Passei a me interessar por Gerardo Mello Mourão à
época em que Guerreiro Ramos morreu, em
1982, quando ele escreveu belo
necrológico publicado na Folha de São Paulo.
Referia-se ao amigo como "O divino mestre ". De
fato, eram muito ligados, desde o tempo da
militância no Integralismo. Ambos liam alemão.
Quando se encontravam no Largo do Machado, pois
moravam em pensões do Catete, anunciavam-se com
versos da mística de Hölderlin e talvez alguns de Rilke.
Ambos, suplentes, estavam deputados em março abril
de 2004 quando sobreveio o golpe. Ambos era
personagens polêmicos, suscitando críticas e
desafetos à esquerda e à direita. São assim
controversos os gênios das ciências e das artes.
Sobretudo quando se metem em política.
Fui apresentado a ele no Gabinete do Presidente da
Câmara, há muitos anos, quando prestava assessoria a
Paes de Andrade. Encontrei-o há uns dois ou três em
solenidade no IHGB, em que, por iniciativa de
Melquiades Pinto Paiva, homenageava-se o Ceará e Capistrano de Abreu. Embora quase completamente
surdo, parecia ansioso por uma boa conversa. Talvez
quisesse companhia. Gentilmente, convidou-me a
visita-lo em casa. Eu devia ter ido.
Li um alguma poesia dele - O País Mourões e seu
canto do cisne - o grande e iluminado épico A
Invenção do Mar. Mas não consegui terminar de ler O
Valete de Espadas. De toda a sua obra, o que mais
gostei foi seu livro de contos - Piero della
Francesca ou As vizinhas chilenas. Cheira a Borges.
Mas tem um humor bem brasileiro. É genial.