88 anos, devido a
complicações de uma cirurgia para a retirada da bexiga. O velório
aconteceu no Cemitério Luterano, ao lado do Estádio Couto Pereira.
"Meu tio era um misto de tudo. Uma
pessoa muito bem-humorada e realista. Aceitava várias condições
diferentes de modo de vida das pessoas. Era nosso professor. Com
ele, aprendemos os ensinamentos de vida", disse o sobrinho do
escritor João Luiz Guazi, 50 anos.
Wilson Martins nasceu em São Paulo em
1921. Formou-se em Direito, mas resolveu especializar-se em Letras,
atingindo o título de doutor. Tornou-se professor de literatura
francesa na UFPR e deu aulas de literatura brasileira em
universidades dos Estados Unidos.
Em terras americanas, sua passagem mais
marcante foi pela Universidade de Nova York, que durou 26 anos e
onde se tornou professor emérito, tendo se aposentado em 1992.
Durante anos, Martins publicou críticas
em alguns dos mais importantes periódicos brasileiros, como o Jornal
do Brasil, O Globo e a Gazeta do Povo – onde, aliás, começou a
carreira como revisor de texto. O crítico recebeu prêmios como o
Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por duas vezes, por volumes
do livro História da Inteligência Brasileira, e o prêmio Machado de
Assis, da Academia Brasileira de Letras, em 2002, pelo conjunto de
sua obra.
Martins também publicou textos na
revista Joaquim, publicada em Curitiba entre os anos 1946 e 1948 e
editada por Dalton Trevisan. A publicação foi responsável pelo
surgimento de diversos intelectuais que vieram se tornar
importantes, conseguindo repercussão nacional.
Mestre da Crítica
Entre as obras mais importantes de
Wilson Martins, além do monumental História da Inteligência
Brasileira, estão Crítica Literária no Brasil (escrito em 2
volumes), A Idéia Modernista, A Palavra Escrita e Pontos de Vista,
entre outros.
Lançado em 2001, pela editora Topbooks,
o livro Mestre da Crítica
comemorou os 80 anos de vida do crítico literário, reunindo textos
de importantes autores sobre a obra do crítico. Entre os
intelectuais que escrevem sobre
Martins estão Antonio Candido, Luiz Antonio de Assis Brasil, Moacyr
Scliar, Josué Montello e Affonso Romano de Sant’Anna, entre
outros.
Wilson Martins aos 87 anos |
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Rodrigo Gurgel
Os pecados de Wilson Martins
Instituto Millenium
4.3.2010
http://www.imil.org.br/artigos/os-pecados-de-wilson-martins/
Por
uma dessas casualidades com que a vida nos golpeia,
às vezes mal tenhamos acabado de morrer, Wilson
Martins faleceu em 30 de janeiro deste ano, quando
os jornais, as rádios, a tevê, a web e grande parte
dos intelectuais que detêm postos-chave na mídia
ainda derramavam lágrimas de sangue pela morte de J.
D. Salinger. De certa forma, foi uma casualidade
positiva: graças ao intervalo de três dias (o
escritor norte-americano faleceu a 27 de janeiro), o
crítico literário, historiador e professor emérito
da Universidade de Nova York ganhou, aqui e ali, dez
ou quinze linhas de atenção. Mas a sorte durou
pouco. Logo no dia 31, para consternação geral,
outro ícone falecia – e quando alguns poucos
leitores esperavam por artigos mais aprofundados
sobre a obra do nosso intelectual, o noticiário foi
tomado por perfis, críticas, rememorações, encômios,
listas de obras publicadas e fotos do argentino
Tomás Eloy Martínez. Entretanto, devemos ser
otimistas e, assumindo o comportamento apropriado ao
populismo que impera no país, fazer o jogo do
contente: se Wilson Martins tivesse falecido um dia
depois de Salinger ou na mesma data que Martínez,
sequer receberia o favor de um breve necrológio.
Não discuto o valor da obra dos estrangeiros
falecidos – e muito menos a dor de suas viúvas
brasileiras –, mas se o leitor me pergunta sobre o
porquê desse tratamento diferenciado, quiçá injusto,
minha resposta talvez não agrade, mas é a única que
tenho: ainda somos um país primitivo, uma colônia
que se encanta facilmente com o ouropel das cortes
estrangeiras. No que se refere à teoria literária,
por exemplo, o estruturalismo é questionado na
Europa desde a década de 1980 – e alguns de seus
seguidores já lhe deram as costas, como Todorov –,
mas aqui ele ainda é objeto de culto nas
universidades, onde há quem leia Derrida e outros de
joelhos, acreditando que certa terminologia
folclórica pode dar conta de analisar não só a
literatura, mas toda a realidade. Não importa se os
estruturalistas e seus continuadores criaram apenas
– no irônico dizer de Thomas Pavel – um “verniz
onírico” ou, lembrando o ácido comentário de José
Guilherme Merquior, uma “teorréia, ou seja,
teorização inconseqüente sem qualquer referente
estável”. Importa, sim, o prazer doentio de se
submeter ao que vem de fora, aceitando, sem
críticas, qualquer teoria fantasiosa.
Em segundo lugar, há outro motivo para o descaso
em relação a Wilson Martins: ele – pasmem! – não era
de esquerda, não rezava pelo catecismo marxista, não
acreditava na irrefreável, fatal e invencível
revolução que, no galope leninista ou no trote
gramsciano, um dia levará o proletariado ao poder e
à completa destruição do capitalismo. E não ser de
esquerda neste país, ainda mais nos dias que correm,
é pactuar com monstruosidades. Hoje, são os liberais
que comem criancinhas. Não interessa se Wilson
Martins era um irredutível democrata, avesso a
qualquer tipo de coerção por parte do Estado – um
liberal clássico. O que vale, para parcela da
intelectualidade, é a carteirinha com a estrela
vermelha, ou com a foice e o martelo. Não segue o
rebanho? Tem ideias próprias? Fora!
Wilson Martins cometeu ainda um terceiro pecado:
apesar de não ser de esquerda e não se vergar diante
de modismos estrangeiros, venceu. Além da brilhante
e respeitável carreira em uma das melhores
universidades do mundo, elaborou, com altivez e
independência, uma obra que será lida, relida e
analisada, nos próximos séculos, por todos os que
pretenderem, de forma isenta, honesta e rigorosa,
estudar ou conhecer não só a literatura brasileira,
mas parte fundamental da nossa cultura. E uma
carreira vitoriosa – sem pensar ou agir como a
maioria – é algo execrável. Como alguém pode ganhar
respeitabilidade sem seguir a manada? A esses, aos
que ousam construir seu próprio caminho, as
igrejinhas nacionais premiam com sua arma mais vil:
a blindagem de mudo desprezo. É a tentativa de
garrotear aquele que cometeu o pior dos crimes: não
ser apenas mais um em meio à turba.
