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José Albano 

1882-1923

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

José Albano

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Admiration Maternelle

 

Ticiano, Salomé

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

José Albano


 

Biografia
 

Poeta singular, no dizer de Manuel Bandeira, "porque inteiramente fora dos quadros da poesia brasileira", José de Abreu Albano nasceu em Fortaleza no dia 12 de abril de 1882 e estudou no Seminário da cidade entre 1892 e 1893. Mas logo o pai o mandou estudar na Europa, onde requentou os melhores colégios, na Inglaterra (Stonyhurst College), na Áustria (Colégio Stella Matutina) e na França (Colégio dos Irmãos da Doutrina Cristã).

Dessa formação algo "eclesiástica" duas ilações podem ser tomadas: uma, a linhagem de sua poesia mística; a outra, a sua predileção pelo passado, pois achava que a perfeição artística estava lá. Não lia os escritores de seu tempo e a sua obra, de modo geral, é de gosto clássico, arcaizante, camoniana. Assim, fugia ao esquema, algo repetitivo do Romantismo/Parnasianismo/Simbolismo, fuga para o passado, pois "propositadamente ele não quis ultrapassar a Renascença", como diz José Sombra.

Bem jovem ainda, José Albano está de volta à terra natal, quando começa a publicar seus poemas no jornal A República e estuda no Liceu do Ceará. Em 1902 vai para o Rio de Janeiro, com a intenção de estudar Direito, mas interrompe o curso e volta ao Ceará, na condição de professor de latim do Liceu. Europa, Ceará e Rio de janeiro marcarão as várias etapas da vida do poeta.

Depois de trabalhar no Ministério das Relações Exteriores, José Albano, já casado, vai para o consulado brasileiro em Londres. Mas abandona a carreira pública para viajar pelo mundo, enquanto continua a produzir seus poemas de feição clássica. Poliglota, escreve em francês, inglês e alemão, mas, como lembra Manuel Bandeira, "tão versado em idiomas estrangeiros, prezava como ninguém a pureza do vernáculo".

Inquieto, "um doido com intervalos de gênio", como disse Gondin da Fonseca, José Albano acaba abalado mentalmente, mas se recupera após três anos de tratamento no Brasil e volta à Europa. Alguns de seus poemas são enfeixados, pelo próprio autor, em "plaquetes requintadas", dificilmente encontráveis hoje em alguma biblioteca.

Deve-se a Manuel Bandeira e a Braga Montenegro o estudo e a divulgação de suas Rimas. Manuel Bandeira, como inúmeros críticos da obra de José Albano, ficou indeciso quanto à classificação estética do poeta, naquele começo do século com escolas que se entrecruzavam e influenciavam lealmente os poetas.

Como o Parnasianismo tinha uma feição algo clássica, tal constatação levou alguns estudiosos a incluírem José Albano nesta Escola. Manuel Bandeira, depois de julgá-lo fora "dos quadros da poesia brasileira", levanta a questão: "Todavia, alguma coisa em sua poesia soa à corrente poética do tempo em que ele viveu. Esse tempo era o simbolismo. Pela espiritualidade de sua inspiração, pela musicalidade de sua forma, pela sensibilidade por assim dizer outonal de seus versos, é dentro do quadro simbolista que melhor cabe a sua singular figura.

José Albano morreu na França, em Montauban, às margens do rio Tarn, no dia 11 de julho de 1923, e foi sepultado no pequeno cemitério da cidade.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

José Albano


 

Soneto


Poeta fui e do áspero destino
Senti bem cedo a mão pesada e dura.
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.


Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana, mas. tão pouco dura;
E ainda choro o rigor da sorte escura,
Se nas dores passadas imagino.


Porém, como me agora vejo isento
Dos sonhos que sonhava noite e dia,
E só com saudades me atormento;


Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento
Senão de ter cantado o que sofria.
 

 

 

Albrecht Dürer, Head of an apostle looking upward

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Mario Cezar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

 

 

 

 

José Albano


 

Prece


Bom Jesus, amador das almas puras
Bom Jesus, amador das almas mansas,
De ti vêm as serenas esperanças,
De ti vêm as angélicas doçuras.
 

Em toda parte vejo que procuras
O pecador ingrato e não descansas,
Para lhe dar as bem-aventuranças
Que os espíritos gozam nas alturas.
 

A mim, pois, que de mágoa desatino
E, noite e dia, em lágrimas me banho,
Vem abrandar o meu cruel destino,
 

E terminado este degredo estranho,
Tem compaixão de mim, pastor divino,
Que não falte uma ovelha ao teu rebanho!

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

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Braulio Tavares

 

 

11/03/2005