José Godoy Garcia
Um Homem na Estrada
Ponho uma estrada neste papel.
Uma estrada como qualquer outra
que entra pela linha do horizonte
e liga o mundo na sua inocência.
Nela, ponho um homem.
Como é exemplar o trabalho do poeta
que faz uma estrada e faz caminhar nela
um pobre ser humano!
Eu o vejo de todos os ângulos.
Olho-o pelas costas e o reconheço digno,
cada vez mais pequeno
sumindo ao longe.
De frente, vejo-o, aproxima-se de mim,
vem alegre e predisposto
à fraternidade.
Pelas margens direita ou esquerda
estou atento; se noto o ridículo
escondo de mim mesmo
e dele.
Não levo rancor
e nem misericórdia.
Estou pronto ao abraço.
O papel é como
a terra. Para que
explicar mais?
Vem o poeta
pega o vento
aterra-o no
papel e a água
solidária escorre
no veio branco
e explode em amor.
Caminho que leva
até o horizonte.
É o que faz belo
o poema, o círculo
do horizonte.
É um vale que
é nossa vida,
circunavegação
de paisagens,
cavalinhos, aeroplanos,
navios,
um homem sozinho
indo pela estrada.
Homem sozinho na estrada.
De longe vem vindo, de longe apagadamente
seu vulto como um estrela sem brilho
e à sua aproximação a estrada
se dilata e trepida
como uma nave em vôo
e ainda tudo é grotesco
como uma máquina: a terra e os seus sapatos,
a roupa e o seu suor, a poeira e a sua fadiga
e nada aconteceu – nem crime ou heroísmo
ou tudo se ignora,
– era apenas um homem
numa estrada.
A estrada estava cansada e viajou.
Os ventos sumiram.
Só a laranja trabalhava,
dia e noite,
só a laranja viajava na sua fina vida de laranja
no galho cheio de manhã.
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