José Godoy Garcia
A verdade é que um grito na minha boca...
A verdade é que um grito na minha boca
é igual a um grito na boca da noite?
O que é uma palavra descansada?
Haverá sempre no mundo as palavras
descansadas ou haverá ainda outras,
as que não se cansam nunca, as mortas?
As palavras morrem ou são esquecidas?
As palavras que estão no dicionários, elas
estão recuperadas, estão salvas ou apenas
prisioneiras; quem será que tem interesse
na prisão das palavras? As palavras simples
navegarão num mundo complicado com a verve
de sempre ou perderão a compostura?
Haverá, no meio delas, as tontas, as virgens,
as palavras desavergonhadas, as vesgas?
Que pode acontecer com as palavras ocas,
as que estiveram num desastre ou que vivem
nos becos ou nos lupanares imundos, ou as
que esqueceram suas razões, como se bêbadas
e depois da noite sufocante tornaram-se ocas?
Haverá mesmo palavra que tenha em si a fuga
dos sentidos? Haverá, entre elas, uma apenas
que resguardando-se do tédio, pôde ministrar
no silêncio sua dor e sua mentira, para sorrir
na hora H, quando todos estiverem apagados?
As palavras estão no mundo representando
o seu papel, elas estão acovardadas ou não?
Qual é a palavra mais sensata para quando
houver o desastre de avião e tudo ficar em segredo
por falta da caixa preta? Em verdade, existe, sim,
a sensatez das palavras, mas por ora, ninguém ousa.
Não ousando, como se pode agir quando aparecer
na cena um homem sensato, se não temos ordem
de aplicar a palavra exata? Pêsames, é mesmo
a palavra exata? Que palavra mais fina devo dizer
ao morto antes dele morrer? que palavra mais crua
devo dizer ao vivo antes dele me mandar à Merda?
Um trem de ferro chegou, amigo, na estação Soledade.
Que foi que trazia nos seus vagões, o trem de Soledade?
Trazia nos seus vagões os sonetos da “Geração de 45”
.
Ninguém pra receber na estação noturna de Soledade!
As palavras ficaram bem arrumadas, na boquinha, na boquinha!
As palavras arrumadas em nosso Dom Casmurro soneto!
Os vagões estavam resplandecentes! Os vagões de Pêsames!
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