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Marlene Andrade Martins


 

Rosas para o meu enterro


hoje não mentirei à senhora das rosas
não pedirei rosas para o enterro de minha mãe
hoje as rosas serão para enfeitar o meu enterro
elas me internarão em meu sepulcro
despretendidas se posso ou não mais vê-las
supérfluo também o vento que passa sem rastro


[Do livro DAEDALUS, inédito.]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

Marlene Andrade Martins


 

Soneto da tarde


Foi uma fenda na tarde,
Já escurecendo o dia.
Não sei se quem viu sabia
O que a fenda me dizia.


Com quem a dor não andava
Só se pôs maravilhado;
Não viu a navalha-tempo
Se mostrar muito afiada.


Tinha a fenda a cor do fogo.
No negro véu que vestia,
Vi o teu corpo bordado


E p'ra sempre te levando.
Fenda, punhal afiado,
Varando meu peito adentro.


[Do livro DAEDALUS, inédito.]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

Marlene Andrade Martins


 

Sufocam


E aqueles homens que faziam
nas suas mulheres
outros homens e outras mulheres
e faziam outros homens que faziam
outras mulheres que não sabiam
de suas guerras nem das idéias
de suas guerras.


E aquelas mulheres que
não sabiam que as guerras e as idéias
daqueles homens feitos por aquelas mulheres
e aqueles homens que matam os filhos daqueles homens
e daquelas mulheres e não os deixam ser donos
de outras mulheres que
não entendem as idéias das guerras
que matam os homens e sufocam as mulheres.


[Do livro O SENTIDO COMUM DAS COISAS. Belo Horizonte: Editora O
Lutador, 1992, págs. 34-35.]


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

São Jerônimo, de Caravagio

 

Marlene Andrade Martins


 

Poema de Natal


Eu devia abandonar todo aquele queixume.
Mas, olhando pra trás,
vejo que me acompanham sulcos deixados.


Caminho de passos enterrados
nesta brancura de dezembro.


Os galhos secos congelam,
cristalizando, as gotas dágua,
ornamentando-as para a chegada do Natal.


Sulcando mais e mais a neve, meus passos
seguem no rumo de lojas já cintilantes.


Predominantemente
o vermelho, o verde e o prateado
adornam os regalos
que meus pés caminham para buscar.


E as músicas que cantaram tantos Natais
elevam, como uma magia,
nós os magos,
ao espirito natalino.


E eu devia enterrar todos aqueles pensamentos
naquele caminho de passos enterrados
naquela brancura de dezembro.


Mas como,
se aquele seria o caminho de volta
de Joãozinho e Mariazinha?


E será sempre o caminho
sem ida e sem volta
dos Joõezinhos e Mariazinhas
que nunca souberam do caminho da Estrela
que lhes trouxesse os Reis Magos e seus presentes.


E eu devia abandonar todos esses pensamentos
naquele caminho de passos enterrados
nesta brancura de dezembro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Marlene Andrade Martins


 

Apelo de Natal
Luzes para o Natal do Morro



Oh, Senhor Deus,
Pedimos a Vós, que cremos ser todo misericordioso,
Mandar-nos luz, aqui nas alturas.
Luz que ilumine os caminhos,
Para que o trenó do Papai Noel possa também nos alcançar.


Rogamos também ao Senhor iluminar
As mentes dos traficantes de drogas,
Como também as dos policiais
Tornando-os capazes de inteirar-se do espírito do Natal.


Senhor Deus, fazei com que eles possam deixar livres
Os caminhos, para que o trenó do Papai Noel possa,
Simplesmente, trazer-nos uma lembrancinha de Natal.


Obrigado, Senhor Deus!
Daqui, quase de cima também,
Em nome de todas as crianças do Morro,
Segue o nosso desejo de


UM FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO 1998.

 

 

 

 

 

 

 

20.10.2005