Carlos Augusto Viana

Diário do Nordeste, Fortaleza, Ceará, Brasil

8.11.2009


 

 

O discurso lírico de José Telles

 

 

A projeção dos sentimentos, das atitudes individuais, ou seja, o eu que se inscreve como motivo maior, tudo isso tem caracterizado a poesia de José Telles. Seu discurso se volta, predominantemente, para o mundo interior, de onde se evolam imagens de um passado distante, fragmentos de paisagens, sombras de seres e coisas, para que, enfim, tudo se converta num exercício do encantatório. Percorrer tal universo é o motivo central dessa edição.

 

 

A escritura de José Telles é, em sua essência, sobretudo lírica. Sua cosmovisão, portando, advém filtrada pelo que, dependendo da relação que estabeleça com o estar-no-mundo, pode anunciar-se como a expressão de um desencanto em relação à engrenagem social ou mergulhar mais em suas próprias entranhas, mostrando-se, desse modo, introspectiva e de um acentuado individualismo.

O solo das chuvas
Seu mais recente livro, O solo das chuvas, vencedor do Prêmio Osmundo Pontes/2007, não só confirma tal tendência, mas lhe aponta, por outro lado, mais uma faceta: a de, livro a livro, concentrar-se, predominantemente, num determinado interesse temático; e, com tal procedimento, encontrar - o que não deixa de ser inusitado - caminhos novos.

 

JOSÉ TELLES, em "O solo das chuvas", firma-se como uma das vozes mais destacadas no lirismo contemporâneo
Foto: MIGUEL PORTELA

A obra aberta
A obra de arte literária comporta abertura; nesse sentido, visaremos a uma exegese desse livro, na busca de identificar-lhe os processos estilísticos e os caminhos temáticos, visando, com isso, descrever-lhe a composição, concentrando-nos, especificamente, nos processos metalinguísticos.

O poema-título imprime-se, antes de tudo, como uma epígrafe do próprio livro, uma vez que , de certa forma, tanto lhe antecipa as preocupações temáticas, como, por outro lado, também diz respeito a determinados procedimentos estilísticos por que há de orientar-se a expressão literária do Autor, constituindo caminho para a sua poética: (Texto I).Trata-se, portanto, de um metapoema, uma vez que reflete acerca da relação que o eu lírico mantém com o fazer poético. Decompostas as "têmperas", isto é, o ímpeto para a sua caça às palavras, entrega-se, passivamente, à insônia. No entanto, surge "Um solo de chuva", com a força de seu sumo inaugural: a poesia apresenta-se ao poeta, rompendo a crosta que o separava do encantamento; por isso, tudo o que é efêmero se conserva, magicamente, em sua escritura, sendo, assim, "o sal" de seu "delírio". O que a vida lhe tira, com a gravidade de sua ferrugem, recupera poeticamente - e isto o pacifica. O verso "Um solo de chuva", relacionado à natureza geral das composições, revela a natureza plural do título "O solo das chuvas": se há uma relação intrínseca entre o poeta e o poetar, o "solo" é o livro; e as "chuvas", os poemas - suor e lavoura, colheita do embate do eu lírico com o mundo.

A leitura da poética de José Telles, alicerçada na recorrência dessas imagens, deve levar em conta o fato de que, a rigor, o silêncio a que visa o poeta não constitui um elemento integrado ao mundo exterior; é, sim, oriundo do próprio poema, implicando, assim, a busca da articulação de uma outra linguagem. Partindo desse princípio, o poema tem que ser pensado, conforme as reflexões de Carone, "nos termos dinâmicos de movimentos reversíveis que vão da linguagem para o silêncio que ela mesma instaura" - a perseguição de possibilidades outras de construção.