Nosso crítico literário, no entanto, era um homem
singular. Não satisfeito com esses pecados,
verdadeiramente assombrosos, ainda cometeu mais um,
talvez o pior de todos, o mais terrível: foi
daqueles críticos, hoje raros, que não trocam
favores, que não dão tapinhas nas costas, que não
adoçam as palavras para conseguir novas amizades ou
manter a qualquer custo as antigas. Enfim, Wilson
Martins tinha uma “santa rabugice”, na feliz
expressão do poeta, tradutor e ensaísta Ivan
Junqueira. Rabugice à qual ele acrescentou, ainda
segundo Junqueira, “privilegiada formação literária
e humanística”, “sutileza e inteligência”,
“elegância de linguagem”, “fundo conhecimento
teórico” e “certo humor, o que lhe confere [...] um
encanto ainda maior”.
As consequências de todos esses pecados só
poderiam ser danosas. No país do compadrio, da
mancomunação, do puxa-saquismo, o comportamento
sobranceiro e reservado de Wilson Martins, avesso às
panelinhas, não apenas o isolou, mas, somado à sua
severidade no julgar e à sua ironia, granjeou-lhe
inimigos em toda parte. Eu diria, aliás, que a fila
dos ressentidos é quilométrica e disputa, palmo a
palmo, cada fatia de calçada com as viúvas de
Salinger. E tudo por um simples motivo: nosso
crítico não era paternal, não silenciava diante de
erros e omissões, não se fazia de cego ou surdo
quando discordava dos supostos mandarins da
literatura brasileira. Mas o que os criticados
entendiam como ataque pessoal era apenas a
concretização de um imperativo caro a Martins: “O
clima da crítica é a polêmica”, ele dizia, “mas não
a polêmica de ataques e destruição dos adversários,
mas o debate de idéias, a discussão e o confronto
das idéias. Este sentido positivo da polêmica faz
parte da crítica. O crítico nunca se coloca
passivamente diante de um livro. Já no ponto de
partida ele está encarando aquele livro
polemicamente. Não contra o livro, mas ele está
penetrando naquele mundo com esta idéia de verificar
até que ponto aquela obra responde ao que ela queria
ser”.
Que culpa Wilson Martins poderia ter se alguns
dos livros que criticou foram escritos por pessoas
infantis, que só aceitam o gesto paternal de quem
lhes acaricia o cocuruto e diz, com suavidade,
“Olha, você, no fundo, é genial, mas podia dar uma
melhoradinha aqui nestes trechos…”? Que culpa ele
poderia ter se alguns intelectuais são imaturos,
despreparados para conviver com a discordância, com
o pluralismo de idéias e, principalmente, para
saborear o uso da ironia, finíssimo em seus textos,
mas que alguns preferiam entender como sarcasmo?
Diante de tal personalidade, que se empenhou,
durante décadas, na ingrata tarefa de “higiene
crítica”, para usar a expressão de José Guilherme
Merquior, e na elaboração de uma obra cujo valor
raríssimas vezes foi alcançado neste país, que
somava à erudição uma metodologia avessa ao
pedantismo e à “arrogância epistêmica” que grassam
entre nós, e que, contrariando todos os seus
detratores, agia como um gentleman, destilando
cavalheirismo, amizade e atenção, o que restou a
alguns cardeais da nossa cultura, senão o rancor? O
rancor… Ora, o rancor é apenas, segundo a sábia
lição de Ortega y Gasset, em seu Meditaciones
del Quijote, “uma emanação da consciência de
inferioridade. É a supressão imaginária de quem não
podemos, com nossas próprias forças, suprimir
realmente. Aquele por quem sentimos rancor leva, em
nossa fantasia, o aspecto lívido de um cadáver; com
o desejo, nós o matamos, o aniquilamos. E depois, ao
encontrá-lo firme e tranquilo na realidade,
parece-nos um morto indócil, mais forte que nossos
poderes, cuja existência significa a zombaria
personificada, o desdém vivo frente à nossa débil
condição”.
Asceta e humanista
E já que citamos o filósofo espanhol, lembremos
que Wilson Martins cumpriu o ideal orteguiano de
crítico, compreendendo aqueles a quem criticava,
agindo com a tolerância que é “própria de toda alma
robusta”, introduzindo “em seu trabalho todas
aquelas ferramentas sentimentais e ideológicas por
meio das quais o leitor médio pode receber a
impressão mais intensa e clara da obra que seja
possível”, pois “a obra se completa completando sua
leitura”.
Na contramão do que ocorre hoje no Brasil, a
concepção crítica de Wilson Martins estava vinculada
a um profundo respeito pelos que o antecederam,
diante dos quais ele se colocava com humildade,
afirmando que “a crítica que fazemos hoje, como a
ciência que hoje realizamos, não são necessariamente
melhores que as dos nossos antepassados: e se de
fato temos motivos para julgá-las melhores, a
explicação deve ser outra que a idéia, supremamente
discutível, de que nos encontramos num pináculo. (…)
Não é com ilusões desse porte que se pode
estabelecer nem uma sólida ciência nem uma crítica
sólida”.
Assim, buscando conciliar experiências passadas,
atualidade e rigor, nosso crítico refutou a
“estranha pretensão” – tão difundida atualmente, e
não só na academia – de que Ortega y Gasset nos fala
em A rebelião das massas: “a de ser mais
que qualquer outro tempo passado; mais ainda: por se
desligar de todo o passado, não reconhecer épocas
clássicas e normativas, e ver-se a si mesmo como uma
vida nova superior a todas as antigas e irredutível
a elas”.
Encarando a vida da literatura não como “uma
sucessão, mas uma coexistência”, ele percebeu na
história literária um “todo orgânico, no qual os
escritores não se sucedem como os soldados de um
desfile, mas se intercruzam como os filamentos de um
tecido”. E estabeleceu sua crítica segundo a regra
que considerava ideal, basicamente, de que ela
jamais poderia se “confinar nos princípios e métodos
de uma determinada família espiritual, mas exigiria,
ao contrário, a contribuição simultânea de
todas elas”. Rejeitou, assim, o “monismo de
julgamento” e defendeu, visceralmente, que “não há,
em crítica literária, pontos de vista ‘errados’: há,
mais simplesmente, pontos de vista diferentes”,
salientando, de acordo com o seu espírito liberal e
democrático, que “‘tomar todas as afirmações sem
excluir nenhuma’, como queria Renan, não significa
aceitá-las: significa aceitá-las para discussão”.
