Francisca Clotilde
À Memória da
Virtuosa Irmã Margarida
Bazet
Seus lábios
não provaram neste mundo
A taça do
prazer que nos seduz,
Desprezou a
grandeza... Uniu-se à cruz,
Aos que
sofrem votou amor profundo.
Guiou-me a
infância, terna e desvelada
No caminho do
bem, tinha carinhos
Para os
prantos dos tristes
orfãozinhos,
Era tão boa,
meiga e dedicada!
Descansa em
paz, Oh! doce criatura,
O mundo não
podia a formosura
De tua alma
de santa compreender;
Ele que é
não, inconseqüente e rude
Eleva o vicio
e abate a sã virtude!
Só entre os
anjos poderás viver...
(O Libertador, edição de 06
de maio de 1887, p. 02. Irmã
Margarida Bazet, também nome
de rua em Fortaleza, CE, foi
diretora do Colégio
Imaculada Conceição de
Fortaleza)
A ÁRVORE
Ao
contemplá-la, triste,
emurchecida,
Os
galhos nus de folhas
despojados,
Sem
a
seiva
que outrora
tanta
vida
Lhe
trazia
em
renovos
delicados;
Ao vê-la
assim tão só, tão esquecida,
Tendo gozado
dias tão folgados,
Ao
som dos passarinhos namorados,
Que
nela achavam
sombra
apetecida:
Ai! Sem
querer encontro
semelhanças
Entre
meus
sonhos, minhas
esperanças
E a mirrada
árvore dolente.
Ela
perdeu as
folhas
verdejantes,
Bem
como
eu as ilusões
fragrantes
Que
outrora
me embalavam
docemente.
(Almanach do
Ceará, 1897)
AO CORAÇÃO
Porque
suspiras, coração dolorido?
Ermo de
afetos, cheio de amargura!
Fugiu de ti a
plácida ventura!
Eis-te
sozinho, a suspirar
descrido!
Não mais no
mundo pérfido, iludido.
Serás de
afetos vãos da criatura,
Brilha em teu
céu uma esperança pura,
É Deus que
atenta o ser desiludido!
Busca o
conforto místico, que vem
Trazer-te a
luz, que dimanou do bem,
E que fulgiu
nos braços de uma cruz;
Despreza os
bens efêmeros da terra,
Busca o
tesouro que somente encerra
O amor
perfeito que sonhou Jesus.
(Almanach dos
Municípios do Ceará, 1908,
pág. 121)
PRECE
Oh! Bendita
Virgem, Mãe piedosa,
Nívea dos
céus, Maria Imaculada
Dentre as
flores do céu mística rosa
Entre as
mulheres, Santa proclamada!
Tua pureza
Angélica e ilibada
Não teve
manchas... Linda, fulgurosa
É corno de
uma estrela, a luz radiosa
Que esgarça a
treva aos beijos d’alvorada.
Conforta o
nosso pranto, escuta a prece
Do triste, do
exilado que padece,
Nesta vida
cruel, desoladora;
Oh! Tu,
Onipotente junto a Deus,
Desprende
sobre nós do azul dos céus
Tua benção de
Mãe consoladora.
(Revista A
Estrella, Aracati, abril de
1915 p. 2)
PARA O
IGNOTO
(Ao ilustre
Cel. Probo Câmara)
Eles têm que
partir!... A caravana triste
Despede-se a
chorar de doce abrigo,
No campo nem
sequer uma florzinha existe,
O flagelo
varreu todo o esplendor
antigo!
A casinha,
esta sim, tão alva inda
persiste,
Inda guarda o
verdor o juazeiro amigo;
Mas, lá
longe, na estrada, o horror,
o desabrigo,
A saudade
cruel a que ninguém resiste!
E eles têm de
partir! O rossicler do dia
Já brilhou no
horizonte em clarão de
agonia,
A lembrar-lhe
o exílio em um país remoto.
Olham mais
uma vez a casa... o céu azul
E se vai
chorar o triste bando exul,
Em procura do
Além, em busca do Ignoto.
(Revista A
Estrella, ago/set de 1915)
A BANDEIRA
Bandeira do
Brasil! Assim galhardamente,
Eu te vejo
brilhar – emblema sugestivo
–
De suprema
grandeza e majestade
ingente!
Erguida nesse
dia ao rossicler festivo!
Tens o
encanto do azul e o sorriso
expressivo
Das campinas
em flor tens a graça
inocente;
E a luz
primaveril do céu
inspirativo
Onde esplende
o Cruzeiro, a nos guiar a
mente.
Hás de sempre
vencer, nos certames da
glória,
Não precisas
de guerra, em láureas de
vitória,
Tens
conquistas de amor e da paz
os troféus;
Entre as
demais nações serás sempre a
primeira,
Portentoso
Brasil, cuja excelsa
bandeira
Tem tesouros
da terra e as estrelas dos
céus.
(A Estrella,
ago/set de 1916)
SETE DE
SETEMBRO
(Ao Ilustre
Dr. Boanerges Facó)
Esplende o
sol... O Ypiranga desliza
E nele se
reflete o azul sereno,
Lindo..., A
desdobrar-se ameno,
De luz e
beleza se matiza.
Independência
ou Morte! Concretiza.
O brado
augusto, vivo como um treno,
O gesto
nobre, o decantado aceno,
Do Monarca
que ali se sublima...
E o grito
vibra além... Há manifestas
Expressões as
mais justas,
Um delírio de
usos e festas.
E a grande
terra, erguida na História,
Aureolada de
estrelas refulgentes,
Sente
envolvê-la a sagração da
glória.
(A Estrella,
set de 1921)
Material remetido por
Anamelia Mota,
anamelyamota@yahoo.com.br