Do silêncio
Enumeram-se, portanto, tais procedimentos de composição em consideráveis passagens do livro, instaurando, muitas vezes, um movimento de fluxo e de refluxo - da linguagem para o silêncio; deste para aquela, como, por exemplo, no excerto do poema "Fragmentos": (Texto VI)

Como se vê, agora, a "copa do silêncio" já não se impõe como uma crosta inviolável; ao contrário, nela as "intimidades e juras", porque são fragmentadas têm ferida a "virgindade dos segredos". Uma desordem, portanto, imprimi-se; assim, o "hálito das palavras" - tomado aqui com a mesma ideia de sopro, de criação, assoma, para, com a sua semente de vida, outra vez estabelecer a "ordem das coisas", reinventando a existência.

O poema-mundo
As composições de metapoesia constituem, curiosamente, um caminho por que se constrói a teia que envolve as relações do eu com o mundo. A simples contemplação das palavras ou mesmo o registro do processo de construção do texto, qualquer desses expedientes pode servir de recurso para a explicação do haver. É como a seguinte paráfrase: conhece a palavra para conhecer-te a ti mesmo. Quanto a isso, vejam-se os versos do poema "Prelúdio": (Texto VII)
A ideia de prelúdio, exposta no título, relaciona-se a prenúncio, isto é, ao que precede ou anuncia alguma coisa. Sendo assim, na primeira estrofe, a atmosfera é de dor e de melancolia - prenúncio das perdas que caracterizam o ato de viver: os sonhos que, pouco a pouco, transformam-se em detritos.
Na segunda estrofe, porém, surge a natureza de remissão da poesia, pois esta faz ressurgir o que tempo vai, paulatinamente, corroendo com a sua indefectível ferrugem. Ao fotografar "noites para guardar silêncios", o eu lírico anuncia a disposição para o ato de escrever; o que, por certo, deverá acontecer no tecido das "madrugadas" - a concha em que se depositam os "segredos".
As palavras, por sua vez, necessitam ser cortejadas por ele, ou seja, ele há de persuadi-las a um encontro, para que delas extraia o "mofo" que se deposita sua pele, para, enfim, ser revelada a natureza daquela "solidão", motivo da "tristeza" do eu lírico.

Notícias do eu
Tendo como base ainda essa temática, outro bem-realizado poema, em que os elementos do eu se fundem às entranhas do poético, está em "Autorretrato": (Texto VIII)
Em muitos momentos, de O Solo das Chuvas, direta ou indiretamente, ocorre a associação entre poema e sal; nesse sentido, ambos comportam o poder da conservação; entanto, o que não se decompõe, o que não se corrompe é o passado, que a memória, através do poético, esculpe em experiências as mais diversas: "havia uma fita-veludo / no solar da minha infância"; "Em legendas de pedra, / madrugadas me contemplam"; "porta aberta / dentro de mim"; "Nas tábuas onde escrevo minhas juras, / o indez do passado me alucina"; "Fatias de paisagem / alimentam meus olhos empalhados"; "A fúria dos espelhos / trinca o azul de minhas lágrimas"; "Minha realidade é feita de histórias / que meu corpo já viveu"; dentre tantas outras passagens que confirmam o verso: "Tudo é cadastrado no sal de meus poemas".

Outro topos
Também, em muitos poemas de José Telles, revela-se a concepção do mundo às avessas, cerzido por linhas de contrastes. O indivíduo, isto é, o ser que se divide, perdido de si e dos outros, despido das utopias em geral, sofre uma estranheza, daí a sua inquietude. Estrangeiro, transita por uma cidade outra, caminha, por conta disso, por outras veredas.
Assim, o topos do "paraíso perdido" - daí a instauração de um "mundo às avessas" - desenvolve-se por linhas bem nítidas: ora a apologia ao passado como oposição ao contemporâneo; ora na magia do poético, por ser este capaz de construir novos mundos, ou melhor, um mundo próprio, tão-somente seu, onde o eu lírico possa, finalmente, pacificar-se.

