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Fabiano Calixto

Thomas Colle,  The Return, 1837
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:

 

 


Ensaio & resenha:


Uma notícia do autor: 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

Sandro Botticelli, Saint Augustine, Ognissanti's Church, Firenze

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), Girl, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fabiano Calixto

 

 

O Estado de São Paulo, Brasil

2.11.2008

 

Obra corriqueira

e

construída à sombra dos grandes autores

 

Walmir Ayala dá amostra de poemas bastante tradicionais do autor gaúcho que foram selecionados por Marco Lucchesi. A chamada Geração de 45, equivocadamente classificada por críticos ingênuos de "terceira geração modernista", coisa que está muito longe de ser, foi, na verdade, uma tentativa de chamar a atenção para um grupo de poetas sem força, que buscava naquele momento, sob a máscara de um esteticismo estéril, redefinir o que era ou não poesia. Demonstrando, além de nulidade criativa, grande pedantismo. Acertadamente, o crítico José Guilherme Merquior, em ensaio chamado Falência da Poesia ou a Geração Enganada e Enganosa: Os Poetas de 45, chama esse grupo de "degeneração de 45", tal o grau de atraso e de pobreza estética que se verifica na obra desses autores. É como se as conquistas dos modernistas da década de 20 fossem jogadas no lixo em troca de um neoparnasianismo capenga e entediante. A terceira geração modernista viria sim nos anos 50 com o aparecimento da poesia concreta - brutal avanço para o pensamento poético cultural brasileiro -, trazendo renovação criativa e teórica.

É bom salientar que nomes de força de nossa literatura são dessa geração. O caso mais grave é o de João Cabral de Melo Neto, que só poderia constar na Geração de 45 por uma perspectiva cronológica, já que seus primeiros livros datam de 1942 (Pedra do Sono) e 1945 (O Engenheiro). Do ponto de vista estético, porém, o poeta pernambucano nada tem a ver com a estética retrógrada dos autores enquadrados em tal escola. Inimaginável e impensável colocar lado a lado a densa e incomparável obra de João Cabral e a de Lêdo Ivo, por exemplo.

Há outros nomes geracionalmente incluídos, como Affonso Ávila, José Paulo Paes e Hilda Hilst, que em sua trajetória ulterior pode-se notar o quão fora daquele antiquário se enquadram - leia-se obras como Código de Minas, de Ávila; Anatomias de Paes; ou Fluxo-Floema de Hilst. Do que se escreveu dentro dos ideais da Geração de 45 nada se salva.

O escritor gaúcho Walmir Ayala se enquadra dentro da estética de 45. E chega agora às livrarias, dentro da coleção Melhores Poemas, uma amostra de sua obra, selecionada pelo professor Marco Lucchesi.

Se por um lado Ayala tem noção do chão onde pisa (o que por si só não basta), por outro, suas composições nada têm a acrescentar à poesia brasileira. Extremamente tradicional, esta produção não se permite saltos imaginativos, não saindo do corriqueiro ("Quanto tempo, meu Deus, para entender-te, / ainda me resta? E quando / eu tocarei o risco absoluto / do teu silêncio?"), da sombra dos grandes autores anteriores (Drummond, principalmente). Isso faz com que sua criação seja apenas aborrecimento, já que o leitor preferirá ler a fonte.

A poesia cobra preço alto de seus renovadores, de seus grandes nomes - Sousândrade, autor de obra magistral e ainda incompreendida, que o diga. Entre tantas obras, claro que poucas ficarão. Recolocar obras no mercado é de suma importância. Porém, uma carência editorial açoita autores de grande força como Pedro Kilkerry, Marcelo Gama ou o próprio Sousândrade - ainda não temos uma poesia reunida de Paulo Leminski! Outros autores, de menor importância, mas de fácil apelo, têm sempre suas obras relançadas. De alguma forma, isso nos leva a questionar os materiais com os quais estamos construindo nossa cultura. Será que insistiremos no trivial? Tudo indica que sim. E a conclusão a que chegamos é que a nossa cultura é frágil. E que, lembrando Drummond, nosso "tempo é de fezes, maus poemas, alucinações e espera".

 

          

Fabiano Calixto, poeta e ensaísta, é autor, entre outros, de Sangüínea

Walmir Ayala - Melhores Poemas
Marco Lucchesi (org.)
Global
277 págs., R$ 39

Direto para a page de Walmir Ayala

 

 

Adriana Zapparoli

 

Ana Guimarães

 

 

 

 

8.11.2008