Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Francisca Clotilde

19.10.1862 - 08.12.1935

Jacques-Louis David (França, 1748-1825), A morte de Sócrates

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia :


Biografia e Fortuna Crítica:


Outros endereços de Francisca Clotilde na WWW

 

 

 

 

Benedicto Ferri de Barros

 

Mary Wollstonecraft, by John Opie, 1797

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

 

 

 

Gerardo Mello Mourão

 

 

 

 

 

 

 

 

Hélio Pólvora

 

 

 

 

 

Artur Eduardo Benevides

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Francisca Clotilde

 


Sent: Saturday, April 07, 2007 8:56 AM
Subject: FRANCISCA CLOTILDE

 

Caro Soares Feitosa,

 

Francisca Clotilde – nasceu no Sertão dos Inhamuns, Tauá – CE, aos 19 de outubro de 1862. Viveu sua adolescência em Baturité e Fortaleza, nesta última foi aluna do Colégio Imaculada Conceição, onde se fazia notar pelo seu espírito lúcido e suas inclinações poéticas. Aos quatorze anos, teve seu primeiro poema publicado na Imprensa (Horas de Delírio, O Cearense, 1877).

Aos vinte e dois anos, através de Concurso tornou-se a primeira professora do sexo feminino a lecionar na Escola Normal de Fortaleza. Pelo seu convívio passaram as primeiras professoras “formadas” do Estado do Ceará na década de 1880, tais como Emília de Freitas, Serafina Pontes, Alba Valdez, Ana Facó, etc.

Concomitante ao trabalho de professora, Francisca Clotilde participou ativamente do Movimento Abolicionista, inclusive tomando parte da Sociedade das Senhoras Libertadoras, ao lado de Maria Tomázia Figueira Lima, Elvira Pinho, Joana Antonia Bezerra, Serafina Pontes e outras senhoras. Nese tempo, escreveu o poema: A Liberdade, o Soneto: Livre. É dela, as palavras que se seguem, proferidas na comemoração dos vinte anos da libertação dos escravos: “Todas as vezes que sobre o dorso agitado dos mares vejo passar a jangadinha veleira, repassando os episódios da mais bela das campanhas, tenho ufania de ser cearense e sinto desejos de proclamar aos quatro ventos as glorias imorredouras de minha terra”.

Francisca Clotilde teve intensa participação na Imprensa, tendo inclusive tomado parte como membro no Clube Literário; nas  Sessões da Agremiação teve seus contos lidos e, posteriormente publicados n’A Quinzena. Tais contos abordam aspectos de vida real e/ou imaginários, através dos quais a autora denuncia as desigualdades sociais da época e convida o leitor a prática do bem e do belo. E é justamente graças a essa capacidade de fazer com que seus tipos e situações sejam sentidos pelos leitores de todas as épocas, que os contos de Francisca Clotilde cativam.

Sobre sua participação jornalística recorro a Otacílio Colares (1993): “Seu nome esteve em evidência, a partir da última década passado, já nas páginas de jornais e revistas, assinando versos, de teor romântico confessional, ou paisagístico, já em prosa, nesta incluída a dramática, a de ficção e também a de um ativo e atrevido jornalismo ideológico e político”.

Provavelmente “esse ativo e atrevido jornalismo” haja sido o motivo principal que ocasionou a sua demissão da Escola Normal (1891). Francisca Clotilde não é a única nem a última professora a ser perseguida em nosso País.

De cabeça erguida Francisca Clotilde funda seu próprio Externato - Externato Santa Clotilde - situado à rua Marquez de Herval nº  06, que segundo Antonio Bezerra de Meneses foi fundado no ano de 1893 contando com 52 alunos, sendo 46 meninas e 6 meninos.
No final do Século volta a morar em Baturité, nessa cidade entre tantos foi seu aluno o beletrista Mário Linhares que se reportando à mestra em sua História Literária do Ceará, diz: “Conheci-a como professora pública em Baturité, em minha meninice, aí por 1904. Minha mãe era muito sua amiga, aproximou-nos. Foi ela quem corrigiu os meus primeiros versos e me ensinou os segredos da metrificação. Sua modéstia e a obscura vida de educadora no interior cearense estiolaram-lhe o vigor da inteligência, que não teve a projeção que a faria um dos nomes mais queridos das nossas letras femininas”.