A face do ontem
Dentre os poemas que se concentram no tema da recuperação do passado, "Ciranda da minha vida", é, sem dúvida, um dos mais representativos. Trata-se de uma composição de grande fôlego, (é o mais longo poema do livro) de difícil realização, mas que não se desvia do eixo do discurso poético, em ritmos

Vila de Bitupitá:das cartilhas de suas areias e do discurso das águas, o poeta José Telles capta os elementos fundamentais para a construção de seu discurso
Foto: Thiago Gaspar

 caudalosos e prolongados: (Texto IX). A vila - metonímia da pátria do eu lírico -, em vez de surgir a partir de configurações da arquitetura, da fauna ou da flora, instaura-se no olhos do leitor, conduzida por elementos da natureza, uma vez que tais comportam o eterno.
A princípio, depara-se o "vento" - a imagem do fugidio, mais comumente associada à ideia de tempo. Não sem motivo, é ele - o vento - o mensageiro das "ilusões", isto é, tudo o que se decompõe, o que, inexoravelmente, sofre a corrosão do tempo.
As "tardes", por sua vez, eram as "donas das conversas"; assim, tanto as "conversas" quanto as "cirandas" estavam sob o jugo daquele "vento". Depois, vê-se uma medida agrária - o acre - aplicada às "lagoas"; o que nos permite inferir a presença das praias e, assim, por extensão de sentido, a do mar, em cujas espumas, o "sol" cumpria o ritual de seu "suicídio". Tudo, em verdade, são espelhos, abrigo de intensa luminosidade, a inebriar as lembranças do eu lírico.
Por fim, a contraposição com o presente, impregnada no termo "Hoje" - o espaço da desolação e dos tormentos. O termo "fantasmas" sintetiza a desintegração de tudo o que alimentava, nas terras do ontem, a alegria do eu lírico. Por isso, nesse "Hoje", a "vila" - a que realmente é motivo de seu interesse - habita "velhas fotografias", impressas, com fogo, nas páginas do poema.

Ainda levando-se em conta os elementos recorrentes na escritura de José Telles, assoma a sua forte relação com o passado. Trata-se, porém, de um passado imemorial, pois, sobre este, recai, mais do que a imagem da infância, a reconstrução de um tempo marcado por intenso atavismo, consoante a leitura de "Jardim com pássaros e silêncios": (Texto II)

Leitura do poema
Nesse poema, o espaço é absoluta relevância. A voz lírica, naturalmente, não se detém por sobre os elementos colhidos de uma vivência cotidiana, de que se reconhecem os elementos que a confiram. Não. Observemos que, na primeira estrofe, em vez de homens, na sua luta brava pela conquista do dia-a-dia, "caminham segredos" nas "ruas"; e se há "um porto", nele "navegam os mortos". Nesse sentido, as imagens das "ruas" e do "porto", sendo, em seu bojo, abstratas, remetem ao longe, uma terra talvez da infância, quer seja esta uma experiência individual ou coletiva.
Nesse poema, também, os exercícios de metalinguagem orientam a criação poemática, ainda que possam, também, inscrever-se, tão-somente, como uma digressão e não se concentrar nos vazios ou nos empecilhos do ato de criação poética

O eu e escrita
Mais uma vez, deparamos a relação do poeta com o poema: preso a uma "gaiola de pedra", as palavras-pássaro - as que comparecem à sua ceia - incitam-no à libertação pelo poético; é como se apenas a partir do ato de fazer poesia fosse possível a tessitura dos voos. Sendo assim, contemplando essa inefável e incorpórea "paisagem", o eu lírico retira-lhe, tacitamente, o adubo, triturando o mosto desse momento, para, por fim, livrar-se daquela "gaiola" e, invertendo a situação, encadernar aquelas palavras-pássaros, isto é, pô-las nas grades de uma folha de papel e, depois, juntá-las ao livro.

