Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Ivaldo Gomes

 ivaldogomes@jpa.neoline.com.br

Caravagio, Êxtase de São Francisco

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova. 1864.

 

  Poesia:


  Ensaio, crítica & resenha:


  Biografia:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Culpa

 

 

 

 

 

Ingres, 1780-1867, La Grande Odalisque

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

The Gates of Dawn, Herbert Draper, UK, 1863-1920

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edna Menezes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Waterhouse , 1849-1917 -The Lady of Shalott

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tércia Montenegro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ivaldo Gomes

 


 

AINDA QUE SEJA EM TEMPO

Agora, se quiséssemos verdadeiramente,
Resolveríamos as questões básicas
Das nossas vergonhas sociais.
Casa, comida e roupa lavada,
Sempre foram bons conselheiros.
E de conselhos a fome sempre foi
Uma péssima companheira de viagem.
Por favor, não a leve na bagagem.

Ainda que talvez, seja possível,
Mesmo quase sem tempo algum,
Você possa incentivar a harmonia
No caos dos tempos.

Onde ter consciência muitas vezes
Não explica o CO2 no ar.
Na poluição do ambiente, o doente
Somos todos nós.

Ainda que em tempo seja.
Deseja a vontade de sonhar o
Possível ao alcance da mão.
Desarmada, estendida ao dia,
Da não-violência, pelo amor
Ao próximo, mais próximo.

Sem soar piegas. Mas, na
Maioria das vezes o próximo,
Apesar de próximo, está 
Tão distante.

A solidariedade da espécie,
Poderia ser mais fraterna e menos
Meu mundo, meu eu.
Quanto mais se caminha, fica
A estrada mais comprida.
Quem sabe no próximo oásis,
Verteremos a água pura da fonte
Dos tempos eternos.
Enquanto dure! Disse o poeta.

Passa-se o tempo e o tempo urge
Quando precisamos trabalhar
A nossa tarefa atrasada que
Deixamos de fazer.

E terminou não sendo feita,
Sem educação não somos nada.
Nem nossa presença pode ser
Registrada sem a  existência dela.
Através dela,  se erguerá o
Terceiro milênio.

Apesar de tudo.

 
 

 

APRENDIZ
 

Aprendiz de tudo
Mestre de nada.
Ferreiro do cotidiano
A martelar os dias.
Engenheiro de sonhos
Na aventura da vida.
Pintor de sutilezas nas
Paredes do destino.
Cantor de teatro
Sem palco e sem platéia.
Enfermeiro da infelicidade alheia,
A trocar as ataduras.
Aprendiz de tudo
Mestre de nada.
Pedreiro de poucos tijolos
E muitas lágrimas nos olhos.
Maestro de orquestras
Sem músicos.
Dançarino congelado no salto,
No ar, como quem apaga a luz.
Trapezista no super mortal
De costas com capuz.
Padre de poucas confissões e
Muitas procissões.
Aprendiz de tudo
Mestre de nada.
Ator de muitos textos
E de poucos sucessos.
Cozinheiro de pratos variados,
Assados, quentes e frios.
Marinheiro de poucas viagens
E de mares imensos.
Instrumentista de poucos acordes,
Mas de muitas emoções.
Professor por necessidade,
A bem da verdade.
Poeta por necessidade 
E nunca por vocação.
Aprendiz de tudo
Mestre de nada.
A vontade de saber,
Ver, sentir, pegar, viver.
Atitude curiosa
Diante da vida.
Aprendiz, sempre.
Aprendiz, eternamente.
Aprendiz, e nunca mestre,
Mestre de nada.


 

 

 

Ao Seu, Ao Meu, Alceu.
 

Alceu, ao nosso, ao meu.
Descendo a ladeira do coração
De Olinda, fui ver Recife
Esbarrei em ti.
Cruzamos as ruas de Caruaru,
Apressados, sem saber pra onde ir.
A viola me guia.
Essa é a tua sina.
Que cante o que tiver pra
Ser cantado, contado na
Voz do povo.
Frevos, maracatus e baião.
Trovador das ladeiras.
Dos becos, dos bares.
Das beiras dos mares.
Cigano da “peste”,
Cantador do agreste,
Do chão se deu.
Alceu, ao meu, ao nosso.
Ao vosso verso, no reverso
Das dores alheias, clareia
O consolo do mote.
Eu empresto um aperto de mão
E boa sorte.
Vou pro norte, depois
Pro caminho do sol.
Rodei o mundo, misturei
Tudo, liquidificador.
Tudo que vi, botei pra rodar
Na casa dos outros.
Música é o meu dialeto.
Hoje o mar faz parte
Do meu verso.
Perverso, confesso, mas bonito.
Muito bonito.
Ao seu, ao nosso, Alceu.

