José
Valgode
Estudos
e Catálogos - Mãos, Vacas e Cavalos!
Um
vaqueiro deve cheirar a cavalo.
Li
seus Estudos, Catálogos e Mãos, e apercebi-me que nesse trabalho
entra muita bicharada: vacas, patos, galinhas, perus, pavões,
jumentos, burros e cavalos, há um misto real que está bem descrito
por poetas experientes como vocês. Sóis poetas e prosadores que
cheiram bem a cavalo. Perdão meus senhores, não é ofensa nenhuma,
mas é sim um grande elogio. Vocês marcaram as rês de todos os
lados, a prosa não cheira a esturro e a vossa marca da poesia está
bem desinfectada e bem recriada. Como vos disse o poeta experiente
deve cheirar a cavalo e não a água-de-colónia, ou a perfume francês,
vós sóis os poetas do sertão e da cidade, vocês dançam o
foclore nordestino,
matam o porco no sertão e na cidade
ralham com a Net, porque entra lá muito lixo no correio. Gostei
como catalogaram os cavalos, marcaram as rês e sortearam os potros,
como donos e vaqueiros, vocês marcam a fogo e repartem as rês-poéticas,
dando a todo o mundo o mesmo quinhão de talento que possuem. Vossos
poemas não dão coices noutros poetas que talvez não apreciem a
vossa fazenda de inspiração. Vosso ritual poético, ás vezes
parece um pouco confuso e estravagante, mas ninguém vos dá lenha,
porque se compreende bem uma charada e uma descrição rural, como
quem diz, este patrício veio novinho de Portugal, também é poeta
e cheira muito a cavalo, que por acaso tem muitas qualidades, e sabe
amigo Soares Feitosa quem disse: ”Dás tu força ao cavalo, ou
revestirás o seu pescoço de crinas? Acaso o fazes pular como o
gafanhoto? Terrível é o fogoso respirar das suas ventas. Escarva
no vale, folga na sua força, e sai ao encontro dos armados. Ri-se
do temor, e não se espanta; e não torna atrás por causa da
espada. Sobre ele chocalha a aljava, flameja a lança e o dardo. De
fúria e ira devora o caminho, e não se contém ao som da trombeta.
Em cada sonido da trometa, ele diz: Avante! Cheira de longe a
batalha, o trovão dos príncipes e o alarido. Certa vez foi
perguntado a Jó quem dotou o cavalo destas qualidades, mas Jó não
soube responder, e ele certamente não criou o cavalo. Mas foi um
Criador que criou o cavalo e criou o poeta. O cavalo na antiguidade
era retratado como animal preparado para a guerra, um verdadeiro
poeta è como um cavalo preparado para a guerra dos versos, a guerra
das palavras, o poeta cavalariano não fica impaciente para entrar
em batalha com outros poetas-cavalos que não apreciam o seu
relinchar! Como poeta-cavalo na sua intrepidez, ele cavalga para dar
a vitória á poesia-égua e nunca se torna um mutante cavalo-mulo,
porque se tornaria então um poeta estéril. Mas ele como
poeta-cavalo quer permanecer frutífero parindo poemas-potros, que
futuramente se tornarão cavalos-possantes de puro sangue. Isto è o
que são os poemas-memoráveis inesquecíveis!
Continue,
amigo SF, na sua cavalgada, e de vez em quando, mande por favor mais
novos Estudos e Catálogos, escritos por suas próprias mãos, e
nunca se esqueça, que as poetisas gostam dos poetas que cheiram a
cavalo. E continue a
escrever em prosa, sem mostrar porém prosália! Um poeta tem que
ficar de pé como poeta-cavalo que é! Não dou lenha, mas sim
elogio! Agarre-se ás crinas da poesia. E marque muitas vacas de
cornadas mansas e aparelhe e disfrute do cavalo á solta no mundo da
poesia, segurando bem as rédeas da inspiração sem cansar o
cavalo-poema e a vaca prosa! Se assim fizer, levará á cavalariça
e á vacaria, toda essa bicharada, que é amiga do bicho e
homem poeta!
Seu amigo:
José Valgode - Alemanha
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