A natureza do poético
Em "Palavras no azul", José Telles versa, mais uma vez, acerca da problemática da palavra, vendo-a, ao mesmo tempo, como elemento-chave para a inserção do sujeito no mundo. Parece, assim, responder às inquietações de Bourdieu: "O que faz com que uma obra de arte seja uma obra de arte e não uma coisa do mundo ou um simples utensílio?". Tomando a palavra como a essência do material poético, procura palmilhar, assim, a natureza de sua pele: (Texto III)
Ao afirmar que espera "a noite" para escrever, pois esta "facilita o amanhecer das palavras", o eu lírico, a partir de um jogo antitético, atrela o poético ao espaço do sonho, do lúdico. A poesia assume, com tal perspectiva, uma forma transcendental, pois além da procura de uma expressão formal que traga novos conteúdos de composição textual, o poeta visa, também, a uma própria conceituação de sua atividade criativa: põe-se, de chofre, à espera das palavras, para que estas ocupem, em definitivo, a sua forma definitiva, a ser ditada, então, pelo poema.

O eu e o outro
Desse modo, num emaranhado de sugestões, o poético se instaura a partir do desvio sofrido pelo termo "prolapso", pois este, metaforicamente, estabelece um elo entre a exterioridade - sugerida por "contorno", remetendo, assim, a um corpo, expressão da matéria física - e a interioridade, definida por "alma".
As "palavras" expressam o sentido do que seja, deveras, um poeta: um ser de quem só se conhece o "contorno", ou seja, circunscrito apenas em sua superfície; e é exatamente isso o que dele elas dizem, se postas no eixo da horizontalidade; por outro lado, as "palavras", estando num permanente torvelinho, quando mergulhadas em sua subjetividade - dele, poeta -, revelam, agora de modo vertical, que ele, também, não sabe de si; desse modo, por desconhecer seus próprios abismos, vive a vigília de uma vertigem, sendo: "prolapso no carrossel das heranças". Se, dentro dele, muitas "palavras" se perdem em múltiplas veredas, ele sofre o mesmo desastre e, sendo um "prolapso", conhece quedas, perdas; e a poesia se converte em elemento de salvação.
Sendo "líquido" quando escreve, o eu lírico precisa dos "cílios da memória" para, assim, conservar o seu "passado"; e mais: necessita, antes de tudo, inventar uma "realidade" só sua, a fim de que possa, com tal recurso, estabelecer uma ponte entre o ontem e o hoje, na cristalização daquele "azul" - a que o título do poema remete numa rede de simbolização.

O corpo poético
A leitura de José Telles deve, também, levar em conta os procedimentos acumulativos com que é realizada a construção do eu poemático. Há, uma vez sublinhadas as linhas de que é constituído o sujeito da escrita, um leque de fragmentos desse mesmo eu, que, assim reunidos, estabelecem, então, entre si vasos comunicantes.
À medida que o texto vai sendo percorrido, emana um conjunto de inferências que nos coloca diante da realidade do poético: "Efetivamente, se a obra poética tem seu fim em si própria, tem no leitor o seu meio: objeto essencialmente sensível, ela só existe verdadeiramente quando apreendia e consagrada por esta recepção", conforme reflexões de Dufrenne. Um desses encontros ocorre, por exemplo, em "Silhueta Empalhada": (Texto IV)
Instaura-se, aí, o conflito eu versus mundo, numa perspectiva pós-moderna, pois o que se ressalta é a desfiguração do sujeito, acentuada por uma escolha lexical lancinante: "olhos empalhados"; "o espantalho"; "fístulas" e "ampulheto" - este último termo como uma licença de neologismo. Naturalmente, inquieta o leitor esse ato de "ampulhetar" as "fantasias": ante a "falha da memória", ocorre, a rigor, uma dissolução - parcial ou não - do tempo; viscoso, este escorre das "fístulas que choram lendas"; desse modo, a magia dessa flauta une-se às "Fatias de paisagem", convertendo-se em alimento para aqueles "olhos empalhados", para que, assim, o "espantalho" consiga, então, de todo, libertar-se;
A palavra, em seu estado poético, é, ao mesmo tempo, voz e silêncio. José Telles persegue as diversas possibilidades da linguagem, compreendendo-a sempre como material estético. Sob a crosta da palavra, adormece um mundo, mas disposto a descortinar-se. A palavra traz em seu bojo um simbolismo; muitas vezes, o poeta constrói um dizer quando se cala; pois, a rigor, é o texto literário o "lugar de uma perda" - a perda do ignoto, conforme os versos do excerto do poema "Assimetria dos silêncios": (Texto V)