Desapegado em relação aos seus próprios méritos
acadêmicos, indiscutíveis, Wilson Martins defendeu a
crítica não-acadêmica, pois, segundo ele, esta “tem
o espírito muito mais aberto para a aventura
intelectual, para a novidade, para a discussão de
idéias”. Defendia, aliás, um ponto de vista
iconoclástico em relação ao “furor teórico” de que
somos vítimas: para ele, certos críticos desejam, no
fundo, ajustar os livros analisados à teoria, o que
é impossível; e não deixou de salientar a subversão
por que passa o próprio processo criativo, apontando
o comportamento pernicioso de alguns escritores:
“ficcionistas e poetas passaram a escrever para os
críticos, para agradá-los e confirmar-lhes as
respectivas teorias”.
Wilson Martins, com certeza, alcançou o ideal não
apenas de crítico orteguiano, mas também de homem:
aquele que, verdadeiramente nobre, não se contenta
em ser apenas “reativo”, mas busca impregnar seu
tempo com uma marca indelével – e para tanto vive em
tensão permanente, num treinamento constante, ou,
como nos lembra Ortega y Gasset, em perfeita ascese.
Humanista, homem da Renascença deslocado entre
dois séculos perturbadores, nos quais os filisteus
impuseram a mediocridade como regra de vida, Wilson
Martins cumpriu o que se propôs: “não há espírito
crítico que não comece por se criticar a si mesmo,
que não duvide logicamente das suas certezas e das
suas verdades, que não esteja disposto, se não a dar
razão ao adversário (…), pelo menos ‘repensar-se’
continuamente e recusar-se ao conforto intelectual”.
Graças a esse contínuo exercício, a essa austeridade
e disciplina realmente ascéticas, ele exerceu a
crítica com alto discernimento, formou gerações de
leitores, recuperou a história da inteligência em
nosso país e nos livrou dos piores males: a mesmice
e a unanimidade. A esse insigne mestre, nestes dias
de luto, minha profunda reverência.
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Deonísio da
Silva
WILSON MARTINS (1921-2010)
Crítico é atacado
depois de morto
27/4/2010
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Quando o escritor
Josué Montello morreu, fui procurado para falar (mal) dele.
Em entrevista a Geneton Moraes Neto, no Jornal do Brasil,
e em artigos assinados no Estado de S. Paulo, eu
tinha feito várias ressalvas, não apenas à sua obra, mas à
sua atuação como personalidade literária que era. Josué
Montello respondera-me em grandes jornais, eu dera a
tréplica no Verve, pequeno jornal editado por uma
equipe presidida por Ricardo Oiticica, em Niterói (RJ).
Há quase trinta anos mantenho coluna semanal no
Primeira Página, pequeno jornal de São Carlos (SP).
Acredito muito nos pequenos jornais. Eles completam as
falhas geológicas dos grandes. E a imprensa do período,
ainda mais agora com os mecanismos de busca, jamais será a
de um jornal apenas, como já foi no passado.
Ao me negar a falar de Josué Montello depois que ele
morreu, comentei a advertência que, na Odisséia,
Ulisses faz à Ericléia, que se alegra com o massacre dos
pretendentes, popularizada pela seguinte expressão do latim
vulgar: "De mortuis nil nisi bene" (Dos mortos nada, a não
ser o bem).
Escrevera aqueles artigos e dera aquelas declarações a
Geneton Moraes Neto quando eu tinha 35 anos! Hoje, aos 61,
diria tudo o que disse de modo diferente. O outono nos
ensina a moderação, mas fazer o quê? Pedro Nava definiu a
experiência como um automóvel com os faróis virados para
trás. Quer dizer, de pouco serve, pois o percurso já foi
feito.
Sem espaços
Flora Süssekind, professora altamente qualificada, não
deve desconhecer a recomendação que da literatura migrou
para a vida cotidiana, mas perpetrou várias indelicadezas e
equívocos no caderno "Prosa&Verso" de O Globo
(24/4/2010). Não apenas com o que disse, mas com o que
costuma silenciar, pois ela deve conhecer a qualidade de
livros e autores que omite em suas pesquisas. Como disse
Eduardo Portella, "o silêncio é aquilo que se diz naquilo
que se cala".
O pior de tudo é que jamais discordou de Wilson Martins
quando ele era vivo. Em cima de seu caixão, com o
profissional morto, ela, não só desanca sua obra, como ainda
fala mal de quem falou bem do crítico, aí incluídos
referências da crítica literária, como é o caso de Alcir
Pécora e Miguel Sanches Neto, comentaristas de inegável
qualidade. Qual foi o erro dos dois? Discordar dela?
Destaco trecho do que escrevi na coluna de Augusto Nunes
na Veja on-line, no dia seguinte ao falecimento do
crítico:
"Wilson Martins dizia: `não comento autores,
comento livros´. Fez a história da literatura
brasileira de 1500 a 2009, acompanhando os
lançamentos e garimpando neles o que achava
relevante. Antonio Candido data sua história de
nossas letras na segunda metade do século XVIII e
vem até 1930. E nas universidades só ele é citado.
Há décadas. Wilson Martins integra a multidão de
esquecidos para que poucos possam aparecer louvados
pelos mesmos de sempre".
A militância política dos professores não pode ser
exercida em sala de aula. Ali há programas, ementas,
objetivos e bibliografias bem definidos a cumprir. Sejam
pagos por escolas públicas ou privadas, os mestres estão
submetidos a hierarquias baseadas em relações de saber, não
de poder, e precisam ministrar aos alunos um ensino de
qualidade. Aqueles que substituem ações docentes por
proselitismo estão traindo os alunos. Não é esta a única
razão do notório fracasso escolar, mas é uma força
considerável no rebaixamento da qualidade de ensino. O
artigo de Flora Süssekind logo estará sendo citado e
multiplicado em universidades para ajudar a deformar nossos
cursos de Letras. A mídia vem sistematicamente negando
espaço a quem faz literatura de qualidade, aí incluída a
crítica, naturalmente, e por isso enseja a consagração de
mediocridades.
Colunas suspensas
Há algo muito mais grave do que ensinar que não houve ou
não há literatura brasileira. É fazer de conta que obras e
autores do gosto do mestre sejam impostos aos alunos como
únicas referências literárias. Naturalmente, o mestre tem
seu gosto, que é também uma categoria estética, mas quem
experimenta o prato é o cliente, não o garçom. E neste caso,
críticos e professores são garçons.
