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Cristiane Mota Moraes 

cmmoraes@uai.com.br

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia da autora:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922),  A Classical Beauty

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Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Slave market

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Cristiane Mota Moraes


 

Contando


Desconfio
Que o que conto...
Não se desconta.
Que o que desando
Só desaponta.

Mas um ponto:
Com meu pé torto
Meu olhar tonto
No caminho reto
Me esforço, ando
E ainda tropeço.

Se penetro becos,
Casebres,
Muros sem teto
É que busco vias
De melhor acesso.
Meu caminho é longo
Dá voltas, complexo.
Expõe-me a feridas,
A beijos, a berros.
Usa sete vidas
Dá-me sete cedros.
 

 

Caminho... o caminho.
Chorando.
Rindo.
Medindo o que é belo.
Amando o que é lindo.
E tu,
Não sei se devias
Dizer-me o que é certo.
Por certo
Tomei as medidas
Das marcas que fiz
De andanças perdidas
No próprio deserto.

Arranho.
Desisto.
Entrego.
Esqueço
Depois canto. Pois quem canta...
Estranho...
Vê, ponta a ponta
O novo começo
O retorno à partida,
Seu peso, seu preço.

Na história da vida
Explodo e floresço.
No fim o que conta
Na conta do meio
É o mais puro do apreço
No centro do peito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rubens, Julgamento de Paris

 

 

 

Cristiane Mota Moraes


 

Contracena


Que veio primeiro
- o vento?
Ou a onda do mar?
Ou de tanto contato
Na superfície do oceano
Dele enausea-se o ar?

Qual estado,
Qual deleite
Lambe areia
e... ternamente.

Molha sempre
A areia seca
Busca a terra
E molha os dentes

Mas não.
O que do mar enjoa
Enjoa se não está.
Se veleja e não ressoa
no movimento do mar.

Maremoto...
Mar tardio...
Mar é mar.
Mar difícil
Marear.

Só de te pensar
Vagueiam-me os olhos
Inebriam meus passos
Perco-me do solo
Escapo por lá

Maresia
Ah, mar, Pessoa
Sublime, perfeita
Poesia

 

 

 

Leonardo da Vinci, Embrião

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Bruno Kambel

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cristiane Mota Moraes


 

Da matéria do olhar


De que matéria?
Por que tão verde?

Da matéria das sombras,
Talvez...
Que o olhar não penetra
Com tanta luz,
Lucidez.

A minha morre
Afoga-se, se seca.

Quem foi que lhe fez?
Formigas não a comem
Nem picam meus pés...

Da minha
Tirei pedras... e sapos...
E ervas daninhas.
Andei sem sapatos
Com passos cuidados
E ainda definha!

De que matéria?
Por que tão verde?

Mil contos!
Pago mil contos
Apenas por tocá-la
Sentir a matéria
que bela e farta!
Veludo? Paina... perfume,
Vento! Tinta fresca... luz.
Oh duvida amarga.


Pudesse, lhe jogava sal!
Olharia sua cor
Do verde ao amarelo à palha.
Depois disso,
Nem semente, nem grama,
Nem flor.
à minha tal e qual,
Perdidamente falha.

Mas então, onde seria?
Não mais na minha casa,
Também não na dela.

Por que tão verde?
De que matéria?

Dois mil contos!!
Por uma muda.
Num canteiro só prá ela
Num canto de meu jardim
Digo-lhe,
Ela me escuta
Digo o quanto sua cor é bela
O quanto importa prá mim
Mas seu verde ao chão se espalha
À volta transforma
E me revela
Que toda sua matéria
É de meus olhos que vem, enfim!

 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), girl

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Cristiane Mota Moraes


 

Diári...a...mente


De manhã vou à escola
Desejo a brincadeira
Mas em vez disso,
Muita cadeira...
E livros...
E criar memória.

No almoço, correria
Comer bem rápido,
‘que senão esfria.
Sem conversa
Nem história.

À tarde, meu dever.
Lembrar as somas,
As dívidas,
Sem deixar um só detalhe
E dá-lhe memória prá crescer.

Daí, um pouco de TV.
Cenas rápidas
Histórias rápidas
Propagandas rápidas
Ganhos rápidos
Sonhos fugazes
Só meu cérebro, meio dormente, anda lento
E meu corpo - este, coitado,
nem anda.

À noite, janta.
Higiene, banho, sono...
Para recuperar a mente
Cansada.
Só não entendo uma coisa:
Se a memória é tão importante,
Por que não me recordo de nada? 09/11/03
 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion

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Álvaro Pecheco

 

 

 

14.06.2005