Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

Luís Vaz de Camões


 



Sonetos Apócrifos


Índice

 

A

Á la margen del Tajo en claro dia
A peregrinação de um pensamento
A perfeição, a graça, o doce jeito
Acho-me da Fortuna salteado
Agora toma a espada, agora a pena
Al pie de una verde y alta enzina
Alegres campos, verdes, deleitosos
Amor mil vezes já me tem mostrado
Amor, amor, que fieres al coitado
Amor, que em sonhos vãos do pensamento
Aos homens um só Homem pôs espanto
Apartamentos tristes, sem ventura
Aponta a bela Aurora, luz primeira
Aqui de longos danos breve história
Ar, que de meus suspiros vejo cheio
Ausente dessa vista pura e bela
Ay, quien dará a mis ojos una fuente
Ayudame, Señora, a hacer venganza


B

Brandas águas do Tejo que, passando


C

Campo, nas Sirtes deste mar da vida
Cançada y ronca boz por que bolando
Claros olhos azuis, olhos fermosos
Coitado, que em um tempo choro e rio
Com o generoso rostro alanceado
Com o tempo, o prado seco reverdece
Como louvarei eu, Serafim santo
Con razon os vays, aguas, fatigando
Contas, que traz Amor com meus cuidados
Contentamentos meus, que já passastes
Cuanto tiempo ha que lloro un dia triste


D

D'amores de üa ínclita donzela
De Amor escrevo, de Amor trato e vivo
De Babel sobre os rios nos sentámos
De cá, donde somente o imaginar-vos
De Luís de Camões à morte do bisconde de Lima. D. B.
De mil suspeitas vãs se me levantam
De piedra, de metal, de cosa dura
De tantas perfeições a Natureza
Deixa, Apolo, o correr tão apressado
Depois de haver chorado os meus tormentos
Depois de tantos dias mal gastados
Ditosa pena, como a mão que a guia
Diversos casos, vários pensamentos
Divina companhia que nos prados
Do corpo estava já quase forçada
Do están los claros ojos que colgada
Dulces engaños de mis ojos tristes


E

É o gozado bem em água escrito
Em Babilónia, sobre os rios, quando
Em üa lapa toda tenebrosa
En lingua gallega
Espanta crecer tanto o crocodilo
Esses cabelos louros e escolhidos
Este terrestre caos com seus vapores
Eu me aparto de vós, Ninfas do Tejo
Eu não canto, mas choro e vai chorando


F

Fermosa Beatriz, tendes tais jeitos
Fermosa mão que o coração me aperta
Fermoso Tejo meu, quão diferente
Fermosos olhos, que cuidado dais
Fermosura do céu a nós decida


G

Gostos falsos de amor, gostos fingidos


H

Horas breves de meu contentamento


I

Ilustre Gracia, nombre de una moza
Imagens vãs me imprime a fantesia


J

Já cantei, já chorei a dura guerra
Já do Mondego as águas aparecem
Já me fundei em vãos contentamentos
Já não fere o Amor com arco forte
Já tempo foi que meus olhos faziam


L

Las peñas retumbavan al gemido
Lembranças de meu bem, doces lembranças
Lembranças tristes, para que gastais tempo
Levantai, minhas Tágides, a frente
Los ojos que con blando movimiento
Los que bivis subjectos a la estrella


M

Mal que de tempo em tempo vás crecendo
Mi Gusto y tu Beldad se desposaron
Mil veces entre sueños tu figura
Mil vezes determino não vos ver
Mil vezes se move meu pensamento


N

Na margem de um ribeiro, que fendia
Não há louvor que arribe à menor parte
Nas cidades, nos bosques, nas florestas
No bastava que Amor puro y ardiente
No regaço da Mãe Amor estava
Novos casos de Amor, novos enganos
Nunca em amor danou o atrevimento


O

Ó arma unicamente só triunfante
O capitão romano esclarecido
O cesse ya, Señor, tu dura mano!
Ó claras águas deste blando rio
O dia, hora ou o último momento
Ó fortuna cruel, ó dura sorte
Ó rigorosa ausência receada
O tempo está vingado à custa minha
Oh! quanto melhor é o supremo dia
Oh, quem dizer pudesse quanto sente
Olhos de cristal puro que vertendo
Olhos, adonde o Céu com luz mais pura
Ondados fios de ouro, onde enlaçado
Ondas que por el mundo caminando
Onde acharei lugar tão apartado
Onde porei meus olhos que não veja
Os meus alegres, venturosos dias
Os olhos onde o casto Amor ardia


