Flávio de
Araújo
Parcel dos
Ossos
Estorvo.
Monturo
de um marfim
infinitamente altivo e exangue.
Velamos
sua distância, vendo o marolar
das
espumas subir à proa
como
tripulação amotinada.
Espécie
de chamamento rochoso
a todos
os calados.
Um
assanhador impenitente
de velas
e lemes,
feito uma
fome lenta que abre suturas
nos
ventres cedrosos,
na
risível calafetação do casco.
E a fome
também é sede.
Insaciada
nas profunduras do mar
e suas
generosidades.
Peca o
navegador a confiar em destreza:
- A
ousadia é a honra dos nautas.
E ele se
precipita cada vez mais,
tanto
para cima, quanto para baixo.
Bebericando anilhas, poitas, mastros
e não é
essa a fama
de sua
supra-estrutura.
Mas do
que fora sustentação
da
robusta carne-viva.
Um
emaranhado:
de
calcanhares, fêmures,
braços e
antebraços.
De
costelas,
como
feitio de uma escadaria sem fim.
Crânios,
anulares, carpos e metacarpos.
Falanges,
omoplatas, perônios e vértebras.
Rótulas,
tíbias, rádios,
artelhos,
mandíbulas e ossos ilíacos.
E esse
cavername dos oceanos
requerendo sempre mais, assim:
Coroados,
vassalos, artesãos,
nascituros, guarnições.
Base do
colosso
de um
marfim infinitamente
altivo e
exangue.
A todos
dando a serventia de marco
para
recanto do avesso que encadavera
outros em
sua ossatura.
Clamamos
pela tribuzana
para que
nos sopre longe,
do que
agora chamamos
Parcel
dos Ossos.
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