Herberto Helder
Bio-Bibliografia
Nascido em Funchal, 1930. Poeta e tradutor (mas assumindo-se
sobretudo como autor), Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira
iniciou a sua formação liceal na ilha da Madeira (Colégio
Lisbonense), tendo-a concluído, a partir de 1946, na Escola Luís de
Camões, em Lisboa. Já na Universidade de Coimbra, cursa o 1º ano de
Direito (1948), tendo frequentado, entre 1949 e 1952, o curso de
Filologia Românica na mesma instituição. Inicia a publicação dos
seus primeiros poemas nas antologias Arquipélago (1952) e Poemas
Bestiais (1954), ambas do Funchal, e no jornal A Briosa (1954,
Coimbra). Interrompido o curso universitário, exerce diversas
profissões, na Caixa Geral de Depósitos e no Anuário Comercial
Português (angariador de publicidade) entre 52 e 54, no Serviço
Meteorológico Nacional (Funchal, 1954), delegado de propaganda
médica (1955-58); e, durante os anos em que viaja pela Europa
(França, Holanda e Bélgica), entre 1958 e 60, teve diversos empregos
(criado, operário, policopista, carregador e guia de marinheiros
pelos bairros de Amesterdão). De regresso a Lisboa, trabalha como
encarregado nas Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste
Gulbenkian (1960-62), é redactor de noticiário internacional na
Emissora Nacional (1964-66), colabora em programas da RTP e faz
publicidade (1967-68). Em 1969 torna-se director literário da
Editorial Estampa, onde começa a publicar a obra completa de Almada
Negreiros. Depois de viajar novamente pela Europa (1970-71), vai
para Angola, onde, sob diversos nomes, faz reportagens para a
revista Notícia (Luanda), e volta a Lisboa, sendo revisor
tipográfico na Editora Arcádia (1973) e redactor de notícias na RDP
(1974). Herberto Helder frequentou, cerca de 1958, o Café Gelo,
então ligado ao grupo surrealista, tendo já anteriormente colaborado
nas revistas Re-nhau-nhau (1955) e Búzio (1956), editada por António
Aragão e com a colaboração de Edmundo de Bettencourt. Desde então
ligado às vanguardas e à procura de novas vias na poesia portuguesa,
colaborou nas Folhas de Poesia (1957), com Helder Macedo e António
Salvado, mas não deixou no entanto de estar em contacto com poetas
de outras gerações (por exemplo, com colaboração na revista Graal,
dirigida por António Manuel Couto Viana). Tendo estado ligado à
organização da revista Poesia Experimental (1964 e 1966) e tendo
participado na "Exposição Visopoemas" (1965), Helder retirou do
Surrealismo e da Poesia Experimental sobretudo o postulado da
"liberdade, liberdades" para o seu próprio percurso poético.
Colaborou em outros jornais e revistas (Jornal de Artes, Jornal do
Fundão, Diário de Notícias, Cronos - nesta com Fernando Luso Soares
e Eduardo Prado Coelho) e esteve envolvido num processo judicial
(1968) desencadeado com a publicação da tradução de Filosofia na
Alcova, de Sade (como intermediário entre tradutor e editor), no
qual foi condenado a pena suspensa. Também nesta data, o seu livro
Apresentação do Rosto foi apreendido pela Censura, nunca tendo sido
reeditado. Na década de 70 Helder colabora quer em catálogos de
pintura (Maria Paulo, SNBA, 1971), quer na revista Caliban (com
Grabato Dias, Knopfli e Sena), no caderno antológico Novembro (com
Gastão Cruz, Eugénio de Andrade e Ruy Belo) e em Nova: Magazine de
Poesia e Desenho. Considerado unanimemente um dos mais importantes
nomes da poesia portuguesa contemporânea, foram atribuídos a
Herberto Helder diversos e relevantes prémios literários - Prémio
Europália e Prémio Pessoa (1994), entre outros -, tendo o autor
recusado todos eles, bem como a concessão de entrevistas ou mesmo a
participação em eventos culturais ou literários. A sua obra poética
encontra-se, desde 1973, reunida nas sucessivas edições de Poesia
Toda. Decorrente de um gesto de religação de toda a poesia, este é o
livro fundamental da poética helderiana, "toda, / de estrela a
estrela da obra.", sobretudo na medida em que esse é o lugar em que,
reversivelmente, se fundam poesia e poética - "um baptismo atónito,
sim uma palavra / surpreendida para cada coisa". Obra excluída (por
razões editoriais, mas acima dessas as autorais, porque se conclui
ser impossível "apresentar o que está presente", sobretudo na medida
em que "a ausência é que devia apresentar-se, pois tarda na
ausência"), a "autobiografia activa" Apresentação do Rosto é
explícita quanto à instauração não tanto de um sujeito de escrita,
mas, acima de tudo, de um autor que se celebra o acto enunciativo
como o gesto criador: "sou o Autor, diz o Autor", aquele que gera
(no poemacto) "uma coisa poética, [...] o acto iluminante do génesis".