 

 

A Luz da Lua
 

Se a ti me confiasse o destino,
E se todos os meus passos,
Fossem em busca dos teus abraços.
E se abrisse em flor de cinco pétalas,
Que ao cair da tarde me enebriasse...
E que seus cheiros fossem todos,
Que o meu instinto pudesse sentir,
Mesmo assim séria pouco, por
Tudo que sinto por ti.
E se essa Lua brilhante no céu,
Pudesse eu pegar, abarcar,
Transformaria o seu brilho,
Num diadema lunar,
E sua fonte bela iria
Ornamentar.
Mas, se mesmo assim fosse possível,
De alguma forma lhe agradar,
Mesmo que tivesse que buscar,
Os anéis de saturno seriam,
Belos anéis a lhe ornar.
E se toda essa beleza,
Não lhe fizesse justiça,
Desafiaria o brilho do sol,
Para com o seu ouro sedutor,
Ornamentar os seus passos
Como o brilho desse Luar.
Que faço eu a olhar a lua...
Me deixando incendiar
Pelo seu brilho?
Que reflete em mim a paixão,
Do coração desolado,
De saudade, de amor.
Ai de mim se não fosse essa Lua.
Que me namora lembrando você.

 
 

BEIJA BEIJA-FLOR
 

Me perco no perfume dos seus
cabelos, pelos, pólen de mel.
Bebo a seiva que escorre de ti,
me lanbuzo do mel, da flor
do seu querer...
Querendo mais.

Zumbizando o seu ouvido,
aviso que cheguei pra
lambuzar...
Usar o doce mel que
os seus lábios expelem,
na pele de cetim...
das suas coxas...
quentes, a me
apertar.

E circundo-a toda...
num vai e vem sem fim.....
até parece que eu quero colhê-la...
possuí-la, guardá-la,
 pra mim.

E vou e volto e volto e vou...
Que nem um Beija-Flor,
fico parado no ar...
nos aromas de ti.

E se eu fosse mesmo
um Beija.....
Beijava  
sua/minha flor...

 

 

 

ASSIM...  ASSIM...
 

E ficam em mim os desejos,
Os beijos insaciados de ti.
Que por mais que eu fique
Contigo nunca me sacia
Os desejos.
Que beijos posso te dar,
Se a mim nunca me
Foi dado o direito de
Ver-te. De sentir-te,
Enfim.
E eu que fico a remoer
Os desejos, os beijos,
Que ganhei virtualmente.
Como semente que brota
E cresce sem fim.
Ai de mim se pudesse,
Se o meu desejo desse,
Então um salto no escuro,
Tal muro caísse em
Teus braços.
E quando em mim fica,
Fica a saudade, que
Abafa o peito e me
Enche de esperanças
De que um belo dia
Irá surgir no portal
Da casa...
O sorriso aberto,
Sincero
De ti.
E fico a pensar
Nesse dia,
Como o preso
Pensa na liberdade.
E se eu pudesse,
Poderia enfim.
Esperar.
Até quando?

 
 

Bem-Aventurados os Versos
 

Bem-aventurados os versos que
Versejam nos campos da inconsciência.
Que se fazem conscientes, presentes,
A se mostrar pra mim.

Bem-aventurados os versos que
Passeiam em tua fronte, fonte
De inspiração e versos.
Reverso do meu não pensar.

Bem-aventurados os versos que
Virgílio, Camões e Pessoa nos deixaram
Como herança, como poupança
Dos sonhos seus.

Bem-aventurados os versos que
Que por mais que se escondam, afloram 
A mais leve vontade de cantar, do sorriso
Maroto do vento na beira mar.

Bem-aventurados os versos que
Apesar de apenas versos, falam do
Amor por este lugar.

Bem-aventurados os versos que
Cantam dentro de mim, sem esforço,
Sem dor e sem rancor.

Bem-aventurados os versos que
Não me deixam mentir, sucumbir, sumir,
Fugir de mim.

Bem-aventurados os versos que
Me ocupa os espaços, quando muitas
Vezes acho que não mais existem.

Bem-aventurados os versos que
Me dizem como é bela a vida, vivida,
Morrida, enfim.

 
 

CANTIGA DE AMOR POR MINHA TERRA ADOTIVA
 

Te descobri num verão.
O sol queimou-me à pele,
Aqueceu meu coração,
Por ti Felipéia.

Por ti, apesar de ti,
Meus olhos olhavam para o norte.
Apaixonado estava e não sabia.
Tua magia tinha me encontrado.
Mares do Bessa,
Casas de veraneio.
Passou o verão e me fui.