De Baturité Francisca Clotilde continua a colaborar em vários jornais, dentro e fora do Ceará. Como por exemplo, Almanack do Ceará, Almanach dos Municípios do Estado do Ceará, Almanack das Senhoras alagoanas, A Violeta, do Rio de Janeiro, etc.

Em 1902 vem a público seu único romance A DIVORCIADA. Pioneira no tema “divórcio” na Literatura Brasileira.

Amélia de Freitas Beviláqua, esposa do jurisconsulto Clóvis Beviláqua, redatora de O LYRIO em Recife-PE, assim de reporta: “A conhecida escritora cearense, Francisca Clotilde, teve a gentileza de oferecer-nos o seu romance - A Divorciada, que forma um belo volume de duzentas e trinta e três páginas. A urdidura do romance é simples, mas bem travado com a concepção, corre suavemente, sem sobressalto, sem rebuscamento, despreocupado e natural. Com esses elementos, arquitetou a simpática escritora um romance muito interessante, onde a emoção sem muito se elevar, distribui-se com arte, dando relevo às cenas e prendendo continuamente a atenção do leitor até o desenlace. Agradecemos a oferta, felicitamos a distinta romancista”.
N’A Divorciada – palpita uma das mais singelas criações femininas – A Nazareth. Considerada “a primeira Samaritana da Literatura Brasileira”.
Seus Sonetos cantam o amor, a saudade, a Pátria, a Natureza. Ao ler seus versos a mente devassa mundos desconhecidos, o coração palpita, a alma sonha e os versos estremecem sob as mais doces e agradáveis sensações.

Suas peças para o teatro variam de monólogo, diálogo ou dramas em 2 ou 3 atos. Em – Devaneio – drama, desenrolam-se os as situações vividas e aspirações da mulher.

A poesia, o romance e o teatro enriqueceram-se com as jóias do cofre precioso de sua inteligência e com o poder irresistível da sua imaginação.

Exímia colaboradora de A ESTRELLA, revista fundada em Baturité (28/10/1906), tendo como redatoras Antonieta Clotilde e Carmem Thaumaturgo. Com raras exceções, essa revista sempre trouxe na capa, um soneto inédito de Francisca Clotilde.

A convite de intelectuais da “terra dos bons ares”, Francisca Clotilde muda-se com toda família (Antonieta, Aristóteles e Angelita) para Aracati, onde funda o Externato Santa Clotilde, e de onde A ESTRELLA passa a ser editada até o ano de 1921, tendo como redatora Antonietta Clotilde, contando com  colaboradores e correspondentes espalhados por vários estados do Brasil. Segundo o historiador Abelardo Fernando Montenegro, O Aracaty, órgão da imprensa da mesma cidade, citando os intelectuais da terra na edição de 25 de março de 1909, diz que “merecem verdadeiras apoteoses de aplausos, as primorosas quão modestas poetisas as Clotildes, mãe e filha”.

Uma ex-aluna do Externato Santa Clotilde que elevou o nome de Francisca Clotilde foi a aracatiense Stela Barbosa Araújo, a tomando para Patrona na Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno em 1952, seu discurso veio a público no livro MULHERES DO BRASIL (1971 pp.231-251), assim iniciado: “Francisca Clotilde – alma de anjo, coração de jovem num corpo alquebrado pelas lides do ensino, torturado por vagas rugidoras de tantas injustiças – eu a conheci de perto, intimamente, filialmente, porque ela foi minha mestra por alguns anos, ensinando-me, guiando-me aperfeiçoando-me”. E depois de mostrar as várias faces de sua ex-mestra finaliza: “E eu, humilde e pequenina, deixo-lhe aqui o meu tributo de reconhecimento e gratidão, numa corbeile de doloridas saudades e suspiros chorados que traduzirão, embora mui palidamente, o elevado conceito em que nós, os seus alunos, sempre a colocamos com admiração e respeito”.