Por cada nova edição da sua poesia e da prosa, sobretudo Os Passos
em Volta (seis edições com reescrita de fragmentos), o autor faz
correcções no sentido de um maior rigor e apuro, da rasura de marcas
de sujeito, num processo a que chama "emenda sucessiva" e "alteração
de composição". Outro dos livros essenciais é Photomaton & Vox, que
contém textos cuja classificação genológica é difícil, na medida em
que inclui "ramificações autobiográficas" e "notas pessoais" (alguns
dos fragmentos de Apresentação do Rosto são aqui reescritos), "artes
poéticas" e metatextos em que se reflecte sobre a representação:
pintura, escultura e cinema. Se, por um lado, a sua poesia é aqui
concebida como um "corpo orgânico [...], um cosmos explícito, "objectual"",
por outro, "a superação do caos exprime-se pelo encontro de uma
linguagem" que por estes ensaios se procura. A investigação das
possibilidades da linguagem tem um seu corolário na "mudança" de
poemas, com a tradução de poesia ameríndia (Maias e Aztecas) ou de
povos africanos (Pigmeus), na procura da genealogia da "dicção
mítica" (Ouolof). Herberto Helder tem poesia sua traduzida em
diversas antologias, de entre as quais as publicadas em Itália (La
Parola Interdetta: Poeti Surrealisti Portoghesi, Antonio Tabucchi,
org.), em Inglaterra (Contemporary Portuguese Poetry, Helder Macedo,
org.) e em Espanha (Antología de la Poesía Portuguesa Contemporánea,
Angel Crespo, org.), para além das traduções de obras suas (França,
Itália, etc.). Diversos estudiosos portugueses e estrangeiros se têm
dedicado ao estudo da sua poesia, de entre os quais se destacam
Maria de Fátima Marinho, Maria Lúcia Dal Farra e Juliet Perkins. Os
dois "ensaios poéticos" "Poesia Toda" (in A Phala, nº 20, Out.-Dez.
1990) e "A propósito de Photomaton & Vox [3ª ed.] ou de qualquer
outro texto do autor" (in A Phala, nº 46, Out.-Dez. 1995) são
indispensáveis para o conhecimento da poética helderiana e para a
(auto) definição da sua poesia: "o poema é um objecto carregado de
poderes magníficos, terríveis: [...] promove uma desordem e uma
ordem que situam o mundo num ponto extremo: o mundo acaba e começa",
principalmente se se aceitar o repto para que se "arrisque [...]
sobretudo o nome pessoal para ouvir [...] o nome de baptismo como o
coroado nome da terra". Esta é uma poesia como experiência de
excesso e violência, pois "a paixão é a moral da poesia" (1990).
(in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses,
Vol. V, Lisboa, 1998)
Bibliografia completa:
O Amor em Visita, 1958
A Colher na Boca, 1961
Poemacto, 1961
Lugar, 1962
Electronicolírica, 1964
Húmus, 1967
Retrato em Movimento, 1967
Ofício Cantante, 1967
Apresentação do Rosto, 1968
O Bebedor Nocturno: Versões, 1968
Vocação Animal, 1971
Poesia Toda, 1973 ; 1996
Cobra, 1977
O Corpo O Luxo A Obra, 1978
Photomaton & Vox, 1979
Flash, 1980
A Cabeça entre as Mãos, 1982
As Magias (alguns exemplos): Versões, 1987 ; 1988
Última Ciência, 1988
Os Selos, 1990
Os Selos, Outros, Últimos, 1991
Do Mundo, 1994
Doze Nós numa Corda: Poemas Mudados para Português, 1997
Poemas Ameríndios: Poemas Mudados para Português, 1997
Ouolof: Poemas Mudados para Português, 1997
Edoi Lelia Doura: Antologia dos Vozes Comunicantes da Poesia Moderna
Portuguesa,
Os Passos em Volta,
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