Grande Soares,
Só cheguei hoje
pela manhã a Botucatu. Como quarta-feira foi feriado municipal
aqui (aniversário da cidade), as aulas foram suspensas de quarta a
sexta, então resolvi ficar a semana toda em Piracicaba com a
família.
Agora há pouco
vi que tinha uma mensagem sua, mas nem cheguei a ler e o
computador deu pane e perdi todas as que me chegaram durante a
semana, só as antigas ficaram. Mande-me de novo, se ainda tive-la
guardado aí.
Você colocou o
pacote no sedex sexta-feira, no sábado de manhã já estava aqui, de
modo que levei os livros comigo para Piracicaba.
Eu e meu pai
lemos o Psi, ele de dia e eu de noite. Que Deus me ilumine! Que
trabalho, poeta! Ficamos maravilhados com seu lirismo e a
facilidade que você tem de embutir a natureza externa nos poemas e
temperar com o sumo da alma. Gostaria de saber fazer isso, mas me
falta chão, contato mais íntimo com o campo e sua gente.
O Manoel
de Barros tinha chamado a atenção para o fato de você ser
econômico nos adjetivos. Meu pai e eu debatemos sobre isso. Nunca
tínhamos pensado na possibilidade de se obter tanto lirismo com
uma poética assim, enxuta. Sua versatilidade foi outro ponto: como
pode alguém que sabe o que é um mocó, uma cobra num lajedo,
recende à semente torrada de imburana e já viu pelagra de perto,
escrever algo como Femina? Isso surpreende, é você e o Chico
Buarque. Você deve é ter muita sorte com as fêmeas.
Réquiem ao sol
da tarde precisa ser filmado, sem som e em câmera lenta. Psi é uma
obra à parte, completa, arrebatadora. E o seu vocabulário então,
fico devendo um adjetivo para ele. Só sei que ganhei muita
cultura com seu livro.
Seus leitores
que conhecem a música de Elomar- o sábio cantador e violeiro de
Vitória da Conquista e do infinito- devem ter associado alguns de
seus poemas com os acordes dele. Vocês dois conseguem fazer magia
do pó.
Em resumo e
sem bajulação, só fato: Psi é um dos livros que mais me tocaram e
enriqueceram. Não vai ficar espremido na estante entre outros. Vai
pra mesinha da sala de visitas, pra que todos saibam que não sou
mais um, pra que ninguém arrebite os beiços como os jumentos novos
e se indague- qual é a desse sujeito?, e pra benzer minha casa
com o cheiro do rapé-da-imburana que você mesmo torrou e moeu.
Soares, a foto
na capa posterior mostra que você era um menino bem bonito. O que
houve no trajeto ? No meu caso não sei o que houve, mas pelo menos
você ainda tem cabelos.
Que beleza o
livro do Patativa! Grande documento! Deus lhe pague pelos
presentes. Agora vou correr pro trabalho.
Se quiser,
pode publicar meus comentários (só tire as partes pessoais e fique
livre pra editar à tua maneira). Afinal de contas, digo e não peço
segredo.
Um grande
abraço,
Chico
Referênciados: