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Afonso Henrique Rodrigues Alves

Escreva para o poeta

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido
 

 

 

 

 

 

 

 

 

Albrecht Dürer, Mãos

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Afonso Alves, poeta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Culpa

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

Herbert Draper (British, 1864-1920), A water baby

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

Afonso Henrique Rodrigues Alves

 

Tento, soluço

um parto difícil

Estancar um rio de sangue

Tranças de cabelos escorrem

Salientes de uma mediação vinda do olhar

A pessoa que canta o cipó se envolve na algaravia

Paratática numa quebra que vem e se repete

Pequenos arbustos pretos-cinza

a segurarem o fio – cacho.


 

Perdi dentro de mim

fio-labirinto-estese

e hoje me sinto-corte;

saudades de só ter linhas e caminhos

pilares da ponte do gozo

a volta da odara no quarto ruidoso

sinto o uno

os pés de sátiro voltam a mexer

e ritmar na cama

 

 

Ágora... Há um momento em que perpasso
As sombras, os sonhos e as formas do indefinido
O vulgo de um olhar, étimo
Teus cabelos num instante desnudam-se
O que seria?
O que seria dito pelo vento dos meus sopros?
O que dos zéfiros das previsões?
Apenas o tempo poderá responder
o que o riacho-oráculo previu pelo átimo
Despedimo-nos desapercebidos,
consolados por toques de tons
que acalmam a ponte.

 


Conhecimento tem sonoridade de diafragma
enche os pulmões e deixa respirar
o ar puro fluído da vida-indigência
numa panóplia libelada de qualquer criação,
ilação capaz de passar pelo momento celérico
longe do fluxo das armadilhas cotidianas
Fausto de minhas vitórias,
instante de fazer turibular minha aura
em tudo que passa por meu envolto querer.

 

 

Lethes
esquecimento necessário
fibra volúvel que voltará de cor-ação
reminiscências que me fazem sentir...
deixam frisson
chegar de arremesso na orelha

 

 

Olhos se comportam como fontes

modelam o querer

viril ponto-cego – idêntica entrada onde o que é – é

assalto que se torna entre pântanos - sugam, fundo, arredios

Leves ventos feitos pela mão nos cabelos da nuca,

Ressabiados no altar,

Repousam como beija-flor

Ilusão rápida de vários pensamentos

êxtase turvo de vinho

saída rápida do eu

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

Afonso Henrique Rodrigues Alves

 


 

 

Acolher palavras densas e viver delas são ações que descobri com Feitosa. Toda a plêiade de dádivas que distingo nos livros e catálogos enviados e nas respostas são trocas de desmedido valor para quem vive da palavra.

A ferro em brasa meus olhos leram e releram Fazendinha de Rodrigo Marques. Ocorreu na noite que li, um corpo-a-corpo com a leitura, onde não consegui traçar planos sobre o que era essa escrita passional. Além disso, não houve quebra de leitura. Em uma hora  e meia, li e reli  para anotar as partes mais sonantes.

Os átomos da leitura fluíram por galáxias além-mar. A elasticidade da arte de Marques trouxe alegria e vida. Naquela noite sonhei com a ilimitada - A História Sem Fim (Die Unendliche Geschichte, The Neverending Story) escrito por Michael Ende, pensei no deslocamento e na velocidade da narrativa de um livro que não pode acabar; sempre haverá uma historia dentro de outra, talvez visse em Fazendinha uma criação mais que singular, pois fundametalmente a história deve continuar.  

            Marques tem uma escrita desestabilizadora, porém, além do signos ululantes, há muitas referências: variações mágicas de linguagem. Introduz em verso uma  nova direção (in)flexível da realidade. As palavras inarticuladas, as vozes que se quebram, algumas fronteiras que se perdem, não sei bem qual rumo o “pato apatalhoado” irá tomar, sei que devolve a mim à infância. Mais que afinar palavras, ler Fazendinha é tecer entre impossíveis territórios vastos novelos...

Traçar, inventar, criar disse Deleuze no seu O que é a filosofia?

“O grande ritornelo ergue-se à medida que nos afastamos de casa, mesmo que seja para ali voltar, uma vez que ninguém mos reconhecerá mais quando voltarmos” [1]

Canto o livro que borda instrumentos de diálogo; reverencio o autor por conceder e conquistar o ritmo pelo rito de cada fala.

 “Qual impossível aprontar?”

 O sentido da pluralidade das máscaras tecidas está na agulha usada. O ponto cruz da escrita e dos desenhos enlaça os véus de qualquer criança, tece e destece demasiadas possibilidades de contar.

Trago Ledo Ivo[2] para pensar Rodrigo Marques:

Convenção? Transgressão?

Em tua arte poética

Tudo é constelação

 

Cada palavra, cada uma das palavras que nos permitem percorrer a aventura do Pato, de Maria, do cachorro Toti e outros pertencem aos domínios de quem canta. A voz faz à escrita, portanto para ler Fazendinha: sente-se e experimente as tonalidades que são pedidas.


 

Várzea Grande, Mato Grosso, 11 de julho de 2007.

Afonso Henrique Rodrigues Alves

 

 

Marques, Rodrigo. Fazendinha. Fortaleza: Cavalo Marinho, 2005. 96p.


 

[1] DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? Trad. Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992. P. 181.

[2]Ivo, Ledo. Confissões de Um Poeta. São Paulo: DIFEL; Brasília: INL, 1979. Pg. 20.


 

 

   
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1.5.2007