Filgueiras Lima dando Parecer ao discurso de Stela Barbosa Araújo assim se reporta a Francisca Clotilde: “Tão esquecida das atuais gerações, a suavíssima poetisa Francisca Clotilde encontro afinal uma biógrafa capaz de levantar o seu nome do pó do olvido fazê-lo admirado pelas novas correntes literárias do Ceará. Nós que a conhecemos na nossa adolescência, quando tivemos de residir por algum tempo na amorável cidade Jaguaribana, a que ela dedicou o melhor de sua fina inteligência e do seu imensurável coração, podemos dizer que nestas páginas evocativas encontramos Francisca Clotilde. A mestra infatigável, com acento montessoriano em suas atividades educacionais, a poetisa de alma sempre aberta para a harmonia do cosmos e os ritmos da vida; a mulher superior que, colocada embora acima do meio em que viveu, soube amá-lo com enternecido afeto, a doce e santa velhinha que um povo inteiro ouvia, seguia e amava. Nós a vimos agora e de novo, após tantos anos de distância da época em que tivemos a alegria de conhecê-la”.
Pelas notas recolhidas, vê-se que Francisca Clotilde foi precursora educacional e literária, a águia altaneira cujos vôos se elevaram aos parâmetros da imortalidade, a grande poeta, a inimitável escritora, a gigante da literatura, tem, pois, direito a mais perfeita e esplêndida apoteose.

Sobre o seu túmulo (08 de dezembro de 1935), “caíram as lágrimas de todos que lhe conheciam a grandeza do gênio e a beleza do coração”, afirma Stella Barbosa.

Mediante o exposto, é, portanto, impossível fazer-se uma análise completa de suas preciosidades literárias. Seria o mesmo que tentar contra todas as estrelas ou apanhar todas as pérolas do mar. Uma heroína forte e ao mesmo tempo suave e misteriosa, uma figura iluminada.
(Francisca Clotilde há de fulgurar sempre como Estrela de primeira grandeza no céu das Letras).

 

Anamélia Custódio Mota. Tauá – CE.

PS: Francisca Clotilde é Tema de Monografia na UFC, na UFPB, na UFSC e na URCA.

Dispomos também de um Referencial Bibliográfico, pois na URCA (Universidade Regional do Cariri - Núcleo Tauá CE) desenvovemos pesquisa Monográfica intitulada "A TRAJETÓRIA EDUCACIONAL E LITERÁRIA DE FRANCISCA CLOTILDE".

Estamos em processo de digitação do romance A DIVORCIADA. .

Até Breve

Anamelia Mota

   
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

 

Carlos Nóbrega

 

 

 

 

 

 

 

 

 

albano Martins

 

 

 

 

 

 

 

Paulo Bomfim

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ivo Barroso, 2003

 

 

 

 

 

 

 

Francisca Clotilde


 

À Memória da Virtuosa Irmã Margarida Bazet

 

Seus lábios não provaram neste mundo

A taça do prazer que nos seduz,

Desprezou a grandeza... Uniu-se à cruz,

Aos que sofrem votou amor profundo.

 

Guiou-me a infância, terna e desvelada

No caminho do bem, tinha carinhos

Para os prantos dos tristes orfãozinhos,

Era tão boa, meiga e dedicada!

 

Descansa em paz, Oh! doce criatura,

O mundo não podia a formosura

De tua alma de santa compreender;

 

Ele que é não, inconseqüente e rude

Eleva o vicio e abate a sã virtude!

Só entre os anjos poderás viver...

 

 

(O Libertador, edição de 06 de maio de 1887, p. 02. Irmã Margarida Bazet, também nome de rua em Fortaleza, CE, foi diretora do Colégio Imaculada Conceição de Fortaleza)


 

 

A ÁRVORE

 

 

Ao contemplá-la, triste, emurchecida,

Os galhos nus de folhas despojados,

Sem a seiva que outrora tanta vida

Lhe trazia em renovos delicados;

 

Ao vê-la assim tão , tão esquecida,

Tendo gozado dias tão folgados,

Ao som dos passarinhos namorados,

Que nela achavam sombra apetecida:

 

Ai! Sem querer encontro semelhanças

Entre meus sonhos, minhas esperanças

E a mirrada árvore dolente.

 

Ela perdeu as folhas verdejantes,

Bem como eu as ilusões fragrantes

Que outrora me embalavam docemente.