Me cristalizei no agreste,
Dos arrecifes ao oeste,
Voltei pra Caruaru.
Corria os idos do general Geisel,
E eu morto de medo, como 
Os jovens da minha geração.

Contemplação do tempo, e
Em minhas ausências, minha saudade,
Me levava a ti.
Nunca mais fui o mesmo.
Sonhava contigo.

Armei uma fuga e corri pra
Serra da Borborema.
Fui tentar a sorte ou o azar,
Num vestibular que terminaria
Trazendo-me de volta a ti.
E voltei dois anos depois a
Te encontrar.

Desci de carona, no
Posto Nordeste,
Ao leste de ti.
Te espreitei de malas e sonhos,
Mas  aqui cheguei.
A felicidade era tanta, 
Que não percebia a dureza
Da vida de quem chega.

Andarilho dos dias,
A buscar a vida na cidade grande.
E tu já eras enorme para 
Os meus sonhos...

Te cavalguei nos calcanhares,
E não me cansei de subir e descer
As tuas ruas.
Quanto mais olhava, mas bem te queria.
Quanto mais te descobria,
Mas apaixonado eu ficava.

Olhei tuas igrejas,
Teus casarios do passado.
Te descobri velha, moça e criança.
Arrodiei tua lagoa, me temporizei nas 
Palmeiras e apressei os passos
Em direção ao mar.

E fui devagarinho, com carinho,
Levantando imagem por imagem,
Tal Qual o farol do Cabo Branco
Me apontando o oriente,
Poente do teu querer.

Me deste a bússola, as areias,
A cama, o lençol, o sonho.
Me guardei num sobrado,
República Popular da General Osório.

Da janela do casarão do poeta,
Ia percebendo o teu pulsar.
O teu povo na rua,
A subir e a descer, por tuas curvas,
Teus segredos, teus amores.

Acordei numa manhã ensolarada,
Com o barulho dos ferros a ranger
No calçamento secular.
Era a festa de N. S. das Neves
Que se vestia.

E eu apaixonado por festas de rua,
Fui vendo ser erguido em tuas artérias,
Nuas, os brinquedos e as barraquinhas
A tua devoção.

Luzes iluminavam a rua,
E ela cheia de luz, iluminava teu povo,
A passear no sonho da tua festa.
Era Nossa Senhora das Neves,
A te abençoar.

Te descobri Frederica e 
Me danei pro mar.
Me molhei do teu sal,
Me bronzeei no teu sol,
Me apaixonei por tuas meninas.
Tudo era só alegria, pois o que via
Me alegrava os olhos, o peito, a alma.
E eu de olhos miúdos, mudos,
Molhados de te ver.

Descia a Epitácio Pessoa, cheia de buracos,
E me entregava nos braços de Tambaú.
Te caminhava ao vento,
Deixando pra trás, ao relento,
As marcas dos passos
Dos caminhos feito em ti.

O mar ia e vinha, como vai e vem.
E eu ficava nas lagoas,
Feita a duas mãos, na areia do teu mar.
Mas, como toda paixão é arrebatadora,
Nunca me satisfazia. 
E te queria mais, muito mais.
E me debrucei nos teus bairros,
Nas tuas vielas, guetos, favelas.
Ai me deste a primeira dor.
Meus olhos que só olhavam a tua beleza,
Ficaram assustados com a pobreza,
Com a miséria e o desamor.

Arregacei as mangas e fui te ajudar.
Trabalhei vinte e quatro horas,
Me esqueci de ti, pra te enxergar.
Descobri tuas injustiças,
Fiquei com raiva de ti.
Debalde, sozinho, triste,
Pensei em te abandonar.
Mas, já não podia.
Não dependia mais de mim.
Enxuguei as lágrimas,
Dobrei as tristezas,
Corri pro teu mar.

Me afoguei no calor das tuas águas, 
Me vesti do verde do teu pomar.
Me enrosquei nas tuas matas,
Do Amém à Buraquinho.
Corri apressado nas Mangabeiras e 
Dei novamente no mar.

Nossa Senhora da Penha,
Me abençoou.
Me refugiei no balanço da rede,
Na casa do pescador.
Comi peixe assado, tomei cachaça,
Engoli a dor.
Desci pelo Seixas,  era de tarde,
De sol e de azul.
O Cabo Branco quebrado, não
Tão branco como sonhei.
Majestade, com autoridade vislumbrei.
E ele adentrava lá longe,
Me mostrando o horizonte
Do oriente talvez.

E eu olhei, olhei e era como se
O mar me dissesse: Não tem volta,
Não voltarás.