Por melhor crítico que tenha sido Armando Nogueira, quem
fez a jogada foi Pelé, foi Garrincha, foi Romário, foi
Maradona, não ele. Ele não jogava, ele comentava. Exagerando
um pouco, Sartre disse que "os críticos são guardiães de
cemitérios". E ademais já não somos poucos os que achamos
que é urgente uma revisão em nosso cânone literário, que
consagra tantas mediocridades.
Os editores de cadernos literários usam sempre como
recurso de argumentação que não há espaço para comentar mais
livros ou outros livros, revelar outros autores, sair da
geléia geral em que a maioria deles está há muitos anos. Por
que, então, dedicar duas páginas inteiras para um solilóquio
desses contra Wilson Martins? Não teria sido melhor abrir o
mesmo espaço para uma saudável controvérsia?
Wilson Martins e Affonso Romano de Sant´Anna tiveram suas
colunas suspensas em O Globo em agosto de 2005.
Comentando o afastamento dos dois, escreveu Alberto Dines
neste Observatório (8/8/2005):
"A maior empresa de comunicação do país, uma das
maiores do mundo, não tem os caraminguás para manter
uma instituição que dá à combalida cultura carioca o
suporte erudito para o seu renascimento. De
diferentes gerações (um é poeta e professor mineiro;
o outro ensaísta e professor curitibano) ARS e WM
são dois expoentes da cultura brasileira que O
Globo oferecia ao seu público no mesmo dia e
mesmo caderno".
Pois é. Olhem só para quem ocupou o lugar deles. Os
leitores façam as suas comparações! |
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Afonso Romano de
Sant´Anna
http://www.affonsoromano.com.br/blog/index.php?titulo=566
Flora Sussekind, a hidrófoca
Li o artigo de Flora Sussekind no
Prosa e Verso d´O Globo deste sábado 24.4.2010.
Nunca vi tanto fel, tanto ódio
sob o pretexto de tratar da crítica literária.
Metralhadora alucinada e giratória, ela atira em
todas as direções, inclusive no próprio pé. É
constrangedor. Flora pensa mal e escreve pior ainda.
Se me provocarem, eu mostro.
O verdadeiro tema de seu texto é
Wilson Martins. Em sua ira generalizada diz
claramente que é preciso �matar mais uma vez Wilson
Martins. Irritou-se que, três críticos, entre
outros ( Miguel Sanchez, Alcir Pécora, Sergio
Rodrigues) tenham escrito sobre Wilson, quando de
sua morte. Autoritária ela quer apagar o nome de
Wilson e de outros e fazer a história ao seu jeito.
Com reparos que lhe podem ser
feitos Wilson Martins deixou uma obra sólida,
instigante, um marco não só na literatura, mas na
cultura brasileira do século XX. Não é ocaso de
Flora e suas pequenas invectivas.
Wilson Martins morto é mais útil
e fecundo do que Flora Sussekind viva.
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Flora Sussekind
24.4.2010
A crítica como
papel bala
Reações de ressentimento nostálgico, e certo
proselitismo agressivamente conservador,
dominaram (até agora, salvo engano, sem maior
ressonância) os necrológios de Wilson Martins,
desde sua morte em 30 de janeiro deste ano. Mais
do que avaliações de fato da trajetória e da
prolífica contribuição documental do colunista e
pesquisador, ou figurações autoelogiosas
minimamente convincentes (mediadas pela do
morto) para o crítico enquanto herói solitário e
combativo, o que essas manifestações, vindas de
segmentos diversos do campo literário, parecem
evidenciar, ao contrário, é o apequenamento e a
perda de conteúdo significativo da discussão
crítica, assim como da dimensão social da
literatura no país nas últimas décadas.
Ao lado dessa retração, e em relação direta com
ela, manifesta-se fenômeno curioso, espécie de
negativo da situação — comentada à época por
Roberto Schwarz — de dominância de uma cultura
de esquerda durante os primeiros anos de
ditadura militar no Brasil dos anos 1960. Agora
há um conservadorismo que é francamente
hegemônico. E envolve desde o retorno às figuras
todo-poderosas do especialista monotemático, do
agenciador com capacidade de trânsito
inter-institucional e do colecionador de
miudezas, às interlocuções preferencialmente de
baixa densidade dos minicursos e
palestras-espetáculo, do universo das regras
técnicas e das normas genéricas e subgenéricas,
fixadas acriticamente em oficinas de
adestramento, à glamorização midiática de
instituições autocomplacentes como a Academia
Brasileira de Letras e correlatas, a formas
variadas de culto a personalidades literárias,
em geral mortas (e Clarice Lispector, Leminski,
Ana Cristina Cesar têm sido objeto preferencial
de dramaturgias miméticas, curadorias acríticas,
ficções e comentários "à maneira de"), mas
também em vida veem-se autores, mal lançados em
livro, se converterem em máscaras que, com
frequência, os aprisionam em marcas registradas
mercadológicas de difícil descarte. Como se
tornou, a meu ver, a trajetória tão distinta de
Marcelo Mirisola e Patrícia Melo, para ficar em
dois exemplos de escritores cuja produção
poderia ir bem além do exercício automimético.
A idealização de Wilson Martins como imago
exemplar do crítico, nesse contexto, não chega
propriamente a espantar. Talvez a virulência com
que ela tem sido feita nos elogios fúnebres,
isso sim seja curioso. Uma virulência que supõe
um conflito no entanto invisível, apenas
virtual. Nada que se explique, entretanto, via
clichê cordial. Pois não há lugar para
cordialidade alguma num campo cuja retração e
desimportância amesquinham e tornam ainda mais
cruenta a disputa por posições, pelos mínimos
sinais de prestígio e por quaisquer
possibilidades de autorreferendo. Daí a
truculência preventiva, propositadamente
categórica, emocionalizada, nada especulativa.
Espantosa talvez seja a falta de reação mesmo
por parte daqueles cuja formação ou experiência
crítica seria de molde a articular formas
potenciais de dissensão. E que, ao contrário,
recebem o autoapequenamento da crítica e do
espaço para o debate público com passividade,
resignação, quase desinteresse, incapazes de
encontrar um campo ativo, mesmo minúsculo, de
resistência ou interferência.
Talvez caiba, então, observação mais detida
desses necrológios que figuram o colunista como
um injustiçado, como uma espécie de herói
solitário na pontualidade de suas resenhas
semanais, em moldes idênticos, ao longo de cerca
de seis décadas. Pois, se podem ser lidos como
particularmente sintomáticos de uma redução do
potencial de dissenso das intervenções no calor
da hora, esses lamentos sinalizam, por outro
lado, com singular acuidade, a perda de lugar
social da crítica. O que os faz adotarem tom
crescentemente exacerbado, agressivo, à medida
que se percebem disfuncionais, e dispensáveis,
mesmo em meio a um fluxo crescente de
lançamentos, no que se refere à divulgação e
afirmação de nomes e obras. Por vezes ainda lhes
cabe o espaço de cerca de quarenta linhas de uma
orelha ou de alguma declaração sobre a
importância da obra. Ou o lugar meio
envergonhado de um posfácio ou nota
introdutória. Não muito mais do que isso ou as
duas ou três laudas de uma resenha. Qual o
interesse de um comentário crítico quando se
pode obter muito mais visibilidade para
escritores e lançamentos por meio de
entrevistas, notas em colunas sociais e
participações em eventos de todo tipo?
Fabricam-se nomes e títulos vendáveis, vende-se,
sobretudo o nome das editoras, e sua capacidade
de descobrir "novos talentos" semestralmente, ao
sabor das feiras literárias. E, nesse sentido,
formas dissentâneas de percepção, como a
crítica, se mostram particularmente incômodas.
Formas personalistas e estabilizadoras, ao
contrário, se esvaziadas, parecem continuar
benvindas. Se adotado o perfil do colunista que
"sabe ficar no seu lugar", que funciona, com voz
opiniática, e sem maiores tensões, como moldura
quase invisível, inconsequente, para o que o
mercado editorial ou o próprio veículo quiser
referendar. Se desse lugar sem qualquer
ressonância não houver condições reais de
intervenção, formulação de questões relevantes e
expansão do mínimo espaço público talvez ainda
disponível para um exercício crítico que não se
confunda inteiramente com busca de prestígio ou
com um guia de consumo.
Talvez seja necessário, na discussão de um
espaço ainda crítico para a crítica, matar mais
uma vez Wilson Martins. Já que sua transformação
em imago exemplar parece expor inequívoca
vontade de retorno a algo próximo à tradição das
Belas Letras, a um regime estável e
hierarquizado de vozes e gêneros, a regras fixas
de apreciação e prática textual, a um apagamento
de novos espaços de legibilidade, espaços ainda
não demarcados ou nomeados, e sugeridos por
formas de compreensão expansivas, e não
exclusivas, do campo da literatura. Um desejo de
reierarquização e pureza que não parece sem
sintonia com o temor de um universo
sóciopolítico menos hierarquizado, com a
expansão meio informe de uma classe média cujo
imaginário não parece ultrapassar uma coleção
inesgotável de bens de consumo. E com uma
extraordinária expansão das práticas digitais de
escrita, acompanhada, paradoxalmente, no
entanto, de uma quase invisibilidade coletiva
dessas manifestações, de um encolhimento quase
ao absurdo da esfera pública.
Destaco, então, a título de exemplo, dentre os
textos sobre a morte de Martins que parecem
operar de modo reativo um fechamento
auto-afirmativo do campo literário, os de Alcir
Pécora, professor da Unicamp, publicado no
suplemento "Mais!" da "Folha de S. Paulo"; do
escritor Miguel Sanches Neto, divulgado em
publicação de circulação menor, e orientação
orgulhosamente conservadora, o jornal curitibano
"Rascunho"; e, por último, um post incluído no
blog de Sérgio Rodrigues no portal de notícias
do IG.
Apesar de assemelhar-se aos demais no elogio
fúnebre, em que a um velho modelo de crítica —
como afirmação personalista do gosto —
corresponde um território embelezado do
literário, este último é o menos enfático dos
três, sublinhando, mais de uma vez, meio a medo,
o fato de "quase nunca concordar" com Martins.
Desvinculando-se, assim, de maiores filiações,
aponta simultaneamente, no entanto, "uma
concordância maior", ligada a certa capacidade
demarcatória, pois Martins seria alguém "que
ousava falar de literatura de dentro", que
parecia habitar o campo letrado, posicionando-se
na contramão das "verdades importadas de campos
fora das letras". O que interessa a ele parece
ser a estabilidade identitária, uma garantia de
intransitividade para o campo literário, o que a
leitura de Wilson Martins invariavelmente
oferecia, como uma ilha intemporal,
propositadamente cega, sem lugar para a dúvida,
em meio ao movimento relacional,
autoinstabilizador da parte mais significativa
do exercício crítico da segunda metade do século
XX.
Ecos de uma vontade de retorno a um
literário-apenas-literário se notam, igualmente,
nas outras duas notas fúnebres. A de Miguel
Sanches Neto não à toa fala de Martins como "o
crítico", aquele que seria uma mistura de
"bibliotecário" extremamente abrangente, voraz,
pois o seu interesse seria por "toda a produção
nacional", e de "leitor seletivo", cujo
território independente, personalista, seria
imune a influências, compadrios, regionalismos.
Uma espécie de “posição sem posição” que, se já
passível de discussão pela simples inserção num
veículo comercial, pelo exame do conjunto de
resenhas produzidas por ele ao longo dos anos,
não apontaria, na verdade, para atributo
propriamente invejável na experiência analítica.
Nesta, ao contrário, são a capacidade de
elucidação da própria cadeia argumentativa, e
das condições de constituição do sentido e de
formulação do juízo, ao lado da articulação de
relações críticas significativas com a hora
histórica alguns dos fatores preponderantes. E
não uma sonhada disponibilidade sem limites ou
uma capacidade de exaustiva amostragem e
arquivamento da produção editorial.
O texto de Alcir Pécora opera exemplarização
semelhante da figura do crítico, a começar do
elogio duplo contido no título do artigo
publicado na "Folha": "Erudito dissonante". Uma
erudição que contrasta às áreas que lhe parecem
dominantes nos departamentos de Letras — os
estudos teóricos e os estudos culturalistas — e
que figuram como oponentes surdos em sua
reavaliação do trabalho de Wilson Martins. A
vontade de afirmação da importância do crítico
morto leva-o, nessa linha, a comparar o seu
trabalho ao de Darnton e Chartier, apontando
papel antecipador em seu interesse pela cultura
material e pela história do livro e da leitura.
Uma coisa, porém, é compilar material que poderá
se tornar relevante segundo outra perspectiva de
leitura, outra bem diversa é constituir
conscientemente um objeto de estudo, um ponto de
vista anaítico, uma operação crítica, ou a
avaliação de um campo disciplinar.