Feixes estilísticos
Tais "silêncios" são, evidentemente, palavras e, por extensão de sentido, a própria poesia, ainda que não encarnada sob a forma de versos. Como uma cimitarra, esses "silêncios", capazes de abrir "feridas", inexoravelmente, "sangram" - não o seu próprio sangue, mas o dos seres e o das coisas, cujas cartilagens puseram expostas.

Texto e contexto
Atentemos para o jogo sintático do terceiro verso: "a boca cheia como se fossem um grito"; ao realizá-lo, o eu lírico desloca o sujeito de "fossem" de um natural referente - "boca" - em direção a "silêncios", descortinando as vozes que carregam consigo.
Essas vozes, porém, permanecem ainda sob a crosta do taciturno, do que não se revela em sua corporeidade. É como se temessem a materialidade; desse modo, dispensam, assim, "a cortesia das lágrimas"; mas, caladas, falam. São sílabas do silêncio.

TEXTO II

Nestas ruas
onde caminham segredos
existe um porto
onde navegam os mortos
Estes pássaros jantam comigo
e me convidam a voar
nem percebem que estou
preso nessa gaiola de pedra.
No salitre da paisagem
rumino silêncios
e encaderno palavras
Os pássaros recolhem minhas perdas.


TEXTO III

Quando escrevo
espero a noite,
- a noite facilita o amanhecer das palavras.
As palavras definem meu
contorno
e se bifurcam n´alma
sou prolapso no carrossel das heranças.
De meu passado fogem pérolas, enfeitadas
com os cílios da memória.
Invento minha realidade,
sou líquido quando escrevo.

TEXTO IV

Fatias de paisagem
alimentam meus olhos
empalhados
minha silhueta
liberta o espantalho oculto
em minha face
do meu passado fístulas
choram lendas
ampulheto fantasias por falha
de memória
sou âncora das sombras
e dos ventos

TEXTO V

Tenho silêncios
que abrem feridas e sangram
a boca cheia como se fossem
um grito
e tão maltratados pelo medo
que dispensam
a cortesia das lágrimas.

 

TEXTO VI
Tudo fere a virgindade dos segredos,
até na copa do silêncio
fragmentam-se intimidades e juras,
o hálito das palavras
estabelece a ordem das coisas.

TEXTO VII
Quando a dor espalha seus
despejos
minha tristeza dança e se
agasalha
e minh´alma começa a
entristecer fotografo noites para guardar silêncios,
escolho madrugadas para
contar segredos,
cortejo dores e metáforas
para o discurso do medo,
tenho n´alma o pó da solidão,
e mofo nas palavras
que escrevo.

TEXTO VIII
Erros apodrecem minha carne, abrigo nas entranhas
o sangue clandestino de meu pai,
minh´alma é infiel como o silêncio
e dona de profana encarnação, na flacidez de meu corpo ela
se deita
e aproveita os favores
do pecado
em dilemas vãos, que a
mim trucidam.
Tudo é cadastrado no sal de meus poemas.

