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Afonso Lopes de Almeida 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

 

Poesia :


 Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Christ in the Sepulchre, Guarded by Angels

 

William Blake (British, 1757-1827), The Ancient of Days

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

Afonso Lopes de Almeida


 

A alma da tempestade


Filho, marido, pai, — toda a trindade
Do seu amor — o Mar pôde perdê-los...
Noite de vendaval: escuridade,
Relâmpagos, trovões, atros novelos


De nuvens, fragor de ondas, atropelos
De ventos... E ela olhava a imensidade
Encharcadas as roupas e os cabelos,
Na praia, em pé, hirta na tempestade.


E ainda hoje ela uiva as maldições e as pragas,
Louca, gênio, de um ódio ingênuo e mau,
No concerto dos ventos e das vagas.


Misturam-se-lhe os lúgubres lamentos
Na noite negra, ao troar dos raios, ao
Quebrar das ondas, ao gemer dos ventos!
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, Teto da Capela Sistina, detalhe

Afonso Lopes de Almeida



O relógio e o tempo
 

 
“Hei de medir o tempo! Hei de medi-lo
    Eternamente, e dividi-lo,
De segundo em segundo e minuto em minuto,
Hora a hora, ano a ano! Os seus passos, que escuto,
Reproduzo, a contar com o pêndulo, oscilando...
Hei de o Tempo medir! E o tempo acompanhando,
Hei de ir sempre! Hei de ir sempre! Hei de ir sempre!”
Isto disse o relógio e começou a andar.
 


“Tempo! No teu encalço irei eternamente
Em mim te conterei, todo inteiro, infinito!
Tu, que amoldas o bronze, e corróis o granito,
E que apagas o Sol, e que secas o Mar,
Jamais me poderás, Tempo, vencer, a mim!...
Monótono, constante, igual, e indiferente,
Contando os passos teus, pela estrada sem fim.
Hei de ir sempre! Hei de ir sempre! Hei de ir sempre!
 


Não mais dominarás as coisas, que a teu lado
Tu me terás a mim, como uma sombra...
    Sempre igual e pausado,
Meu pêndulo não pára, nem discorda...
E a seguir-Te, através do Espaço ilimitado,
— Que o espaço não me cansa e o tempo não me assombra —
    Por todo o Tempo e todo o Espaço,
    Sem pausa e sem cansaço
Hei de ir sempre! Hei de... ir... sempre! Hei... de... ir... sempre...”
    E como lhe acabasse a corda, O relógio parou
E o Tempo (que o não ouvira), indiferente
    E eterno, eternamente
    Continuou,
Como sempre, para sempre, todo o sempre!

 

   

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

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Aleilton Fonseca

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Plaza de toros

Afonso Lopes de Almeida


 

Vida


Mal nasce a filha, eis morre o pai...
E ouviu, do leite,, o teu ouvido,
Num mesmo som, da que nascia
O flébil, trêmulo vagido,
Bem como o último gemido
Da agonia
Do que morria...
Vida que vem, vida que vai.


Tu eras o traço de união
Daquelas vidas,
Dentro em ti mesma reunidas
No coração.
Eras o Mar. Eles, as ondas:
Uma onda a filha, outra onda o pai.
Onda que vem, onda que vai...


E outras virão, e outras irão,
E umas das outras surgirão...
Na mesma força indefinida,
Túrgidas, grossas e redondas,
Hão de crescer, hão de acabar.


Mas a água é a mesma, é o mesmo o Mar,
É o mesmo o amor, é a mesma a Vida...
A onda que desapareceu
Fez surgir
A que nasceu
Desta, cem outras hão de vir,
Em que mil outras se contenham
E estas farão com que outras venham ...


Onda que vem, onda que vai,
Esta se apruma, aquela cai,
Água do Mar, que agra flui,
Logo reflui...


O pai não viu a filha sua.
E a filha... não verá seu pai.


Vida, enfim, que continua:
Vida que vem... Vida que vai.
 

   

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

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Cussy de Almeida