Acolher palavras
densas e viver delas são ações que descobri com
Feitosa. Toda a plêiade de dádivas que distingo nos
livros e catálogos enviados e nas respostas são
trocas de desmedido valor para quem vive da palavra.
A ferro em brasa meus
olhos leram e releram Fazendinha de Rodrigo Marques.
Ocorreu na noite que li, um corpo-a-corpo com a
leitura, onde não consegui traçar planos sobre o que
era essa escrita passional. Além disso, não houve
quebra de leitura. Em uma hora e meia, li e reli
para anotar as partes mais sonantes.
Os átomos da
leitura fluíram por galáxias além-mar. A
elasticidade da arte de Marques trouxe alegria e
vida. Naquela noite sonhei com a ilimitada -
A História Sem Fim (Die
Unendliche Geschichte, The Neverending Story)
escrito por
Michael Ende, pensei no deslocamento e na
velocidade da narrativa de um livro que não pode
acabar; sempre haverá uma historia dentro de outra,
talvez visse em Fazendinha uma criação mais que
singular, pois fundametalmente a história deve
continuar.
Marques tem uma escrita
desestabilizadora, porém, além do signos ululantes,
há muitas referências: variações mágicas de
linguagem. Introduz em
verso uma nova direção (in)flexível da realidade.
As palavras inarticuladas, as vozes que se quebram,
algumas fronteiras que se perdem, não sei bem qual
rumo o “pato apatalhoado” irá tomar, sei que devolve
a mim à infância.
Mais que afinar palavras, ler Fazendinha é tecer
entre impossíveis territórios vastos novelos...
Traçar, inventar,
criar disse Deleuze no seu O que é a filosofia?
“O grande ritornelo
ergue-se à medida que nos afastamos de casa, mesmo
que seja para ali voltar, uma vez que ninguém mos
reconhecerá mais quando voltarmos”
Canto o livro que borda instrumentos de
diálogo; reverencio o autor por conceder e
conquistar o ritmo pelo rito de cada fala.
“Qual impossível aprontar?”
O sentido da
pluralidade das máscaras tecidas está na agulha
usada. O ponto cruz da escrita e dos desenhos enlaça
os véus de qualquer criança, tece e destece
demasiadas possibilidades de contar.
Trago Ledo Ivo
para pensar Rodrigo Marques:
Convenção? Transgressão?
Em tua arte poética
Tudo é constelação
Cada palavra, cada uma das palavras que nos permitem
percorrer a aventura do Pato, de Maria, do cachorro
Toti e outros pertencem aos domínios de quem canta.
A voz faz à escrita, portanto para ler Fazendinha:
sente-se e experimente as tonalidades que são
pedidas.
Várzea Grande, Mato Grosso, 11 de julho de 2007.
Afonso Henrique Rodrigues Alves
Marques, Rodrigo. Fazendinha. Fortaleza: Cavalo
Marinho, 2005. 96p.
DELEUZE, G.;
GUATTARI, F. O que é a filosofia?
Trad. Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz.
Rio de Janeiro: Editora 34, 1992. P. 181.