Afonso Lopes de Almeida
O relógio e o tempo
“Hei de medir o tempo! Hei de medi-lo
Eternamente, e dividi-lo,
De segundo em segundo e minuto em minuto,
Hora a hora, ano a ano! Os seus passos, que escuto,
Reproduzo, a contar com o pêndulo, oscilando...
Hei de o Tempo medir! E o tempo acompanhando,
Hei de ir sempre! Hei de ir sempre! Hei de ir sempre!”
Isto disse o relógio e começou a andar.
“Tempo! No teu encalço irei eternamente
Em mim te conterei, todo inteiro, infinito!
Tu, que amoldas o bronze, e corróis o granito,
E que apagas o Sol, e que secas o Mar,
Jamais me poderás, Tempo, vencer, a mim!...
Monótono, constante, igual, e indiferente,
Contando os passos teus, pela estrada sem fim.
Hei de ir sempre! Hei de ir sempre! Hei de ir sempre!
Não mais dominarás as coisas, que a teu lado
Tu me terás a mim, como uma sombra...
Sempre igual e pausado,
Meu pêndulo não pára, nem discorda...
E a seguir-Te, através do Espaço ilimitado,
— Que o espaço não me cansa e o tempo não me assombra —
Por todo o Tempo e todo o Espaço,
Sem pausa e sem cansaço
Hei de ir sempre! Hei de... ir... sempre! Hei... de... ir...
sempre...”
E como lhe acabasse a corda, O relógio parou
E o Tempo (que o não ouvira), indiferente
E eterno, eternamente
Continuou,
Como sempre, para sempre, todo o sempre! |