P

Perder-me assi em vosso esquecimento
Pois torna por seu rei, e juntamente
Por gloria tuve un tiempo el ser perdido
Por que a Terra no Céu agasalhasse
Porque me faz Amor inda acá torto?
Prometi já mil vezes de emendar-me


Q

Quando descansareis, olhos cansados
Quando do raro esforço que mostravas
Quando os olhos emprego no passado
Quantas penas, Amor, quantos cuidados
Quanto tempo, olhos meus, com tal lamento
Quão bem-aventurado me achara
Quão cedo te roubou a Morte dura
Que doudo pensamento é o que sigo?
Que esperais, esperança? Desespero
Que estila a Árvore sacra? – Um licor santo
Que fiz, Amor, que tão mal me tratas?
Quem busca no amor contentamento


R

Rebuelvo en la incessable fantasia


S

Saudades me atormentam cruelmente
Se algüa hora essa vista mais suave
Se ao que te quero desses tanta fé
Se da célebre Laura a fermosura
Se el triste corazon que siempre llora
Se grão glória me vem de olhar-te
Se para mi tivera que algum dia
Se quando vos perdi, minha esperança
Se, como em tudo o mais, fostes perfeita
Se, no que tenho dito, vos ofendo
Senhora minha, se de pura enveja
Senhora minha, se eu de vós ausente
Si el fuego, que me enciende, consumido
Sobre os rios do Reino escuro, quando
Sobre um olmo que al cielo parecia
Soneto contra o Monteiro-mor do Reino feito por Camões
Sospechas que en mi triste fantesia


T

Tanto se foram, Ninfa, costumando
Têm feito os olhos neste apartamento
Transunto sou, Senhora, neste engano
Tu que descanso buscas com cuidado


U

Um firme coração posto em ventura


V

Ventana venturosa do amañece
Vi queixosos de Amor mil namorados
Vós só podeis, Sagrado Evangelista
Vós, que escutais em rimas derramado



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Luís Vaz de Camões


 



Á la margen del Tajo en claro dia


Á la margen del Tajo en claro dia,
con rayado marfil peinando estaba
Natercia sus cabellos, y quitaba
con sus ojos la luz al sol, que ardia.

Soliso que, qual Clicie, la seguia,
(lejos de si, mas cerca della estaba)
al son de su zampoña celebraba
la causa de su ardor, y así decia:

«Si tantas, como tu tienes cabellos,
tuviera vidas yo, me las llevaras,
colgada cada qual del uno dellos.

De no tenerlas tu me consolaras,
si tantas veces mil, como son ellos,
en ellos la que tengo me enredaras».


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A peregrinação de um pensamento


A peregrinação de um pensamento,
que dos males fez hábito e costume,
tanto da triste vida me consume,
quanto crece na causa do tormento.

Leva a dor de vencida ao sofrimento;
mas a alma está, de entregue, tão sem lume
que, elevada no bem que haver presume,
não faz caso do mal que está de assento.

De longe receei, se me valera,
o perigo que tanto à porta vejo,
quando não acho em mi cousa segura

Mas já conheço (oh, nunca o conhecera!)
que entendimentos presos do desejo
não têm remédio, mais que o da ventura.
 


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A perfeição, a graça, o doce jeito


A perfeição, a graça, o doce jeito,
A Primavera cheia de frescura
que sempre em vós florece, a que a ventura
e a razão entregaram este peito;

aquele cristalino e puro aspeito,
que em si compreende toda a fermosura,
o resplandor dos olhos e a brandura,
donde Amor a ninguém quis ter respeito;

s'isto, que em vós se vê, ver desejais,
como digno de ver-se claramente.
por muito que de Amor vos isentais,

traduzido o vereis tão fielmente
no meio deste espírito onde estais
que, vendo-vos, sintais o que ele sente.



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Acho-me da Fortuna salteado


Acho-me da Fortuna salteado;
o tempo vai fugindo pressuroso,
deixando-me da vida duvidoso
e cada instante mais desesperado.

Trocou-se o meu descuido em tal cuidado
que, donde a glória é mais, é mais penoso;
nem vivo, de perder-me, receoso;
nem, de poder ganhar-me, confiado.

Qualquer ave nos montes mais agrestes,
qualquer fera na cova repousando,
tem horas de alegria; eu todas tristes.