Se não é possível ver crítica ou
cronologicamente em Wilson Martins um precursor
do trabalho de Henri-Jean Martin e Lucien Febvre
ou da teoria das materialidades da comunicação,
há outra ordem de atributos que levam Pécora a
destacá-lo. Uma não-cordialidade propositada
(aspecto talvez discutível, apenas aparente, se
observam-se com cuidado os não violentamente
criticáveis por ele e o que se resguarda, no seu
caso, via antagonização); a truculência verbal
(também não exclusiva, bastando observar, nesse
sentido, alguns dos colunistas mais populares e
longevos em diversas áreas e meios de
comunicação); o orgulho de estar sozinho
(quando, ao contrário, desde os anos de
estabilização democrática, no país, são figuras
marcadas exatamente por um conservadorismo ativo
que têm se mostrado legião e emprestado a
respeitabilidade de nomes já feitos às páginas
de entretenimento e opinião dos jornais).
Quando os tempos políticos se mostram outros, e
uma homogeneização impositiva parece barrar as
cisões necessárias à experiência crítica do
próprio tempo, quando já não se constituem, com
facilidade, margens articuladas de resistência e
situações definidas e consequentes de conflito,
talvez seja mais fácil converter a crítica em
operação reativa, disfuncional, mas virulenta,
cujo motivo condutor passa a ser o retorno
autocongratulatório a um passado de glórias, no
qual os textos de intervenção podiam ainda
provocar controvérsia, e o prestígio das Belas
Letras enobrecia igualmente críticos e
escritores.
O que parece, no entanto, nostálgico, reativo,
talvez não aponte exclusivamente para um período
anterior à formação da crítica moderna no
Brasil, mas para uma reprodução esvaziada de
sentido, e desligada de vínculos efetivos com a
experiência histórica, de comportamentos,
práticas de escrita e certo culto à
autodivulgação e à vida literária que parecem se
expandir (em prêmios, concursos, revistas,
blogs, antologias, bolsas de criação) em
movimento inverso ao da restrição que se opera
no campo da produção e da compreensão da
literatura, ao da quase total desimportância de
livros e mais livros que se acumulam sem maior
potencial de instabilização, sem provocar
qualquer desconforto, sem fazer pensar. Uma
restrição que talvez indique uma incapacidade
não só da crítica, mas do campo literário, de
modo geral, de reinventar a sua sociabilidade,
de produzir condições outras para a própria
prática.
Lembro, nesse sentido, a resposta de Jacques
Rancière quando indagado, em entrevista recente,
a respeito de uma série de escritores
contemporâneos. Sem desqualificá-los,
comentaria, no entanto, distinguindo a atual da
ficção de até meados do século XX: "Penso
simplesmente que a literatura não inventa hoje
categorias de decifração da experiência comum".
E concluindo numa espécie desdramatizada de beco
sem saída: "As formas de narratividade, de
expressividade, de inteligibilidade que ela
inventou foram apropriadas por outros discursos
ou outras artes, ou banalizadas pelas formas de
comunicação".
Para além do quadro local, o que Rancière
sublinha, em perspectiva mundial, é a aparente
interrupção de um período de vigorosa
contribuição dos estudos literários às ciências
humanas (como ocorreu ao longo do século
passado), e de poder significativo de
interferência e transformação do literário sobre
outras práticas artísticas. O que não apenas no
Brasil parece encontrar resposta compensatória à
sua desnecessidade, e a uma fraca ressonância,
em premiações, incentivos, edições de luxo. E
numa ficcionalização autotélica de uma espécie
de território exclusivo para o literário e sua
crítica, de lugar sem condicionamentos ou ecos,
que, hipoteticamente sem interferência de outras
artes e disciplinas, se mostra, por isso mesmo,
incapaz de se repensar e de estabelecer ligações
mais consequentes com o próprio tempo.
Curiosamente, como já demonstraram há alguns
anos George Kornis e Fábio Sá Earp, e mais
recentemente Jaime Mendes, em estudos sobre a
economia do livro, se, em termos de oferta, de
número de exemplares, o mercado literário vem
apresentando um crescimento de mais de 30% desde
2004, isso não se tem feito acompanhar, todavia,
nem do aumento de alcance dessa produção, nem de
faturamento por parte das editoras, nem de
capacidade de absorção por parte de consumidores
e bibliotecas. E é como volta a um jogo entre
iguais, a um território mais restrito, homogêneo
e regulado, de relevância previamente
estabelecida, como volta às Belas Letras que se
pode compreender a virulenta ressurreição de
Wilson Martins, o desejo de Sérgio Rodrigues de
um campo puro do literário, a ideia de uma
amostragem irrestrita como a de Miguel Sanches
Neto (pois previamente demarcada por gêneros,
dicções, territorializações diversas), o sonho
com um tempo em que "a literatura e o crítico
não pareciam ter que sair de cena", para voltar
ao texto melancólico e, a meu ver, equivocado,
de Pécora.
E, no entanto, talvez seja exatamente desse
"lugar estreito demais", e pouco público, desse
ponto cego que talvez não se veja em jornais e
nas manifestações mais concorridas da vida
literária, que caiba à crítica e à literatura
definir outros espaços de atuação e trânsito,
lugares não demarcados (retroativamente) pelo
beletrismo redivivo, nem pelas identidades
estáveis do resenhista, do prefaciador, do
professor judicativo, do ficcionista
auto-mimético. Mas em movimentos de deslocamento
nos quais a literatura e a crítica se vejam
forçadas, como observa Agamben ao pensar sobre o
contemporâneo, a mergulharem "a pena nas trevas
do presente". E a saírem de si no sentido da
figuração de novas formas de visualização e
radicalidade. À maneira do que faz Carlito
Azevedo ao reinventar a própria dicção em meio à
tensão entre o poema como narrativa e percurso e
a sua dramatização interna em estações
imagéticas instáveis. À maneira do que fizeram
Bia Lessa e Maria Borba, em bela operação
crítica, ao amputarem cenicamente, em "Formas
breves", a obra de Tchekhov, Kafka, Thomas
Bernhard, Sérgio e André Sant’Anna, Almodóvar e
mais e mais. À maneira da concepção musical de
Rodolfo Caesar, na qual a reflexão em livro
sobre a composição "Círculos ceifados", funciona
como fator de variação operatória, como obra
suplementar por meio da qual escrita e escuta se
desdobram e interferem, sem coincidência,
potencializando o campo de tensões em que se
investiga a experiência composicional. Ou, para
ficar em mais um exemplo apenas, como no
enfrentamento quase de estrangeiro de Nuno Ramos
diante da matéria verbal que, em livros como
"Cujo" (Editora 34) e "Ó" (Iluminuras), adquire
um nível singular de presença, parecendo
intensificar-se exatamente pelo lugar de fora em
que se processam essas intervenções.
*FLORA SÜSSEKIND é crítica literária,
pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa e
professora de teoria do teatro da UNI-Rio.
