Vera Queiroz
1. Biblioteca
Cururu:
Caro Soares,
chegaram os papé e os li, tem de um tudo, como sói acontecer com
vosmecê. Por partes: a idéia da biblioteca caruru é fantástica,
claro, pena vc não me ter avisado a tempo, pois estava na faculdade
nesse dia. Acredito que algum aluno meu deva ter pego algum dos
livros caruru, bom para eles. Affonso Romano já havia falado dessa
'movida' de livros circulantes em uma de suas crônicas, mas ninguém
tem o seu senso de humor, sua alegria e seu total deslumbramento com
as coisas da escrita, do livro, do escambo cultural. Você é único
nesse terreno.
2. Da caica postal
aos corrós de açude:
Quanto ao "Da caixa
postal aos corrós de açude", vc conseguiu o feito de recordar Rosa
em seu estilo sendo porém totalmente você, ou seja, escrevendo no
jeito feitosa de ser, o que significa sal, pimenta e humor no que
diz, jeitosamente feitosa. Beleza! Quanto ao prefácio ao livro do
Virgilio Maia, é uma delícia de ler. Não conheço o poeta, mas tenho
certeza de que é grande, se inspirou esse outro quase-poema em
prosa.
3. Joelhos & mel
o Joelhos e Mel não
tem negócio: é uma parábola sobre a educação de um glutão, à maneira
dos grandes clássicos da literatura quanto ao tema e no estilo
da alta literatura nordestina. Vc faz um texto conciso, preciso,
altamente alegórico, e belíssimo. Educação e amor, ou educação
e rigor, ou etc... A mãe cede por amor, o filho pede mais pq amor e
comida se assemelham na sua impossibilidade de suprir a
béance, a falta, o buraco, a fome de tudo. Mas tem uma hora
que a mãe tem de ser mãe, ou seja, lei é lei, e o filho tem de
aprender. As frases finais são a última torção do parafuso, o último
arrocho/arrojo de amor e compaixão e cumplicidade da mãe. Por isso,
o miniconto termina com a palavra amargo.
grande abraço,
vera
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