Vós, saudosos olhos, que o quisestes,
pois com tormento amor me estão pagando,
chorai, como o que vedes, o que vistes.



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Agora toma a espada, agora a pena


Agora toma a espada, agora a pena,
Estácio nosso, em ambas celebrado;
sendo ou no salso mar de Marte amado,
ou na água amante da Camena.

Cisne sonoro por ribeira amena
de mi, para cantar-te, é cobiçado;
porque não podes tu ser bem cantado
de ruda frauta nem de a agreste avena.

Se eu, que a pena tomei, tomei a espada
para poder jogar, licença tenho
desta alta influição de dous planetas.

Com üa e outra luz, deles lograda,
tu com pujante braço, ardente engenho,
serás Faró a soldados e a poetas.


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Al pie de una verde y alta enzina


Al pie de una verde y alta enzina,
Corydon su zampoña esta tañendo
a la sombra, de la yedra que, torciendo
el passo, por los arboles camina.

Cantava los amores de la niña
Amarilis, que el amor le esta influyendo;
las aves por los ramos van corriendo,
al pie corre una fuente cristalina.

A el se allega Titero perdido
guiando su rabanho macilento:
fue este amigo suyo muy querido.

Cantavale su daño y su tormento
ni platica agena gusto al dessabrido,
ni el dolor haze triste al que es contento.



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Alegres campos, verdes, deleitosos


Alegres campos, verdes, deleitosos,
suaves me serão vossas boninas
enquanto forem vistos das mininas
dos olhos de Inês bela tão formosos.

Dos meus, que vos serão sempre envejosos
por não verem estrelas tão divinas,
sereis regados de águas peregrinas,
soprados de suspiros amorosos.

E vós, douradas flores, por ventura
se Inês quiser fazer de meus amores
experiências na folha derradeira,

mostrai-lhe, para ver minha fé pura,
o bem que sempre quis, fermosas flores,
que então não sentirei que mal me queira.



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Amor mil vezes já me tem mostrado


Amor mil vezes já me tem mostrado
o ser-me vida o mesmo fogo ardente,
como quem queima um dedo e facilmente
no mesmo fogo o torna a ver curado.

Meu mal, tristeza, dor, pena e cuidado,
o bem, a vida alegre, ser contente
naquela vista pura e excelente
pôs, por essa maneira, o tempo e fado.

Que veja mil mudanças num momento,
que cresça nelas todas sempre a dor
não sei, que os meus castelos são de vento!

O tempo, que vos mostra ser senhor,
por mais que contra mi se mostre isento,
há-de tornar por tempo tudo amor.



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Amor, amor, que fieres al coitado


Amor, amor, que fieres al coitado
que por amor te serve há tantos anos,
sostiendo el tu servicio con enganos,
pues al fin fin le dexas no esperado.

Con solo su dolor, con su cuidado,
le pagas el servicio, y con engaños,
passando por ti casos tan estraños
qual otro nunca más huvo pasado.

Quien piensa que es Diós, quien está loco,
quien cre que eres justo yo no lo creo,
pues al que mejor sirve das más poco.

Piensa el que cre en ti que devaneo;
yo juzgo lo que veo y lo que toco,
y aun juzgo lo que toco y no lo creo.
 


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Amor, que em sonhos vãos do pensamento


Amor, que em sonhos vãos do pensamento
paga o zelo maior de seu cuidado,
em toda condição, em todo estado,
tributário me fez de seu cuidado.

Eu sirvo, eu canso, e o grão merecimento
de quanto tenho a Amor sacrificado,
nas mãos da ingratidão despedaçado
por presa vai do eterno esquecimento.

Mas quando muito, enfim, creça o perigo
a que perpetuamente me condena
Amor, que amor não é, mas inimigo.

Tenho um grande descanso em minha pena:
que a glória do querer, que tanto sigo,
não pode ser cos males mais pequena.



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Aos homens um só Homem pôs espanto,


Aos homens um só Homem pôs espanto,
e o pôs a toda a humana natureza,
que de homem teve o ser, de anjo a pureza,
porque antes que nacesse era já santo.

Profeta foi na Mãe e, enfim, foi tanto
que entre os nacidos houve a mor alteza;
que a luz, sem a ver, viu a Grandeza,
tendo por trompa o Verbo Sacrossanto.

Aquela voz foi ele, sonorosa,
no côncavo dos orbes ressonante,
e que a Carne inculpável bautizou.

Quem do mor Pai ouviu a voz amante;
quem a sutil pregunta, industriosa,
com sincera reposta sossegou.