TEXTO IX
Em minha vila,
o vento circulava entregando
ilusões de porta em porta,
as tardes eram donas
das conversas,
e se escutava a ciranda
dos segredos das morenas.
[…]
Em minha vila havia acres de
lagoas,
onde minha desobediência
alegremente mergulhava,
as estrelas iluminavam as ruas
e lamentavam o mergulho
suicida do sol
[…]
Hoje, tenho fantasmas
que Se obrigam a dormir tarde, mas tenho amores
que nunca saíram de mim.
Contente com a fartura
de silêncios,
minha vila adormece em
velhas fotografias
 



 

O QUE ELES PENSAM

A trama da sensibilidade lírica do poeta


"Críticos da maior expressão já elogiaram os poemas de José Telles com a maior convicção. Seu nome já é bastante conhecido, dentro e fora dos muros da tribo, por intelectuais afeitos aos misteres e desafios da literatura. Sua poesia foge sabiamente às seduções do receituário acadêmico. Seus poemas são breves revoadas de palavras: entrelaçamento da ansiedade com a técnica".
Francisco Carvalho
Poeta

 




"A trama da sensibilidade - assim creio poder-se-ia nomear o exercício poético de José Telles, todo acompanhado de uma técnica a guiar as emoções. Não há - ou é raríssimo encontrar - uma passagem, por mais eivada de sentimento (isso, sim, não raro encontrar-se) que não traga o timbre de uma técnica de linguagem erigida sobre patamares de uma sólida coesão textual".
Luciano Maia
Poeta

 



"José Telles não abre mão do silêncio como a órbita de suas constelações temáticas. O silêncio-personagem, confidente ou antagônico. O silêncio da culpa com suas "goteiras de saudade". A paisagem com suas tardes viúvas. O silêncio das fraturas em tempos de aceitação. A pedra e o sangue das raízes; a dor e o pânico nos sargaços da idade madura: lembranças, fugas, cicatrizes".
Jorge Tufic
Poeta
 


"No reino da imaginação, as possibilidades são infinitas e, nesse infinito, o realismo da irrealidade acontece".

 

Betina Rodrigues da Cunha
Doutora em Letras




"Se quisermos saber o que diz o texto, devemos interrogar também o seu silêncio. Não o silêncio que se situa antes da palavra, mas o outro, o que fica depois dela".
Berta Waldman
Ensaísta


 

"O poeta que apenas se contenta com o fácil, com a primeira imagem, que não a submete a uma auto-análise, não está, assim, procedendo como um artista".

Gilberto Telles
Poeta e ensaísta




"Entre linguagem e sociedade corre um vínculo estreito, não determinista, que faz com que a sombra desta se projete no semblante dessemelhante daquela".

Luiz Costa Lima
Ensaísta



Fique por Dentro
 

O poeta lírico
O poeta, quando lírico, concentra-se no eu; nesse sentido, a poesia lírica trata das projeções da alma; isto é, a maneira por que as essências humanas são filtradas pela subjetividade da voz poemática. O lírico pouco se deixa tocar pela realidade circundante; a matéria de seu discurso é o círculo fechado onde se inscreve a sua experiência anímica. Assim, mesmo que, em seus versos, haja elementos configuradores do cotidiano, estes, uma vez captados pelo sujeito do discurso, surgirão deformados: o mundo ao redor é, pois, apenas um referente para que o eu lírico possa, então, percorrer os misteriosos corredores de sua interioridade. A literatura brasileira possui uma fecunda tradição lírica. Ainda no período colonial, as duas expressões estéticas - o Barroco e o Arcadismo - desenvolveram, o discurso do eu.


 

Saiba Mais:

BOURDIEU, Pierre. As regras da arte. São Paulo: Companhia das Letras, 1992
CARONE, Modesto. A poética do silêncio. São Paulo: Perspectiva, 1979
CONNOR, Steven. Cultura pós-moderna. São Paulo, Loyola, 1993
DUFRENNE, Mikel. O poético. Porto Alegre: Globo, 1969
MASSAUD, Moises. A criação literária. São Paulo: Cultrix, 1967
 

  Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ana Guimarães

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tércia Montenegro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Maria Maia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Elaine Pauvolid

 

Retorno para José Telles

  Sandro Botticelli, Saint Augustine, Ognissanti's Church, Firenze