Francisco Ayrton de Aguiar
Carta ao Soares:
Prezado poeta Soares
Feitosa,
Quero te informar
com grande atraso (perdão, houve motivos justos: estava em
recuperação de acidente).
- Recebi, de tua parte, os seguintes cadernos:
- Edições Cururu:
- Estudos & Catálogos – Mãos ;
- Da Caixa Postal aos Corrós do Açude: Uma visita ao poeta Ascendino
Leite;
- Da maldição das estantes ou Da Biblioteca “Cururu”.
Agradeço a remessa e
o convite de engajamento no teu projeto. É claro que aceito dentro
de minhas modestas possibilidades de escriba de última hora.
Por conta, te
remeti, há dias, via postal, exemplares do meu modesto livro O
ESCRIBA SONHADOR, para compor a originalíssima “Biblioteca Cururu”,
cujo lema é verdadeiramente revolucionário: “Não guarde , não venda,
circule-o”.
Poeta, li, reli e
treli os teus cadernos acima.... Não te conheço pessoalmente, mas
pelas leituras confesso que te achei esquisito, esdrúxulo....
saborosamente diferente dos estilos que a gente vê e lê mundo
afora..!!! Quem já se viu misturar boi, ferro de gado, com mulher,
catálogo, amor, obras de arte... e outros ingredientes
heterogêneos...??? Catálogo de animais, de leite, catálogo de galos,
manhãs e auroras. E os ferros de marcar bois ??? E serifas... Pois
não é que a fonte “times new roman” imita os sinais dos ferros de
marcar gado... que misturas desiguais... é uma salada de
ingredientes exóticos !!! É o mesmo que cozinhar caviar com angu de
milho...e o bom e interessante é que ficou gostoso de se ler e
saber.
Sou inteiramente
ignorante em matéria de crítica literária, mas, usando os “ismos”
das classificações habituais, ouso considerar teu estilo
“inclassificável”, tua literatura uma miscelânea de surrealismo
caboclo ou “caboclismo” surrealista temperado com concretismo “leitista”,
curtido, tão deliciosamente, com queijo e coalhada, nos currais do
sertão da Vila da Telha.
Poeta, o texto que
dizes ser o prefácio do livro “Recordel”, de outro poeta, Virgílio
Maia, despertou em mim o desejo de conhecer tal obra: procurei na
Livraria Siciliano, do Iguatemi, mas não estava a venda. Será que a
“Biblioteca Cururu” não poderia me fornecer um exemplar para eu
tomar conhecimento da obra, dentro, é óbvio, dos princípios que
regem aquela Biblioteca como o nome de batráquio: “Não guarde, não
venda, circule-o”. Se mandar pode cobrar o custo do livro e do frete
a pagar que eu, o interessado, prontamente ressarcirei.
E a poesia “Femina”???
Eu lavei todos os pecados da minha alma com a beleza daquela obra
prima...!!!
De resto, poeta, te
digo que senti, em tuas “arrumações”, teu gênio poético nato: Poesia
até no envelope que continha as remessas. Devolvo-te o primeiro
verso de “À vista de ti”, em forma de interrogação: Nunca te vi,
melhor que seja assim??? Creio que não.
Bem que eu gostaria de comungar com teu rol de amigos...
Saudações
F. Ayrton de Aguiar
|