Autora de "A voz e a série" e "O Brasil não é
longe daqui", entre outros.
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1. Morte, necrológio e
transcendência
A morte recente de Wilson
Martins suscitou,
previsivelmente, uma pequena
série de necrológios, mas
também a publicação de um
texto dissonante por Flora
Süssekind (“A crítica como
papel de bala”, O Globo,
24/04/2010). Dissonante em
dois sentidos: por discordar
da avaliação predominante em
tais necrológios sobre a
relevância da obra de
Martins, e por criticar
diretamente três deles.[1] O
texto de Süssekind revela-se
fértil, porém, não por sua
discordância em relação a
Wilson Martins, sobre a
qual, portanto, não me
deterei aqui, mas pelas
várias considerações gerais
que desenvolve.
Pois o texto de Flora
Süssekind transcende o tema
imediato que o provocou para
realizar um diagnóstico
claro de algumas das
questões mais importantes
acerca da situação atual da
crítica e da literatura.
Pode-se, então, destacar com
pertinência as partes
relativas a Martins e seus
necrologistas, e se
concentrar nesse diagnóstico
(o fato dessas mesmas
questões dominarem as
páginas de Sibila
há anos não será, portanto,
coincidência, mas o que a
biologia chama de
convergência: um mesmo meio
constantemente leva a
desenvolvimentos
convergentes entre grupos
independentes[2]).
[Evidencia-se] o
apequenamento e a perda de
conteúdo significativo da
discussão crítica, assim
como da dimensão social da
literatura no país nas
últimas décadas. Ao lado
dessa retração, [há] um
conservadorismo que é
francamente hegemônico.
[Um] campo cuja retração e
desimportância amesquinham e
tornam ainda mais cruenta a
disputa por posições, pelos
mínimos sinais de prestígio
e por quaisquer
possibilidades de
autorreferendo.
[...] Qual o interesse de um
comentário crítico quando se
pode obter muito mais
visibilidade para escritores
e lançamentos por meio de
entrevistas, notas em
colunas sociais e
participações em eventos de
todo tipo?
Fabricam-se nomes e títulos
vendáveis, vende-se,
sobretudo o nome das
editoras, e sua capacidade
de descobrir "novos
talentos" semestralmente, ao
sabor das feiras literárias.
[Uma] reprodução esvaziada
de sentido, e desligada de
vínculos efetivos com a
experiência histórica, de
comportamentos, práticas de
escrita e certo culto à
autodivulgação e à vida
literária que parecem se
expandir [em prêmios,
concursos, revistas,
blogs, antologias,
bolsas de criação] [...] sem
provocar qualquer
desconforto, sem fazer
pensar.
[...] O que não apenas no
Brasil parece encontrar
resposta compensatória à sua
desnecessidade, e a uma
fraca ressonância, em
premiações, incentivos,
edições de luxo [...] [e] se
mostra, por isso mesmo,
incapaz de se repensar e de
estabelecer ligações mais
consequentes com o próprio
tempo.
A íntegra do texto, com tais
questões e tal diagnóstico
mais alongados, funciona
então como uma metonímia de
todo um quadro
insatisfatório do campo
crítico-literário.
Antigamente, os reis
costumavam executar os
trazedores de más notícias,
como se aqueles fossem os
responsáveis por estas, ou
como se as más notícias
desaparecem ao serem
ignoradas. Substituindo,
porém, o arbítrio
autoilusório dos reis pela
lucidez moderna, aqueles que
não deixam as más notícias
serem nem ocultadas nem
esquecidas, incluindo, em
tese, os críticos, podem e
devem ser responsabilizados
pela possibilidade de
intervenção no curso das
coisas, o que, além de mais
justo do que matar o
mensageiro, é não apenas
mais lúcido como mais
prático. Neste caso em
especial, haveria
naturalmente muito a
acrescentar. Para citar
somente dois exemplos, todo
o contexto
político-ideológico da
época, ao lado de certo
apequenamento militante de
incontáveis poetas
abstratizantes-solipsistas.
Também haveria o que
questionar no pequeno
exemplário poético
contemporâneo listado por
Süssekind ao final de seu
texto. (Ver
http://www.sibila.com.br/index.php/critica/886-relendo-carlito-azevedo-ou-um-caso-exemplar-da-poesia-brasileira-contemporanea).
Mas nada disso anula seu
caráter de preciso
diagnóstico sintético.
2. Os mortos e os
“vivos”
Se o texto de Flora
Süssekind mostra-se, assim,
o mais interessante dos
ensejados pela morte de
Wilson Martins, justamente
por transcender abrangente e
criticamente a efeméride, o
texto mais lamentável traz a
assinatura de Affonso Romano
de Sant´Anna. Mais
lamentável, nem por isso
menos elucidativo. Não
apenas de uma das questões
apontadas por Süssekind,
como também da própria
abordagem crítica de Wilson
Martins.
Affonso Romano não está, na
verdade, interessado em
discutir a obra de Martins,
sequer as opiniões recentes
sobre essa obra, ainda menos
a situação da literatura e
da crítica, mas tão somente
em “salvar” Wilson Martins
das garras assassinas de
Flora Süssekind. Rimou, mas
não teve graça: “garras
assassinas” é um clichê
terrível. Acontece que
Romano, no afã de defender o
crítico recém-falecido, se
agarra a uma frase de (bom)
efeito de Süssekind e, com
ela descontextualizada e
transformada em lastro de
peso muito aumentado,
mergulha diretamente no
ridículo.
Quando Wilson Martins
morreu, várias pessoas
escreveram lembrando sua
obra. E algumas lamentaram
sua morte. Mas Flora
Süssekind lamenta que
Wilson Martins tivesse
vivido. Por isto, [...]
afirma expressamente que
talvez seja necessário “matar
uma vez mais Wilson Martins".
Ou seja, além da morte
física, ela se esforça por
extirpar os textos de Wilson
da literatura brasileira.
[...] Aos ingênuos poderia
parecer uma simples
metáfora essa de “matar
uma vez mais Wilson Martins”,
pois o objetivo dela seria
uma reflexão para se rever a
crítica literária no país.
Não é bem assim. "Matar" é
tirar a vida, eliminar,
apagar, limpar os
vestígios. E a ensaísta
está tão incomodada com o
nome ou o fantasma de Wilson
Martins rondando seu
imaginário que investiu
contra aqueles que
escreveram sobre ele quando
ele faleceu. Não basta ter
ocultado, censurado o nome
do crítico nos cursos de
literatura quando ele era
vivo, agora é necessário
também censurar (quem sabe
"matar"?) os que escrevem
sobre ele. [...] Isto
consubstancia uma "pulsão de
morte" sub specie
crítica que no plano
político e social
aproxima-se de ideologias e
regimes que incitam a
matar, extirpar nomes e
imagens de adversários como
forma de apropriar-se da
história (“Critica do
necrológio e necrológio da
critica”,
http://www.affonsoromano.com.br/blog
[grifos do autor]).