Apressei o passo, fui dormir em Manaíra.
Saudei o sol da madrugada,
Apanhei as estrelas que pude,
E fugi pro Sanhauá.
Dos Mangues, os caranguejos,
Das fábricas abandonadas,
Se escutava os navios,
Do porto, daquele mar.

Subi a ladeira correndo,
Nas pontas dos pés.
No calçadão da Casa da Pólvora, 
vi os navios no mar.
Me lembrei do cais do porto,
De Santa Catarina também.
Fiquei um tempão absorto
Pensando nas coisas de lá.
O corsário do rei se fez valente,
Se armou tão de repente,
De canhões tão imponentes
Pensou que vinha pra ficar.

Mas tu Frederica, Felipéia,
Como toda moça donzela,
Se debruçou na janela
E ficou a espiar.
Meus olhos marejados da fumaça,
Do lixo de todos  nós,
A arder a céu aberto,
No baixo Rogger eu vi.
Eu vi aquelas criaturas, nuas,
Famintas, de gadanho na mão   
Disputar os restos da mesa farta
Que sacudiam acolá.

A dor explodiu de novo.
Trinquei os dentes, chorei.
Pensei nas tuas promessas,
Nas juras que já te fiz.
Fui chorar nas Trincheiras,
Olhando tudo de lá.
Nas noites daquele quarto,
Entre livros, roupas e jornais.
Passavam os ônibus pra Recife
E eu nunca estava neles.
E eles sempre voltavam.
Mas mesmo assim,
Nunca consegui te deixar.

Entrei por Jaguaribe, contornei o tempo,
Lavei as mágoas de ti.
Com o tempo fui percebendo,
O meu amor amadurecendo,
E eu como sempre querendo,
Você todinha pra mim.

Te percebi Paraíba.
O olho puxou pra fora,
Meu Deus e agora?
Todos esses carros,
Engarrafou minha vida.
Fazendo tanta zoada, com gente
Correndo apressada, no vai e vem
Do teu pulsar.

Me guardei dentro da Bica,
Procurei me aclamar.
Das pipocas sentia o sal,
Me lembrei do teu mar.
Dos coqueiros a beira d’água,
Olhando o vento passar.

Lá vem as Muriçocas descendo
As ladeiras.
Vestido de palhaço, cercado na bagaceira.
É o frevo de Pernambuco,
Trazido dentro das veias,
Que me faz saltitar.
Lá vem o dragão da alegria,
Correndo entre os passistas,
Sai da frente, sai menino,
Essa festa é dos artistas.
Só tá faltando Iemanjá esse ano
Sair com a gente.

Quando chego em Tambaú,
Estico as pernas, ajeito o pente,
Tomo um gole de cachaça, pronto,
Estou contente.
Penso nas tuas crianças,
Abandonadas da gente,
As Muriçocas vão embora,
E as estrelas também.
Vou abraçar o sol ,
Raiando tão imponente.
Vai colorindo aos pouquinhos,
As curvas, as linhas, o presente. 

Presente que se fez Felipéia,
Frederica, Paraíba também.
João Pessoa masculino,
Te prefiro mulher,
Dom de todo amor.
Pois teu cheiro de mulher,
Está aqui, sinto o odor.

Corri pros braço da noite, 
Procurei mais que achei.
Gostei do sorriso daquela,
Do beijo dessa também.

Mas foi aquela acolá,
Que me tirou pra dançar,
E  foi me apertando bem.
Fugi dos braços daquela,
Fiquei esperando o trem.
De tanto eu procurar,
Eu quase não acho ninguém.

De madrugada fui pro bar do Bento,
O Boiadeiro também.
Cantei até raiar o dia,
Ouvindo Elba Ramalho,
Zé Ramalho, amém.
Apareceu Braúlio Tavares,
Fernando Teixeira não vem.
Bento toca o pandeiro,
E a felicidade que tem.

De ressaca apreço o passo.
Vou no encalço do pão.
A cara do patrão nunca me incomodou.
Eu só nunca entendi a falta de condição.
Pois se gasta muito mais,
Por não tê-las.
Sem ação.

Fazê-las do modo mal feito,
É ter que fazer novamente.  
Paga o povo pelo erro,
Do político incompetente.
Tu Frederica, me arranjas,
Problemas inconseqüentes.
Pois, tu sabes, que nem todos,
Te amam sinceramente.

Te destroçam as matas,
O rio, o coração.
Te levantam tantas torres,
Me impedem a visão.
Se continuar desse jeito,
Só te veremos de avião.