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Apartamentos tristes, sem ventura


Apartamentos tristes, sem ventura,
com doces sentimentos do passado,
me trazem há tanto tempo atormentado
que a morte me será vida segura.

Um bem é para mi falsa pintura,
o descuido lembrança do cuidado,
e ando de meu tormento tão cansado
que pouco durarei, se muito dura.

Já não vale esforçar minha fraqueza,
porque o mesmo remédio me desvia
que noutros soe abrandar o acidente.

Assi que já me deixo à natureza,
pois, se de ver o mal se desconfia,
rezão é desconfie quem no sente.
 


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Aponta a bela Aurora, luz primeira


Aponta a bela Aurora, luz primeira,
que a grão nova nos deu do claro dia.
Vesti-vos, corações, já de alegria,
e recebei da vida a Mensageira.

Da humana redenção nace a terceira.
Alegra-te, divina monarquia;
da terra terás sempre a companhia,
do Céu verás também a nossa feira.

De tal obra se espanta a Natureza,
confuso fica de temor o inferno,
vendo a que nace isenta da defesa.

Lei geral era posta desde eterno.
Mas o Senhor da lei, toda limpeza,
para o sacrário seu guardou materno.



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Aqui de longos danos breve história


Aqui de longos danos breve história
verão os que se jactam de amadores;
reparo pode ser das suas dores
não apartar as minhas da memória.

Escrevi, não por fama nem por glória,
de que outros versos são merecedores;
mas por mostrar seus triunfos, seus rigores,
a quem de mi logrou tanta vitória.

Crecendo foi a dor co tempo tanto
que em número me fez alheio de arte
dizer do cego Amor que me venceu.

Se ao canto dei a voz, dei a alma ao pranto;
e, dando a pena à mão, esta só parte
de minhas tristes penas escreveu.
 


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Ar, que de meus suspiros vejo cheio


Ar, que de meus suspiros vejo cheio;
terra, cansada já com meu tormento;
água, que com mil lágrimas sustento;
fogo, que mais acendo no meu seio:

em paz estais em mim; e assi o creio,
sem esse ser o vosso próprio intento,
pois, em dor onde falta o sofrimento,
a vida se sustém por vosso meio.

Ai imiga Fortuna! Ai vingativo
Amor! A que discursos por vós venho,
sem nunca vos mover com minha mágoa!

Se me quereis matar, para que vivo?
E como vivo, se contrários tenho
fogo, Fortuna, Amor, ar, terra e água?



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Ausente dessa vista pura e bela


Ausente dessa vista pura e bela,
que dantes viver ledo me fazia,
vivo agora tão farto de agonia
quanto, vendo-vos, fui já falto dela.

Chamo dura e cruel a dura estrela
que me aparta de vós, minha alegria,
mil vezes maldizendo a hora e dia
que foi duro princípio a tal querela.

E tanta pena passo nesta ausência,
a que o cruel destino me condena
(por que sofra üa dor ao mundo rara),

que já vencer deixara a paciência
com minha vida, à força desta pena,
se a vida para ver-vos não guardara.



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Ay, quien dará a mis ojos una fuente


Ay, quien dará a mis ojos una fuente
de lagrirnas que manen noche y dia!
Respirara siquiera la Alma mia,
llorando lo passado y lo presente.

Quien me diera apartado de la gente,
de mi dolor siguiendo la porfia,
con la triste memoria y fantasia
del bien por quien mal tanto assi se siente!

Quien me dará palabras con que iguale
el duro agrabio que el Amor me ha hecho,
donde tan poco el sufrimiento vale?

Quien me abrirá profundamente el pecho,
do está escrito el secreto que no sale
con tanto dolor mio a mi despecho?
 


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Ayudame, Señora, a hacer venganza


Ayudame, Señora, a hacer venganza
de tal selvatiquez, de tal rudeza;
pues de mi poquedad, de mi bajeza,
osado a ti elevaba la esperanza.

A essa tu perfecion, que no se alcança,
á esas sublimes cumbres de belleza,
donde una vez llegó naturaleza,
mas de volver perdió üa confiança.

Aquello que en ti miro contemplando,
(que apenas contemplarlo me consiente)
conternplandolo más, menos lo espero.

Si gloria de mi pena en ti se siente,
derrama en mi tus iras, desamando,
que al ofenderme más yo más te quiero.


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Tiziano, Mulher ao espelho

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

 

 

 

29/03/2006