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Fontoura Chaves

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John William Waterhouse , 1849-1917 -The Lady of Shalott
 

 

 

 

 

 

 

 

 

Albrecht Dürer, Mãos

Poesia:


 

 

Crítica, ensaio e comentário:

 


Fortuna:


 

Uma notícia do poeta: 

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Um esboço de Da Vinci

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

Sandro Botticelli, Saint Augustine, Ognissanti's Church, Firenze

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




















 

Fontoura Chaves

 

Antônio William Fontoura Chaves (12.6.1927), filho de Joaquim Fontoura Chaves e Carmem Fontoura Chaves, nasceu em Axixá, à banda direita do Rio Munim, no Maranhão, cidade-berço de ADELINO FONTOURA, seu tio-avô, patrono da Cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Letras. Concluiu o primário no Colégio Joaquim Santos, em Rosário-MA.  Aos 14 anos, ingressou no Seminário Menor de Santo Antônio, em São Luís-MA, onde, após o curso de Humanidades, ascendeu ao Seminário Maior no qual completou o curso de Filosofia.

Na história dos cem anos de existência do tradicional Seminário, fora o primeiro escolhido para estudar em Roma, só não o tendo feito, a pedido de sua mãe, que, naquele mesmo ano, perdera o filho mais velho, de 24 anos, pilotando um avião.

Depois de muito instada, concordou com que se lhe ausentasse o filho para São Paulo, onde fizera o curso de Teologia (4anos), no Pontifício Seminário Central do Ipiranga, ocasião em que venceu um concurso de poesia, ali realizado.

Ordenado presbítero, regressou ao Maranhão, tendo sido nomeado, em São Luís, em substituição a Monsenhor Santana, capelão do Colégio Santa Tereza, dirigido pelas irmãs dorotéias, e, ainda, responsável pela Igreja do Rosário e por um programa, à hora do angelus, na "Rádio Ribamar". É designado Vigário-Cooperador da Paróquia de Pedreiras-Vale do Mearim. 

Por determinação do novo arcebispo metropolitano do Maranhão, Dom José de Medeiros Delgado, volta a São Paulo para, na Escola Técnica de Agricultura, em Pirassununga fazer, em regime de internato, juntamente com médicos, agrônomos , assistentes sociais e agentes de economia doméstica, procedentes de todo o Brasil, um curso teórico-prático, intensivo, sobre Organização de Comunidade, ministrado pelos mais renomados mestres do país, e sob a direção do catedrático e professor Orlando Valverde. De volta a Pedreiras, é nomeado EXECUTOR DA CAMPANHA NACIONALDE EDUCAÇÃO RURAL - CNER,  mercê de um Convênio entre o Ministério da Educação e a Arquidiocese do Maranhão sob a chancela do Presidente da República. Dois Municípios foram escolhidos para que a MISSÃO RURAL lhes levasse aos homens do campo, em lugares carentes nos municípios Pedreiras e Coroatá, novo padrão de vida, hábitos de saúde, de higiene, alimentação, ensinamentos práticos, técnicas na preservação e cultivo do solo, cuja filosofia se cunha no velho jargão chinês, segundo o qual "é preferível ensinar-se o pescador a pescar a dar-lhe o pescado".

Transferido para a capital, onde é nomeado Pró-Pároco da Matriz da Conceição, em Monte Castelo, assumindo as cadeiras de Professor de Português, Literatura Portuguesa e Brasileira, no 5º e 6º anos ginasiais do Seminário Menor de Santo Antônio, e no Seminário Maior, a cadeira de Literatura Extrangeira, no Curso Superior de Filosofia, cuja duração era de 2 anos. À concomitância, assume o paroquiado da Matriz de São Vicente de Paulo, no bairro do Apeadouro, em São Luís, ocasião em que comandou a construção das duas mais modernas Igrejas da capital: as matrizes de Nossa Senhora de Fátima, no Cavaco, hoje bairro de Fátima, e a  de São Vicente de Paulo no bairro do Apeadouro, além de um salão paroquial e uma praça em frente a esta igreja.

Não tendo  obtido permissão para estudar  direito - um grande desejo de sua vida - sem embargo de anterior concessão, feita, a mãos ambas, a outrem, fixa residência na Cidade do Rio de Janeiro, e passa a integrar o corpo docente do Colégio São Vicente de Paulo - Cosme Velho - Laranjeiras, dirigido pelos padres lasaristas, com os quais estudara seis anos no  Seminário de Santo Antônio, suso referido. Aí, assume - as cadeiras de Português, à época, terceira e quarta séries, Literatura Portuguesa e Brasileira, e, nos Cursos Científico e Colegial, a de Português, Gramática Histórica e Literatura Portuguesa e Brasileira, começando o curso de Bacharelado em Direito na UEG - Faculdade da Rua do Catete, da Universidade do Estado da Guanabara, e após  formado, fez o curso de Doutorado, na  Universidade Federal do Brasil. Em concurso promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil -Seção RJ, tira o primeiro lugar, quando ali cursava o 3º ano de Direito discursando sobre o tema "Reforma Agrária."

Livros seus publicados são os que se seguem: CANTOS E ENCANTOS, autografado em 1992, no Salão Nobre da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, prefaciado pelo Presidente da Academia Brasileira de Letras, à época, o professor Austregésilo de Athayde, e com a apresentação de Artur da Távola. 

Em 1993, esse livro é lançado na Academia Maranhense de Letras, em São Luís. Em 1996 e 1998, respectivamente, autografa no Espaço Cultural da Marius - Ipanema -RJ, os livros (RE)CANTOS DO SABIÁ (poesia), e NAS  DOBRAS DO TEMPO (ensaio).

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Fontoura Chaves
VELHO PEQUIZEIRO
 

                       Qualquer coisa na vida vale a pena,,
                             Se a alma não é pequena.
                                     (Fernando Pessoa)
 

Nos penetrais hostis do inóspito sertão,
Onde é difícil o sol crestar o mato inteiro,
Descobre-se, não raro, um velho pequizeiro,
Despindo a galharia, ao vento, na amplidão.

E a vítima comum do tórrido verão,
Talvez, diria, o que definha por primeiro.
Coitado! Um ano faz: floriu tão sobranceiro,
E agora — um coivaral torcido para o chão.

Invégeto, sem flor, sem frutos e sem ninhos!...
Abandonado até dos próprios passarinhos,
Daqueles festivais de pios e canções.
 

Também a vida é assim — esplende...passa... e corre...
Árvores somos nós — na hora em que se morre,
Tudo nos deixa. Vão-se até as ilusões.

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Fontoura Chaves
RIO MEARIM
 
 

Gosto de estar, à beira desse rio,
Horas e horas, do alto da barreira,
Vendo-o que passa, alígero e sombrio,
Varando a mata, em fora, na carreira.

Léguas e léguas que percorra a fio,
Nesse rincão da pátria brasileira,
Passa beijando o babaçu bravio,
Que explode a esmo, à flor da terra inteira.

Nas noites lindas, no silêncio, quando
O céu se inclina, entristecido e brando, 
E a lua cheia nasce atrás da mata.

Oh! como é lindo o Mearim gigante,
Sob as carícias da palmeira arfante,
Na sinfonia dos caudais de prata.

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Fontoura Chaves
MEARIM, EM RITMO
 
 

Eram seis horas....a nambu dizia...
Num só gemido pela cercania.
 

Um sol caído, lá detrás da mata,
O céu rasgado a bisturi de prata.
 

Paisagem singular que enleia a terra,
Do monte ao prado, da planície à serra.
 

Já a mão da treva apalpa a natureza,
Em paz profunda, aos beijos da tristeza.
 

Eram seis horas....a nambu dizia...
Num só gemido pela cercania.
 

Bem alto, a serra azul, já quase escura,
E embaixo o palmeiral e a planura.
 

O babaçu que o vale inteiro encerra,
Em cada canto, na extensão da terra.
 

Eram seis horas...a nambu dizia...
Num só gemido pela cercania.
 
 
 

E o algodão? Nessa hora a flor desata,
Lembrando, ao longe, ninhos cor de prata.
 

O chão cheiroso, a mata, o céu distante,
Tudo comove a gente nesse instante.