Tens cuidado, te proteges,
Do olho gordo, da especulação.
Não acredites em promessas,
Que cheiram a ilusão.
Pois quem ama não destroi,
Ajuda, tem devoção.

Vejam as obras de arte,
Guardadas no teu porão.
Muitas delas vão embora e
Vamos chorar em vão?
Depois do ocorrido, não adianta
Fazer sermão.

Fica de olhos abertos,
Protege os filhos teus.
Não me deixes abandonado,
Agora, por favor, não.

Te compro um peixe na feira,
Pescado em alto mar.
Dele faço o pão desse dia,
Agradeço de coração.
Pois do alimento nativo,
Vem a força da razão.
Teus pescadores tão pobres,
Trabalho duro, beberrão.
Devias olhar por eles,
Protegê-los, então!

Devias ver muitas coisas,
Que fazem no teu chão.
Que mancham tua moldura,
À Juliano Moreira, o presídio,
A prisão.
Há tanta gente sofrendo,
Precisa do teu perdão.
Ajudar a quem precisa,
É antes de tudo no mundo,
Ter boa compreensão

Pra que não exista em teu seio,
Nenhuma escravidão.

 

 
 

Carmim
 

Boca de carmim,
Pra mim,
Assim...
Cor do desejo,
Beijo na boca,
Louca, aflita.
Marca delineada
No rosto,
Oposto do gosto,
Gostoso de gostar
De você.
Carmim, a cor
Do pecado.
Beijos,
Muitos,
Muitos,
Beijos.
Desejos,
Insanos, 
Ciganos,
Perdido no céu 
Da tua boca.
Carmim,
Sou assim,
Vermelho,
Rubro,
Cubro e descubro,
Esse afeto,
Esse carinho 
Som de clarin.
Flôr de liz,
Lilás, fulgás,
Vadio dos
Caminhos teus.
Carmim, pensa
Em mim.
Fica em mim,
Que nem a 
Marca do teu beijo no
Meu rosto,
No oposto,
Posto pregado a
Lábios na minha
Boca.
Carmim,
No camarim
Da nossa alegria,
Do nosso afeto.
Beijo vermelho
No espelho da
Alma, molhada
No cheiro do amor,
A empreguinar
O ar. 

 

 
 

CORAÇÃO VAGABUNDO
 

Coração sem conserto...
Vive de esperança e paixão.
Por mais que eu diga a ele.
Fique quieto!... 
Fica não.
Acha que pode se apaixonar
Todos às vezes
Que lhe tocam a emoção.
Diz que sabe o que esta fazendo,
Deixa -me assim, sem razão.
Faz-me a maior confusão,
Troca-me o dia pela noite.
Sufoca-me de paixão.
Depois olha pra mim,
E ainda diz:
Você estar sem razão.
E eu fico querendo compreender.
Descobrir porque você é assim.
Tem vezes que acho que você,
Faz troça de mim.
Pois sabe como eu sou frágil,
Devia ter cuidado.
Cuidar mais, enfim.
Mas você não tem coração.
Se tiver, é sem razão.
Pois vive pulando em mim,
De paixão em paixão.
E eu que me vire com isso,
Com essa dor, essa emoção.
Eu que ache ungüentos,
Que sare minha paixão.
Vou lhe levar ao médico.
Pois sei que tem solução.
Mesmo que ele me diga:
Esse ai... Tem jeito não.

 

 
 

  Da Dor
 

  E ela se faz presente,
  Pressente a contração,
  A fadiga.
  E eu que o diga,
  Baixinho.
  Dói, dói.
  
  E ela me ensina a gemer,
  A temer o espasmo,
  O cansaço.
  E eu suporto,
  Calado,
  Dói, dói.

  E ela insiste em ficar,
  E eu penso em ir embora.
  A demora.
  E eu me importo,
  Impaciente,
  Dói, dói.

  E ela se ausenta de repente,
  E eu penso que foi embora.
  A angústia.
  E aguardo acordado,
  Paciente,
  Dói, dói. 
  
  Há de cessar,
  Algum dia.
  Outro dia.
  Dói, dói.

 

 
 

Desejos 
 

De tanto desejos
Desejei...
Que foge a mim
O discernimento...
Neste momento, só sinto,
Só sou.
Que se dane as
Convenções...
As boas e más
Intenções.
Que brote em
Mim os desejos.
E os beijos
Que sejam dados,
Roubados,
De ti.
E o fogo tome
Conta de nós.
E os nós sejam
Atados, apertados,
Nos desejos,
Nos beijos,
De nós dois.
E seja,
Enfim.
Os desejos
Saciados.
Pois o que
Tenho de melhor
Hoje são os desejos,
Que sinto, que me
Permito ter.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

15.11.2008