Flora Süssekind, a
pequena Stálin da crítica
contemporânea... Seria
engraçado se não fosse, como
dito, ridículo. Mais ainda:
interessadamente ridículo.
Pois se ela não tem nenhuma
necessidade de assassinar
cadáveres, Affonso Romano
tem todo o interesse em
manter o mais vivo possível
esse cadáver em particular.
Tornando-se excelente,
então, como caso exemplar do
apequenamento interessado da
crítica apontado por
Süssekind.
Romano foi um dos poetas de
predileção de Wilson
Martins, e alçado por este
aos “píncaros da glória”
(ver a seguir). Portanto,
não pode atacá-la de modo
indignado no afã de defender
o crítico recém-falecido
sem, por tabela, defender o
elogio à própria obra. Dito
de outro modo: como o elogio
à própria obra viria
necessariamente de
contrabando em tal situação,
se o seu interesse fosse de
fato defender o crítico por
seus méritos próprios, tal
ruído o faria desistir da
empreitada. Se não desiste,
é porque não se importa com
tal ruído. Se não se
importa, é porque não está
na verdade defendendo Wilson
Martins, mas resguardando o
elogio à própria obra. Flora
Süssekind poderia, aqui,
apor sucintamente: c. q. d.
3. A (ir)relevância de
Wilson Martins
Faço, para concluir, uma
rápida consideração pessoal
sobre Wilson Martins, para
mim um crítico irrelevante.
Dizê-lo não é agradável, mas
é, no entanto, defensável. E
defensável ao se atentar
para o significado de
relevante: o que tem relevo,
altura, logo, profundidade.
E Wilson Martins não possui
tais características por ser
um crítico muito ruim. Ou
tão ruim quanto incapaz de
dar conta das obras que
critica. Digo “que critica”,
e não “que analisa”, porque
era virtualmente incapaz de
análise. Há quem lhe aponte
como defeito (ou qualidade)
o ter sido solitário (ou
independente) e
idiossincrático (ou
personalista), mas sê-lo
nada tem de condenável (ou
elogiável) em si. Muitas
mentes geniais foram
solitárias e
idiossincráticas, enquanto
ainda mais seres sociais são
perfeitamente banais. O que
há de condenável na crítica
de Wilson Martins é, ao
contrário, sua grande
presença somada à pequena
relevância, no sentido
denotativo. Se dizê-lo não é
agradável, é porque se trata
de uma longa vida dedicada à
literatura (cujos méritos
paracríticos, digamos, com
destaque para a história
literária, são bem descritos
por Pécora). Mas,
infelizmente, a intenção e o
esforço são apenas condições
necessárias às realizações
realmente relevantes, e não
condições suficientes.
Não irei, portanto,
estender-me sobre um crítico
que, a despeito do renome e
da longevidade, considero
sem real relevância, apesar
mesmo da altura que seus
muitos tomos empilhados
alcançam. Sou, porém,
obrigado a embasar
minimamente minhas
afirmações. Limitar-me-ei,
outrossim, à sua crítica de
poesia, por ser a sua face
crítica mais claramente
inepta.
Na página de Wilson Martins
da vastíssima “textoteca”
virtual que é o site
Jornal de poesia (http://www.revista.agulha.nom.br/wilsonmartins.html),
há nada menos de 169 de seus
textos de crítica literária,
boa parte dedicada à poesia.
Uma amostra, portanto,
razoavelmente representativa
(mesmo considerando a enorme
extensão de sua obra), pois
além de sua quantidade, há o
fato de o site
contar habitualmente com a
iniciativa dos próprios
autores para municiar suas
páginas. A primeira variável
que se destaca é, então, a
própria seleção dos poetas
contemporâneos abordados:
uma extensa lista que soma,
bem, a irrelevância aos
poetastros. É de fato
possível considerar um
crítico que releva tal
paideuma na poesia
brasileira contemporânea? E
não para ser alvo de
considerações negativas,
mas, como regra, positivas.
E positivas não porque o
crítico, genial em sua
idiossincrasia eletiva, é
capaz de enxergar em tais
poetas qualidades tão
grandiosas quanto
insuspeitadas, mas porque
incapaz de perceber a
obviedade de sua
irrelevância poética. O que,
enfim, leva-o a afirmações
como esta: “[Affonso Romano
de Sant´Anna] é o grande
poeta brasileiro que
obscuramente esperávamos
para a sucessão de Carlos
Drummond de Andrade”. Não
bastasse o puro descalabro
de tal afirmação, a
justificativa de Wilson
Martins é espantosa:
[Tal] juízo que foi mal
recebido pelos que encaravam
Carlos Drummond como sagrado
e insuperável [...]. De
minha parte, assinalei a
"coincidência" espiritual
dos poemas affonsinos,
acentuando que a sua
sensibilidade brasileira se
manifestava na "consciência
de Pátria", realidade não
apenas continental, mas
também ancestral e ucrônica
(“Poeta maior”,
http://www.revista.agulha.nom.br/wilsonmartins043.html).
Naturalmente, tal juízo não
foi mal recebido porque se
julga Drummond “sagrado e
insuperável”, mas sim porque
se considera que um
poetastro como Affonso
Romano não pode, com um
mínimo de lucidez, ser
comparado a Drummond. Esta
passagem, ao menos, serve
para exemplificar bastante
bem do que é feita
a crítica poética de Wilson
Martins: abundam
“coincidências espirituais”,
“sensibilidades
brasileiras”, “consciências
de Pátria”, mas naturalmente
escasseia, nesse largo e
raso mar de abstrações
grandiloquentes, a terra
firme da análise poética
estrito senso.
----------------------------
Notas
[1] De autoria de Alcir
Pécora, Miguel Sanches Neto
e Sérgio Rodrigues.
[2] Não é, portanto, difícil
localizar alguns excelentes
exemplos dessa
convergência:
http://www.sibila.com.br/index.php/critica/142-capitulos-em-defesa-da-impertinencia-da-poesia
http://www.sibila.com.br/index.php/critica/116-premios-literarios
http://www.sibila.com.br/index.php/critica/107-romancistas-contemporaneos-mascam-cliches
http://www.sibila.com.br/index.php/critica/1062-o-silencio-dos-intelectuais;
http://www.sibila.com.br/index.php/critica/709-a-mediocre-cultura-qcordialq.
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