Até a centenária sumaúma,
Dando suspiros, quando foge a pluma.

Eram seis horas...a nambu dizia..
Num só gemido pela cercania.

Um mundo de mistério e de grandeza,
Num ritual de graça e de riqueza.

Do Mearim que falo, de outro, não,
Da melhor terra, em todo o Maranhão.

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Fontoura Chaves
BRIGA DE CASAL
 
O céu não conhece fúria igual ao amor transformado em ódio.
             (Congreve)

A tolerância só não é esgotável nos idiotas.
             (Rui Barbosa)

Com o casamento termina o amor e começa a história.
            ( Leon Tolstoi)

 

 

Não te metas em briga de casal,
As dores, não as tome, dele ou dela.
Por certo quem se arrisca ao temporal
Sempre se expõe aos raios e à barrela.

Por mais que te pareça mais banal
A rusga exasperada na procela,
Deixa-os brigar em paz até o final.
Nenhum partido tomes, por cautela.

Passado o vendaval, logo depois
Hão de entender-se e perdoar-se os dois,
E o intrometido? És tu, em tais momentos.

Aprende a mais singela das lições:
Se é difícil dividir razões,
Com muito mais razão, os sentimentos.

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Fontoura Chaves
DOM PEDRO II, O PACIFICADOR*
 
 
A arte de governar
é a arte de ser honesto.
   (Thomas Jefferson)

"A história só registra realizações, não  registra intenções."

"Semper honor nomenque tuum laudesque
manebunt."

Moço, bem moço, ainda bem menino,
Era alcançado de saber profundo
Aquele que, por berço e por destino,
Seria o imperador Pedro Segundo.

A Pátria que hoje somos, descortino
na molduragem do ideal fecundo,
Tal como a projetou. E, a raro tino,
Uniu o Império e apaziguou o mundo.

Da liberdade foi clarim, clareira, 
Em solo nacional. E além fronteira,
Três vezes árbitro de suma glória.

Mediador da pacificação,
Que, a pulso forte e por convicção,
Quebrou grilhões e inaugurou a história.
 

                       * Soneto escrito para integrar a PRIMEIRA 
                            ANTOLOGIA sobre Dom Pedro II. 

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Fontoura Chaves
O CANALHA

 
"Ele é covarde demais para lutar, e gordo
demais para correr. "

"Latet anguis in herba."

Não é justo vos contente antes o de que vos há de pesar em algum tempo.
      (Antônio Vieira)

Nunca deixe de perdoar a seus inimigos.
Nada os aborrece tanto.
        (Oscar Wilde)

 

Parece um bom sujeito. Comumente,
Cativa logo o nosso coração.
Contudo, é o fingidor mais competente,
Que do tartufo encarna a perfeição.

É incensurável, quando, à nossa frente,
Mostra-se o amigo, cheio de atenção.
Mas, por detrás, é o ser mais repelente,
Que, neste mundo, pôs os pés no chão.

De todos os vilões é o mais safado.
Doutor que seja ou mesmo se iletrado,
A vil peçonha, sorridente espalha.

Caber-lhe-ia, é claro, um monumento,
Que, por sinal, seria de excremento,
Com o nome desprezível de canalha.

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Fontoura Chaves
O RETIRANTE

 
 
"Todo mundo anseia por comer na mesa do Governo, 
mas ninguém quer lavar os pratos."

Não se pode comer a metade de uma galinha, 
a exigir que a outra metade ponha ovos.
                      (Provérbio Chinês)


 
 
Em luta em solo hostil, porque todo exsicado
Pelo guante mortal da seca, anos a fio,
O retirante não se dobra ao desafio
De ser valente e forte, embora desgraçado.

O céu lhe nega a chuva ¾  a vida do roçado
Na constrição do mais queimoso e longo estio.
O espectro da morte exsurge lado a lado.
Tudo acabou de vez ¾  a fonte e o pasto e o rio.

Lutou como um Titã. E, à hora da partida,
Apenas lhe restou a choça derruída,
Na solidão sem fim de retorcidos matos.

Enquanto isso, a Pátria omissa e incompetente,
Ao invés de socorrer toda essa pobre gente,
Somente as mãos ablui, tal como o fez Pilatos.

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Fontoura Chaves
UMA ÁRVORE NÃO MORRE NUNCA, 
                   NEM MESMO DEPOIS DE MORTA. 
 
Os rouxinós emudecem, quando os jumentos ornejam. 
(Marquês de Maricá) 

O universo desorienta-me. Não posso 
pensar que exista um relógio sem 
relojoeiro. 
(Voltaire) 


 

                   UMA ÁRVORE NÃO MORRE NUNCA, 
                   Arrancada ao chão. 
                   Sua ausência é a maior das presenças, 
                   Arrasta, consigo, um pedaço da mata. 
                   Empobrece a terra, 
                   Desorienta o céu, 
                   No desatino dos ventos, 
                   Na usura das chuvas, 
                   Na exaustão do solo. 
 

                   UMA ÁRVORE NÃO MORRE NUNCA, 
                   Mesmo quando lhe falquejam o tronco, 
                   Conquanto lhe destrocem a galharia, 
                   E a reduzam a gravetos, restolhos 
                   Ou numa coivara qualquer. 
 

                   UMA ÁRVORE NÃO MORRE NUNCA, 
                   Porque não se acaba jamais. 
                   Quem deixou em seu lugar 
                   Um refluir de reminiscências, 
                   Uma assonância comovida, 
                   Na memória da copa frondente, 
                   Latejando a nostalgia 
                   De uma saudade danada, 
                   Na ausência das folhas, 
                   Na saudade dos frutos, 
                   No mutismo dos ventos, 
                   Na evocação das sombras, 
                   No castigo dos verões queimosos, 
                   A empobrecer o chão poento e adurente. 
 

                   UMA ÁRVORE NÃO MORRE NUNCA, 
                   Não importa se abatida pelo facão facínora 
                   Ou pela motoserra elétrica assassina 
                   Dos que estão transformando o Brasil 
                   Numa verdadeira tapera, 
                   Sob a complacência dos omissos, 
                   E a indiferença dos comprometidos, 
                   Que têm olhos, mas não vêem, 
                   Que têm ouvidos, mas não ouvem, 
                   Que têm boca, mas não falam, 
                   Tão cegos, tão surdos, tão mudos, 
                   Que se confundem com a devastação praticada. 
 

                   UMA ÁRVORE NÃO MORRE NUNCA, 
                   Exatamente porque uma árvore é uma árvore, 
                   Que dá abrigo às bençãos de ranchada, 
                   Que é sombra para o lenitivo de todos, 
                   Mostrando rumos e direções, 
                   Em todos os rastros e picadas, 
                   À ourela dos caminhos, atalhos e releixos, 
                   À margem das trilhas e veredas, 
                   No colo das chapadas e ao pé dos montes, 
                   Nas várzeas e escampados. 
 

                   UMA ÁRVORE NÃO MORRE NUNCA, 
                   Ainda que lascada ao meio, 
                   Cortada em mil pedaços, 
                   Dispersa por aí além. 
                   Lá estará ela, simplesmente árvore, 
                   A lembrar um festival de pios e canções. 
                   Num silêncio de tumba, a rondar a solidão, 
                   Porque ali os pássaros já não cantam mais 
                   E emudeceram para sempre. 

                   UMA ÁRVORE NÃO MORRE NUNCA, 
                   Nem mesmo depois de morta, 
                   Se dela restou um galho seco, 
                   Muito servirá como rebolo 
                   Nas mãos da garotada, 
                   E assim voltará mil vezes às alturas, 
                   Em busca de outros frutos, 
                   E é apanhado onde cair, 
                   E é procurado com carinho 
                   E disputado com coragem 
 

                   UMA ÁRVORE NÃO MORRE NUNCA, 
                   Nem mesmo depois de morta, 
                   Exclusivamente porque foi árvore 
                   Que faz falta ao céu, 
                   Que faz falta à terra, 
                   E acaba numa bonita fogueira, 
                   Para iluminar a noite 
                   E afinal, ao se extinguir, 
                   Simplesmente se extingue, transformada em luz

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