 

(Almanach do Ceará, 1897)


 

 

 

AO CORAÇÃO

 

 

Porque suspiras, coração dolorido?

Ermo de afetos, cheio de amargura!

Fugiu de ti a plácida ventura!

Eis-te sozinho, a suspirar descrido!

 

Não mais no mundo pérfido, iludido.

Serás de afetos vãos da criatura,

Brilha em teu céu uma esperança pura,

É Deus que atenta o ser desiludido!

 

Busca o conforto místico, que vem

Trazer-te a luz, que dimanou do bem,

E que fulgiu nos braços de uma cruz;

 

Despreza os bens efêmeros da terra,

Busca o tesouro que somente encerra

O amor perfeito que sonhou Jesus.

 

 

(Almanach dos Municípios do Ceará, 1908, pág. 121)


 

 

PRECE

 

 

Oh!  Bendita Virgem, Mãe piedosa,

Nívea dos céus, Maria Imaculada

Dentre as flores do céu mística rosa

Entre as mulheres, Santa proclamada!

 

Tua pureza Angélica e ilibada

Não teve manchas... Linda, fulgurosa

É corno de uma estrela, a luz radiosa

Que esgarça a treva aos beijos d’alvorada.

 

Conforta o nosso pranto, escuta a prece

Do triste, do exilado que padece,

Nesta vida cruel, desoladora;

 

Oh! Tu, Onipotente junto a Deus,

Desprende sobre nós do azul dos céus

Tua benção de Mãe consoladora.

 

(Revista A Estrella, Aracati, abril de 1915 p. 2)


 

 

    PARA O IGNOTO

 

(Ao ilustre Cel. Probo Câmara)

 

Eles têm que partir!... A caravana triste

Despede-se a chorar de doce abrigo,

No campo nem sequer uma florzinha existe,

O flagelo varreu todo o esplendor antigo!

 

A casinha, esta sim, tão alva inda persiste,

Inda guarda o verdor o juazeiro amigo;

Mas, lá longe, na estrada, o horror, o desabrigo,

A saudade cruel a que ninguém resiste!

 

E eles têm de partir! O rossicler do dia

Já brilhou no horizonte em clarão de agonia,

A lembrar-lhe o exílio em um país remoto.

 

Olham mais uma vez a casa... o céu azul

E se vai chorar o triste bando exul,

Em procura do Além, em busca do Ignoto.

 

(Revista A Estrella, ago/set de 1915)


 

 

 

A BANDEIRA

 

 

Bandeira do Brasil! Assim galhardamente,

Eu te vejo brilhar – emblema sugestivo –

De suprema grandeza e majestade ingente!

Erguida nesse dia ao rossicler festivo!

 

Tens o encanto do azul e o sorriso expressivo

Das campinas em flor tens a graça inocente;

E a luz primaveril do céu inspirativo

Onde esplende o Cruzeiro, a nos guiar a mente.

 

Hás de sempre vencer, nos certames da glória,

Não precisas de guerra, em láureas de vitória,

Tens conquistas de amor e da paz os troféus;

 

Entre as demais nações serás sempre a primeira,

Portentoso Brasil, cuja excelsa bandeira

Tem tesouros da terra e as estrelas dos céus.

 

 

(A Estrella, ago/set de 1916)


 

 

 

 

 

SETE DE SETEMBRO

 

(Ao Ilustre Dr. Boanerges Facó)

 

Esplende o sol... O Ypiranga desliza

E nele se reflete o azul sereno,

Lindo..., A desdobrar-se ameno,

De luz e beleza se matiza.

 

Independência ou Morte! Concretiza.

O brado augusto, vivo como um treno,

O gesto nobre, o decantado aceno,

Do Monarca que ali se sublima...

 

E o grito vibra além... Há manifestas

Expressões as mais justas,

Um delírio de usos e festas.

 

E a grande terra, erguida na História,

Aureolada de estrelas refulgentes,

Sente envolvê-la a sagração da glória.

 

(A Estrella, set de 1921) 

 

 


Material remetido por Anamelia Mota, anamelyamota@yahoo.com.br

   
 
 

 

 

 

 

8.4.2007