Os 90 anos de Gerardo
Coisas de saudade, o padre e a casa. O
padre, muito mais: Francisco Soares Leitão, vigário de Nova-Russas, CE,
o padre Leitão, um homem culto; primo, segundo pai e amigo. A casa,
rua Eduardo Garcia, 833, em Fortaleza, que "torrei" para pagar
contas do meu insucesso como açougueiro na praça do Recife. A casa,
bom, a casa ainda tem jeito: está lá, no mesmo canto, passei dia
destes em frente... e a vontade de oferecer o dobro do preço. [Que
preço pagaria eu pela "volta" do padre?]
Lá naquela casa, mil novecentos e
setenta e pouco, entraram-me de tropel o padre, o outro primo, poeta
Juarez Leitão e um livro de poesia, O PAÍS DOS MOURÕES, de
Gerardo.
— Chico José, você conhece este poeta?
-
indagaram-me ambos, Juarez e o padre.
Não. Não conhecia. Tomamos um vinho do
Porto. Juarez, a filha Camila recém-nascida, era vizinho. Folheei.
Um e outro poema na diagonal. Pano bem rápido.
Naqueles mesmos dias havia eu comprado
um cordel: Peleja de Zé Pretinho dos Tucuns com o Cego Aderaldo.
Lera-a num jato, tirinete muito alto no gabinete do contador
Waldemar Queiroz, de grata memória, presentes, dentre outros, o meu
colega auditor, Mussa de Jesus Demes. Este ficou muito admirado com o
meu entusiasmo pela cantoria. Eu também fiquei.
Conto-lhe, meu caro leitor, esta
viagem dupla: Ceg'Aderaldo, em suas raízes sertão, e Gerado Mello
Mourão, em sua expressão clássica.
Foi assim que ganhei a certeza de
que a Poesia,
diferente do que alguns incautos apregoavam, não havia
morrido. Certeza que se coroou quando pus as mãos em ZÉ LIMEIRA,
O POETA DO ABSURDO, de Orlando Tejo.
Dia seguinte ao encontro com o padre,
o primo Juarez Leitão e o livro de Gerardo, fui à Livraria
Renascença, Rua Major Facundo, quase esquina com Pedro Pereira, e
adquiri O PAIS, que li e reli já não sei quantas vezes.
Depois, o prazer do contato pessoal:
1994, tendo eu escrito alguma coisa (Sirah e mais alguns
poemas publicados em Psi a Penúltima), fiz questão de localizar o
MESTRE.
A generosidade de um prefácio: foi
assim que Psi, a Penúltima, veio ao mundo. E a visita ao Rio de
Janeiro. A amizade de todos estes anos. E, principalmente, a
admiração ao Poeta.
Mais não tem de GMM no Jornal de
Poesia por culpa dele. Parece que nunca adaptou-se aos recursos do
"anexar-enviar". Eu mesmo, a divulgá-lo no Jornal de Poesia, tive que
digitar-lhe os três livros inteiros: O PAÍS DOS MOURÕES, PERIPÉCIA DE
GERARDO e RASTRO DE APOLO. Também as TRÊS PAVANAS.
E SUSANA.
Dia 8.1.2007 telefonei para a casa do
Poeta. Estava ele no hospital, mas disseram-me que não era muito grave. Deixei o
abraço. Passei um email pedindo ao neto dele, Antônio, que entrasse em
contato para suprir a page. Por mim, sua obra há de estar integral
no JP. [Era grave. O poeta morreu em 9.3.2007.]
Gerardo Mello Mourão é poeta? Sim!
Gerardo é O POETA! É assim que eu digo até para quem não queira
escutar.
José Inácio Vieira de Melo, também do
fã-clube de GMM, mandou correr na net esta homenagem (abaixo),
reproduzida com igual entusiasmo na lista pessoal do poeta Rodrigo
Petronio.
Soares Feitosa
|