Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Sérgio Milliet

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alguma notícia do autor:


 

Poesia:


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Christ in the Sepulchre, Guarded by Angels

 

William Blake (British, 1757-1827), The Ancient of Days

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Sérgio Milliet


 

Paris


Crepúsculos longos impressionistas
A luz não cai
escorrega
sobre os patins das nuvens


O Sena foge
levando o gosto da posse.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sérgio Milliet


 

Lisboa


A cidade tomou banho
Água suja do Tejo
A Torre de Belém
no poente decadente
sonha com impossíveis caravelas.
 

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Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Sérgio Milliet


 

Genebra


Longe dos olhos perto do coração
A nostalgia cresce como meu bigode.
 

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sérgio Milliet


 

Fotografia


Esse papel estragado de fotografia
Era branco dentro da caixa.
Bastou expô-lo ao sol para que se queimasse...
Assim os negros quando nascem.
 

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Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Sérgio Milliet


 

Tomasina


O cavalo cambaio dirige a caravana
Embaixo na estação o trem cospe um desafio
Calor calado e abafado
Cinza recente
A rua principal do delegado
Um cabo e um soldado para que o cabo possa ser cabo.
Estafetas viajantes andarilhos e cometas
no capilé da venda democrática
A farmácia dos corifeus coronelandos
A matriz morfética e o padre calabrês
e atrás da vila o catatraz da rápida caudal
Cartomancia dos jornais atrasadotes
O correio onde o guri brinca com as cartas registradas
O gado paciente na estrada de carmim
O cafezal tuberculose do Jangote
Os toros das queimadas
Os olhos das amadas
O ciciar da já saudade da cidade.
 

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sérgio Milliet


 

Oh valsa latejante...


Oh valsa latejante. . .


O poema que eu hei de escrever
será nu e simplesmente rude
O poema que eu hei de escrever será um palavrão.


Dor recalcada
inveja mesquinha
perversidades impotentes
todo o fracasso e a sub-angústia


O espezinhamento usa batom


Mas tudo há de jorrar com ele
numa amarga libertação...


O cacto com seus espinhos
apertado entre as palmas da mão
é menos doloroso


Oh valsa latejante...
 

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Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Sérgio Milliet


 

Aranha enorme de ventre
amarelo...



Aranha enorme de ventre amarelo
sai a lua da teia do arvoredo...
E as estrelas fogem com medo.
 

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sérgio Milliet


 

A dama ausente


Brilhará a lua que não vejo
nas montanhas de minha terra?
Para que amores na serra
Brilhará a lua que não vejo?


Mais um dia longe, tão longe
que nem mesmo a intuição alcança
os gestos da dama ausente.
As sombras enchem os meus olhos
fechados para o presente.
Mais um dia longe tão longe
que nem mesmo o amor alcança
os gestos da dama ausente...
 

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Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Sérgio Milliet


 

Autobiografia inacabada


IV


Vícios de estufa
revanches de sonho
e um dia o milagre do mar.
 

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

 

 

 

 

 

 

 

 

Sérgio Milliet


 

Sérgio Milliet da Costa e Silva (20/09/1898 - 09/11/1966)

Crítico de literatura e arte, poeta, tradutor, nasce em São Paulo. Com a morte da mãe, quando tinha dois anos, é criado pela avó, que em 1912 o envia  para a Suíça, onde cursa Ciências Econômicas e Sociais em Genebra e Berna. Em 1925 retorna a São Paulo e, junto com os escritores Oswald de Andrade (1890 - 1954) e Afonso Schmidt (1890 - 1964), cria a revista Cultura. Em 1933 ajuda na fundação da Escola de Sociologia e Política - ESP, ocupando o cargo de secretário da instituição até 1935 e de professor a partir de 1937. Com o ensaísta Paulo Duarte (1899 - 1984) e o escritor Mário de Andrade (1893 - 1945),  cria, em 1935, o Departamento de Cultura de São Paulo, tornando-se o primeiro diretor da Divisão de Documentação Histórica e Social, onde permanece até 1943, quando é transferido para a Divisão de Bibliotecas. Como crítico colabora com as principais revistas de sua época: Klaxon, Terra Roxa, Revista do Brasil, Estética, A Platéia, Habitat, Quadrum e com os jornais O Tempo, A Manhã, Folha da Manhã  e O Estado de S. Paulo, onde passa a escrever diariamente a partir de 1938. Na década de 1950, atua em diversas frentes: diretor artístico do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP, de 1952 a 1957, responde pela curadoria da 2ª, 3ª e 4ª edições da Bienal Internacional de São Paulo e  da representação brasileira na Bienal de Veneza, em 1956, além de presidir a Associação Brasileira de Críticos de Arte - ABCA. Morre em 1966, em São Paulo.


Fonte: Itaú Cultural

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